UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ / UNIDADE JATOBÁ TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO MEDICINA VETERINÁRIA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ / UNIDADE JATOBÁ TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE GRADUAÇÃO MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR REALIZADO NA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA MISTA DE BELA VISTA DE GOIÁS: BRUCELOSE BOVINA Mário Antônio da Silva Júnior Orientadora: Profª. Drª. Cecília Nunes Moreira JATAÍ 2010

ii MÁRIO ANTÔNIO DA SILVA JÚNIOR RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR REALIZADO NA COOPERATIVA AGROPECUÁRIA MISTA DE BELA VISTA DE GOIÁS: BRUCELOSE BOVINA Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação Apresentado para a obtenção do título de Medico Veterinário junto à Universidade Federal de Goiás Orientadora Profª. Drª. Cecília Nunes Moreira Supervisor Médico Veterinário Dr. Gercimon Benedito Gomes JATAÍ 2010

iii AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu o dom da vida e aos meus pais Mário Antônio da Silva e Marina Rúbia Reis e Silva que, me passaram, ao longo dos anos, valores como o estudo e o trabalho que tornaram possível a minha graduação, sempre me incentivando e apoiando nos momentos bons e difíceis. Em especial ao meu pai que me mostrando seu exemplo de força, trabalho e dedicação, me inspira ser um profissional mais dedicado e conseqüentemente melhor. Aos meus irmãos Bruno dos Reis e Silva e Alexandre do Reis e Silva, que dentro de área de agrárias me passaram suas experiências profissionais, além de muito afeto e incentivo me ajudaram a superar obstáculos, sendo eles meus maiores parceiros e sócios na carreira e na vida. A todo o conjunto da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí que além de me formarem um profissional apto a exercer a Medicina Veterinária me deram a oportunidade de ter varias experiências de vida, me ajudando a agir melhor enquanto ser humano. Agradeço a Deus por toda a união que tenho com minha família e meus amigos: Ana Carolina Ferreira Verdejo, Antunes Murilo de Deus Paranhos, Benedito Vicente da Silva Filho, Fabryne Zacarias da Cunha que sempre estiveram ao meu lado e posso considerá-los como fiéis companheiros. Sou grato à COOPERBELGO que me deu a oportunidade de estagiar e conhecer mais sobre a profissão com o auxílio dos veterinários Gercimon Benedito Gomes e Patrícia Alessi Teixeira. A minha orientadora Cecília Nunes Moreira pela prontificação e me auxiliar em minha vida acadêmica, principalmente, nessa etapa final e decisiva do meu curso. Enfim agradeço a vida pela oportunidade de ter nascido em uma família equilibrada e amorosa onde pude ter a oportunidade de estar completando meu ensino superior que infelizmente na realidade brasileira é para poucos.

iv TABELA 1 TABELA 2 TABELA 3 TABELA 4 LISTA DE TABELAS Relação dos atendimentos clínicos realizados durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na Cooperativa Agropecuária Mista de Bela Vista de Goiás (COOPERBELGO), no período de 13/09 a 15/12/10... Relação dos casos atendidos na área de Reprodução e Obstetrícia animal durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10... Relação dos casos atendidos na área de Medicina Veterinária na parte de procedimentos cirúrgicos e atendimentos de emergência durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10... Relação das atividades relacionadas à Medicina Veterinária preventiva realizados no Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10... 3 3 4 4 TABELA 5 Relação das atividades relacionadas à Acessoria Veterinária realizadas no Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/2010... 5

v LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Resistência de Brucella sp em algumas condições ambientais... 9

vi LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Vista frontal da fachada da sede da COOPERBELGO... 2 FIGURA 2 Marca utilizada na face direita dos animais que apresentarem reação positiva aos testes de diagnóstico para brucelose... 20 FIGURA 3 Marca utilizada na face esquerda das bezerras vacinadas contra brucelose... 22 FIGURA 4 Cinco dos 12 animais sororreagentes positivos testados na propriedade (dois touros da raça Gir e três vacas Girolando).. 27 FIGURA 5 A) Antígeno Acidificado Tamponado para diagnóstico da brucelose; B) Pipeta Automática/ Soro de animais a ser analisado/placa com quadrados de 4 cm de diâmetro delimitados... 28 FIGURA 6 Animal marcado com a identificação dos animais sororreagentes positivas com ferro candente... 29

vii SUMÁRIO 1 Descrição do local e das atividades do estágio...1 1.1 Registro das Atividades realizadas na área de animais de grande porte...2 2 BRUCELOSE BOVINA REVISÃO DE LITERATURA...6 2.1 Aspectos Históricos...6 2.2 Brucelose em Bovinos...6 2.3 Etiologia...7 2.4 Epidemiologia...10 2.5 Patogenia...13 2.6 Sinais Clínicos...14 2.7 Diagnostico...15 2.8 Diagnósticos Diferenciais...20 2.9 Tratamento...21 2.10 Controle e Profilaxia...21 2.11 Aspectos Anatomopatológicos...27 3 RELATO DE CASO BRUCELOSE BOVINA EM PROPRIEDADE RURAL...28 3.1 Coleta e processamento das amostras...29 3.2 Técnica realizada...29 3.3 Resultados e procedimento...30 4 DISCUSSÃO...32 5 CONCLUSÃO...35 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...36 7 REFERÊNCIAS...37

1. DESCRIÇÃO DO LOCAL E DAS ATIVIDADES DE ESTÁGIO Este relatório tem por objetivo descrever as atividades desenvolvidas durante Estágio Curricular Obrigatório Supervisionado para conclusão do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás Campus Jataí, Unidade Jatobá. O estágio foi realizado na Cooperativa Agropecuária Mista de Bela Vista de Goiás, estado de Goiás, no período de 13/09/2010 a 15/12/2010, totalizando carga horária de 400 horas, sendo direcionado na área de grandes animais, abrangendo as áreas de clínica, cirurgia, reprodução, manejo, medicina preventiva e extensão rural. A motivação para a realização deste estágio na COOPERBELGO foi dada pela oportunidade de trabalhar com as práticas das mais comuns até mesmo as mais laboriosas que um veterinário de campo pode encontrar em sua rotina de trabalho, aprendendo também não só práticas veterinárias como também práticas de vendas e relacionamento com o produtor rural e o trabalhador rural. Além disso foi possível acompanhar um dos agrônomos da COOPERBELGO na prática de projetos de piquetes e plantio de milho e sorgo para silagem. A Cooperativa Agropecuária Mista de Bela vista de Goiás tem sua sede na cidade de Bela Vista de Goiás, situada na Rua Cel. João Camilo, 496 Centro. É constituída de um ponto de recepção de leite, um supermercado, um posto de combustível, uma fábrica de rações com armazéns de ração e uma loja veterinária. Os exames de brucelose são realizados no laboratório do próprio veterinário supervisor do estágio, Gercimon Benedito Gomes. O corpo técnico COOPERBELGO é formado por dois veterinários, dois agrônomos, um técnico agrícola e uma zootecnista, sendo um dos veterinários o supervisor. Um dos agrônomos é responsável por realizar projetos para retirada de crédito seja para investimento ou custeio. O outro agrônomo é responsável pelo atendimento a campo e assessoria ao produtor rural na formação de culturas para grãos, silagens e pastagens. Um dos veterinários trabalha no atendimento emergencial de campo com clínica e cirurgia de grandes animais. A outra veterinária atende os produtores que estão adequando os índices produtivos de

2 sua propriedade e aqueles em que a cooperativa faz um trabalho de diagnóstico. Além disso, trabalha nas micro-regiões com palestra de vários assuntos que interessam ao produtor de leite com: prevenção de doenças, vacinação de rebanhos, primeiros socorros, etc. FIGURA 1- Vista frontal da fachada da sede da COOPERBELGO. 1.1 Registros das atividades realizadas na área de animais de grande porte As atividades desenvolvidas durante período de estágio curricular supervisionado estão descritas nas Tabelas 1 a 4. Dentre os atendimentos clínicos realizados, a indigestão simples destacou-se devido as condições regionais de falta de alimentação para os rebanhos leiteiros no final do período seco e mudanças bruscas de alimentação de silagem de milho para cana-de-açúcar triturada (tabela 1).

3 TABELA 1 - Relação dos atendimentos clínicos realizados durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na Cooperativa Agropecuária Mista de Bela Vista de Goiás (COOPERBELGO), no período de 13/09 a 15/12/10 Casos Bovinos Adultos (%) Indigestão simples 4 66 Mastite aguda 1 17 Acropostite-fimose 1 17 Total 6 100 O parto distócico se destacou dentre os atendimentos nas áreas de Reprodução e Obstetrícia, devido principalmente, ao acontecimento de um caso em especial de má formação fetal e suspeita de brucelose nesse animal submetido à cesariana (tabela 2). TABELA 2 - Relação dos casos atendidos nas áreas de Reprodução e Obstetrícia animal durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10 Casos Vacas (%) Parto Distócico 3 1,5 Diagnóstico de Gestação 200 97 Inseminação Artificial em Tempo Fixo 3 1,5 Total 206 100 Os atendimentos na área de Clínica Cirúrgica estão descritos na tabela 3, onde apesar de em pouco número foram interessantes. Os tumores não foram submetidos à análise histopatológica.

4 TABELA 3 - Relação dos casos atendidos na área de Medicina Veterinária na parte de procedimentos cirúrgicos e atendimentos de emergência durante o Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10 Casos Bovinos Adultos (%) Casqueamento curativo 2 28,6 Amputação de para digito 1 14,2 Retirada de tumores de terceira pálpebra 2 28,6 Retirada de tumores de vulva 2 28,6 Total 7 100 A vacinação contra brucelose (tabela 4) destaca-se, principalmente, pela brucelose ser uma doença de importância mundial e a vacinação ser uma das principais formas de controle. TABELA 4 - Relação das atividades relacionadas à Medicina Veterinária Preventiva realizadas no Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/10 Casos Bovinos Adultos Bezerras (%) Tuberculinização 25-11,6 Coleta de sangue para exame de Brucelose 150-69,8 Vacinação contra brucelose - 40 18,6 Total 175 40 100 Os diagnósticos de propriedades tem o objetivo de adequar os índices zootécnicos das propriedades com o objetivo de melhorar a produtividade e consequentemente a lucratividade dos cooperados (tabela 5).

5 TABELA 5 - Relação das atividades relacionadas à Acessoria Veterinária realizadas no Estágio Curricular Supervisionado, realizado na COOPERBELGO, no período de 13/09 a 15/12/2010 Casos Bovinos Adultos (%) Diagnóstico de propriedades 25 100 Total 25 100

6 2. BRUCELOSE BOVINA REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Introdução: Brucelose em bovinos A brucelose é uma enfermidade infectocontagiosa crônica que com freqüência ocasiona aborto em bovinos, ovinos, caprinos, suínos e cães (CORRÊA & CORRÊA, 1992). Além de ser uma importante zoonose, a brucelose causa grandes prejuízos aos criadores de gado de todo o Brasil com problemas de fertilidade devido aos abortos e doenças secundárias do aparelho reprodutor. Devido sua importância incontestável, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento instituíram desde 2001 o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose a fim de diminuir os danos econômicos e sanitários causados por essas doenças. A infecção ocorre em bovinos de todas as idades, porém é mais comum nos animais sexualmente maduros, particularmente nos bovinos leiteiros. Estima-se que a brucelose afete cerca de 20 a 25 % da produção leiteira devido aos abortos e problemas de fertilidade (MATHIAS & COSTA, 2007). Os abortamentos ocorrem mais comumente em surtos, nas novilhas não vacinadas após o quinto mês de gestação. Os touros são acometidos com orquite, epididimite e vesiculite seminal (RADOSTITS et al., 2002). 2.2 Aspectos Históricos A brucelose é uma importante doença dos bovinos e uma importante zoonose mundial, também conhecida como doença da Bang ou aborto contagioso, quase sempre é causada por Brucella abortus. Foi reconhecida pela primeira vez por Bernard Bang em 1897 na Dinamarca. Em 1914, Danton Seixas diagnosticou clinicamente pela primeira vez a brucelose bovina no Rio Grande do Sul. Três anos depois, no Ceará, Thomaz Pompeu Sobrinho observou casos raros de abortamento bovino, sendo mais comum em eqüinos e freqüente em ovinos, sem verificar um padrão de ocorrência epidêmica (PAULIN & FERREIRA NETO, 2002). O primeiro estudo sobre brucelose bovina no Brasil foi feito por Tineciro Icibaci que, através de pesquisas epidemiológicas e exames microscópicos de

7 tecidos provenientes de fetos abortados, descreveu um foco de brucelose bovina ocorrido no Município de São Carlos, SP, em 1922. Torres verificou a existência de oito animais soropositivos para brucelose e 19 suspeitos em um lote de 51 bovinos importados. Como conseqüência, em 1933 Cézar Pinto propôs a implementação de protocolo de testes em animais importados como forma de impedir a disseminação da doença no país (PAULIN & FERREIRA NETO, 2002). Thiago de Mello, em 1950, relatou a disseminação da brucelose bovina por todo o país apontando para uma prevalência de 10 a 20%, sendo que os índices mais altos estavam nas regiões leiteiras do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (PAULIN & FERREIRA NETO, 2002). 2.3 Etiologia O gênero Brucella comporta cocobactérias Gram negativas aeróbias ou microaerófila, imóveis, não formadoras de esporos e não capsulada. Apresentam formato de bacilos curtos, de 0,5-0,7 µm de diâmetro e de 0,6-1,5 µm de comprimento. Incluem Brucella abortus, B. canis, B. melitensis, B. neotomae, B. ovis, B. suis. Cepas de B. abortus, B. melitensis e B. suis apresentam algumas diferenças que as subdividem em grupos fenotípicos chamados biovares (CORRÊA & CORRÊA, 1992; MATHIAS & COSTA, 2007). MATHIAS & COSTA (2007) citam que cada espécie possui um hospedeiro preferencial, mas não exclusivo. CORRÊA & CORRÊA (1992) citam que como a Salmonela, a Brucella sp não são espécie-específica, mas tem eletividade de espécie; B. abortus tem como eleição a infecção de bovinos; B. suis, B. ovis e B. canis as espécies sugeridas pelo próprio nome (suínos, ovinos e cães); B. melitensis está mais adaptada a infectar caprinos. Os diferentes biovares da B. abortus são distribuídos em regiões geográficas distintas. Os biovares 1 e 2 possuem distribuição mundial. O biovar 5 é mais comumente encontrado na Alemanha e Reino Unido (HIRSH & ZEE, 2003). Nos EUA são encontrados os biovares 1 a 4 (RADOSTITS et al., 2002). O isolamento é melhor obtido em meios especiais como ágar-fígado, ágar-triptose e ágar-cérebro-coração, incubados a 37 C durante 3 a 5 dias. Caso

8 houver suspeita em isolar B. abortus o meio deve ser condicionado em jarra cristalizadora com atmosfera contendo 10 a 15% de CO 2. As colônias após 3-5 dias atingem 1-2mm e são cinza-brancas, translúcidas, ou de cor amarelacaramelo (CORRÊA & CORRÊA, 1992). As diferentes espécies de Brucella tem diferentes diâmetros em seus canais de purinas, e estes diâmetros diferentes explicariam a sensibilidade diferente das mesmas aos corantes (DOUGLAS et al.,1985). CORRÊA & CORRÊA (1992) citaram as propriedades de virulência essenciais das Brucellas como além de serem parasitas intracelulares facultativos, favorecendo assim sua multiplicação e sobrevivência dentro das células, estes microrganismos tem também capacidade de se ligarem aos linfócitos. Esta ligação é resultante da interação entre lecitina dos linfócitos com os carboidratos da parede bacteriana. A Brucella resiste bem às condições adversas do meio ambiente (Quadro 1). Se as condições de ph, temperatura e luz são favoráveis, elas resistem vários meses na água, fetos, restos de placenta, fezes, lã, feno, materiais e vestimentas e, também em locais secos (pó, solo) e a baixas temperaturas (MATHIAS & COSTA, 2007), porém o microrganismo não se multiplica no meio ambiente (RADOSTITS et al., 2002). No leite e produtos lácteos sua sobrevivência depende da quantidade de água, temperatura, ph e presença de outros microrganismos. Quando em baixa concentração, a Brucella é facilmente destruída pelo calor. A pasteurização, os métodos de esterilização a altas temperaturas e, mesmo, a fervura elimina as brucellas. Em produtos não pasteurizados elas podem persistir durante vários meses. Na carne sobrevivem por pouco tempo, dependendo da quantidade de bactérias presentes, do tipo de tratamento sofrido pela carne e da correta eliminação dos tecidos que concentram um maior número de bactérias (tecido mamário, órgãos genitais, linfonodos) (MATHIAS & COSTA, 2007).

9 QUADRO 1- Resistência de Brucella sp em algumas condições ambientais CONDIÇÃO AMBIENTAL TEMPO DE SOBREVIVÊNCIA LUZ SOLAR DIRETA SOLO SECO SOLO ÚMIDO SOLO A BAIXAS TEMPERATURAS FEZES DEJETOS DE ESGOTO DEJETOS A ALTAS TEMPERATURAS ÁGUA POTÁVEL AGUA POLUÍDA FETO À SOMBRA EXSUDATO UTERINO Fonte: BRASIL, 2006 4-5 horas 4dias 65 dias 151-185 dias 120 dias 8-240/700 dias 4 horas-2 dias 5-114 dias 30-150 dias 180 dias 200 dias As espécies do gênero Brucella são sensíveis aos desinfetantes comuns, à luz e à dessecação. Em cadáveres, ou tecidos contaminados enterrados, podem resistir de um a dois meses em clima frio, mas morrem em 24 horas no verão ou regiões quentes (CORRÊA & CORRÊA, 1992). As bactérias podem ser encontradas no útero durante a prenhês, involução uterina e, raramente, por um período de tempo prolongado no útero não grávido. A eliminação, a partir da vagina desaparece com a redução dos fluidos após do parto. Algumas vacas infectadas que já abortaram anteriormente eliminam brucellas a partir do útero, nos partos normais subseqüentes. Os microrganismos são eliminados no leite por um período de tempo variável na maioria dos bovinos por toda a vida (FRASER, 2001).

10 2.4 Epidemiologia Segundo CORRÊA & CORRÊA (1992), as bruceloses são enfermidades de distribuição mundial. Alguns países as erradicaram, como os nórdicos, ou aqueles que as mantém controladas, como os EUA, Canadá, e a maioria dos países da Europa. Segundo MATHIAS & COSTA (2007), a transmissão se faz por contaminação direta pelo contato com fetos abortados, placentas e descargas uterinas. A transmissão transplacentária é possível, porém possui baixa freqüência podendo variar de 2,5 a 9%. Existe hoje a recomendação de que bezerros nascidos de fêmeas soropositivas não devem ser usados para reprodução. As brucellas podem entrar no corpo pelas membranas mucosas, conjuntivas e ferimentos ou mesmo pela pele intacta. Os bovinos podem ingerir alimentos e água contaminados, ou lamber os genitais contaminados de outros animais. A transmissão venérea de touros infectados para vacas susceptíveis parece ser rara, porém a transmissão pode ocorrer por inseminação artificial quando se deposita sêmen contaminado com brucellas no útero, mas ela não ocorre, notadamente, quando esse sêmen é depositado na cérvix média (FRASER, 2001). RADOSTITS et al., 2002 relataram que a disseminação da doença de um rebanho para outro e de uma região para outra quase sempre ocorre devido ao deslocamento de um animal infectado de um rebanho infectado para um rebanho suscetível não infectado. Segundo CORRÊA & CORRÊA (1992), a idade tem mais influência na apresentação da doença que o sexo, a estação do ano e o clima, pois as Brucellas são mais infectantes para animais púberes, ainda que possa ocorrer em animais impúberes. Segundo MATHIAS & COSTA (2007), bovinos sexualmente maduros, especialmente vacas prenhes, são mais suscetíveis à infecção. A transmissão se faz por contaminação direta pelo contato com fetos abortados, placentas e descargas uterinas. CORRÊA & CORRÊA (1992) relataram alguns casos de transmissão vertical em bezerras nascidas de vacas doentes, que houve longo silêncio do

11 agente que mais tarde foi isolado dessas fêmeas. Mesmo novilhas vacinadas de vacas soropositivas podem albergar uma infecção latente (RADOSTITS et al., 2002). Não há transmissores nem vetores especiais, e os principais reservatórios são os animais doentes (CORRÊA & CORRÊA, 1992). 2.4.1Brucelose bovina no Brasil e em Goiás Segundo MATHIAS & COSTA (2007), no Brasil já foram isolados os biovares 1, 2, 3 e 7. LANGONI et al. (2000) isolou nos Estados de São Paulo e Minas Gerais os biovares 1 (2,0%), 2 (16,3%) e 3 (12,2%). A B. melitensis não foi identificada no Brasil (BRASIL, 2006). Em 2006 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou um Manual Técnico no sentido de divulgar o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal. Esse Manual relembrou o último diagnóstico de situação da brucelose bovina em nível nacional realizado em 1975, tendo sido estimada a porcentagem de animais soropositivos em 4% na Região Sul, 7,5% na Região Sudeste, 6,8% na Região Centro-Oeste, 2,5% na Região Nordeste e 4,1% na Região Norte. Posteriormente, outros levantamentos sorológicos por amostragem, realizados em alguns Estados revelaram pequenas alterações na prevalência de brucelose: no Rio Grande do Sul, a prevalência passou de 2,0% em 1975, para 0,3% em 1986, após uma campanha de vacinação bem sucedida; em Santa Catarina, a prevalência passou de 0,2% em 1975 para 0,6% em 1996; no Mato Grosso do Sul, a prevalência estimada em 1998 foi de 6,3%, idêntica ao valor encontrado em 1975 para o território matogrossense; em Minas Gerais, passou de 7,6% em 1975 para 6,7% em 1980; no Paraná, a prevalência estimada em 1975 foi de 9,6% passando para 4,6% de bovinos soropositivos em 1989. Os dados de notificações oficiais indicam que a prevalência de animais soropositivos se manteve em 4% e 5% no período de 1988 a 1998 (BRASIL, 2006). Segundo ROCHA et al. (2002) a presença de brucelose no estado de Goiás não se mostrou associada a características produtivas do rebanho, como, por exemplo, aptidão para leite ou corte, criação intensiva ou extensiva,

12 predominância de bovinos europeus ou mestiços e nem mesmo tamanho do rebanho. Neste mesmo estudo, foi encontrada uma prevalência de 3,01% de animais sororeagentes para brucelose e uma prevalência de foco de brucelose bovina na propriedade de 17,54%. Essa prevalência aproxima-se dos resultados de testes de rotina publicados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento para a região Centro-oeste, no período de 1986 a 1997 (Boletim...,2001). ACYPRESTE et al. (2002) relataram prevalência de focos de 17,8%, em um estudo de prevalência de brucelose em fêmeas bovinas na bacia leiteira de Goiânia. No estudo realizado por ROCHA et al. (2002) os valores encontrados para prevalência de animais soropositivos em Goiás foram inferiores aos encontrados no inquérito nacional realizado na década de 1970. É válido ressaltar que na época de colheita de dados (1977) as ações de controle e erradicação para a enfermidade, preconizadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT), ainda não haviam sido implantadas. 2.4.2 Brucelose no ser humano LAGE et al. (2006) relataram que a brucelose é uma zoonose que apresenta forte componente de caráter ocupacional: tratadores e veterinários, por força de suas atividades, freqüentemente manipulam anexos placentários, fluidos fetais e carcaças de animais, expondo-se ao risco de infecção quando esses materiais provém de animais infectados. O manuseio da vacina B19, que é patogênica para o homem, também põe em risco algumas classes de profissionais. Afirmou ainda que no ser humano os quadros clínicos mais graves são provocados pela B. melitensis, decrescendo em gravidade quando a doença é decorrente da infecção por B. suis e, assim, sucessivamente para a B. abortus e B. canis. O período de incubação no ser humano pode variar de uma a três semanas até vários meses. A doença produzida pela B. abortus - agente mais difundido no nosso meio e responsável pelo maior problema da brucelose no país,

13 na grande maioria das vezes é caracterizadas por sintomas inespecíficos, presentes nos processos bacterianos generalizados nos quais se detectam febre, a sudorese noturna, e as dores musculares e articulares (ZAMBAN, 2008). MAFRA (2002) afirmou que as regiões onde existe uma maior prevalência desta doença são normalmente regiões onde o componente rural faz parte da vida da maioria das pessoas e, simultaneamente, onde a contaminação de animais não é ainda controlada ocorrendo, conseqüentemente, a transmissão e a infecção ao Homem. SCHEIN et al. (2004) encontraram no município de Araputanga no Mato Grosso uma incidência de 100% das propriedades analisadas com animais soropositivos e 2,6% das pessoas moradoras da zona rural, nas mesmas propriedades estudas, soropositivas para brucelose. Verificou ainda que esses indivíduos consumiam leite ou derivados crus sendo os principais fatores de risco, a presença de animais soropositivos, a não vacinação das fêmeas contra brucelose e a ocorrência de abortos. 2.5 Patogenia RADOSTITS et al., (2002) relataram a predileção, da B. abortus, pelo útero prenhe, úbere, testículos, glândulas sexuais masculinas acessórias, linfonodos, cápsulas articulares e membranas sinoviais. As Brucellas virulentas quando engolfadas por fagócitos nas membranas mucosas, são transportadas para linfonodos regionais. As Brucellas persistem dentro dos macrófagos, mas não dentro de neutrófilos (QUINN et al., 2005). Após a fagocitose pelos macrófagos e células reticulares, a degradação ocorre no interior dos fagolisossomos, provocando a liberação das endotoxina e outros antígenos. Sua sobrevivência no interior das células fagocitárias pode ocorrer devido à inibição da fusão do lisossomo com os grânulos secundários (MATHIAS & COSTA, 2007). Nos ungulados existe um grande tropismo pela placenta. O aborto seria o resultado do choque causado pelas toxinas e pela morte do feto (MATHIAS & COSTA, 2007), causado por uma grave endometrite ulcerativa dos espaços intercotiledonários RADOSTITS et al., (2002). A presença de uma substância produzida pelo feto denominada eritritol é capaz de estimular o crescimento da Br.

14 abortus, ocorre naturalmente em concentração maior na placenta e nos líquidos fetais, sendo responsável pela localização da infecção nesses tecidos (RADOSTITS et al., 2002). As lesões placentárias raramente atingem todos os placentomas; em geral, apenas parte deles é afetada. Tais lesões inflamatórias necróticas de placentomas, que impedem a passagem de nutrientes e oxigênio da mãe para o feto, assim como provocam a infecção maciça do feto por B. abortus, são as responsáveis pelo aborto (BRASIL, 2006) Com o desenvolvimento da imunidade celular após o primeiro aborto, há uma diminuição do número e do tamanho das lesões de placentomas nas gestações subseqüentes. Com isso, o aborto torna-se infreqüente, aparecendo outras manifestações da doença, como, por exemplo, retenção de placenta, a natimortalidade ou o nascimento de bezerros fracos (Brasil, 2006). RADOSTITS et al., (2002) descreveram como resultado de infecção in utero, a infecção congênita nos bezerros recém nascidos, podendo persistir em uma pequena proporção de bezerros que também podem ser sorologicamente negativos até após o seu primeiro parto ou abortamento. Nos fetos natural e experimentalmente infectados pela Br. abortus, as alterações teciduais são hiperplasia linfóide nos múltiplos linfonodos, depleção linfóide no córtex tímico, hiperplasia cortical adrenal e foco inflamatório disseminado, composto principalmente de grandes leucócitos mononucleares. A pneumonia fetal ocorre devido a localização de um foco perivascular no septo interlobular do pulmão, indicativo mais de disseminação hematógena no feto do que de aspiração de líquidos fetais contaminados. Os fetos inoculados com número suficiente de B. abortus foram abortados de sete a 19 dias pós-inoculação (RADOSTITS et al., 2002). 2.6 Sinais clínicos Os sinais clínicos predominantes em vacas gestantes são o aborto ou o nascimento de animais mortos ou fracos. Geralmente o aborto ocorre na segunda metade de gestação, causando retenção de placenta, metrite e, ocasionalmente, esterilidade permanente. É estimado que a brucelose cause perdas de 20 25%

15 na produção leiteira, devido aos abortos e aos problemas de fertilidade. Os animais infectados antes da fecundação seguidamente não apresentam sinais clínicos e podem não abortar. Após um ou dois abortos algumas vacas podem não apresentar sinais clínicos, mas continuam a excretar as brucellas contaminando o meio ambiente, tornando-se a origem da infecção para as novilhas. Outras ficarão totalmente incapacitadas para a reprodução (MATHIAS & COSTA, 2007). O feto geralmente é abortado 24 a 72 horas depois de sua morte, sendo comum sua autólise. Não há nenhuma lesão patognomônica da brucelose no feto abortado, mas, com freqüência observa-se broncopneumonia supurativa (BRASIL, 2006). Nos rebanhos com infecção crônica, os abortos concentram-se nas fêmeas primíparas e nos animais sadios recentemente introduzidos (BRASIL, 2006) RADOSTITS et al. (2002) relataram a orquite e a epididimite ocorrendo ocasionalmente no touro. Uma ou ambas as bolsas escrotais podem estar acometidas com edema doloroso, agudo, duas vezes o tamanho normal, embora os testículos possam não se encontrar macroscopicamente aumentados de volume. O edema persiste por um considerável período de tempo, e o testículo sofre necrose de liquefação e é eventualmente destruído. As vesículas seminais podem ser a- cometidas, e seu aumento de volume detectado pela palpação retal. Os touros acometidos ficarão normalmente estéreis, quando a orquite é aguda, mas poderão retornar à fertilidade normal, se um testículo estiver intacto. Tais touros serão potenciais disseminadores da doença, se forem usados para a inseminação artificial. 2.7 Diagnóstico CORRÊA & CORRÊA (1992) relataram que a suspeita de brucelose está baseada fundamentalmente nos sinais clínicos. Entretanto, o diagnóstico sempre será sorológico ou bacteriológico, porque há numerosas causas de aborto e os sinais da brucelose nos bovinos possuem similaridade com outras enfermidades bovinas. Outro fator importante também relatado pelos autores é que provavelmente não haverá mais que um ou dois abortos, devido ao desenvolvimento de imunidade local uterina que impede graves lesões

16 placentárias, que são as principais causas do aborto. 2.7.1 Métodos diretos de diagnóstico Os métodos diretos incluem o isolamento e a identificação do agente, imunohistoquímica, e métodos de detecção de ácidos nucléicos, principalmente PCR (BRASIL, 2006). O isolamento e a identificação de B. abortus a partir de material de aborto ou de secreções apresentam resultados bons se a colheita e o transporte da amostra forem bem realizados e se a amostra for processada em laboratórios capacitados e com experiência (BRASIL, 2006). A imunohistoquímica pode ser procedida em material de aborto após a fixação em formol e permite tanto a identificação do agente como a visualização de aspectos microscópicos do tecido examinado. A PCR detecta um segmento de DNA específico da B. abortus em material de aborto, em secreções e excreções. É uma técnica bastante sensível e específica, mas requer equipamentos sofisticados e pessoal treinado (BRASIL, 2006) 2.7.2 Métodos indiretos ou sorológicos Esses testes visam demonstrar a presença de anticorpos contra Brucella sp em vários fluidos corporais, como soro sanguíneo, leite, muco vaginal e sêmen, bem como pela pesquisa da resposta celular pelo teste cutâneo ou testes in vitro (BRASIL, 2006; MATHIAS & COSTA, 2007). Numerosos são os métodos sorológicos para diagnóstico da brucelose: o antígeno utilizado em geral é o de B. abortus, que dá reação cruzada com B. suis e B. melitensis. Para B. canis e B. ovis é imprescindível usar o antígeno homólogo, mas dão provas cruzadas entre si (CORRÊA & CORRÊA,1992). Vários testes sorológicos foram desenvolvidos para os bovinos. Dentre eles pode-se citar: soroaglutinação rápida em placa, soroaglutinação lenta em tubo, precipitação pelo rivanol, soroaglutinação com 2-Mercaptoetanol (2-ME), prova do antígeno acidificado tamponado AAT, teste do anel em leite TAL

17 (ring-test), fixação do complemento, ensaio imunoabsorvente ligado à enzima ELISA (MATHIAS & COSTA, 2007) e teste de polarização de fluorescência FPA (BRASIL, 2006). Além dos testes sorológicos, a pesquisa da resposta celular mais utilizada é a do teste cutâneo utilizando a brucelina como antígeno. Esse método é o mais específico, ou seja, detecta, somente, os animais que tiveram contato com a bactéria. Sua sensibilidade é de 60%-80% e, sendo utilizada junto com os testes sorológicos, permite a detecção da maioria dos animais contaminados. O inconveniente dessa técnica é que os animais vacinados também são detectados (MATHIAS & COSTA, 2007) No Brasil, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) definiu como oficiais os seguintes testes: Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), Anel em Leite (TAL), 2- Mercaptoetanol (2-ME) e Fixação de Complemento (FC). Os dois primeiros como testes de triagem; os dois últimos como confirmatórios. Células inteiras da amostra de B. abortus 1119-3 são utilizadas na preparação dos antígenos (BRASIL, 2006) a) Testes de triagem - Teste de Soroaglutinação com Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) A prova do AAT (Rosa Bengala) consiste em uma soroaglutinação em placa, onde o antígeno é tamponado em ph baixo. Esta acidificação do antígeno reduz a atividade da IgM, tornando a prova seletiva para identificação da subclasse IgG1. O teste é utilizado como prova de triagem em rebanhos e possui uma grande sensibilidade em animais vacinados com a B19. Recomenda-se, porém, que os positivos nesta prova sejam retestados em provas complementares (BRASIL, 2006).

18 - Prova do Anel no Leite (Ring-Test) Foi idealizado para ser aplicado em misturas de leite de vários animais, uma vez que a baixa concentração celular do antígeno (4%) torna-o bastante sensível (BRASIL, 2006). Como defeito, está a sua limitação, pois só pode ser usada em vacas em lactação. Como mérito, o antígeno é bastante sensível para revelar a brucelose em rebanho leiteiro a partir de leite misturado, de numerosas vacas. Se uma só delas tiver aglutininas no leite, a prova dará positiva, e a seguir o rebanho poderá ser estudado individualmente por soro-aglutinação rápida ou lenta (CORRÊA & CORRÊA, 1992). b) Testes confirmatórios - Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) É uma prova quantitativa seletiva que detecta somente a presença de IgG no soro, que é a imunoglobulina indicativa de infecção crônica. Deve ser executada sempre em paralelo com a prova lenta em tubos. Baseia-se no fato de os anticorpos da classe IgM, com configuração pentamérica, degradarem-se em subunidades pela ação de radicais que contenham radicais tiol. Essas subunidades não dão origem a complexos suficientemente grandes para provocar aglutinação. Desse modo, soros com predomínio de IgM apresentam reações negativas nessa prova e reações positivas na prova lenta. A interpretação dos resultados é dada pela diferença entre os títulos dos soros sem tratamento (prova lenta), frente ao soro tratado com 2-ME (BRASIL, 2006). Os resultados positivos na prova lenta e negativos no 2-ME devem ser interpretados como reações inespecíficas ou devido a anticorpos residuais da vacinação com B19 (BRASIL, 2006). Resultados positivos em ambas as provas indicam a presença de IgG, que são as aglutininas relacionadas com a infecção, devendo os animais ser considerados infectados (BRASIL, 2006).

19 - Teste de Soroaglutinação em Tubos (SAT) É feita em tubos com o soro dos animais e um antígeno padronizado, também em diluições do soro ao dobro, com 25, 50, 100, 200 e assim por diante, se desejarmos conhecer o título até a extinção, ou título máximo do soro em questão, incubado os tubos por 40-48 h a 37ºC (CORRÊA & CORRÊA, 1992). É utilizada em associação com o teste do 2-Mercaptoetanol para confirmar resultados positivos em provas de rotina. A prova permite identificar uma alta proporção de animais infectados, porém, costuma apresentar resultados falsonegativos no caso de infecção crônica e, em algumas situações, podem aparecer títulos significativos em animais não infectados por B. abortus como decorrência de reações cruzadas com outras bactérias. Em animais vacinados com B19 acima de 8 meses, uma proporção importante pode apresentar títulos de anticorpos para essa prova por um longo tempo, ou permanentemente (BRASIL, 2006) - Fixação de Complemento (FC) O teste de fixação do complemento tem sido empregado em diversos países que conseguiram erradicar a brucelose ou estão em fase de erradicá-la. É o teste de referência recomendado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMS) para o trânsito internacional de animais. É um teste trabalhoso e complexo, que exige pessoal treinado. Deve ser realizado por laboratório oficial credenciado e os animais testados são os reagentes ao AAT ou os animais que apresentaram resultado inconclusivo ao teste do 2-ME (BRASIL, 2006). Raramente exibe reações inespecíficas, e é útil na diferenciação entre títulos vacinais e aqueles decorrentes de infecção (RADOSTITS et al., 2002). - Elisa O Elisa pode detectar os anticorpos no leite, no soro e nas descargas vaginais (FRASER, 1996). Dois principais tipos de teste imunoabsorvente são usados: os tipos indireto e competitivo. O Elisa é um teste útil durante um programa de erradicação, após o término da vacinação, para a triagem ou como

20 um exame complementar ao teste de fixação do anticorpo (CORRÊA & CORRÊA, 1992). 2.8 Diagnósticos diferenciais De acordo com RADOSTITS et al., (2002), o diagnóstico da causa do abortamento em um único animal ou em um grupo de bovinos é difícil por causa da multiplicidade das causas que podem estar envolvidas. Quando um problema de abortamento está sob investigação, uma abordagem sistêmica deve ser empregada, o que inclui uma completa avaliação laboratorial, acompanhada por investigações em cada rebanho. Os autores recomendam os seguintes procedimentos: a) Determinar a idade do feto pela inspeção e os registros da reprodução; b) Obter amostras sanguíneas destinadas aos testes sorológicos para brucelose e leptospirose; c) Examinar os líquidos uterinos e os conteúdos do abomaso fetal para identificação de Trichomonas e, subseqüentemente, por métodos de cultura para B. abortus, Campylobacter fetus, listéria e fungos; d) Completar esse testes pelo exame da urina para as Leptospiras e da placenta, ou do líquido uterino para as bactérias e fungos, especialmente se o feto não for viável examinar a placenta fixada em formalina para a evidência de placentite. Os diagnósticos diferenciais são relatados por RADOSTITS et al. (2002) como por exemplo: A tricomoníase causada pelo trichomonas fetus responsável por uma incidência de abortamento de 5-30% no período de 2-4 meses da gestação; Neosporose causado pelo Neospora caninum causando abortos esporádicos ou em surtos no período de 3-8 meses da gestação (média de 5,5 meses); Vibriose causada pelo Campylobacter fetus com incidência de abortamento baixa, até 5%, no período de gestação de 5-6 meses; Leptospirose causada por L. pomona e L. hardjo com incidência de abortamento variando de 25-30% no período de gestação que vai de 6 meses acima; Rinotraqueíte

21 Infecciosa Bovina (RIB) com incidência de abortamento de 25-50%, assim como a leptospirose, com abortos tardios acima de 6 meses; Aborto viral epizoótico (Espiroqueta semelhante à Borrelia) com altos índices de abortamento podendo chegar a 40%, no período de 6-8 meses da gestação. RADOSTITS et al. (2002) ainda relembram que as causas podem ser nutricionais, com ingestão de quantidades excessivas de estrógenos pré formados na dieta; e que cerca de 30 a 75% da maioria das seqüências dos abortamentos examinados não são diagnosticados. 2.9 Tratamento CORRÊA & CORRÊA (1992) citaram o tratamento com a utilização de estreptomicina e terramicina em tratamento enérgico e prolongado, que, entretanto é de alto custo o que inviabiliza o seu uso para animais de corte. De acordo com RADOSTITS et al. (2002) o tratamento é malsucedido devido ao seqüestro intracelular dos microrganismos nos linfonodos, na glândula mamária e nos órgãos reprodutivos. As falhas no tratamento são consideradas, não pelo desenvolvimento na resistência bacteriana, mas pela incapacidade da droga em penetrar a barreira da membrana celular. 2.10 Controle e Profilaxia O manual técnico do PNCEBT defende o controle da brucelose apoiando-se basicamente em ações de vacinação massiva de fêmeas e o diagnóstico e sacrifício dos animais positivos. Defende ainda, para tornar mais eficaz o programa, que são muito importantes as medidas complementares, que visam diminuir a dose de desafio - caso ocorra a exposição bem como é importante o controle de trânsito para animais de reprodução. O Programa de desinfecção e utilização de piquetes de parição são iniciativas simples que trazem como resultado a diminuição da quantidade de brucellas vivas presentes no ambiente. Isso representa diminuir a dose de desafio, o que por sua vez, significa aumentar os índices de proteção da vacina e diminuir a chance de a bactéria

22 infectar um novo suscetível (BRASIL, 2006) Quando cerca de 80% das fêmeas em idade de procriar de uma população estiverem vacinadas, a freqüência de animais infectados será bastante baixa. Portanto, uma redução importante da prevalência pode ser obtida utilizando apenas um bom programa de vacinação. Por essa razão, a vacinação deve ser priorizada nas fases iniciais do programa, quando as prevalências são elevadas (BRASIL, 2006) O PNCEBT descreve como sendo a base das ações que visam criar propriedades livres da doença, a eliminação das fontes de infecção, feita por meio de uma rotina de testes diagnósticos com sacrifício dos positivos, concomitantemente com um bom programa de vacinação no intuito de baixar a prevalência. Figura 2 Marca utilizada na face direita dos animais que apresentarem Fonte: Brasil (2006) reação positiva aos testes de diagnóstico para brucelose. a) Vacinas contra Brucelose As vacinas vivas e atenuadas são aquelas que efetivamente foram e ainda são utilizadas nos programas de controle da brucelose. Duas delas, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), são as mais empregadas: a B19 e a vacina não indutora de anticorpos aglutinantes (amostra RB51). Ambas são boas indutoras de imunidade celular (BRASIL, 2006)

23 A vacina B19 é atenuada para fêmeas jovens; podendo, entretanto, causar orquite nos machos e provocar aborto se administrada durante a gestação (BRASIL, 2006). RADOSTITS et al. (2002) relataram que animais vacinados possuem alto grau de proteção contra o abortamento, e 65-75% são resistentes à maioria dos tipos de exposição e, os 25-35% restantes podem tornar-se infectados mas normalmente não abortam. A B19 é atenuada para fêmeas jovens. Portanto, não se recomenda a vacinação de machos ou fêmeas gestantes com a amostra B19. Pode ainda infectar o homem e dar origem à doença portanto, durante a vacinação devem ser adotadas algumas precauções quanto à proteção individual (uso de óculos de proteção, luvas, etc.) e quanto ao descarte de seringas e frascos de vacinas (BRASIL,2006). COELHO JARDIM (2006) relatou que a vacina B19, quando aplicada em animais com idade superior a oito meses, induz o surgimento de títulos de anticorpos que podem dificultar o diagnóstico, e que, quando presentes, são detectados pelas técnicas de diagnóstico convencionais, pelo ELISA ID e pela FC, que não conseguem diferenciar anticorpos vacinais dos induzidos por infecção de campo. Os anticorpos vacinais não são detectados em animais adultos quando a vacinação com dose padrão respeita a idade preconizada pelo PNCEBT, pois, nestes casos, a titulação se estende, normalmente, até os 18 meses de idade. b) A Vacina não Indutora de Anticorpos Aglutinantes (amostra RB51) LAGE (2008) relatou, por pesquisas comprovadas no passado, que amostras rugosas eram capazes de induzir proteção contra B. abortus sem apresentarem os graves problemas de diagnóstico inerentes às amostras lisas. No Brasil, será empregada para vacinação estratégica de fêmeas adultas (BRASIL, 2006) c) Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT)

24 O PNCEBT foi instituído em 2001 pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) com o objetivo de diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na saúde humana e animal, além de promover a competitividade da pecuária nacional. O PNCEBT introduziu a vacinação obrigatória contra a brucelose bovina e bubalina em todo o território nacional e definiu uma estratégia de certificação de propriedades livres ou monitoradas (BRASIL, 2006). 2.10.1 Propostas Técnicas a) Vacinação contra brucelose Estabeleceu-se um prazo (até dezembro de 2003) para cada Estado implantar em seu território a obrigatoriedade de vacinação de bezerras, entre 3 e 8 meses de idade, contra a brucelose. Após a vacinação, as bezerras devem ser marcadas com ferro candente no lado esquerdo da face com um V, conforme ilustrado na Figura 3, acompanhado do algarismo final do ano da vacinação. A vacinação só poderá ser realizada sob a responsabilidade de médicos veterinários; estes deverão estar cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal de seu Estado de atuação. Em regiões onde houver carência de veterinários privados, ou nos casos em que eles não atendam plenamente às necessidades do Programa, o serviço oficial de defesa sanitária de defesa animal poderá executar ou supervisionar as atividades de vacinação (BRASIL, 2006).

25 FIGURA 3 Marca utilizada na face esquerda das bezerras vacinadas contra (BRASIL, 2006) brucelose. 2.10.2 Certificação de propriedades livres de tuberculose e brucelose A adesão ao processo de certificação é voluntária e seria extremamente positiva a implementação de mecanismos de incentivo e de compensação. Tais iniciativas deverão ser desenvolvidas em colaboração com todos os atores da cadeia produtiva, principalmente a indústria (BRASIL, 2006). O saneamento das propriedades que entram em processo de certificação deve ser realizado testando todos os animais e sacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanho serão obtidos até a obtenção de três testes sem um único animal reagente positivo ao longo de um período mínimo de nove meses. Uma vez terminado o saneamento, a propriedade obtém o certificado livre dessas doenças (Brucelose e Tuberculose), cuja manutenção depende do cumprimento de todas as regras e normas sanitárias estabelecidas. As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os testes anualmente. È importante destacar a exigência de dois testes negativos para o ingresso de animais na propriedade, se eles não forem provenientes de outra propriedade livre. Os testes de diagnóstico para brucelose são realizados exclusivamente em fêmeas de idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3-8 meses; em machos e fêmeas não vacinadas, realizam-se a partir dos 8 meses de idade (BRASIL, 2006).

26 2.10.3 Certificação de Propriedades Monitoradas para Brucelose e Tuberculose A certificação de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose, também é de adesão voluntária. Nelas os testes de diagnóstico são realizados por amostragem, seguindo procedimentos estabelecidos no Regulamento do PN- CEBT. Se não forem detectados animais reagentes positivos, os animais não incluídos na amostragem serão submetidos a testes de diagnóstico, e todos os a- nimais reagentes positivos serão sacrificados ou destruídos. Somente após essa a propriedade receberá o certificado de monitorada para brucelose e tuberculose (BRASIL, 2006). Em propriedades monitoradas, os testes serão realizados apenas em fêmeas com mais de 24 meses e em machos reprodutores, com periodicidade anual para brucelose e a cada dois anos para tuberculose (após obtidos dois testes anuais de rebanho para tuberculose, com resultados negativos). Só poderão ingressar na propriedade animais com dois testes negativos ou provenientes de propriedades de condição sanitária igual ou superior (BRASIL, 2006). 2.10.4 Controle do Trânsito de Animais Destinados à Reprodução, e Normas Sanitárias para Participação em Exposições, Feiras, Leilões e em outras Aglomerações de Animais O PNCEBT estabelece exigências de diagnóstico para efeito de trânsito interestadual de animais destinados à reprodução. Animais que participam de exposições também devem ser submetidos a testes de diagnóstico, ou ser provenientes de propriedade livre. A emissão de Guia de Transporte Animal (GTA) será também condicionada à comprovação da vacinação das fêmeas da propriedade contra a brucelose, qualquer que seja a finalidade do trânsito animal (BRASIL, 2006). 2.10.5 Habilitação e Capacitação de Médicos Veterinários O PNCEBT envolve um grande número de ações sanitárias profiláticas e de diagnóstico a campo. Assim sendo, torna-se necessário habilitar médicos

27 veterinários do setor privado para atuarem junto ao PNCEBT, sob supervisão do MAPA e das Secretarias de Agriculturas dos Estados. A vacinação contra brucelose deverá ser realizada sob responsabilidade de médicos veterinários. Por tratarse de vacina viva atenuada, sua compra só poderá ser efetuada mediante apresentação da receita emitida por médico veterinário. Esses profissionais ficarão obrigatoriamente cadastrados no serviço veterinário oficial de seu Estado de atuação (BRASIL, 2006). Para executar as atividades de diagnóstico a campo e participar do programa de certificação de propriedades livres ou monitoradas, o MAPA só habilitará médicos veterinários que tenham sido aprovados em curso de treinamento em métodos de diagnóstico e controle de brucelose e tuberculose, previamente reconhecidos por esse Ministério (BRASIL, 2006). 2.11 Aspectos Anatomopatológicos CORRÊA & CORRÊA, (1992) relataram a B. abortus causando lesões placentárias características. Macroscopicamente, há inflamação que leva à necrose cotiledonária e proliferação de tecido conectivo de granulação, com fibrose e aderência do cotilédone à carúncula materna. No córion intercotiledônico há edema e progressivo espessamento placentário, com exsudação de líquido viscoso e aderente de cor acastanhada. Microscopicamente, encontram-se no útero focos inflamatórios granulomatosos com células epitelióides e ao redor um halo linfoplasmocitário. O feto bovino abortado estará edemaciado, com em líquido sorossanguinolento nas cavidades corporais. Broncopneumonia é a lesão mais característica, contudo, a pneumonia fica predominantemente caracterizada por um infiltrado mononuclear com um número reduzido de neutrófilos. Os linfonodos fetais estão hiperplásicos e o timo pode estar menor que o normal (THOMAS et al. 2000). Em machos e fêmeas, apesar de não ser comum, podem surgir higromas que atingem grande tamanho, e bursite interescapular que é pouco comum na espécie bovina, mas tem sido encontrada em matadouros. Nos machos, a Brucella pode causar epididimite, inflamação da vesícula seminal e, às vezes, or-

28 quite, geralmente com franca apresentação de hidrocele e necrose testicular. Os órgãos em que a Brucella permanece nas vacas são as mamas e os linfonodos mamários, causando granulomatose geralmente discreta, às vezes com presença de alguns gigantócitos de tipo Langhans. Outros locais, dos quais pode ser eventualmente isoladas anos após, são os linfonodos pélvicos e faríngeos e eventualmente do fígado e baço (CORRÊA & CORRÊA, 1992).

29 3. RELATO DE CASO BRUCELOSE BOVINA EM PROPRIEDADE RURAL Durante o estágio curricular na Cooperativa Mista de Bela Vista de Goiás, foi realizada dentre outros atendimentos, a coleta de sangue de 103 animais, em uma propriedade rural no município de Bela Vista de Goiás, no intuito apenas de fazer um levantamento rotineiro de incidência de brucelose nos animais da propriedade. Na propriedade o produtor cria gado de corte e gado leiteiro. A produção diária do rebanho leiteiro era em torno de 200 litros de leite, no qual é retirado de forma manual, uma vez ao dia. Nessa propriedade o rebanho era submetido ao manejo extensivo e à monta natural. O rebanho no qual foi submetido ao exame era composto de 103 animais de aptidão leiteira incluindo 2 touros da raça Gir registrados como PO. Na anamnese o produtor não soube informar se esse rebanho em questão havia histórico de exames realizados para detecção de brucelose, pois os animais eram fruto de compra de um comerciante de gado da própria região. Durante o período que compreendia da compra do gado até a realização do exame não foi relatado nenhum caso de aborto, retenção de placenta, natimorto, ou outros sinais que justificassem a presença de brucelose no rebanho. As fêmeas, teoricamente, eram vacinadas pois possuíam a marca V na face esquerda. Nem mesmo os touros que foram submetidos ao exame apresentaram algum sinal clínico característico de infecção por bactérias do gênero Brucella. Desses animais analisados (103), 12 foram classificados positivos no Teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), sendo 10 fêmeas Girolando e dois machos Gir com idade variando entre 30 e 48 meses (Figura 5).

30 FIGURA 4 - Cinco dos 12 animais sororreagentes positivos testados na propriedade (dois touros da raça Gir e três vacas Girolando). 3.1 Coleta e processamento das amostras O sangue foi coletado dos animais contidos em tronco individual, através de punção da veia caudal coccígea. A coleta foi realizada em tubos de vidro, sem anti-coagulante, para que o soro fosse retirado posteriormente para a realização dos testes. Os números dos brincos ou o nome dos animais foram identificados no frasco contendo o soro correspondente. Após a coleta os tubos foram colocados em uma caixa térmica, lacrada e enviada ao laboratório em que foi feito as análises 3.2 Técnica realizada A técnica realizada no estágio foi a do AAT. Todas as instruções préestabelecidas na bula do antígeno (aprovado e controlado pelo MAPA) foram obedecidas no laboratório (Figura 6). O antígeno estava conservado a temperatura de 2 a 8 C, sendo necessário antes de sua utilização, a permanência de 30 minutos à temperatura ambiente. Uma placa de vidro quadriculada padrão foi utilizada onde, em cada quadrado foi depositado, com auxílio de uma pipeta, 30 μl de soro e 30 μl de antígeno. O soro e o antígeno foram colocados sobre a placa, encostando-se a ela, num ângulo de 45, sem que eles se misturassem. Misturou-se com um

31 bastão de vidro em movimentos circulares, de modo que se obteve um círculo aproximado de 2 cm. A placa foi agitada com movimentos oscilatórios, numa freqüência de 30 movimentos por minuto com duração de 4 minutos até que se obteve uma mistura soro-antígeno fluindo lentamente dentro de cada circulo. A leitura foi realizada em seguida, e os animais cujo soro apresentaram presença de grumos de aglutinação, foram classificados como positivos. A FIGURA 5 - A) Antígeno Acidificado Tamponado para diagnóstico da brucelose; B) Pipeta Automática/ Soro de animais a ser analisado/placa com quadrados de 4 cm de diâmetro delimitados. 3.3 Resultado laboratorial e orientações ao proprietário Dos animais testados nessa propriedade 12 (11,65%) foram considerados como positivos. Após a detecção, esses mesmos animais foram submetidos ao exame de contra prova cuja técnica realizada foi o teste do 2- Mercaptoetanol realizado em um laboratório especializado. No exame de contra prova os mesmos animais (12) foram confirmados. Assim que foi confirmado, foi marcada uma visita na propriedade para que os animais fossem marcados como positivos, com uma marca, no lado direito da face com um P (figura 6) contido em um círculo de 8 cm de diâmetro. Foi dado um prazo máximo ao proprietário,

32 de 30 dias, para que ele realizasse a eutanásia dos animais, ou os encaminhassem ao abate sanitário, e imediatamente retirassem as fêmeas que estavam em lactação e juntamente com os outros animais positivos fossem isolados de todo o rebanho. FIGURA 6 Animal marcado com a identificação dos animais sororreagentes positivas com ferro candente.