Key words: Educative measures. Resocialization. Social integration.

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A (IN)EFICÁCIA DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO BRASIL 1 Priscilla Amaral Fundação Carmelitana Mário Palmério (FUCAMP) Patrícia Martins Aguiar Fundação Carmelitana Mário Palmério (FUCAMP) Sumário: Introdução; 1. Medidas socioeducativas previstas na legislação brasileira; 2. Medidas socioeducativas em espécie; 3. Princípios que regem as medidas socioeducativas; Conclusão; Referências. Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar a (in) eficácia das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente infrator no Brasil, verificando se os fins almejados pela Carta Magna e pelo Estatuto da Criança e Adolescente estão sendo concretizados na prática, em especial no que tange à (res) socialização e à (re) integração do infrator. Nesse sentido, realizou-se uma abordagem histórica acerca da evolução dos direitos e garantias das crianças e adolescentes no país. Ademais, foram analisadas as medidas socioeducativas previstas na legislação brasileira, bem como os princípios e fins perseguidos pelas normas que regem o tema. Como metodologia utilizou-se o tipo de pesquisa bibliográfico, enquanto método dedutivo, realizando a análise textual, temática e interpretativa de obras relacionadas ao tema, assim como o tipo de pesquisa documental, enquanto método indutivo, por meio da análise de legislações relacionadas à pesquisa. Palavras-chave: Medidas Socioeducativas. Ressocialização. Integração Social. Abstract: This paper aims to investigate the (in) effectiveness of educational measures applied to the adolescent offender in Brazil, checking that the ends pursued by the Constitution and the Statute of Children and Adolescents are being put into practice, especially in regard the (re) socialization and (re) integration of the offender. In this sense, there was a historical approach on the development of the rights and guarantees of children and adolescents in the country. Moreover, the educational measures under Brazilian law and the principles and purposes pursued by the rules governing the issue were analyzed. The methodology used the type of bibliographic research, while deductive method, performing textual, thematic and interpretative analysis of works related to the theme, as well as the type of document research, while inductive method through the analysis of laws related to research. Key words: Educative measures. Resocialization. Social integration. Introdução. Sob o olhar da doutrina da proteção integral, no âmbito internacional, a Convenção sobre os direitos da criança foi adotada pelas Nações Unidas em novembro de 1989, entrou em vigor em 1990, tendo sido ratificada pelo Brasil em 24 de setembro do mesmo ano, merecendo destaque o fato de que a referida convenção não aborda expressamente os adolescentes. 2 1 Artigo aprovado, apresentado e publicado nestes Anais do I Seminário Sociedade, Política e Direito, da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia (FADIR-UFU). Publicado em: 06.07.2014. 2 FALSARELLA, Christiane. O impacto da Convenção sobre os Direitos da Criança no Direito Brasileiro. Revista de Direito Constitucional e Internacional, ano 21, v. 83, abr.-jun./ 2013, p. 412. 1

Antes, contudo, precisamente em 05 de outubro de 1988 entrou em vigor a atual Constituição Cidadã de 1988, a qual tratou nos artigos 227, 228 e 229 sobre os direitos das crianças e adolescentes. Ademais, em outubro de 1990 entrou em vigor o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) 3, o qual trouxe uma nova concepção sobre os direitos fundamentais das crianças e adolescentes. Com efeito, o ECA conceitua criança como sendo a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. 4 Vale mencionar que antes da Lei 8.069/90, o código que geria as normas das crianças e adolescentes anteriormente não passava de um Código Penal do Menor 5, haja vista que se preocupava apenas com sancionamentos, esquecendo-se os direitos e às normas protetivas às famílias. Nessa perspectiva, a Lei 8069/90 trouxe como eixo principiológico estruturante os seguintes princípios: a) proteção integral aos direitos fundamentais da criança e do adolescente; b) prioridade absoluta (estabelece que os direitos das crianças e adolescentes devem ser protegidos em primeiro lugar em relação a qualquer outro grupo social, inclusive com a possibilidade de tutela judicial de seus direitos fundamentais). O presente artigo abordará no primeiro capítulo as medidas socioeducativas previstas na legislação brasileira, como uma limitação ou consequência ao ato infracional praticado, lhe conferindo uma restrição aos seus direitos. No segundo capítulo, serão abordadas as medidas socioeducativas em espécie, quais sejam: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional; encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial e; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. 3 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 4 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 2. 5 CASSANDRE, Andressa Cristina Chiroza. A eficácia das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente infrator. Disponível em: < http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/juridica/article/viewfile/876/846 > Acesso em: 03 de out. de 2013. 2

No terceiro e último capítulo, serão estudados, ainda que de forma sucinta, os princípios específicos que regem as medidas socioeducativas, quais sejam; o princípio da brevidade (a internação tem um tempo determinado), o princípio da excepcionalidade (estabelece que uma medida somente se aplicará quando não for mais viável a aplicação das outras medidas ou quando estas não tiverem mais resultado) e, o principio do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Para tanto, será utilizada como metodologia o tipo de pesquisa bibliográfico, enquanto método dedutivo, realizando a análise textual, temática e interpretativa de obras relacionadas ao tema, assim como o tipo de pesquisa documental, enquanto método indutivo, por meio da análise de legislações relacionadas à pesquisa. Enfim, o presente ensaio se dedicará a investigar a questão da (in) eficácia das medidas socioeducativas no Brasil, bem como as causas e consequências dessa (in) eficácia. 1. Medidas socioeducativas previstas na legislação brasileira. Como se pode perceber, a diferença existente entre os termos criança e adolescente diz respeito, apenas, às medidas a serem aplicadas quando praticarem ato infracional. Assim, às crianças serão atribuídas medidas de proteção, e aos adolescentes, medidas socioeducativas. Nesse sentido, é possível fazer a aplicação de medidas de proteção, conforme disposto no artigo 112, inciso VII do ECA 6, excluindo-se apenas a inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos, o abrigo em entidade e colocação em família substituta. Por aí se vê que a lei aponta uma limitação quando houver a prática de qualquer ato infracional, é uma consequência que lhe confere restrição de direitos. 7 Dessa forma, para que haja a restrição de direitos é necessário que sigamos a linha do artigo fundamental da lei estatutária, que informa que na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais e a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 8 Assim, portanto, a criança ou o adolescente que comete infração, está em desacordo com os princípios que norteiam o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que, ao praticar um ato 6 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 7 MARINO, Adriana Simões. O ato infracional e as medidas de proteção Entre garantia e restrição de direitos Uma reflexão sobre o fundamento da lei em psicanálise. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 21, v. 103, jul.-ago./ 2013, p. 168. 8 MARINO, Adriana Simões. O ato infracional e as medidas de proteção Entre garantia e restrição de direitos Uma reflexão sobre o fundamento da lei em psicanálise. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 21, v. 103, jul.-ago./ 2013, 169. 3

infracional, conflita com os fins sociais a que a lei se destina, ou seja, o bem comum, os direitos individuais e coletivos e o que se entende por direitos de pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. Nesse viés, é notório que, as medidas apontadas como socioeducativas, tem certa semelhança com aquelas aplicadas na esfera penal; quais sejam, advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços, liberdade assistida, regime de semiliberdade, internação e ainda medidas de proteção. 9 Nesse interim, a lei deve ser aplicada em observância aos princípios norteadores do Estatuto, ponderadamente, uma vez que o objetivo da Lei 8.069/90 é a proteção da criança e do adolescente com a aplicação de medidas socioeducativas tendentes a reintegrá-lo novamente à sociedade. Assim, apesar de serem chamadas protetivas e seu conteúdo visar à integridade das determinações legais de sua população, quando impostas, interferem diretamente na autonomia individual do infrator, representando uma resposta da pretensão do Estado entendida como exigência de subordinação do obrigado à medida jurídica prevista em lei. 10 Convém ressaltar que o que será discutido aqui, será o despreparo das instituições para executar as medidas socioeducativas impostas pelo magistrado, até pelo fato de que quanto à normatização, pode ser vista como legislação do primeiro mundo; que, entretanto, nosso sistema não consegue dar a sua devida efetividade. As medidas socioeducativas não tem a finalidade específica de punir o menor infrator, elas têm o objetivo de ressocializar o adolescente para que possa ser reintegrado na sociedade, só que o que se percebe é que ficam presos, impossibilitando que sejam preparados ao convívio social. 11 Mas, o que na maioria das vezes se percebe é que ao retornar à sociedade estão mais experientes e ágeis para a prática de atos infracionais. A intenção do legislador ao estabelecer o Estatuto da Criança e do Adolescente era de conferir às medidas socioeducativas um caráter pedagógico e protetivo; contudo, se esqueceu que o Brasil não tem estrutura para isso. 2. Medidas socioeducativas em espécie. 9 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 173. 10 GARRIDO DE PAULA, Paulo Afonso. Ato infracional e natureza do sistema de responsabilização. In: ILANUD; ABMP; SEDH; UNFPA (orgs.). Justiça, adolescente e ato infracional: socialização e responsabilização. São Paulo: Ilanud, 2006, p. 30. 11 CASSANDRE, Andressa Cristina Chiroza. A eficácia das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente infrator. Disponível em: < http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/juridica/article/viewfile/876/846 > Acesso em: 03 de out. de 2013. 4

Como fora dito anteriormente, o adolescente que praticar qualquer ato infracional poderá se sujeitar à aplicação de quaisquer das medidas socioeducativas descritas no artigo 112 do ECA 12, quais sejam: de advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento educacional; encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matricula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial e; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. O que se deve ter em mente é que qualquer medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade para cumprí-la, as circunstâncias e a gravidade do ato infracional; e que em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado e, por fim, aqueles portadores de doenças ou deficiência mental deverão receber tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. Nesse sentido, a primeira medida apreciada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente 13 é a advertência, consistente na admoestação verbal, com fins de demonstrar ao adolescente que o fato por ele praticado é grave, explicando as consequências que teve ou que poderia ter ocasionado; executada em audiência admonitória e reduzida a termo e assinada. Tal medida é uma ameaça de sanção mais severa caso o adolescente volte a delinquir. A obrigação de reparar o dano aplica-se aos delitos em que lesa o patrimônio da vítima. Dessa forma, se for o caso, a autoridade competente poderá determinar que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Com relação à medida de prestação de serviços à comunidade, entende-se ser o exercício de tarefas de interesse geral, sem remuneração, por um período que não exceda a seis meses, em entidades assistenciais, escolas, hospitais, com jornada máxima de 8 horas semanais, sem prejuízo da frequência à escola ou ao trabalho. 14 12 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 13 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 14 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. 5

Já a medida de liberdade assistida, de acordo com os artigos 118 e 119 do ECA 15, é aplicada em casos de necessidade de acompanhamento, auxilio e educação; pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida. Segundo Antonio Chaves, citado por Válter Kenji Ishida, a liberdade assistida consiste em submeter o menor, após entregue aos responsáveis, ou após liberação do internato, à assistência (inclusive vigilância discreta), com o fim de impedir a reincidência e obter a certeza da reeducação. 16 Outra medida que pode ser aplicada ao adolescente infrator é o regime de semiliberdade, consistente na internação em estabelecimento adequado, possibilitando a realização de atividades externas, de escolarização e profissionalização, independentemente de autorização judicial. 17 Em relação àquelas descritas no artigo 112, VII da Lei 8.069/90, serão aplicadas quando verificadas quaisquer das hipóteses previstas no artigo 98 do mesmo instituto, chamadas de situações de risco. Pode-se dizer que o artigo 98 do ECA será aplicado sempre que os direitos reconhecidos por esse dispositivo forem ameaçados ou violados; por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis ou, em razão de sua conduta. Nesse sentido, quando verificadas quaisquer das hipóteses supramencionadas, deve-se aplicar as medidas de proteção elencadas no artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente 18. O que primeiro se deve procurar é a reintegração familiar, à medida que verificada a necessidade de acompanhamento pela equipe interprofissional, será ordenado pelo Juiz. Dentre essas medidas, também encontramos a requisição de tratamento medico, psicológico e psiquiátricos, encaminhamento a tratamento de dependentes de drogas ou álcool. 19 A aplicação de medidas de abrigamento serão em casos extremos e, em casos que não sejam possíveis a reintegração familiar ou o prolongamento do abrigamento será colocado em família substituta. 20 15 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 16 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 181. 17 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 173. 18 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 19 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 20 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 150. 6

Por fim, as medidas de internação aplicadas ao adolescente serão adaptadas à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, e tem o objetivo de prevenção, reestruturação da personalidade para um bom convívio social. Conforme disposto no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente 21, a medida de internação somente poderá ser aplicada quando tratar-se ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves; ou, por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. Assim, entende-se ser a internação medida privativa de liberdade, que se submete aos princípios basilares da Lei 8.069/90, que serão abordados a seguir. Dessa forma, a prática de um ato infracional implica tanto em uma restrição quanto em uma garantia de direitos. 3. Princípios que regem as medidas socioeducativas. O Estatuto da Criança e do Adolescente com o objetivo de não lesar os direitos do adolescente é regido por três princípios basilares: o da brevidade, da excepcionalidade e, do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A Constituição Federal de 1988 22 em seu artigo 227, 3º, V; repetido pelo artigo 121 do ECA consagra como garantia a obediência aos mencionados princípios. O princípio da brevidade é aquele que roga pela determinabilidade da medida, ou seja, deve perdurar somente para a necessidade de readaptação do adolescente. Estabelece o princípio da excepcionalidade, na medida de internação, que seja aplicada apenas quando não for mais viável a aplicação de quaisquer das outras medidas ou quando não mais obtiverem os resultados esperados. Assim, a excepcionalidade está ligada ao fato de que, havendo outras medidas a internação será destinada para atos infracionais praticados mediante violência à pessoa, reiteração na prática de outras infrações graves e descumprimento injustificável e reiterado de medida anteriormente imposta, como preleciona o artigo 122 do ECA, desde que a liberdade do adolescente constitua notória ameaça à ordem pública, demonstrada a necessidade imperiosa da segregação, visto que o 21 BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 22 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Diário Oficial da União. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 17 de novembro de 2013. 7

mencionado artigo em seu 2 estipula que em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada. 23 O que convém ressaltar é que se assemelha ao princípio da intervenção mínima que orienta e limita o poder incriminador do Estado. Ora, se existirem outras medidas ou formas de controle social suficientes, são essas que devem ser aplicadas, devem ser a ultima ratio do sistema normativo. Outro princípio é o do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, estabelecido no artigo 125 do Estatuto que diz que é dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhes adotar as medidas adequadas de contenção e segurança. Nesse viés ressaltamos o princípio da Proteção Integral, que trata a criança e o adolescente com prioridade ampliando o dever de protegê-los à família à sociedade e ao Estado, uma vez que o alcance de alguns males provocados por rompimentos psicológicos e desvios de conduta são reflexos da sociedade em que vive. Entretanto o simples fato de dar ao menor infrator uma medida socioeducativa não irá ressocializá-lo, vez que ao ser posto em liberdade voltará a conviver no mesmo meio delituoso em que vivia, com o fato agravado por ter frequentado a escola do crime. Além dos princípios abarcados, o artigo 111 do ECA 24, assegura algumas garantias ao adolescente, quais sejam: a) pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; b) igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; c) defesa técnica por advogado; e) assistência judiciaria gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; f) direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; g) direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. Tal dispositivo atende aos princípios do devido processo legal e da igualdade entre as partes, do contraditório e da ampla defesa e cria mecanismos para que o adolescente possa alegar ou provar a sua inocência. 25 Da mesma forma, tem o direito de ser ouvido pelo magistrado, acompanhado dos seus genitores ou do representante legal, devido a sua menoridade. Conclusão. 23 PINOTI, Antonio Jurandir. Medidas socioeducativas e garantias constitucionais. Disponível em: < www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_19_2_1_5.php > Acesso em 17 de nov. de 2013. 24 PINOTI, Antonio Jurandir. Medidas socioeducativas e garantias constitucionais. Disponível em: < www2.mp.pr.gov.br/cpca/telas/ca_igualdade_19_2_1_5.php > Acesso em 17 de nov. de 2013. 25 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 169. 8

Diante de todo o exposto, o Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece a doutrina da proteção integral, com base nos direitos e garantias destinados à criança e ao adolescente, podendose assim dizer que um de seus fundamentos é trata-los como sendo sujeitos de direito frente à família, ao Estado e à sociedade. Da mesma forma, estão elencadas no Estatuto as medidas socioeducativas com a finalidade de ressocializar o adolescente para que ele possa voltar viver em sociedade. Nesse sentido, o que ressaltamos aqui é a ineficácia dessas medidas, não quanto à forma que fora prevista no Estatuto, mas quanto a sua aplicação. O que se percebe, na realidade, é que as medidas socioeducativas estão muito distantes de alcançar os seus objetivos, vez que os adolescentes não são tratados da forma como é descrita em sua norma protetora, ficando diretamente em contato com indivíduos de alta periculosidade, possibilitando que voltem a praticar outros atos infracionais. Assim, a norma não consegue efetivar o que ela realmente busca, que é a ressocialização do adolescente, que não tem a consciência (esperada) do ato praticado que faria com que ele não voltasse a delinquir. Com isso, para que as medidas socioeducativas provocassem seus efeitos, seria necessário que as instituições de execução e fiscalização dessas medidas fossem mais preparadas, sendo até possível dizer que por mais que possua uma legislação de países desenvolvidos, voltada à proteção da classe infanto-juvenil, não seria possível dar tal aplicabilidade em razão da deficiência do sistema. Referências bibliográficas. ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Diário Oficial da União. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 17 de novembro de 2013.. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 17 de novembro de 2013. CASSANDRE, Andressa Cristina Chiroza. A eficácia das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente infrator. Disponível em: < http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/juridica/article/viewfile/876/846 > Acesso em: 03 de outubro de 2013. 9

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