Zé Chumaço E m um reino distante, o filho da rainha nasceu feio. Foi batizado como José, mas acabou conhecido como Zé Chumaço, por causa da quantidade excessiva de cabelos que tinha. A rainha se estristecia pelo aspecto do filhinho, mas uma boa fada conseguiu consolá-la um pouco. Majestade, saiba que todos ainda admirarão seu filho, pois ele terá inteligência brilhante, simpatia e bom humor. Quero presenteá-lo com um poder mágico: ele transmitirá essas qualidades à pessoa que mais amar no mundo. A rainha agradeceu sinceramente à fada e, daquele dia em diante, não se preocupou tanto com o aspecto do menino. Alguns anos mais tarde, a rainha de um reino vizinho deu à luz a uma menina lindíssima. A rainha ficou muito feliz, mas a
mesma fada que presenciara o nascimento de Zé Chumaço diminuiu a alegria da mãe: Majestade, infelizmente, apesar de linda, sua filha terá pouca inteligência. Não existiria uma forma de dar um pouco de inteligência para ela? perguntou a mãe. Quanto à inteligência, nada posso fazer respondeu a fada, mas ela terá um poder mágico: a princesa poderá conceder beleza à pessoa de quem mais gostar. Passaram-se os anos. A princesa ficava cada vez mais linda. Nos bailes, os rapazes sentiam atração pela grande beleza da princesa, mas logo percebiam o quanto era tola. Ela acabava ficando em um canto, sozinha. Um dia, triste e infeliz, ela foi ao bosque para ficar só e chorar. Então, viu aparecer um jovem, bem vestido, mas muito feio e pequeno. Era Zé Chumaço que passeava por ali.
Alteza, por que chora? Uma jovem tão bela não deveria nunca ficar triste. A beleza é uma das maiores dádivas da vida. A princesa suspirou e respondeu: Ah! Senhor, preferiria ser feia, mas ter inteligência e simpatia, pois sou tão bonita e tão boboca. Por isso eu choro. Se é só isso que a aflige, princesa, é possível resolver disse Zé Chumaço com um sorriso. E como? pergutou a princesa, enxugando as lágrimas.
Tenho o poder de dar toda a inteligência possível à pessoa que eu mais amar no mundo. E essa pessoa poderá ser você. Se aceitar casar comigo, seu desejo de ficar inteligente, esperta e bem-humorada será atendido. A princesa olhou para Zé Chumaço. Achou-o tão feio e magricelo que demorou para responder. Zé Chumaço, que era considerado muito inteligente, compreendeu logo as razões da demora na decisão. Vou lhe conceder um ano para refletir sobre o que lhe falei a respeito de casamento disse Zé Chumaço. A princesa concordou. Era tão boba, que chegou a pensar que um ano nunca terminaria, e então nunca precisaria responder. Está bem! Prometo que pensarei na sua proposta e, daqui a um ano, já terei decidido. Ao fazer a promessa, sentiu uma grande mudança: começou a falar com facilidade, dizendo coisas inteligentes e divertidas. Quando a princesa voltou para a corte, todos ficaram fascinados com a mudança ocorrida. A notícia se espalhou rapidamente por todas as províncias e logo começaram a chegar pretendentes à mão da princesa dispostos a tudo para conquistar o coração de uma donzela tão atraente. Mas a princesa, sabiamente, pedia tempo antes de se decidir a respeito de um compromisso tão importante como o casamento. Passaram-se muitos meses e, um dia, a bela princesa, para poder refletir com calma, foi passear no bosque. De repente, ela lembrou-se de que no dia seguinte venceria o prazo dado pelo príncipe sobre o pedido de casamento. Quase desmaiou! Aquela promessa havia sido feita quando ela era uma tola, mas agora era inteligente. O que fazer?
A princesa ainda se perguntava como poderia evitar o casamento, quando, de repente, do meio das árvores, apareceu o príncipe Zé Chumaço. Princesa, que bom revê-la. Espero que esteja aqui para honrar a sua palavra. Príncipe, eu não tomei ainda nenhuma decisão, mas, na verdade, não desejo me casar com você. Princesa, estou decepcionado disse ele, entristecido. Não esperava esta resposta depois da inteligência que lhe concedi.
Se queria se casar comigo, não deveria curar-me da tolice. Deveria ter ficado satisfeito com uma esposa bonita, porém boba. Zé Chumaço, mesmo um pouco decepcionado, não desistiu. Diga-me, princesa, além de minha feiúra, há outra coisa em mim que a desagrada? Minha conversa, minhas roupas? Não, não! reagiu a princesa. Tudo em você me agrada, exceto a aparência. Amo-o sem sua fisionomia e seu corpo. Então não deve preocupar-se, pois você tem o poder de transformar-me no mais belo dos príncipes. Mas de que forma? perguntou a bela jovem, cheia de dúvida e curiosidade. A mesma fada que me deu o poder de doar inteligência à pessoa que mais amaria, deu a você o de dar beleza àquele que amasse realmente. Se for assim disse a princesa, realmente desejo, de todo o coração, com toda a minha alma, que você se torne o príncipe mais belo e mais fascinante deste mundo. Mal acabou de pronunciar essas palavras e, diante de seus olhos, como por milagre, Zé Chumaço transformou-se em um belo jovem, formoso, com traços perfeitos, olhos brilhantes e sorriso encantador. E agora, com esta nova aparência, considera-me digno de ser seu esposo? perguntou o príncipe, sorrindo. Oh! Claro que sim! respondeu a princesa animadamente. Cheia de felicidade, a princesa aceitou o pedido. Zé Chumaço se tornara um bonito príncipe, mas não perdera nada de seu espírito brilhante, nem de sua inteligência. Em nenhum lugar do mundo, a princesa teria achado marido melhor.
Agora só restava o consentimento do rei, o pai da princesa. Foram até o palácio. O rei já havia ouvido falar das qualidades e do caráter do jovem príncipe e, quando o conheceu pessoalmente, tão belo e inteligente, ficou muito feliz de conceder-lhe a mão da fi lha primogênita. O casamento foi realizado no dia seguinte e foi servido um grande banquete. Durante a cerimônia, os numerosos convidados não se cansavam de cumprimentar o casal que, desde aquele dia, viveu feliz para sempre.