Redação de Regulamentos e Better Regulation Curso de Redação de Regulamentos ICJP/Faculdade de Direito de Lisboa e ANACOM 27 de setembro de 2017
Sumário 1. Dados básicos 2. Políticas de Better Regulation em Portugal 3. Políticas de Better Regulation em Portugal: novidades 4. Problemas de Better Regulation a nível regulamentar 5. Soluções de Better Regulation a nível regulamentar
1. Dados básicos A. 4 políticas que se cruzam e confundem Redução de custos de contexto Eliminação de obstáculos desproporcionados às atividades económicas impostos pela atividade legislativa ou administrativa; Obstáculos que agentes económicos têm de ultrapassar e que não estão diretamente ligados à sua atividade; Não esgota o tema da better regulation a nível de regulamentos Simplificação administrativa Medidas que visam a redução de custos de contexto provocados pela atividade administrativa; Pode implicar, ou não, alterações regulamentares.
1. Dados básicos Simplificação normativa Medidas que visam a redução de custos de contexto resultantes da complexidade ou excessiva carga legislativa ou regulamentar. Better regulation Movimento que visa a produção de atos legislativos/regulamentares de forma a reduzir a complexidade/carga do sistema legislativo e encargos administrativos; Better regulation envolve a simplificação normativa (incluindo regulamentos) e aspetos da simplificação administrativa.
1. Dados básicos B. Os regulamentos Decretos Regulamentares Resoluções do CM com conteúdo normativos Portarias Despachos normativos Alguns despachos Posturas e regulamentos de autarquias Regulamentos de entidades reguladoras (ex: artigo 9.º-2-a) dos Estatutos da ANACOM DL 39/2015, de 16/3) Regulamentos de entidades da Administração Estadual Direta e Indireta e da Administração Autónoma E outros instrumentos? (circulares, diretivas internas, guias de boas práticas, etc)
1. Dados básicos C. Afinal há menos atividade regulamentar ao longo dos anos? Número de regulamentos do Governo tem vindo a diminuir Número de Decretos- Regulamentares + Decretos + Portarias/ano 2000: 1591 2005: 1406 2011: 382 2013: 470 Fonte: Observatório da Legislação Portuguesa, Boletim n.º 6, acessível em http://www.fd.unl.pt/conteudos.asp?id=1456
1. Dados básicos D. O que acontece quando não há políticas de better regulation a nível regulamentar? Ex1: A ciência aplicada aos recetáculos postais (DR 8/90, de 6/4, alterado pelo DR 21/98, de 4/9); Ex2: Será mesmo necessário definir o que é o pão? (artigo 2.º-a) da Portaria 52/2015, publicada a 26/2/2015).
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal 2001-2002: O Gabinete de Política Legislativa e Planeamento do Ministério da Justiça Manual Legística ; Metodologia da preparação/discussões públicas da Reforma do Contencioso Administrativo e Reforma da Ação Executiva; Produção de anteprojetos com análise de dados estatísticos e auxílios de outros ramos do saber (ex: trabalhos de consultoria da Reforma do Contencioso Administrativo). 2001-2002: Comissão para a Simplificação Legislativa (RCM n.º 29/2001, de 15/2) Reuniões, estudos e trabalhos, mas sem resultados efetivos; Fim dos trabalhos com queda do XIV Governo Constitucional.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal 2003-2006: Programa Estratégico para a Eficiência dos Atos Normativos do Governo (Despachos n.º 12017/2003, de 25/6 e 26748/2005, de 19/12) Propostas em matéria de monitorização da transposição de diretivas, reorganização do CEJUR e avaliação normativa, mas que não chegaram a ser terminadas ou concretizadas; Proposta de anexo de legística para os regimentos do Conselho de Ministros, que passou a ser adotada; Alguns aspetos auxiliaram a elaboração do programa Legislar Melhor.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal 2006-2009: O Programa Legislar Melhor (RCM n.º 63/2006, de 18/5) Eliminação quase completa do Diário da República (DR) em papel; Acesso universal ao DR eletrónico (DL n.º 116-C/2006, de 16/6); Reorganização do DR (fim da séries A e B da I série e eliminação da III série); Criação de ligações entre DR e DIGESTO; Introdução do Teste SIMPLEX (avaliação legislativa prévia); Criação de aplicações informáticas e instrumentos tecnológicos que permitem a desmaterialização do processo legislativo; Revisão do regime das consultas (DL n.º 274/2009, de 2/10).
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal 2009-2011: O Programa SIMPLEGIS Menos leis/simplificação legislativa Menor produção legislativa A importância da utilização de um único diploma para legislar sobre uma medida com objetivo comum e a fusão de atos legislativos sempre que possível. Ex: Transposição de 18 diretivas em matérias semelhantes num único diploma (DL n.º 44/2010, de 3/5). Introdução de mecanismos de controlo na PCM e através das RSE, para evitar legislação desnecessária (ex: RCM n.º 77/2010, de 23/9); Obrigação de reporte de atividade legislativa em preparação, para efeitos de programação e calendarização.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Menos leis/simplificação legislativa Menor produção legislativa 2010 e 2011 foram dos anos com menor produção legislativa pelo CM no período 2000-2013 (2010: 207 decretos-leis e decretos regulamentares. 40% abaixo da média dos últimos 10 anos, que era de 352); Também foram os anos em que se produziram menos atos normativos no período 2000-2013 (Observatório da Legislação Portuguesa, Boletim n.º 6/fevereiro 2015);
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Menos leis/simplificação legislativa Revogação expressa de diplomas inúteis ou já caducados Clarificação dos diplomas em vigor; Revogação expressa de atos legislativos inúteis; DL n.º 70/2011, de 16/6 (revogação expressa de 233 diplomas) e a Proposta de Lei n.º 40/XI (revogação expressa de 433 diplomas, incluindo o Código Administrativo). Ex: DL n.º 211/75, de 19/4, que tornou obrigatório o registo de ações de sociedades Revogação de 319 diplomas pelo Governo em 2010, face a 207 aprovados.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Menos leis/simplificação legislativa Reduzir os erros e as declarações de retificação Criação de sistema de controlo para verificação de diplomas por várias entidades, em vários momentos, para evitar erros (ministérios proponentes, equipa SEPCM e CEJUR); Rigor e exigência na utilização das declarações de retificação; Monitorização estatística permanente; 95,88% de diplomas sem declaração de retificação em 2010, face à média de 89% dos últimos 10 anos; Percentagem de diplomas sem declaração de retificação piorou novamente para 89% em 2013, devido à ausência de políticas de simplificação normativa (Observatório da Legislação Portuguesa, Boletim n.º 6/fevereiro 2015).
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Menos leis/simplificação legislativa Reduzir atrasos na transposição de diretivas Atribuição rápida de responsabilidades e fixação de prazos; Sistema de controlo através de RSE e equipas SEPCM e SEAE; RSE específicas para aprovar transposições de diretivas, com agenda fixada com grande antecedência;
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Menos leis/simplificação legislativa Reduzir atrasos na transposição de diretivas Portugal reconhecido no Internal Market Scoreboard n.º 22 (março de 2011): Reduziu do número de diretivas com atraso de transposição em mais de metade; Redução do prazo de transposição em mais de metade (13 meses em nov/2009 para 5,1 em nov/2010); Portugal manteve-se com bons indicadores, melhores que a média UE: 0,3% de défice de transposição e prazo de transposição em 7,9 meses (Internal Market Scoreboard - 2015).
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Acesso à informação legislativa Eliminação da publicação de atos em DR: portarias da caça e outros atos Eliminação de atos que dificultavam leitura e análise do DR; Atos passaram a ser disponibilizados em sites informativos sobre as matérias em causa; Cerca de 800 atos/ano a menos no DR (DL n.º 2/2011, de 6/1). Ex: Atos em matéria cinegética, atos referentes a ZIFs, plantas e mapas de instrumentos de gestão territorial, etc.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Acesso à informação legislativa Publicação de resumos de diplomas em linguagem clara, em português e inglês Disponibilização de resumos de DLs e DRs com valor meramente informativo em linguagem acessível a juristas e não juristas, em português e inglês; Medida em funcionamento entre 13/10/2010 e 31/12/2011 e reiniciada em 22/5/2017; Mais de uma centena de resumos disponibilizados no DR.
2. Políticas de simplificação normativa em Portugal Acesso à informação legislativa Portal de Informação legislativa: um novo DRE Pesquisas de tipo google sobre atos legislativos; Acesso integralmente livre e gratuito a todo o DRE; Dicionário jurídico e tradutor jurídico; Acesso a diplomas desde 1910; Acesso a diploma com informação do tipo painel de controlo, com: Texto do diploma; Legislação comunitária na sua base; Regulamentação; Indicação de não estar em vigor; Versão consolidada dos diplomas.
3. Políticas de simplificação normativa em Portugal: novidades Novidades em matéria de Better Regulation: DRE completamente gratuito (pesquisas gratuitas) e com funcionalidades do SIMPLEGIS que não tinham sido disponibilizadas para todos os utilizadores, mas apenas aos assinantes; Atos legislativos do Governo aprovados apenas uma vez por mês (artigo 3.º-1 Regimento CM); Regimes que afetem o quadro jurídico das empresas apenas produzem efeitos em duas datas por ano: 1 de janeiro ou 1 de julho (artigo 40.º Regimento CM); Procedimentos para programação e calendarização da atividade legislativa (artigos 19.º e 20.º Regimento CM);
3. Políticas de simplificação normativa: novidades Novidades em matéria de Better Regulation : Legislação aprovada pelo Governo necessita de ser instruída com a sua regulamentação (artigo 27.º-1 Regimento CM); Procedimentos para negociação e transposição atempada de instrumentos de Direito da EU e Direito Internacional (artigos 21.º a 23.º Regimento CM); Programa de avaliação legislativa Custa Quanto? (Resolução CM n.º 44/2017, de 24 de março; Anexo de legística deixou de ser publicado em Diário da República.
4. Problemas de Better Regulation a nível regulamentar Regulamentos desnecessários e inúteis: a tendência para cada entidade criar o seu ordenamento jurídico próprio Aumento do número de entidades a produzir regulamentos Várias entidades aprovam regulamentos que tratam de matérias semelhantes com base em modelos diferentes e sem preocupações de uniformização
4. Problemas de Better Regulation a nível regulamentar Ausência de preocupações com uniformização de critérios de legística na atividade regulamentar Diplomas legais que ficam por regulamentar Excesso de autonomia regulamentar de várias entidades leva a menor intervenção de entidades democraticamente responsabilizáveis
5. Soluções de Better Regulation a nível regulamentar Um ambicioso programa de eliminação de regulamentos inúteis Ex: Regulamento para atribuição de medalhas municipais Como revogar regulamentos emitidos por entidades autónomas? Substituição de regulamentos por outros tipos de atos, com publicitação mais adequada: replicar o processo de eliminação das portarias da caça Eliminação de assinaturas desnecessárias em portarias Codificação regulamentar: um só regulamento básico, sempre que possível Uma medida para os municípios e entidades reguladoras?
5. Soluções de Better Regulation a nível regulamentar Processo de monitorização da aprovação de regulamentos necessários para executar leis, com poderes de substituição Ex: Omissão de portaria sobre remuneração das centrais de compras leva a invalidade de norma de procedimento concursal que obriga à devolução de montantes elevados (Acórdão STA 0571/16) Utilização de critérios comuns de legística na atividade regulamentar A aprovação de uma lei de legística, vinculativa para a elaboração de textos legais e regulamentares Uniformização de modelos, da sistemática, das redações de normas, etc: um papel para as associações de municípios e comunidades intermunicipais?
5. Soluções de Better Regulation a nível regulamentar Associação eletrónica de regulamentos às leis habilitantes: o caminho do DRE e o Legifrance (www.legifrance.gouv.fr) Publicação de sumários em linguagem clara para todos os regulamentos Audições e consultas apenas quando tenham valor acrescentado O regime da audiência de todos os interessados que se tenham como tal constituídos, para o procedimento de elaboração regulamentar (artigo 100.º CPA) Avaliação de impacto apenas quando seja necessária e relevante
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