Os membros da Comissão da AMB para o novo CPC, Thiago Brandão e Paulo Henrique Moritz, participaram da sessão de leitura do Relatório Geral do PLS 166/2010, pelo Senador Valter Pereira. Na avaliação preliminar dos referidos magistrados, o trabalho é de excelente nível. Foi preservada a estrutura de sistematização e ideologia do Projeto da Comissão de Juristas, presidida pelo Min. Luiz Fux. Houve aperfeiçoamento redacional sob o aspecto técnico, equacionamento de problemas de remissão de artigos e algumas inovações. Destacam-se alguns aspectos positivos: 1) A rejeição do art. 24 do projeto original, que tratava da exclusão da jurisdição nacional em contratos que tinham cláusula de eleição de foro estrangeiro. 2) A majoração da multa por litigância de má-fé. Art. 84. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa que não deverá ser inferior a dois por cento, nem superior a dez por cento, do valor corrigido da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, além de honorários advocatícios e de todas as despesas que efetuou. (...) 3º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa referida no caput poderá ser fixada em até dez vezes o valor do salário mínimo.
3) Uma melhor disciplina, em faixas, dos honorários advocatícios nas causas em que for parte a Fazenda Pública. Veja-se o art. 87, 3º do Substitutivo: 3º Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, os honorários serão fixados dentro seguintes percentuais, observando os referenciais do 2º: I mínimo de dez e máximo de vinte por cento nas ações de até duzentos salários mínimos; II mínimo de oito e máximo de dez por cento nas ações de duzentos até dois mil salários mínimos; III mínimo de cinco e máximo de oito por cento nas ações de dois mil até vinte mil salários mínimos; IV mínimo de três e máximo de cinco por cento nas ações de vinte mil até cem mil salários mínimos; V mínimo de um e máximo de três por cento nas ações acima de cem mil salários mínimos. 4) Corrigiu-se a má idéia do art. 83, 3º do Projeto dos Juristas, que previa pagamento dos honorários periciais, ao final, pelo Poder Público, quando a prova fosse requerida por beneficiário da assistênca gratuita. Veja-se o 4º do art. 97 do substitutivo: 4º Na hipótese de não existir órgão oficial ou perito da administração pública, o valor da prova pericial requerida pelo beneficiário da gratuidade de justiça será fixado conforme tabela do Conselho Nacional de Justiça e pago, desde logo, pelo Poder Público.
5) Caiu o princípio da identidade física do juiz (art. 112 do Projeto). 6) Afastou-se a exigência dos conciliadores e mediadores terem inscrição na OAB (art. 137, 1º do Projeto). 7) Infelizmente não se eliminou o relatório como requisito da sentença, mas pelo menos foi previsto um relatório sucinto, o que poderá trazer uma cultura de mais objetividade na confecção desta parte da decisão. (art. 476, I do Substitutivo) 8) Como era de esperar, foi mantido o reexame necessário, mas também foram concebidas faixas de exclusão da remessa. Confira-se o 2º do art. 483 do Substitutivo: 2º Não se aplica o disposto neste artigo sempre que o valor da condenação, do proveito, do benefício ou da vantagem econômica em discussão for de valor certo inferior a: I mil salários mínimos para União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II quinhentos salários mínimos para os Estados, o Distrito Federal e as respectivas autarquias e fundações de direito público, bem assim para as capitais dos Estados; III cem salários mínimos para todos os demais municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público. Os membros da Comissão da AMB apontam alguns pontos que consideram inadequados no Substitutivo:
1) A manutenção de aspectos burocráticos dispensáveis (por exemplo: compromisso de inventariamente e termo de primeiras declarações no inventário art 606) 2) Permanência de responsabilidade civil do juiz por perdas e danos (art. 123) 3) A redação do parágrafo único e inciso IV do art. 476: Parágrafo único. Não se considera fundamentada a decisão, sentença ou acórdão que: (...) IV não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador. 4) Eliminação da Ação Monitória nos procedimentos especiais, e manutenção da Homologação do Penhor Legal. Destacam, por fim, dois pontos que certamente vão gerar controvérsia: 1) A redação do art. 12 do Substitutivo:
Art. 12. Os juízes deverão proferir sentença e os tribunais deverão decidir os recursos obedecendo à ordem cronológica de conclusão. 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá ser permanentemente disponibilizada em cartório, para consulta pública. 2º Estão excluídos da regra do caput: I as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II o julgamento de processos em bloco para aplicação da tese jurídica firmada em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em recurso repetitivo; III a apreciação de pedido de efeito suspensivo ou de antecipação da tutela recursal; IV o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; V as preferências legais. 2) A vedação à prova ilícita, de forma absoluta, em face da redação do art. 353 do Substitutivo, já que o Projeto dos Juristas relativizava o tema. Art. 353. As partes têm direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar fatos em que se funda a ação ou a defesa e influir eficazmente na livre convicção do juiz. De modo geral, todavia, os membros da Comissão da AMB consideram excelente o trabalho do Senador Valter Pereira e sua equipe de assessores, esperando que o PLS 166 tenha aprovação no Senado ainda este ano.