A CINÉTICA DE CRESCIMENTO DE GRÃOS DA LIGA Cu-24,5Sn-0,01B.



Documentos relacionados
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA ENG03108 MEDIÇÕES TÉRMICAS

Tratamento Térmico. Profa. Dra. Daniela Becker

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SÃO PAULO CEFET-SP. Tecnologia Mecânica

RELAÇÃO DO TEMPO DE SINTERIZAÇÃO NA DENSIFICAÇÃO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM CÉLULAS À COMBUSTÍVEL. Prof. Dr. Ariston da Silva Melo Júnior

Influence of Austenitizing Temperature On the Microstructure and Mechanical Properties of AISI H13 Tool Steel.

ESTUDO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DA LIGA Cu-7%Al-10%Mn-3%Ag (m/m)

EFEITO DA ADIÇÃO DE Sn NA ESTABILIDADE DE FASES E PROPRIEDADES DE LIGAS Ti-10Mo RESFRIADAS RAPIDAMENTE E ENVELHECIDAS. flaviamec@fem.unicamp.

Comparação entre Tratamentos Térmicos e Método Vibracional em Alívio de Tensões após Soldagem

O FORNO A VÁCUO TIPOS E TENDÊNCIA 1

Universidade Federal Rural de Pernambuco

1. Difusão. A difusão só ocorre quando houver gradiente de: Concentração; Potencial; Pressão.

Disciplina CIÊNCIA DOS MATERIAIS A. Marinho Jr. Materiais polifásicos - Processamentos térmicos

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tratamentos Térmicos [7]

TECNOLOGIA DOS MATERIAIS

EFEITOS DA HOMOGENEIZAÇÃO E DO RESFRIAMENTO APÓS EXTRUSÃO SOBRE A MICROESTRUTURA DE GRÃOS E A RESPOSTA AO ENVELHECIMENTO DE BARRAS DA LIGA DE ALUMÍNIO

TRATAMENTOS TÉRMICOS DOS AÇOS

4.Materiais e métodos

TECNOLOGIA MECÂNICA. Aula 08. Tratamentos Térmicos das Ligas Ferrosas (Parte 2) Tratamentos Termo-Físicos e Termo-Químicos

XIV CONGRESSO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ENGENHARIA MECÂNICA Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Mecânica

DISSOLUÇÃO DA FERRITA DELTA EM AÇO INOXIDÁVEL ENDURECIDO POR PRECIPITAÇÃO

5 DISCUSSÃO. 5.1 Influência dos resfriadores no fundido. Capítulo 5 77

Palavras - chave: Grafita nodular, ferro fundido nodular, tempo e temperatura de vazamento, propriedades mecânicas, analise estrutural.

Estudo Da Potencialidade De Redução Do Teor De Cromo Em Moinhos Do Tipo Rolo Sobre Pista Da Termoelétrica Jorge Lacerda

LIGAS METÁLICAS IMPUREZAS NOS METAIS

1 Descrição do Trabalho

Determinação da Relação Entre a Pressão de Vapor e a Temperatura

Faculdade de Ciência e Tecnologia Universidade Fernando Pessoa Exercícios de Ciências dos Materiais

TECNOLOGIA DA DEFORMAÇÃO PLÁSTICA. VOL II APLICAÇÕES INDUSTRIAIS (Enunciados de Exercícios Complementares)

CORROSÃO. Química Geral Prof a. Dr a. Carla Dalmolin

Reações a altas temperaturas. Diagrama de Equilíbrio

CARACTERIZAÇÃO DE LIGAS Al-Si EUTÉTICA E HIPEREUTÉTICA FUNDIDAS POR CENTRIFUGAÇÃO PARA APLICAÇÕES AUTOMOTIVAS

REFINO DE GRÃO ATRAVÉS DE TRATAMENTO TÉRMICO SEM MOVIMENTAÇÃO DE MASSA

TRATAMENTOS TÉRMICOS: EFEITO DA VELOCIDADE DE RESFRIAMENTO SOBRE AS MICROESTRUTURAS DOS AÇOS ABNT 1045

GLOSSÁRIO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS E TERMOQUÍMICOS

Aula 04-a: Fundamentos da Solidificação dos Metais Parte 2

LEI DE OHM. Professor João Luiz Cesarino Ferreira. Conceitos fundamentais

ROTEIRO 20 PÊNDULO SIMPLES E PÊNDULO FÍSICO

Roda de Samba. Série Matemática na Escola

Indústrias Química, do Plástico, do Vidro e dos Metais

1. Um corpo arremessado tem sua trajetória representada pelo gráfico de uma parábola, conforme a figura a seguir.

-Transformadores Corrente de energização - inrush

BC-0005 Bases Computacionais da Ciência. Modelagem e simulação

5. Resultados e Análises

P3 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 16/06/12

André Silva Franco ASF EOQ Escola Olímpica de Química Julho de 2011

Tópico 11. Aula Teórica/Prática: O Método dos Mínimos Quadrados e Linearização de Funções

Tratamentos térmicos de ferros fundidos

Experimento 1. Estudo Prático da Lei de Ohm

Objetivos: Construção de tabelas e gráficos, escalas especiais para construção de gráficos e ajuste de curvas à dados experimentais.

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CURITIBA CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA/ELETROTÉCNICA

VALIDAÇÃO DO MODELO DE ELETROCOAGULAÇÃO FLOTAÇÃO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE TÊXTIL VISANDO À REMOÇÃO DE DQO, UTILIZANDO REATOR EM BATELADA.

1. PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA

INFLUÊNCIA DA MICROESTRUTURA ANISOTRÓPICA NO COMPORTAMENTO EM FADIGA DA LIGA DE ALUMÍNIO 7010-T74 FORJADA, DE APLICAÇAO AERONÁUTICA

Resistividade de Materiais Condutores

EFEITO DA ESTRUTURA BAINÍTICA EM AÇOS PARA ESTAMPAGEM

UM ENSAIO DO PROCESSO DE RECOZIMENTO PLENO

Resistência elétrica

Materiais / Materiais I

4 Estudos de Casos Problema Direto

Capítulo 02. Resistores. 1. Conceito. 2. Resistência Elétrica

ESTA PROVA É FORMADA POR 20 QUESTÕES EM 10 PÁGINAS. CONFIRA ANTES DE COMEÇAR E AVISE AO FISCAL SE NOTAR ALGUM ERRO.

D S E C S R C I R ÇÃ Ç O Ã E E C AR A AC A T C ER E Í R ST S ICAS A S TÉC É N C I N CAS

Curso de Instrumentista de Sistemas. Fundamentos de Controle. Prof. Msc. Jean Carlos

Medição do fluxo de calor sensível com anemômetro sônico e de hélice Cristhiane Michiko Passos Okawa 1 Nelson Luís Dias 2

MATERIAIS EM ENGENHARIA 2º Exame Ano lectivo 2013/ de Janeiro 11:30 horas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA COLÉGIO TÉCNICO INDUSTRIAL DE SANTA MARIA Curso de Eletrotécnica

Comportamento Eletromagnético de Transformadores e Fontes UV

Controle II. Estudo e sintonia de controladores industriais

Separação de Misturas

grandeza do número de elétrons de condução que atravessam uma seção transversal do fio em segundos na forma, qual o valor de?

ENSAIO DE DUREZA EM-641

MANEIRAS DE SE OBTER UMA DETERMINADA FORMA

Curso de Engenharia Civil. Física Geral e Experimental I Movimento Prof.a: Msd. Érica Muniz 1 Período

EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE SOLUBILIZAÇÃO E ENVELHECIMENTO NA LIGA AlSi7Mg OBTIDA EM MOLDE DE AREIA E COQUILHA

Faculdade Sagrada Família

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE SOLUBILIZAÇÃO NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX. 1 UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá

4 MÉTODO ANALÍTICO EMPREGADO NA DETERMINAÇÃO DE MERCÚRIO TOTAL

Início Final Interrupções Fev

Curso de Engenharia de Produção. Processos de Fabricação

2 Materiais e Métodos

SOLUBILIZAÇÃO E ENVELHECIMENTO DE UMA NOVA LIGA Al3,9%Si RECICLADA PARA PROCESSOS DE TIXOFORJAMENTO

Influence of coarse aggregate shape factoc on concrete compressive strength

03) João, chefe de uma oficina mecânica, precisa encaixar um eixo de aço em um anel de latão, como mostrado nesta figura.

INFLUÊNCIA DA INOCULAÇÃO NA OBTENÇÃO DO FERRO FUNDIDO CINZENTO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DOS MATERIAIS SETOR DE MATERIAIS

JUSTIFICATIVAS PROPOSTA de LIMITES DE EMISSÕES FONTES EXISTENTES REFINARIAS

ANÁLISE QUÍMICA INSTRUMENTAL

ANÁLISE GRÁFICA DOS RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Resolução de Curso Básico de Física de H. Moysés Nussenzveig Capítulo 08 - Vol. 2

Tratamento térmico. A.S.D Oliveira

Estudo Comparativo de Cálculo de Lajes Analogia de grelha x Tabela de Czerny

SOLUÇÃO: RESPOSTA (D) 17.

7 Considerações finais

TEEE: Colheita de Energia Termogeração

QUEDA LIVRE. Permitindo, então, a expressão (1), relacionar o tempo de queda (t), com o espaço percorrido (s) e a aceleração gravítica (g).

O AÇO ESTRUTURAL (uma parte do material desta página foi extraída do site Aços CA-50 e CA-25

Cálculo de volume de objetos utilizando câmeras RGB-D

Actividade Experimental 1.3 Determinação da Capacidade Térmica Mássica

ÍNDICE CORROSÃO E MEDIDAS DE PROTEÇÃO ESPECIFICAÇÃO DE AÇOS, LIGAS ESPECIAIS E FERROS FUNDIDOS (Módulo I)... 4 ACABAMENTO DE SUPERFÍCIE...

Transcrição:

A CINÉTICA DE CRESCIMENTO DE GRÃOS DA LIGA Cu-24,5Sn-0,01B. Adérito Aquino Filho Yogendra Prasad Yadava Ney Freitas de Quadros Ricardo Artur Sanguinetti Ferreira DEMEC-Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE Av. Acadêmico Hélio Ramos S/N Cidade Universitária, Recife-PE, e-mail ras@npd.ufpe.br Resumo. A cinética de crescimento de grãos foi estudada numa liga com memória de forma de composição nominal Cu-24,5Sn-0,01B (% em peso). Esta liga foi elaborada em forno de indução de 24 kva, sem atmosfera de proteção. O material bruto foi homogeneizado à temperatura de 973 K, durante 48 horas, depois deformados 5%, a frio, a uma taxa de deformação de 1,6 s -1. Em seguida, os corpos de prova, retirados do material homogeneizado, foram solubilizados à temperatura de 1023 K por 30 minutos, resfriados em salmoura e, novamente, deformados 5% a frio. Finalmente, os corpos de prova, foram submetidos a tratamentos de envelhecimento nas temperaturas de 883, 913, 943 e 973 K por duas horas, para determinação da cinética empírica de crescimento de grãos. Os tamanhos de grãos foram determinados por contagem individual, medindo-se os diâmetros das diagonais (intersepto) conforme a norma ASTM E -112. Para descrever a cinética de crescimento de grãos foi admitida a lei empírica do tipo D=D 0 + Kt n. A energia de ativação do processo foi determinada para os dois estágios e nos permitiu concluir que o boro não foi eficaz como refinador no sistema CuSn, ao contrário do que ocorre em outras ligas à base de cobre. Palavras-chave: Crescimento de grãos, Cinética de crescimento, Energia de ativação. 1. INTRODUÇÃO A cinética de crescimento de grãos tem sido estudada em diversos sistemas de ligas ao longo das três últimas décadas. Mais recentemente, os estudos têm-se voltado para as ligas com memória de forma, pelo crescimento peculiar que estes sistemas apresentam durante processamento. A conformação a quente, utilizada para a fabricação de um produto tecnológico, apresenta dois inconvenientes neste sistema de ligas. Em altas temperaturas (domínio beta), durante tratamento de solubilização, seguido da deformação, é observado o crescimento anormal; conforme já mostrado em trabalhos anteriores por Sanguinetti et al. (1998, 2000). Em baixas temperaturas (domínio alfa + beta), durante tratamento de envelhecimento, além de crescimento do grão, pode ocorrer a precipitação de fases fragilizantes tanto no interior quanto nos contornos de grãos, conforme será visto ao longo deste trabalho. Para as ligas do sistema Cu-Sn com memória de forma, o crescimento de grãos torna-se descontrolado, comprometendo as propriedades mecânicas e degradando o efeito memória, devido ao deslocamento das temperaturas das transformações termoelásticas. O presente trabalho tem por objetivo estudar a cinética de crescimento de uma liga Cu-Sn elaborada com adição de boro e, baseado na energia de ativação do processo de crescimento, avaliar o efeito refinador deste microconstituinte.

2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL Uma liga de composição nominal Cu-24,67Sn (% em peso) foi elaborada com adição de 0,012% de boro para se avaliar a eficácia deste elemento constituinte como refinador de grão. A fusão da liga foi realizada em forno de indução de 24 kva (20 kw), com temperatura aproximada de 1.373 K, sem atmosfera de proteção. Para a fusão foi utilizado um cadinho de carbeto de silício revestido com tinta à base de zirconita. Depois de fundida completamente e homogeneizada por agitação mecânica, a liga foi vazada em lingoteiras metálicas com o mesmo revestimento (desmoldante) utilizado para o cadinho. Os tratamentos termomecânicos realizados estão representados esquematicamente abaixo (Figura 1). Inicialmente, foi feito um tratamento de homogeneização (973 K- 48 h), seguido de solubilização (1023 30 min) e finalmente tratamento para crescimento de grãos em temperaturas de 883, 913, 943 e 973 K durante duas horas. Entre os ciclos foram feitas deformações de 5% à frio, conforme está mostrado na Figura 1. T Solubilização Homogeneização Crescimento de grão δ = 5% δ = 5% tempo Figura 1. Ciclo termomecânico realizado durante estudo. Para os tratamentos térmicos foi utilizado um forno tipo mufla, monitorado por termopares do tipo cromo-alumel e com resolução de ± 3º C. Após os tratamentos térmicos, os materiais foram resfriados em salmoura com temperatura de aproximadamente 20º C para evitar a precipitação de segundas fases. A deformação, de aproximadamente 5%, foi feita num laminador de rolos planos, do tipo ourives, com taxa de deformação de 1,6 s -1. Após os tratamentos térmicos, os corpos de prova foram submetidos à metalografia tradicional e, para revelar os contornos de grão, o material foi atacado como uma solução à base de percloreto férrico (75%) e ácido clorídrico (25%). Os tamanhos de grãos foram determinados por contagem individual num microscópio ótico de reflexão. Este Microscópio era equipado com uma mesa de coordenadas XY, com resolução de 10 µm. Para as medições dos tamanhos, foi utilizado o método de intersecção linear (ASTM E -112) com medidas discretizadas, obtidas pelas médias de duas linhas retas cruzadas diagonalmente em cada grão, conforme a Equação 1. Lx + Ly D m = 2 (1) Na equação acima, D m é o diâmetro médio do grão e L X e L Y são os comprimentos das duas diagonais. Para o estudo da cinética de crescimento de grãos foi utilizado o modelo proposto por Burke e Turnbull (1952), cuja equação (2) na sua forma genérica é dada por: n = 0 K t (2) D D +

Na equação (2), D é o diâmetro do grão num instante qualquer, D 0 é o diâmetro inicial, t é o tempo, K é uma constante de tempo e n é o expoente de crescimento. Admitindo-se que o processo de crescimento é termicamente ativado, o valor de K é dado pela expressão: ( Q RT ) K = K 0 exp (3) Na equação 3, K 0 é o fator de freqüência, Q é a energia de ativação, R é a constante dos gases e T a temperatura absoluta. A partir da relação logarítmica das equações acima, foi traçado o diagrama ln [D- D 0 ] versus 1/T para determinação dos parâmetros relativos à cinética de crescimento de grãos. 3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS A adição de boro ao sistema CuSn não produziu o refino de grãos esperado, como em outras ligas de cobre (Sanguinetti et al. 1998 e 2000). Após o tratamento de solubilização a 1023 K, os grãos já apresentavam um tamanho médio próximo de 0,82 mm. Devido ao endurecimento excessivo produzido pela adição, o refino termomecânico também não foi produzido, uma vez que só foi possível fazer-se uma pequena deformação, em dois passes de 5%. Nesta condição de pouca deformação, os tratamentos para crescimento de grãos foram realizados nas temperaturas de 883, 913, 943 e 973 K. Os valores dos diâmetros médios obtidos nas diferentes temperaturas estão dados na Tabela 1. Tabela 1. Tamanho médio dos grãos em função da temperatura de tratamento Temperatura (K) Média (mm) Desvio padrão (mm) Incremento (%) 883 0,8600 0,3012 5,72 (*) 913 1,0250 0,5193 19,2 943 1,3870 0,5080 35,3 973 1,5880 0,6240 14,5 A liga tratada a 883 e 913 K durante 2 horas apresentou, após resfriamento em salmoura a -20º C, a fase alfa em forma de partículas precipitadas nos contornos de grãos (alfa primária) e a fase alfa intergranular com morfologia acicular, na matriz beta. Os tratamentos a 943 e 973 K produziram, após resfriamento, uma microestrutura constituída pelas fases martensita e beta não-transformada. As morfologias das Figuras 2 e 3 mostram claramente que os tratamentos para crescimento de grãos ocorreram em domínios de transformação de fase diferentes. 300 µ m 300 µ m Figura 2. Microestrutura da liga envelhecida duas horas a 913 K. Figura 3. Microestrutura da liga envelhecida duas horas a 973 K.

A identificação das fases presentes nas microestruturas mostradas anteriormente foi feita por difração de raios-x, cujos resultados já foram apresentados em trabalho anterior, (Aquino, 2001). Os tratamentos a 973 K em tempos de 2½ e 3 horas não modificaram a microestrutura, apenas fizeram o grão crescer conforme está mostrado na tabela 2. Tabela 2. Crescimento do grão a 973 em diferentes tempos de tratamento. Tempo (horas) Média (mm) Desvio padrão (mm) Incremento (%) 2 1,5880 0,6240 - x - 2½ 1,7020 0,5869 7,2 3 2,166 0,965 27,3 A partir dos dados da tabela 1, foram calculados os dados da tabela 3 para possibilitar o levantamento do diagrama ln [D-D 0 ] versus 1/T para estabelecimento da cinética de crescimento de grãos. Tabela 3 Evolução do tamanho de grãos médios em função da temperatura T ( K) D (m) D D0 ( m) Ln( D D0 ) 1/ T ( K) 883 8,60 x 10-4 0,466 x 10-4 - 9,97391 0,0011325 913 10,25 x 10-4 2,116 x 10-4 - 8,460813 0,0010952 943 13,87 x 10-4 5,736 x 10-4 - 7,463578 0,0010604 973 15,88 x 10-4 7,746 x 10-4 - 7,163164 0,0010277 Ligando-se os pontos (ln [D-D 0 ] ; 1/T) do diagrama por retas, torna-se evidente que o crescimento ocorre diferentemente em dois domínios de temperaturas, figura 3. De acordo com este diagrama, para as temperaturas acima de 913 K existe uma mudança de declividade. Portanto, há uma necessidade de se estimar a energia de ativação empírica (E A ) do processo para os dois estágios de crescimento. O primeiro estágio compreende o intervalo de temperatura de 883 a 943 K, e o segundo estágio compreende o intervalo de temperatura de 943 a 973 K. -7,0-7,5 Y = 2,27829-9186,97X Ln[D-D 0 ] -8,0-8,5-9,0-9,5-10,0 Y = 29,60354-34886,078X 0,00104 0,00108 0,00112 1/T[K] Figura 4. Diagrama Ln[D-D 0 ] versus 1/T mostrando a dupla cinética de crescimento. Para o intervalo compreendido entre 883 a 943 K, foi obtida uma reta cuja equação é dada por: Y = 29,60354 34886,79X. A partir desta equação, a energia de ativação do processo (Q/R = -34886,79

J/mol) é obtida pela declividade e a interseção com o eixo ln(d-d 0 ) é dado pelo termo independente (29,60354 m/s n ). A partir dos dados obtidos com a equação da reta, foram calculados os valores dos parâmetros da cinética de crescimento. Após algumas iterações foram encontrados n=3,02; K=12,71 x 10-16 m/s 3,02 e K 0 =14,829 como sendo os parâmentros que melhor se ajustam aos experimentos. Assim sendo, a equação da cinética de crescimento de grãos para este intervalo de temperatura é: D m 4 + 16 3,02 = 8,134 x10 12,71x10 t (4) Para o intervalo compreendido entre 943 a 973 K, foi obtida uma reta cuja equação é dada por: Y = 2,27829 9186,97. Nesta equação, a energia de ativação do processo (Q/R = -9186,97J) é dada pela declividade da reta e a interseção com o eixo ln(d-d 0 ) é dado pelo termo independente (2,27829 m/s n ). A partir dos dados obtidos com a equação da reta, foram calculados os valores dos parâmetros da cinética de crescimento. Procedendo-se como anteriormente, após algumas iterações foram encontrados n=2,07 ; K=7,94 x 10-12 m/ s2,07 e K 0 =1,0 x 10-7 como sendo os parâmentros que melhor se ajustam aos experimentos. Portanto, para este intervalo de temperatura, a equação da cinética de crescimento de grãos é dada por: D m 4 + 12 2,07 = 8,134x10 7,94 x10 t (5) 4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O estudo da cinética de crescimento de grãos revelou dois domínios de cresimento de grãos distintos, a exemplo do que ocorre em outros sistemas de ligas de cobre com efeito memória de forma. Em trabalhos anteriores Sanguinetti et al. (1998 e 2000), foi mostrado que o sistema de ligas CuZnAl, com ou sem elementos refinadores, apresentam uma dupla cinética de crecimento. Em nossos resultados obtidos com o sistema CuSn, o diagrama ln [D-D 0 ] versus 1/T apresenta uma mudança de declividade nas retas que ligam os pontos do diagrama. No sistema CuZnAl, a mudança de declividade foi observada em temperaturas próximas a 973 K. Este mesmo sistema de ligas com a adição dos refinadores ferro (Fe) e boro (B) apresentaram resultados semelhantes, no que se refere à dupla cinética. Nossos resultados estão de acordo com estes resultados precedentes que indicam que a mudança de declividade no diagrama ln [D-D 0 ] versus 1/T pode ser associada à mudança de domínio β α + β. Os resultados obtidos com o sistema CuSn-B mostraram que a recristalização secundária só ocorre em temperaturas superiores a 670 o C, exatamente após o β-transus, onde a difusão é mais intensa. Apesar da baixa eficácia do boro como elemento de refino, as partículas de segunda fase (fase alfa) efetivamente atenuam o crescimento em temperaturas inferiores a 943 K. Wang et al (1971), trabalhando também com um sistema de liga equivalente, com a adição dos refinadores titânio (Ti) e zircônio (Zr), encontrou resultados semelhantes em temperaturas a partir de 1173 K. Evidentemente, os resultados de Wang (1971) são questionáveis, levando-se em conta que a temperatura β-transus no sistema CuZnAl, mesmo com a adição de elementos refinadores de grão, ocorre em temperaturas inferiores a 1173 K. Uma adição demasiada, que não foi o caso de Wang, comprometeria as transformações termoelásticas e o próprio efeito memória de forma. É preciso considerar-se ainda que os resultados de Wang (1982) relativos às energias de ativação do processo de crescimento de grão estão em completo desacordo com a bibliografia existente. A múltipla cinética não é exclusividade das ligas com memória de forma à base de cobre. Outros sistemas de ligas também apresentam este comportamento, como é o caso dos sistemas evidenciados no trabalho de C. J. Simpson et al. (1971) em ligas de cádmio e ligas de chumbo. O crescimento de grãos foi estudado no cádmio (Cd) puro e com adição de magnésio (Mg), mercúrio

(Hg) e prata (Ag). No chumbo, o crescimento foi estudado também no elemento puro e com adição de antimônio (Sb), titânio (Ti), Ag (prata) e ouro (Au). Nestes sistemas C. J. Simpson et al. (1971) encontraram quatro estágios de crescimento de grãos para cada liga estudada, ver figuras de 11 a 16. De acordo com estes autores, a multiplicidade de estágios está mais associada à descontinuidade nos coeficientes de difusão (difusividade) e parecer coerente com os nossos resultados onde a descontinuidade de Simpson et al (1971) foi associada a mudança de domínio de transformação. Por outro lado, apesar da adição de elementos de soluto ter sido eficaz para refinar de grãos nestes sistemas de ligas à base de cádmio e chumbo, a adição, por si só, não foi capaz de impedir o crescimento anormal dos grão em altas temperaturas de tratamento. O estudo de crescimento de grãos feito por H. V. Atinkinson (1988) corrobora com outros autores com Ashby (1980), Hillert (1978), Ralph et al. (1986), Pand (1987) e Guilemany (1991) quanto à lei parabólica da cinética. Desde que o modelo de Burke e Turnbull (1952) foi deduzido, pesquisadores não têm medido esforços para conseguir expoentes de crescimento de grãos nas proximidades do valor ótimo, n = 2. O valor de 2,07 encontrado em nosso trabalho mostra que modelo é adequado ao segundo domínio de crescimento no sistema CuSn-B. Apesar desta tendência do valor n = 2 ter sido encorajada para caracterizar o crescimento em diferentes sistemas, diferentes valores de n tem sido encontrados. Estes diferentes valores podem ser justificados por diferentes fatores que afetam o crescimento de grãos. Estes fatores estão associados aos. os parâmetros composicionais e microestruturais, tais como tamanho e distribuição de poros, extensão da segunda fase, níveis de refinadores, suas segregações e textura, Atinkinson et al. (1988). Em nosso estudo, o valor de n = 3,03, encontrado para o segundo domínio, está de acordo com as observações de Atinkinson et al. (1988). A não homogeneidade da solução sólida, com a presença de partículas de segunda fase e um refinador mal dissolvido, mostra a coerência de nossos resultados em relação à bibliografia. Apesar do duplo estágio de crescimento de grãos, nós podemos considerar que o modelo sugerido por Burke e Turnbull (1952) se ajusta relativamente aos dois intervalos de crescimento. O primeiro estágio ocorre no intervalo de 883 a 943 K e está associado ao crescimento normal. O segundo estágio ocorre no intervalo de 943 a 973 K, sendo associado à recristalização secundária. Os valores para energia de ativação nestes dois estágios, 34,9 kj/mol e 9,187 kj/mol, aproximadamente, são muito baixos quando comparados com outros sistemas de ligas, onde o boro foi utilizado como elemento de refino, ver tabela 3. Os baixos valores da energia de ativação justificam o crescimento exagerado deste sistema, onde provavelmente o boro, com baixa afinidade com o estanho, não se dispersou uniformemente na matriz. 5- CONCLUSÕES O boro apresentou baixa eficácia como refinador de grãos na a liga Cu-Sn; contrariamente a outros sistemas de ligas à base de cobre com efeito memória de forma, onde sua eficácia já é conhecida. Os valores para energia de ativação no primeiro e segundo estágio foram 34,9 kj/mol e 9,187 kj/mol, respectivamente, justificam a baixa eficácia. Os baixos valores da energia de ativação justificam o crescimento exagerado deste sistema, onde provavelmente o boro não se dispersou uniformemente na matriz. No sistema Cu-Sn-B, a dupla cinética pode ser associada à mudança de domínio β α + β. A recristalização secundária só ocorre em temperaturas ligeiramente superiores a 943 K, exatamente após o β-transus, onde a difusão é mais intensa. O modelo sugerido por Burke e Turnbull para crescimento de grãos se ajusta relativamente para o sistema Cu-Sn-B, desde que sejam considerados dois estágios de crescimento. O primeiro estágio,

compreendido no intervalo entre 883 K e 943 K, foi associado ao crescimento normal e o segundo estágio, compreendido no intervalo entre 943 K e 973 K, foi associado à recristalização secundária. Os valores para n = 2,07 e n = 3,03 encontrados como expoente de crescimento mostram que o modelo parabólico utilizado é adequado ao sistema Cu-Sn-B e está de acordo com estudos precedentes. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aquino F o. A., Cinética de Crescimento de Grãos da Liga CuSnB com Efeito Memória de Forma- Aspectos Empíricos e Estocásticos; Tese de Mestrado UFPE, 2001. Ashby M. F., Recristalization and GrainGrowth of Mulltiphase and Particle containing Materials, Proc.1 th Riso Int. Symp., ed. N.Hansen et al., p 325-336, Roskilde, Riso National Laboratory, 1980. Atkinson H. V., Teories of Normal Grain Growth in Pure Single Phase Systems, Acta Metal, Vol. 36, p 469-491, 1988. Burke J. E.; Turnbull D., Progress in Metalurgical Physics, Vol. 3, p 220-226, 1952. Guilemany J. M.; Gil F. J., Kinetic Grain Growth in Cu-Zn-Al Shape Memory Alloys, J. Materials Science, Vol. 26, p 4626 4630, 1991. Hillert M., On the Theory of Normal and Abnormal Grain Growth, Acta Metallurgical, vol. 13, p 227 238, 1965. Hillert M.; Purdy G. R., Acta Metalurgical, vol. 26, p 333 340, 1978. Pande C. S., On a Stochastic Theory of Grain Growth, Acta Metallurgical, Vol. 35, p 2671-2678, 1987. Ralph B., Grain Growth, Materials Science and Technogy, Vol. 6, p 1139-1144, 1990 Randle V.; Ralph B., Acta Metallurgical, Vol. 34, p 891-898, 1986. Simpson C. J.; Austin K.T.; Winegard W. C., The four of Grain Growth, Metalurgical Transactions, Vol. 2, p 987-991, 1971. Sanguinetti Ferreira R. A.; Botelho Andrade P. C.; Urtiga Filho S. L.; Quadros N. F., Estudo da Cinética de Crescimento e da Estabilização de Grãos em Ligas do Sistema CuZnAl, Anais do COBEM 1998 CD-ROM. Sanguinetti Ferreira R. A.; Rocha Lima E. P.; Aquino Filho A.; Quadros N. F., Olimpio De Araujo O.; Yadava Y. P., Microstructural Evolution in a CuZnAl Shape Memory Alloy: Kinetics and Morphogical Aspects, Materials Research, Vol. 3, p 119 123, 2000. Wang F. T.; Chen F. X.; Wei G.; Yang D. Z., The Effects of Microelements on the Refining an the Grain Growth Behaviors of CuZnAl Shape Memory Alloy, Scripta Metallurgica et Materialia, Vol. 25, p 2565 2570, 1971. 7. AGRADECIMENTOS Os autores deste trabalho são gratos à FACEPE, à FINEP e ao ITEP - Fundação Instituto Tecnológico de Pernambuco pelo suporte dado a este projeto. DIREITOS AUTORAIS Os autores deste trabalho declaram que são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso.

THE KINETICS OF THE GRAIN GROWTH IN A CU-24,5SN-0,01B ALLOY Adérito Aquino Filho Yogendra Prasad Yadava Ney Freitas de Quadros Ricardo Artur Sanguinetti Ferreira DEMEC-Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE Av. Acadêmico Hélio Ramos S/N Cidade Universitária, Recife-PE, e-mail ras@npd.ufpe.br Abstract. The kinetics of the grain growth in a shape memory alloy (SMA) of nominal composition Cu- 24,5Sn-0,01B (weight %) has been studied. This alloy was melted in a R-F furnace of 24 kva in air atmosphere, using a silicon carbide crucible, recovered with zirconium ink. The melted material was homogenized at 973 K during 48 hours and, soon after, followed by cold-rolling with approximately 5% deformation at a deformation rate of 1.6s -1. After homogenization, specimens were solution heattreated at 1023 K for 30 minutes. After the solution heat-treatment, the specimens were cooled by water quenching, followed by the cold rolling with approximately 5% deformation, in the same condition. Finally, specimens were aged at 883, 913, 943 and 973 K temperatures during 2 hours in order to establish the kinetics of the grain growth. In this study the grain sizes were determined by individual measurements following the ASTM E 112 standard. To describe the kinetics of the grain growth an empiric law D=D 0 + Kt n was admitted. The activation energy of the process was determined in two stages of the grain growth. Starting from the evolution in the grain sizes and the values of the activation energy it has been concluded that the boron was not effective in grain refinement as showed in another copper shape memory alloy systems. Keywords: grain growth, kinetics of grain growth, shape memory alloys.