DURAÇÃO DO TRABALHO EM TODO O MUNDO: Tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada

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Transcrição:

DURAÇÃO DO TRABALHO EM TODO O MUNDO: Tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global comparada Conferência A Indústria Química no Ano 2020 Santo André, 27 de setembro de 2011

O Relatório da OIT sobre a duração do trabalho em todo o mundo Originalmente publicado em inglês, Working Time Around the World: Trends in working hours, laws and policies in a global comparative perspective (Lee, McCann, and Messenger, 2007) O Relatório é a primeira análise global comparativa sobre normas, políticas e horas habitualmente trabalhadas com enfoque nos países em desenvolvimento e em transição Possui três fontes de dados: A base de dados da OIT sobre Normas e Condições de Trabalho com cobertura de mais de 100 países (www.ilo.org/travdatabase) Um questionário sobre a distribuição de horas trabalhadas por semana 15 estudos de país

Normas Internacionais sobre Tempo de Trabalho O Preâmbulo da Constituição da OIT estabelece o tempo de trabalho como área de atuação da OIT. A primeira Convenção da OIT foi sobre as Horas de Trabalho (Indústria), 1919 (n 1) Desde 1919, a OIT tem adotado 39 normas relacionadas ao tempo de trabalho. As mais importantes se relacionam a: Jornada de trabalho diária e semanal 8-h por dia e 48-h por semana A redução da jornada para 40 horas por semana O descanso semanal mínimo de 1 dia (24 horas consecutivas) Férias anuais mínimo de 3 semanas Trabalho noturno Trabalho a tempo parcial Trabalhadores e trabalhadoras com responsabilidades familiares

Limites legais das horas de trabalho Durante as últimas cinco décadas, houve uma mudança global para um limite de 40 horas (ex., Argélia, Brasil (44), Bulgária, Chile (44), China, Rep. Tcheca, Mongólia, Marrocos (44), Coréia, Portugal, Ruanda) A evidência mais recente (2005) mostra que o limite de 40 horas é o patamar predominante no mundo Não obstante, existem diferenças regionais significativas: O limite de 48 horas é o predominante na América Latina Dualidade na Ásia entre limite de 48 horas e limite de 40 horas (inexistência de um marco legal na Índia e no Paquistão)

Jornada de trabalho excessiva: Proporção de trabalhadores com jornada de trabalho semanal superior a 48 horas, 2004-05 60 50 % sobre total de ocupados 40 30 20 10 Todos trabalhadores 0 Rússia Holanda Estônia França EUA Brasil I. Maurício Reino Unido México Argentina Japão Tanzânia Etiópia Paquistão Tailândia Coréia Peru Estimativa global: 22 % dos trabalhadores

Jornada de trabalho reduzida: Proporção de trabalhadores que trabalham menos de 35 horas por semana, 2004-05 % assalariados 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Rússia Tanzânia Tailândia Estônia Coréia Paquistão Etiópia México Brasil Reino Unido Peru França EUA Japão I. Maurício Holanda Trabalho renumerado

Jornadas longas em países em desenvolvimento: o caso da China Fonte: Relatório de país da OIT sobre jornada de trabalho na China, Zeng et al. 2005 Distribuição de horas habitualmente trabalhadas por semana <40 horas 40 horas 41-50 horas 51-60 horas >60 horas Total 24,5 23,7 30,0 13,1 8,7 100,0 - Um levantamento da OIT constatou que 41 % dos assalariados trabalharam horas extras no último mês - Tempo médio de horas extras = 8,6 horas por semana - Menos da metade (49 %) receberam pagamento de horas extras - Um quarto dos trabalhadores trabalharam menos de 40 horas por semana

Duração do trabalho no Brasil Fonte: Perfil do Trabalho Decente no Brasil (OIT, 2009) 2007 Total Homens Mulheres População ocupada com jornada de trabalho semanal acima de 44 horas, em % População ocupada com jornada de trabalho semanal acima de 48 horas, em % Média de horas semanais trabalhadas da população 35,5 43,2 25,2 20,3 25,2 13,7 41,0 44,4 36,4 ocupada, em nº de horas

Diferenças de gênero nas horas trabalhadas: Proporção de trabalhadores com jornada superior a 48 horas semanais, 2004-05 60 50 % total de ocupados 40 30 20 10 0 Rússia Holanda Estônia França Brasil EUA I. Maurício Reino Unido México Argentina Japâo Etiópia Paquistão Tailândia Coréia Homens Mulheres

Diferenças de gênero em horas trabalhadas remuneradas: Proporção de trabalhadores que trabalham menos de 35 horas semanais, 2004-05 % de trabalhadores remunerados 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Estônia Coréia Paquistão Etiópia Brasil México Reino Unido França Rússia Tailândia EUA I. Maurício Japão Holanda Homens Mulheres

Brasil: Tempo gasto pelos/as trabalhadores/as para o deslocamento casa-trabalho e afazeres domésticos Fonte: Perfil do Trabalho Decente no Brasil (OIT, 2009) Número de horas (2007) Total Homens Mulheres Até meia hora (%) 67,7 66,3 69,7 Entre meia e uma hora (%) 22,7 23,5 21,7 Entre uma e duas horas (%) 7,8 8,0 7,5 Mais de duas horas 1,8 2,2 1,1 Média de horas gastas com afazeres domésticos 21,5 10,6 27,2

Principais conclusões do relatório (1) Há uma mudança gradual para um limite de 40 horas nas legislações nacionais ao longo das últimas quatro décadas Não obstante, há uma alta incidência de trabalhadores exercendo jornadas extensivas em países em desenvolvimento e em transição, e o uso de horas extras é muito comum Dentre as principais razões destacam-se: Falta de fiscalização no âmbito do cumprimento da legislação A jornada longa é utilizada muitas vezes para compensar a baixa produtividade e os baixo salários (trabalhadores precisam trabalhar mais para aumentar seus rendimentos)

Principais conclusões do relatório (2) Existe um expressivo contingente de trabalhadores que realizam jornadas reduzidas em muitos países, especialmente na economia informal. Existem diferenças significativas nas jornadas do trabalho remunerado por sexo Horas médias trabalhadas são maiores para os homens que para as mulheres na maioria dos países do mundo Entre os homens perdura uma dualidade entres grupos que trabalham jornadas extensas e outros que trabalham jornadas reduzidas, em decorrência do subemprego As mulheres frequentemente desempenham jornadas reduzidas particularmente no setor informal devido a sobrecarga de conciliação do trabalho com as responsibilidades domésticas

O posicionamento da OIT Objetivo da OIT: Trabalho decente para todos Promover oportunidades para mulheres e homens de obter trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, eqüidade e segurança, a fim de proporcionar uma vida digna aos trabalhadores e trabalhadoras Como se pode avançar no objetivo de promover o trabalho decente na área de tempo de trabalho?

Jornadas de trabalho decente A OIT recomenda que os acordos de tempo de trabalho promovam o equilibrio entre as necessidades dos trabalhadores e dos empregadores Para tanto, eles devem abarcar cinco dimensões: Tempo de trabalho saudável Tempo de trabalho compatível com as obrigações familiares Igualdade de gênero na jornada de trabalho Tempo de trabalho produtivo Escolha e influência do/a trabalhador/a na fixação da jornada de trabalho

Implicações para as políticas (1) Marco legal e regulatório que estabeleça limites razoáveis para a jornada de trabalho, com um mecanismo confiável de aplicação, são condições mínimas para restringir as jornadas excessivas de trabalho Políticas salariais incluindo o Salário Mínimo e os pisos salariais, podem trazer uma importante contribuição para romper o círculo vicioso entre baixos salários e jornada excessiva. Medidas para estimular e assistir às empresas para que melhorem sua produtividade - o que favoreceria maiores salários promovem um círculo virtuoso entre alta produtividade e maiores salários;

Implicações para as políticas (2) Políticas de conciliação entre o trabalho remunerado e as responsabilidades familiares e domésticas devem preocupação central para todos os países. Exemplos: ser uma tempo de trabalho flexível licença urgente por motivos familiares trabalho em tempo parcial - Convenção da OIT sobre o Trabalho em Tempo Parcial, 1994 (Nº 175). Os países menos desenvolvidos necessitam de medidas diferentes daquelas do mundo industrializado, tais como: assegurar um transporte coletivo eficiente aumentar a oferta de berçários e creches facilitar o acesso aos serviços públicos essenciais (educação, saúde, habitação, transporte, etc.)

MUITO OBRIGADO Paulo Sergio Muçouçah Coordenador dos Programas de Empregos Verdes e Trabalho Decente Escritório da OIT no Brasil mucoucah@oitbrasil.org.br