O OBJETO A E SUA CONSTRUÇÃO

Documentos relacionados
UMA CRIANÇA E EX-PANCADA: RELAÇÃO DO MASOQUISMO INFANTIL AO SADISMO ADULTO

Feminilidade e Angústia 1

Opção Lacaniana online nova série Ano 3 Número 8 julho 2012 ISSN Há um(a) só. Analícea Calmon

A política do sintoma na clínica da saúde mental: aplicações para o semblante-analista Paula Borsoi

Fundamentação teórica da Clínica de Psicologia da Unijuí

Márcio Peter de Souza Leite 4 de abril de 1997 PUC

ISSO NÃO ME FALA MAIS NADA! (SOBRE A POSIÇÃO DO ANALISTA NA DIREÇÃO DA CURA) 1

Amar demais: um destino inevitável na sexuação feminina?

BUSCA DE FIDELIZACÃO DOS CLIENTES ATRAVES DA QUALIDADE NO ATENDIMENTO

DESENVOLVIMENTO SEXUAL INFANTIL

Especulações sobre o amor

Redação Publicitária reflexões sobre teoria e prática 1

II SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA Universidade Estadual de Maringá 28 a 30 de Novembro de 2012

Violência Simbólica: possíveis lugares subjetivos para uma criança diante da escolha materna

DO DESENVOLVIMENTO DA TEORIA PULSIONAL FREUDIANA PARA UMA REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AMOR E ÓDIO. Ligia Maria Durski

12. SOCIEDADE DO ESPETÁCULO: A CRIANÇA COMO ALVO Aline Vaneli Pelizoni 1 Geovane dos Santos da Rocha 2 Michaella Carla Laurindo 3

FREUD: IMPASSE E INVENÇÃO

O AUTISMO NA PSICANÁLISE E A QUESTÃO DA ESTRUTURA Germano Quintanilha Costa 1

A Estrutura na Psicanálise de criança

Os impasses na vida amorosa e as novas configurações da tendência masculina à depreciação

Wu-li:Um Ensaio de Música Experimental

AUSÊNCIA PATERNA E O IMPACTO NA MENTE DA CRIANÇA. Psicanalista - Membro da CSP - ABENEPI RJ Especialista em Gestão Materno-Infantil

CRIAÇÃO DE TABELAS NO ACCESS. Criação de Tabelas no Access

FUNÇÃO MATERNA. Luiza Bradley Araújo 1

O SUPEREU NA DEMANDA DE AMOR INSACIÁVEL DAS MULHERES

Prova de Língua Portuguesa (Acesso aos mestrados profissionalizantes) 3ª Fase de Candidatura

Palavras chave: Desamparo, mãe, feminilidade, infância, objeto a.

Feminilidade e Violência

UM JOGO BINOMIAL 1. INTRODUÇÃO

Pokémon e a globalização 1

MANUAL HAE - WEB MANUAL WEB HAE

Dureza Rockwell. No início do século XX houve muitos progressos. Nossa aula. Em que consiste o ensaio Rockwell. no campo da determinação da dureza.

Fonte:

A descoberta freudiana da fantasia fundamental* Palavras-chave: fantasia, clínica, neurose, realidade psíquica

O amor e o feminino no século XXI

FANTASIAS SEXUAIS INFANTIS, AS CRIANÇAS FALAM. A intenção deste trabalho foi escutar crianças pequenas a respeito da

I ENCONTRO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS CURSOS DE LICENCIATURA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA: EM BUSCA DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO


Registro de Retenções Tributárias e Pagamentos

COLÉGIO VICENTINO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio Rua Rui Barbosa, 1324, Toledo PR Fone:

CIBERESPAÇO E O ENSINO: ANÁLISE DAS REDES SOCIAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL II NA ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR VIANA

A Sublimação e a Clínica em Lacan. Eliane Mendlowicz

TOCAR E VER: O CORPO TORNANDO-SE SUJEITO

Freud, S. Inibições, sintomas e ansiedade (1925). Em: Obras completas. Rio de Janeiro: Imago,

Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú

FANTASIA, MITO E ATO NA LÓGICA DA CRIAÇÃO DO SUJEITO. singular acerca das bases psíquicas que regem, no para além da historicidade, a

Tudo o que gosto é ilegal, imoral ou engorda

19. O que pensar das pessoas que, sofrendo ingratidão por benefícios prestados, não querem mais fazer o bem, com medo de encontrar ingratos?

Comandos de Eletropneumática Exercícios Comentados para Elaboração, Montagem e Ensaios

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Elaborado por Gildenir Carolino Santos Grupo de Pesquisa LANTEC

Concurso de fotografia Somos todos peões REGULAMENTO 1. ENQUADRAMENTO

Ô MÃE, ME EXPLICA, ME ENSINA, ME DIZ O QUE É FEMININA? nossos tempos não foge à regra. As mulheres, afetadas pela condição de não-todas,

I. Conjunto Elemento Pertinência

1. Primeiras reflexões: a base, o ponto de partida 15

Devastação: um nome para dor de amor Gabriella Dupim e Vera Lopes Besset

Reflexões sobre a violência contra a criança

Filosofia: o paradoxo de aprender e ensinar

ECONOMIA DA EDUCAÇÃO Módulo 1 Princípios de Economia

A função da alteridade frente ao desamparo nos primórdios da vida psíquica

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Mercados emergentes precisam fazer mais para continuar a ser os motores do crescimento global

Leônidas Siqueira Duarte 1 Universidade Estadual da Paraíba UEPB / leonidas.duarte@hotmail.com 1. INTRODUÇÃO

A SEXUALIDADE INFANTIL E O DESEJO DO SABER

ATIVIDADE 02 O CONJUNTO ARQUITETÔNICO DA PAMPULHA: UM CARTÃO-POSTAL DA CIDADE

E-Learning Uma estratégia para a qualidade do ensino/aprendizagem. Ensino a Distância

Há ou não um ato sexual? 1

SAMCDA: o discurso cientificista da terapia cognitivo-comportamental 1

Eixo Temático ET Desenvolvimento de Estratégias Didáticas

Evangelizadora, antes de mais, em razão do seu nome. A Universidade Católica não é

O jogo do Mico no ensino das Funções Orgânicas: o lúdico como estratégia no PIBID

A angústia: qual sua importância no processo analítico? 1

Aula 5. Uma partícula evolui na reta. A trajetória é uma função que dá a sua posição em função do tempo:

Exemplo COMO FAZER UM TRABALHO ESCOLAR O QUE DEVE CONSTAR EM UM TRABALHO ESCOLAR? Um Trabalho Escolar que se preze, de nível fundamental, deve conter:

CONTEMPORANEIDADE. Palavras-chave: pai, interdição do incesto, Lei, complexo de Édipo, contemporaneidade, psicanálise.

As vicissitudes da repetição

A CRIANÇA, O ADULTO E O INFANTIL NA PSICANÁLISE. Desde a inauguração da psicanálise, através dos estudos de seu criador Sigmund

Magistério profético na construção da Igreja do Porto

Impasses na clínica psicanalítica: a invenção da subjetividade

TABLETS COMO RECURSO DE ENSINO: UM ESTUDO COM PROFESSORES DE MATEMÁTICA NUMA ESCOLA PÚBLICA DA PARAÍBA

UMA INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE OBJETO a

Autoria: Fernanda Maria Villela Reis Orientadora: Tereza G. Kirner Coordenador do Projeto: Claudio Kirner. Projeto AIPRA (Processo CNPq /2010-2)

PROJETO DE LEI Nº., DE DE DE 2012.

OPERAÇÕES COM FRAÇÕES

Tópicos Especiais em Educação

APRENDENDO COM AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS

VAMOS FALAR SOBRE HEPATITE

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Projeto: Os 3 porquinhos

LOGO DO WEBSITE DA FUTURA APP

Tutorial do aluno Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Rede e-tec Brasil

Ceará e o eclipse que ajudou Einstein

O SIGNIFICANTE NA NEUROSE OBSESSIVA: O SINTOMA E SUA RELAÇÃO COM O DESEJO RILMA DO NASCIMENTO MEDEIROS E MARGARIDA ELIA ASSAD - UFPB

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Entrevista com o Prof. Luiz Carlos Crozera, autor da Hipnose Condicionativa.

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA DISCIPLINA MARISTA

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

Transformações na intimidade no século XXI

Projeção ortográfica e perspectiva isométrica

Colégio La Salle São João. Professora Kelen Costa Educação Infantil. Educação Infantil- Brincar também é Educar

A CONSTRUÇÃO DO AMOR MATERNO NA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ: REFLEXÕES A PARTIR DA PSICANÁLISE.

Transcrição:

O OBJETO A E SUA CONSTRUÇÃO 2016 Marcell Felipe Psicólogo clínico graduado pelo Centro Universitário Newont Paiva (MG). Pós graduado em Clínica Psicanalítica pela Pontifícia Católica de Minas Gerais (Brasil). E-mail de contato: marcell.felipe@hotmail.com RESUMO O conceito de objeto a, é de importância descomunal na teoria e na prática psicanalítica. Seus sinônimos são muitos, como o Outro, o agalma, das Ding, o real, causa de desejo, mais-gozar, materialidade da linguagem, desejo do analista, desejo do Outro, objeto perdido, entre outros. Fink (1995) nos atenta que esta descoberta foi para Lacan a mais importante da psicanálise. O objeto a, é construção de um Lacan em retorno à Freud, portanto, permitimos-nos indagar, é uma criação lacaniana ou freudiana? É diante do brilhantismo de Lacan em retornar a Freud como jamais fora feito, que iremos fazer um breve percurso epistemológico do que vem a ser objeto em Lacan e onde este objeto a se esbarra no ensinamento freudiano. Palavras-chave: Objeto, objeto a. O RETORNO DE FREUD A LACAN ACERCA DO OBJETO A No retorno a Freud, Lacan teve como objetivo a experiência analítica, bem como os conceitos que resgatou em Freud e aplicou na clínica atual. Lacan, em sua construção freudiana, percebeu que ao arriscar em conceituar os termos freudianos se esbarrou com aquilo que o próprio Freud já havia se deparado, a falta. Lacan trouxe então o conceito de falta como o ponto central em que se retoma a psicanálise. (FINK, 1995). Marcell Felipe 1 Siga-nos em

A conclusão lacaniana sobre essa falta é que o objeto trilhado por Freud deva ser tomado pela via da falta, causando a impossibilidade de limitar o desejo. A partir disso, Lacan começa a construir o conceito de objeto a em toda a sua obra 1. Para iniciar essa pesquisa epistemológica do objeto proposto, recorro primeiramente ao Seminário IV: As Relações de Objeto e as Estruturas Freudianas, no qual, Lacan não nos deixa esquecer que tal conceito o de objeto foi importante na obra de Freud Lembro a vocês o esquecimento a que se relega comumente a noção de objeto não é tão acentuado em seu relevo, se acompanharmos a maneira como a experiência e a doutrina freudianas situam e definem este objeto (1956-57, p. 25). Lacan apresenta o objeto como [...] uma busca do objeto perdido. (1956-57, p.25). Neste mesmo seminário o autor trabalha o objeto de desejo como falta de objeto, sendo este simbolizado pela operação fálica, Lacan deixa claro que este não é o objeto genital e sua primazia, mas um objeto apreendido na busca do objeto perdido, Ao considerar a relação dual como real, uma prática não pode escapar às leis do imaginário, e o desfecho dessa relação de objeto é a fantasia de incorporação fálica (1956-57, p. 27). Lacan considera tal questão como primordial nesse primeiro momento diante do retorno a Freud sobre o objeto A noção da relação de objeto é impossível de compreender, e até mesmo de exercer, se não pusermos nela o falo (1956-57, p.28). No seminário V As formações do inconsciente (1957-58) Lacan nos atenta ao que é um objeto ilusório e procurado infinitamente, fazendo apenas borda, é um desejo metonímico, [...] não existe objeto a não ser metonímico, sendo o objeto do desejo, objeto do desejo do Outro, e sendo o desejo sempre um desejo de Outra coisa continua Muito precisamente, daquilo que falta a, o objeto perdido primordialmente, na medida em que Freud mostra-o sempre por ser reencontrado. (1957-58, p. 16). Lacan em seu seminário VII A Ética da psicanálise (1959-60) apresenta o conceito de das Ding como aquilo que é definido como espaço vazio de representação e constitutivo do objeto. Ora, se vocês consideram o vaso na perspectiva que inicialmente promovi, como um objeto feito para representar a existência do vazio no centro do real, que se chama a Coisa das Ding, esse vazio, tal como um nihil, como um nada. E é por isso que o oleiro, 1 Quando o autor deste trabalho anuncia a obra fazendo referência o mesmo tem como intuito relacionar apenas os textos que se refere ao caminho da construção do conceito de Objeto. Marcell Felipe 2 Siga-nos em

assim como vocês para quem eu falo, cria o vaso em torno desse vazio com sua mão, o cria assim como o criador mítico, ex nihilo, a partir do furo. (p. 148) É deste vazio que se faz furo e que demarca o inconsciente, que é fora de qualquer articulação que seja com significante, é aí que se aparece o objeto a, é a causa de desejo. Das Ding indica que é a falta na origem, é um que Lacan nomeou Outro pré-histórico que não se esquece nunca, essa Coisa é situada no fora-do-significante e anterior ao recalque utilizando do Projeto(1895/1950) de Freud podemos dizer que se encontra no índice de percepção ele está situado no nível das Vorstellungen. Lacan (1959-60) vem dizer que este objeto a marcado pelo significante da falta no Outro S(Ⱥ) vem ocupar o lugar onde a existência do Outro falha. A importância deste Seminário é tamanha pela direção que Lacan tomou na psicanálise. A continuar dando embasamento ao breve histórico foi em A transferência, Seminário VIII (1960-61) que Lacan começa a marcar a diferença entre objeto a da fantasia e o objeto metonímico proposto no seminário V. Lacan (1960-61) trás o termo agalma pontuando que é algo que está dentro de todos, porém, se trata de uma outra coisa. Neste texto o autor reformula a relação do sujeito com seu objeto, deixando claro que não se deve pensar em objeto de desejo como o objeto total, este deverá ser refletido como pivô do desejo humano. Lacan (1960-61) propõe que se esse objeto nos faz apaixonar é pelo fato de algo ali está escondido, está o objeto de desejo, o agalma, mas nos atenta que esse objeto é sempre um objeto parcial, Esse objeto, qualquer que seja o modo pelo qual falem dele na experiência psicanalítica, quer que chamem de seio, falo ou merda, é sempre um objeto parcial (p.188). Só no Seminário X: A angústia (1962-63) que Lacan realiza as construções teóricas sobre o objeto a como aquele objeto do real. Lacan propõe que a angústia surge por um alerta de que algo falta, falta de uma falta, uma resposta ao real que vem do desejo. O desejo do Outro, se endereça ao sujeito e se coloca em questão (Che vuoi?), porém, a angústia é o que não se deixa enganar e surge sobre o indomável real. Seminário que intitulei de a angústia, é por ser essencialmente por esse meio que se pode falar dele, o que também quer dizer que a angústia é sua única tradução subjetiva (1962-63, p.113), do objeto a. Tenho como objetivo retomar também a leitura freudiana em busca de uma possível elaboração, em qual ponto esse objeto que Lacan construiu, aparece nas obras de Freud? Entendo que tal demanda seria de uma pesquisa que durariam ano, porém, meu intuito é apenas situar e Marcell Felipe 3 Siga-nos em

discutir as definições e o estatuto da noção de objeto nas obras de Freud, logo se faz necessário apresentar neste trabalho um breve histórico sobre tal objeto. O OBJETO EM FREUD Deve-se ter atenção quando se refere ao objeto, pois Freud diz de objeto fazendo alusão na realidade de representação psíquica, ou seja, o movimento a que se refere à moção pulsional deve ser considerado um movimento interno ao psiquismo. Em Freud, a sua concepção de objeto surge a partir de seu Projeto para uma psicologia cientifica (1895/1950), que dizia de um Freud em tempos primitivos, em que não havia nem sujeito e nem o Outro. Segundo Freud (1895/1950), o aparelho psíquico buscava se manter livre de estímulos, ao passo de evitar o desprazer, fazendo descarregar suas excitações pela via motora. Foi a partir de uma vivência de satisfação que Freud inaugurou um novo tempo, onde o grito da criança faz demanda ao Outro. Para Freud (1895/1050), esta vivência gera uma percepção do objeto. Quando surge uma excitação, a moção psíquica se investe em uma nova imagem daquela percepção, com propósito de restabelecer sua situação de satisfação primeira. Sabe-se que nessa primeira experiência algo foi perdido, algo que não pode ser representado, um resto que se constitui como furo no psiquismo que causa no sujeito buscar aquele objeto perdido, reencontrar este objeto, Logo, o objetivo dessa primeira atividade psíquica era produzir uma identidade perceptiva uma repetição da percepção vinculada à satisfação da necessidade (FREUD, 1895/1950, p.397). A partir desta experiência repetida, o sujeito irá se deparar com sua insatisfação, o fracasso do princípio de prazer. O objeto que está em jogo está no plano do processo primário, aquele que se conhece como Das Ding. Tendo em vista que o objeto em Freud aparece desde seu início, em seu Projeto... (1895) se faz necessário percorrer algumas obras acerca do conceito de objeto, com o objetivo de estimar e ilustrar as hipóteses desse artigo. Freud em Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), descreve o objeto como a escolha de objeto que o autor fará em dois tempos distintos, sendo primeiro na fase infantil onde o sujeito submetido a castração fará sua identificação e sua escolha objetal. Após este primeiro momento proposto por Freud (1905), na puberdade, o momento de realização da escolha sexual, Marcell Felipe 4 Siga-nos em

em que o sujeito terá de se haver com a separação dos seus primeiros objetos. Segundo Freud (1905), as identificações aí propostas serão determinantes para as escolhas objetais adultas. Freud (1905) aponta que Ao mesmo tempo, consuma-se no lado psíquico o encontro do objeto para qual o caminho fora preparado desde a mais tenra infância. e continua Na época em que a mais primitiva satisfação sexual estava vinculada à nutrição, a pulsão sexual tinha um objeto fora do corpo próprio, no seio materno. (1905, p.210) esse encontro com o objeto, segundo Freud (1905) é, na verdade, um reencontro. A escolha que Freud (1905) se refere não é uma escolha racional, mas algo do inconsciente, que é irreversível, na eleição de seu objeto de amor. Adentrando no campo do objeto de amor, Freud relata que este é o que conduz uma série na qual Freud em Introdução ao narcisismo (1914) separou em libidinais próprios das pulsões parciais. Freud (1914) informa que a série pulsional toma o outro como apoio, que ao nascer à necessidade usa de partes do corpo em que Freud nomeou de prazer de órgão. A outra série é a eleição de objeto que é quando o sujeito não se interessa mais pelo auto-erotismo e finaliza na eleição de um objeto muita das vezes o objeto investido da pulsão sexual parcial é o seio da mãe. Nesta série, o objeto escolhido é aquele outro definido como pessoa, situado no campo da totalização sexual. Neste sentido, Freud (1914) mostra que este processo é o que estrutura o papel do narcisismo. A escolha do objeto, Freud (1914) nomeou de escolha objetal narcísica, que por sua explicação é amar a si mesmo através de um semelhante, e todo esse amor contem uma parcela de narcisismo. O Eu (Ich) representa o reflexo desse objeto. Outro objeto a ser destacado neste trabalho está presente na obra Luto e Melancolia (1917), sendo neste texto que a questão da identificação tomará corpo. A questão apresentada no texto é que em lugar da perda de objeto este sendo real ou fantasiado o sujeito passa a viver uma identificação com esse objeto perdido, relacionando com o seu próprio Eu. Essa relação é o que mostra Freud (1917) sendo uma grande destruição do Eu, pelo fato do sujeito não conseguir fazer uma substituição do objeto que fora introjetado e buscar um novo objeto. A tensão causada pela ausência do objeto externo seguida pela presença do objeto no psíquismo é a fonte de um sofrimento. Neste ponto, em que Freud apresenta a teoria do luto, o mesmo fora muito perspicaz em relacionar a questão da presença e ausência ao observar o jogo de seu neto que foi nomeado de Marcell Felipe 5 Siga-nos em

fort-da. Freud em Além do principio de prazer (1920) descreve que a brincadeira com o carretel fazendo com que ele aparecesse e desaparecesse, fazendo assim um jogo. O autor analisa tal jogo como a falta da mãe, em que a criança ao alternar a presença e ausência. O que se tornou curioso para Freud (1920), foi a questão do objeto que substitui a mãe estar maior tempo ausente na cena, a partida era mais frequente em seu jogo. É a partir daí que o autor percebe não é apenas o sofrimento deste sujeito que está em jogo, mas a sua posição, pois esta, tem uma mudança de passivo, para ativo. Toda obra de Freud que envolve o tema de objeto nos faz pensar em qual fora o caminho percorrido por Lacan para conceituar a sua invenção mais importante da psicanálise, o objeto a. Foi expresso de forma breve alguns pontos de importância ao conceito de objeto a, mas em momento algum se fez a seguinte questão o que é de fato o objeto a? Pode-se responder inúmeras coisas, inúmeros conceitos, como; citado acima no resumo, mas deixemos esta resposta a quem o criou, e ele responde O objeto a é algo de que o sujeito, para se constituir, se separou como órgão (LACAN, 1964, p.101). Marcell Felipe 6 Siga-nos em

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREUD. Sigmund. (1895/1950). Projeto para uma psicologia científica. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freu d. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freu d. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.. (1914). Introdução ao narcisísmo. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.. (1917). Luto e melancolia. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.. (1920). Além do princípio de prazer. In: FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 2006. FINK, Bruce. (1995) Sujeito Lacaniano: do desejo ao gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 LACAN, Jacques. (1956-57) Seminário livro IV: As Relações de Objeto e as Estruturas Freudianas. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. (1957-58) Seminário livro V: As formações do inconsciente. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. (1959-60) Seminário livro VII: A ética da psicanálise. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. (1960-61) Seminário livro VIII: A transferência. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. (1962-63) Seminário livro X: A angústia. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988 Marcell Felipe 7 Siga-nos em