ATUALIDADES SOBRE O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO

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Equipe: Ronaldo Laranjeira Helena Sakiyama Maria de Fátima Rato Padin Sandro Mitsuhiro Clarice Sandi Madruga

Transcrição:

ATUALIDADES SOBRE O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO (2006) Roberta Fernandes Lopes do Nascimento Psicóloga. Mestranda em Psicologia Clínica no Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicológica no Ciclo Vital PUCRS. Perita Examinadora do Trânsito e Consultora Organizacional. E-mail: roberta@w3tech.com.br Irani I. de Lima Argimon Psicóloga. Doutora em Psicologia e Professora da Graduação e Programa em Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. E-mail: argimoni@pucrs.br Regina Maria Fernandes Lopes Psicóloga. Especialista em Avaliação Psicológica pela UFRGS e Colaboradora do Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção Psicológica no Ciclo Vital PUCRS. E-mail: reginamlopes@uol.com.br RESUMO O avanço da ciência vem propiciando o aumento progressivo da longevidade e da expectativa de vida nas últimas décadas, proporcionando ao ser humano uma longevidade nunca antes atingida. É cada vez maior o número de pessoas que ultrapassam a idade de sessenta anos e, mais que isso, que atingem essa idade em boas condições físicas e mentais. Assim, o objetivo deste estudo é entender a presença do idoso no mercado de trabalho, na atualidade. Para isso foi realizada uma revisão teórica sobre o tema. Observou-se que a frente essas mudanças populacionais o trabalho será cada vez mais uma realidade na terceira idade. O idoso com suas potencialidades e limitações, pode ser parte significativa da força de trabalho, em que, mais do que nunca, as questões relativas à carga mental do trabalhador se tornarão mais relevantes do que as associadas à carga física, resgatando o idoso na sua bagagem cognitiva e desempenho. Palavras-chave: idoso, longevidade, trabalho, atividades laborais Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 1

INTRODUÇÃO Com o aumento da expectativa de vida do idoso, faz-se necessário pensar também na qualidade desses anos que sobrevieram. Diante disso, muitos pesquisadores têm se interessado pelo envelhecimento humano, ocasionando uma multiplicidade de opiniões e avaliações objetivas e subjetivas sobre a velhice. No aspecto econômico, as pessoas de terceira idade passam a ser vistas como improdutivas, sendo decretada assim, sua velhice econômica e social (Amarilho, 2005). No entanto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dados referido no Jornal O Globo (2005) menciona que em 20 anos a expectativa de vida aumentou de 63,9 anos para 71,3 anos. Hoje são 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos que movimentam 7 bilhões ao mês. Muitas empresas estão em busca destes profissionais: são as agências de viagem, universidades, cursos de idiomas, de informática, entre outros. Wajnman (2004) afirma que é inevitável o aumento de pessoas com mais de 60 anos na População Economicamente Ativa (PEA) brasileira. Em 1977, esta pesquisadora identificou que os trabalhadores idosos respondiam por 4,5% da PEA. Em 1998, 9% do grupo era formado por idosos. A expectativa é de que em 2020, pelo menos, 13% da PEA seja formada por pessoas que estão na terceira idade. Hoje, as pessoas chegam aos 60 anos com toda a disposição e saúde para trabalhar. Diante disto é importante saber que os anos de trabalho permitem a acumulação de uma experiência profissional que facilita, muitas vezes, a execução das tarefas. Assim sendo, dá-se a impressão de que o trabalho ideal para os idosos, envolveria gestões mais participativas e não apenas realização de tarefas (Pereira, 2002). Conforme pesquisa de Veras e Caldas (2004), a inserção do Idoso em universidades vem se difundindo e representa uma nova forma de promover a saúde da pessoa que envelhece, através de ação interdisciplinar comprometida com a inserção do idoso como cidadão ativo na sociedade. No Brasil, existem pelo menos 150 programas dessa natureza. Uma experiência desenvolvida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), desde 1993, tem como pressupostos básicos a interdisciplinaridade, a participação social e a promoção da saúde, a proposta da UERJ utiliza metodologia adaptada às especificidades desta clientela e um programa amplo de atenção integral à saúde do idoso. Diante disso é através do trabalho, expressão genuína da energia humana, é que o homem desenvolve-se a si mesmo e também participa do desenvolvimento da sociedade em que vive. Parece enganosa a crença de que o trabalho seja limitado apenas àqueles que são jovens, detentores de força física, uma vez que esta é apenas uma das energias a serem utilizadas nas atividades laborativas. As potencialidades mentais dos indivíduos de terceira idade, hoje Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 2

comprovadas, merecem, portanto, ser entendidas como sinônimo da força produtiva de que são detentores (Amarilho, 2005). Sendo assim o envelhecimento é um fenômeno que atinge a todos os seres vivos, no caso do homem está relacionado intimamente com as condições de vida e trabalho. E é de senso comum que, na medida em que as pessoas vivem, vão adquirindo mais experiência. Então, podese correlacionar às questões relativas ao envelhecimento com as questões relativas à experiência (Stell, 2003). Para Néri (2000), o processo de envelhecimento ocorre diferentemente para as pessoas, dependendo de seu ritmo e da época de sua vida, pois, a velhice não é um período caracterizado só por perdas e limitações. Embora aumente a probabilidade de doenças e limitações biológicas, é possível manter e aprimorar a funcionalidade nas áreas física, cognitiva e afetiva. Mesmo pessoas comuns podem alcançar alto nível de especialização em domínios selecionados da inteligência como a memória e a solução de problemas. Com a questão do aumento da expectativa de vida no Brasil, tem-se por conseqüência um aumento significativo de pessoas idosas, e a sociedade deve repensar sobre a aposentadoria e o que fazer após a mesma. Sobre isso comenta Sá (2005) refere que as pessoas tendo uma maior expectativa de vida começam a questionar-se a respeito de alguns sonhos esquecidos, um retornar a faculdade (o que hoje é até estimulado por algumas instituições de ensino), ou ainda a segunda profissão, que no passado era realizada como hobby ou complemento familiar e, hoje se torna a profissão principal. De acordo com Peixoto (2004) somente 58% das pessoas em idade de aposentadoria gozam plenamente desse privilégio. As estatísticas mostram que atualmente mais de um terço desta população (seja aposentada ou não) ainda trabalha. Tomando o grupo dos aposentados que não está forçosamente em situação precária (minoria entre os aposentados brasileiros), que chegam à aposentadoria dotados de uma formação profissional mais qualificada e que por essas razões têm mais chance de permanecer no mercado de trabalho. Para Jacques e Carlos (2005), a preparação para aposentadoria consiste em uma reorganização da vida familiar, novas relações afetivas, novos espaços de convívio e de relacionamento fora do mundo do trabalho. Surgem os trabalhos alternativos, os hobbies, as experiências em artes e ofícios que implicam em autonomia com relação à organização do trabalho. Conforme Giatti e Barreto (2003) em pesquisa realizada com 2886 idosos com 65 anos ou mais de idade (x=72,27), residentes em dez regiões metropolitanas brasileiras, mais de um quarto dos idosos trabalhava (26,9%). Em relação aos aposentados, os resultados apontam que os que trabalhavam eram mais jovens, tinham maior escolaridade e renda per capita. Estes idosos mencionaram menor freqüência de doenças e menor dificuldade para execução de tarefas diárias, mas apresentam a mesma relação na procura aos serviços de saúde. Os resultados desta pesquisa Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 3

indicaram que a saúde é fator preditivo independente da permanência na vida ativa em idades elevadas. Luft (2003) aponta que somos transição, somos processo, e isso nos perturba. Viver deveria ser até o último e o derradeiro olhar transformar-se. O fluxo de dias e anos e décadas serve para crescer e acumular, não só perder e limitar. Somos seres humanos completos em qualquer fase, na completude daquela fase. Frente a estas informações pode-se pensar na forma de viver-se a velhice que está associada a várias questões que se interligam e que se tornam mais complexas, porque uma das características desta etapa da vida é a sua heterogeneidade, ou seja, as pessoas não envelhecem de maneira igual, mas constroem suas próprias histórias de vida, com características e dificuldades diferentes. Não é admissível, portanto que se trate a velhice de uma forma homogeneizada e que não se leve em conta às diferenças (Lopes, 2000). Segundo Guimarães (2002) o preconceito em relação ao idoso está relacionado à cultura brasileira, ou seja, em países desenvolvidos o idoso é respeitado e possui papéis sociais importantes para a manutenção econômica do país. No caso do Brasil, por bases culturais, o idoso ainda é visto como incapaz, improdutivo e dependente. Todavia, através de trabalhos direcionados a terceira idade esta realidade vem se demonstrando falsa e comprovando que o idoso muito tem a contribuir em nossa sociedade. Diversos estudos têm mostrado que as pessoas que trabalham, ou seja até mesmo com trabalho informal sem carteira assinada apresentam melhores condições de saúde do que a população geral, e que pessoas doentes e incapazes, são geralmente, excluídas do mercado de trabalho (Giatti & Barreto 2003). Assim sendo, o trabalho é fundamental para o desenvolvimento pessoal e reconhecimento social, tendo o aposentado dificuldades de desvincular-se do mesmo. O trabalho representa o papel de regulador da organização da vida humana, em que horários, atividades e relacionamentos pessoais são determinados conforme as suas exigências, sendo fundamentais para a vida social. As atividades exercidas, ao longo da vida, servem de ponto de referência para as pessoas, sendo difícil desarticular-se dessas (Zanelli, 2001). Para Lopes (2000) o trabalho é um dos fatores mais significativos na conquista e manutenção da qualidade de vida para os seres humanos. Quando associado à idéia de satisfação e realização pessoal, amplia as possibilidades de uma sobrevida saudável e digna e, preserva, sobretudo, o papel social do indivíduo no meio onde se encontra inserido. CONCLUSÃO Convive-se em uma sociedade que tem muita dificuldade em lidar com as diferenças, que estigmatiza, que provoca sentimentos de impotência e de exclusão ao afastar determinadas Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 4

pessoas do mundo produtivo. É importante que se desvelem essas diversas formas de preconceito, estigma e exclusão e que sejam socializados os conhecimentos sobre envelhecimento e trabalho, para que posam ser construídas estratégias de intervenção, que incluam os diversos segmentos da sociedade, envolvidos com essa questão. Considerando a revisão bibliográfica exposta percebe-se que, ao longo do desenvolvimento, o trabalho é fundamental para qualidade de vida dos idosos e este influencia no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, subsídios que possam contribuir para intervenções preventivas que visam assegurar uma melhor qualidade na relação trabalho e terceira idade tornam-se muito importantes. Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amarilho, C.B., Carlos, S. A. O executivo-empreendedor, sua aposentadoria e o processo de afastamento do trabalho.textos sobre Envelhecimento, Rio de Janeiro, v.8 n.1, Unati 2005. Giatti. L., Barreto, S. M. Saúde, trabalho e envelhecimento no Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19 n.3, 2003. Guimarães, G.D. Aspectos da teoria do cotidiano: Agnes Heller em perspectiva. Edipucrs: Porto Alegre, 2002 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Calaza, L. O Idade que dá Lucro. O Globo, São Paulo, 24 abr. 2005. Economia, p.1. Jacques, Maria da Graça Corrêa, Carlos, Sérgio Antônio. Identidade, aposentadoria e o processo de envelhecimento. Porto Alegre, 2002. Disponível em: http:// www.conciencia.com.br/reportagens/envelhecimento/texto. Acesso em 24 jan.2006. Lopes, R. G. C. Saúde na velhice: as interpretações sociais e os reflexos no uso do medicamento. São Paulo: EDUC, 2000. Luft, L. Perdas & ganhos. Rio de Janeiro: Record. 3. ed., 2003. Neri, A.L. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Papirus, 2000. Peixoto, C. E. Família e envelhecimento. Rio de Janeiro: FGV, 2004. Pereira, D. E. C. P. Qualidade de Vida na Terceira Idade e sua Relação com o Trabalho. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC, Florianópolis, 2002. SÁ, Patrícia. O Idoso no Mercado de Trabalho. Disponível em http:// www. drgate.com.br/artigos/textos/to/to_idosot.html. Acesso em 20/01/2006. Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 6

Veras, R. P., Caldas, P.C. Promovendo a saúde e a cidadania do idoso: o movimento das universidades da terceira idade. Ciências saúde coletiva, v. 9 n.2. Rio de Janeiro, 2004. Zanelli, J. C. O programa de Preparação para Aposentadoria como um Processo de Intervenção no Final de uma Carreira. CFH: UFSC, 5, p.157 175, 2001. Wajnman, S., Oliveira, A. M. H. C., Oliveira, E. L. Os Idosos no Mercado de Trabalho: Tendências e Conseqüências. In: Camarano. A. A. (Org.). Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60? IPEA: Rio de Janeiro, 2004. Roberta Fernandes Lopes do Nascimento; Irani I. de Lima Argimon; Regina Maria Fernandes Lopes 7