Registro: 2013.0000479088 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000, da Comarca de Igarapava, em que é apelante/apelado COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO SABESP, são apelados/apelantes ORESTES SOARES DOS SANTOS e DALVA LELIS FERREIRA SOARES. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:recurso adesivo não conhecido, parcialmente provido o da SABESP. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MAGALHÃES COELHO (Presidente) e EDUARDO GOUVÊA. São Paulo, 16 de agosto de 2013. Coimbra Schmidt Relator Assinatura Eletrônica
Voto nº 23.067 Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000 Igarapava Apelantes e reciprocamente apelados : CIA. DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO-SABESP e ORESTES SAORES DOS SANTOS e sua mulher MM. Juiz de Direito: Dr. Ewerton Meirelis Gonçalves DESAPOSSAMENTO ADMINISTRATIVO. Passagem de tubulação subterrânea (adutora de água), sem prévio procedimento administrativo ou judicial. Indenização que apenas considera o prejuízo suportado pelo proprietário, de acordo com o grau de restrição de uso do imóvel. Juros compensatórios desde a ocupação da faixa servienda. Moratórios nos termos do art. 15-B, do Decreto-lei 3.365/41. Ação parcialmente procedente. Recurso adesivo não conhecido, parcialmente provido o da SABESP. Ao relatório da resp. sentença de fls. 150/156, adotado, acrescenta-se que a ação de cobrança movida por Orestes Soares dos Santos e sua mulher contra a Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo-SABESP, para o fim de receberem o valor devido pela passagem de tubulação subterrânea em terreno de sua propriedade sem anterior decreto de desapropriação, foi julgada parcialmente procedente, condenada a ré ao pagamento da indenização no valor de R$ 2.472,44, acrescido de juros compensatórios e moratórios. Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-2
Apelam as partes. A SABESP pleiteia redução do valor principal, ao menos com relação à adoção da alíquota de 1/3 para a faixa servienda, bem como do percentual dos juros. Os autores recorrem adesivamente, postulando o pagamento dos lucros cessantes e correção monetária a partir do ajuizamento da ação. 193/196. Contrarrazões a f. 181/185 e Os recursos foram distribuídos à C. 32ª Câmara de Direito Privado que deles não conheceu, declinando da competência pelo acórdão de f. 204/207. A C. 12ª Câmara de Direito Privado igualmente determinou a redistribuição pelo acórdão de f. 215/219. É o relatório. 1. O recurso adesivo não comporta conhecimento por ter sido interposto desacompanhado do respectivo preparo. Dispõe o parágrafo único do art. 500, do Código de Processo Civil que ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior. Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-3
Assente o entendimento de que o preparo do recurso principal não dispensa o preparo do recurso adesivo (RT 866/298; RJTJESP 137/253; JTA 164/223). É caso de deserção, em suma. 2. Narra a inicial que em meados de 1992 os requerentes toleraram, em imóvel de sua propriedade, a passagem de tubulações subterrâneas (adutoras de água) realizada pela ré, necessária à interligação do sistema de abastecimento dos Conjuntos Habitacionais Ricardo Bozolla e José Pimentel, sem qualquer procedimento prévio (administrativo ou judicial) e sem a correspondente indenização. O laudo elaborado pelo perito do Juízo encontrou o valor da terra nua no importe de R$ 2.472,44, correspondente à utilização da área de 1.525,39 m², isenta de lucros cessantes e valores auferidos pelo cultivo e produção de cana-deaçúcar (f. 102). Não há elementos nos autos a demonstrar o desacerto do laudo oficial, realizado com as técnicas que a hipótese estava a comportar, especialmente em face dos esclarecimentos prestados. Deve prevalecer por refletir a justa indenização. O laudo do assistente técnico da ré, naturalmente tendencioso, não tem como prevalecer à míngua de argumentos técnicos convincentes, notadamente quando a pouca Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-4
profundidade da interferência permite presumir causem limitação à propriedade dos autores, pois a obra impede o cultivo de diversas culturas com raízes profundas (f. 122). Sobre o ponto bem falou a sentença. José Carlos de Moraes Salles (Desapropriação, 5ª ed., RT, pág. 789), explica que nas servidões administrativas se indenizam os prejuízos sofridos pelo particular em virtude de sua instituição. Não se indeniza a propriedade, porque esta não é retirada do particular que suporta o ônus. Com efeito, teve esta E. Câmara oportunidade de assentar que desapropriar não é o mesmo que instituir servidão sobre determinado imóvel. Pela desapropriação adquire-se a propriedade do bem, com a transferência de todos os poderes a ela inerentes. Tivesse a faixa de terra em questão sido desapropriada, o apelante sequer poderia nela ingressar sem o consentimento expresso da expropriante. A servidão administrativa, por sua vez, é a limitação imposta ao bem em prol do interesse público. O proprietário do bem não perde o domínio, apenas tem limitados os poderes a serem exercidos sobre o imóvel. 1 Por essa razão, na servidão administrativa a indenização deve corresponder aos prejuízos efetivamente causados ao imóvel serviente que, no caso, correspondem à restrição da destinação econômica imposta a uma área que albergará os fios de alta tensão, a qual é circundada por uma faixa lateral correspondente à margem de segurança. 2 1 Apelação nº 994.04.030418-9, Des. Moacir Peres, j. 2.8.2010. 2 Apelação n 0002615-86.2008.8.26.0129, Des. Magalhães Coelho, j. 21.3.2011. Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-5
No mesmo sentido: Apelação nº 0001877-49.2004.8.26.0126, Rel. Des. Leme de Campos, j. 29.8.2011: A servidão administrativa não acarreta a expropriação do imóvel. O proprietário ou possuidor continua com o domínio ou com a posse do bem, que passa a ser usado pelo particular com algumas limitações, que podem ser brandas ou mais gravosas. Deixa de ter o particular o uso exclusivo do bem serviente, porque passa a dividir esse uso com o poder público. A indenização é devida porque o particular perde a faculdade de usar o seu bem de forma livre e passa a ter um ônus que antes não tinha. Todavia, a indenização deve ser justa, isto é, nem excessiva e nem aquém do eventual prejuízo sofrido pelo particular. A indenização deve, portanto, ser estabelecida mediante apreciação de cada caso concreto, de acordo com a situação, condições e destinação do imóvel, nos exatos termos do art. 40, do Decreto-Lei nº 3.365/41. Em relação aos juros compensatórios, cujo escopo é de indenizar a perda da posse, estes são devidos a partir da ocupação até o efetivo pagamento, em índice correspondente a 12% ao ano (Súmula nº 618 do Supremo Tribunal Federal). No que tange aos juros de mora assiste razão à apelante, tendo em vista que devem incidir à base de 6% ao ano, nos termos do art. 15-B do Decreto-lei nº 3.365/41, com Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-6
a redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56/2001, e, conforme o mesmo dispositivo legal, incidirão a partir de 1º de janeiro do ano seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito. No mais, a sentença deu solução correta à lide, ratificados os seus fundamentos nos termos do art. 252, do Regimento Interno deste Tribunal. Isto exposto, não conheço do recurso adesivo e dou parcial provimento ao da SABESP. Para efeito de exercício de recursos nobres, deixo expresso que o desate não ofende norma legal alguma, constitucional ou infraconstitucional. Consigno, ainda, que foram consideradas todas as normas destacadas pelos litigantes, mesmo que não citadas expressamente. COIMBRA SCHMIDT Relator Apelação nº 9099889-56.2009.8.26.0000-7