Arminius e Calvino: Parceiros na Reforma

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Arminius e Calvino: Parceiros na Reforma por Chris Talbot (tradução do inglês: Kenneth Eagleton) 6 de agosto de 2012 Não demora para se sentir a tensão palpável entre calvinistas e arminianos. Uma olhada rápida nos seminários, blogs e organizações ministeriais demonstra que um número incontável de pessoas se dividem entre estas duas teologias. Seguidores tanto de Calvino como de Arminius os têm aplaudido como heróis da ortodoxia bíblica e com razão. Infelizmente, os adeptos de cada lado constantemente criam caricaturas do teólogo do outro lado. Entre as nossas lealdades sólidas e convicções fortes, devemos nos perguntar: Será que estes dois reformadores são tão diferentes um do outro quanto fomos induzidos a pensar? Para entender estes dois reformadores, precisamos colocá-los dentro do seu contexto maior: a Reforma. Preparando o palco: a Reforma Apesar da Reforma Protestante poder ser atribuída a várias pessoas e questões, geralmente se atribui o início da Reforma a Martinho Lutero e a postagem das Noventa e Cinco Teses em 31 de outubro de 1517 1. Isto abriu o caminho para muitos outros reformadores, incluindo João Calvino e Jacobus Arminius. Quem eram estes homens? Filho de advogado, Calvino (1509-1564) nasceu na França e recebeu formação acadêmica em Paris, Orleans e Bourges 2. Calvino é mais conhecido pela sua obra de mais de mil páginas, Institutas da Religião Cristã, e pelos cinco pontos concernentes à soteriologia identificados nos Cânones de Dort no século dezessete 3. Nascido com o nome de Jakob Hermanszoon, Jacobus Arminius (1560-1609) foi um distinto pastor e professor holandês. Parte da sua formação teológica ocorreu em Genebra sob a tutela de Teodoro Beza, sucessor de Calvino 4. Arminius veio a ser professor da Universidade de Leiden em 1603 e sua teologia se tornou motivo de debate público 5. Arminius é mais conhecido pela refutação dos cinco pontos de Calvino, que deu origem ao debate calvinista/arminiano. Infelizmente, este debate obscurece as semelhanças entre estes dois reformadores. 1 Justo L. Gonzalez, The Story of Christianity: Vol. II, The Reformation to the Present Day (New York: HarperCollins, 1985), 22. 2 Paul Johnson, A History of Christianity (New York: Touchstone, 1976), 286. 3 John Calvin, Institutes of the Christian Religion, tradução Henry Beveridge (Peabody: Hendrickson Publishers, 2008), xvi. 4 Gonzalez, 179. 5 Gonzalez, 179.

2 Arminius e Calvino: semelhanças e diferenças Em meio às lealdades teológicas divididas, é surpreendente o quanto seus pontos de vista são semelhantes. Certamente, até um estudante novato em teologia enxerga que estes dois são antitéticos em sua compreensão de como se chega ao estado da graça. No entanto, estes dois teólogos importantes concordavam em uma infinidade de doutrinas. J. Matthew Pinson coloca bem ao dizer: Aqueles que trazem suas próprias pressuposições ao estudo de Arminius e presumem que temas posteriores do arminianismo fazem parte do seu pensamento, deixam de perceber o aspecto mais importante de sua teologia: o de que ele é distintamente reformado. Sua teologia é um desenvolvimento da teologia reformada e não um desvio dela 6. No mesmo tom William Pauck escreve: Os arminianos [e, portanto, Arminius] pertencem tanto à tradição calvinista quanto os defensores das decisões do Sínodo de Dort 7. Uma das maneiras mais evidentes de se ver as semelhanças entre Calvino e Arminius é no acordo quanto ao Catecismo de Heidelberg e da Confissão de Fé Belga 8. O próprio Arminius escreveu: Declaro com confiança que nunca ensinei alguém, tanto na igreja quanto na universidade, que viola os escritos sagrados que devem ser a única regra de pensamento e palavras ou que seja contrário à Confissão Belga ou ao Catecismo de Heidelberg, que são nossos formulários estritos de consentimento 9. Isto é essencial para se compreender a unidade entre estes dois reformadores. Como estas eram as crenças confessas de Arminius, mostram que Arminius e Calvino concordavam quanto ao pecado original, as cinco solas e a posição penal-substitutiva da expiação entre tantos outros aspectos da teologia reformada. Pinson faz a seguinte colocação: Nas disputações sobre o sacerdócio de Cristo, ele articulou um entendimento mais reformado sobre a expiação que concorda com a Confissão de Fé Belga e o Catecismo de Heidelberg, com os quais ele concordava entusiasticamente... Arminius apresenta uma compreensão da expiação, no contexto da sua visão da função sacerdotal de Jesus Cristo que é consistente com os temas da expiação penal-substitutiva que reinava na teologia reformada do século dezesseis e começo do século dezessete 10. Como Arminius é frequentemente descrito como o principal antagonista de Calvino, pouca atenção é dada às afirmações explícitas que Arminius fez de Calvino nos seus escritos. Dois deles são extremamente fascinantes. Nesta citação, Arminius considera os comentários de Calvino: 6 J. Matthew Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?: A Study of the Theology of Jacobus Arminius in Light of His Interpreters, Integrity: A Journal of Christian Thought, Vol. II (Nashville: Randall House, 2003), 123. 7 William Pauck; cited in Carl Bangs, Arminius and Reformed Theology (Ph.D. dissertation, University of Chicago, 1958), 25; citado em Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?, 123. 8 Pinson, 127 9 Arminius; citado em Carl Bangs, Arminius As a Reformed Theologian, The Heritage of John Calvin, ed. John H Bratt (Grand Rapids: Eerdmans, 1973), 216; citado em Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?, 123. 10 J. Matthew Pinson, Introduction, F. Leroy Forlines, Classical Arminianism, A Theology of Salvation (Nashville: Randall House Publications, 2011), v.

3 Portanto, depois da leitura das Escrituras, que eu inculco tenazmente, e mais do que qualquer outro (toda a universidade e a consciência dos meus colegas testemunharão), eu recomendo que sejam lidos os Comentários de Calvino, que eu enalteço mais do que Helmichius o faz... segundo ele mesmo me disse. Pois afirmo que na interpretação das Escrituras, Calvino é incomparável e seus comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que recebemos dos Pais da Igreja tanto é que eu reconheço nele um certo espírito de profecia no qual ele se distingue acima dos outros, acima da maioria, certamente, acima de todos. Suas Institutas, no que diz respeito às coisas comuns, indico para leitura após a leitura do Catecismo [de Heidelberg]... Mas acrescento, com discriminação, como os escritos de todos os homens devem ser lidos 11. A segunda citação é em referência aos pontos de vista mútuos da justificação: Qualquer que seja a interpretação que pode ser dada a estas expressões, nenhum de nossos teólogos culpa Calvino ou o considera heterodoxo neste ponto; no entanto a minha opinião não é tão diferente da dele que me impeça de assinar com meu próprio punho as coisas que ele escreveu sobre este assunto no terceiro volume de suas Institutas; isto estou preparado a fazer a qualquer momento e dar a minha total aprovação 12. Estas duas citações não demonstram inimizade de Arminius contra Calvino, mas um respeito e concordância com ele. Por este exemplo começamos a ver as maneiras em que os dois teólogos são parceiros na Reforma. E ainda mais, vemos como o arminianismo isto é, a teologia de Arminius não é tanto um desvio do calvinismo como um desenvolvimento dentro dele. Robert E. Picirilli escreve: [Arminius] viveu, ministrou e morreu como membro da Igreja Reformada e sua teologia tem raízes profundas na Reforma. Juntamente com Lutero e Calvino, Arminius cria e ensinava sola gratia, sola fide e solo Christo salvação somente pela graça, somente através da fé e somente por Cristo 13. Isto reforça o fato de que os dois homens foram parceiros na Reforma Protestante. Ao demonstrarmos as suas semelhanças, é também importante corrigir os pontos onde Arminius é mal-entendido e mal interpretado. 11 Arminius; citado em Bangs, Arminius As a Reformed Theologian, 216; citado em Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?, 123. 12 James Arminius, The Works of James Arminius, tradução James Nichols and William Nichols, 2 vols. (Grand Rapids: Baker, 1986), 1:700; citado em Matthew Pinson, Will The Real Arminius Please Stand Up?, 123. 13 Robert E. Picirilli, Forward, James Arminius, Arminius Speaks: Essential Writings on Predestination, Free Will, and the Nature of God, ed. John D. Wagner (Eugene: Wipf & Stock Publishers, 2011), ix.

4 Que fique registrado: corrigindo os mal-entendidos sobre Arminius Pode surpreender alguns que estudam a teologia de Arminius que ele não seja tão arminiano quanto gostariam pelo menos não da maneira que o arminianismo é mais popularmente articulado atualmente 14. Como um todo, o arminianismo é geralmente caricaturado como semipelagiano. Apesar das interpretações de alguns adeptos merecerem este rótulo, Arminius não defendia tal posição. Picirilli declara: Aqueles que leem suas obras com atenção sabem que ele não fez da fé uma obra, que ele afirmou que a graça de Deus deve levar todo o crédito pela salvação de qualquer pessoa do começo ao fim. Ele não era pelagiano e se esforçou para deixar isto claro 15. Para ilustrar este ponto, vejamos o que diz o próprio Arminius: O livre arbítrio do homem para com o verdadeiro bem não está apenas ferido, mutilado, enfermo, distorcido ou enfraquecido; mas está também preso, destruído e perdido: seus poderes não estão apenas debilitados e inúteis, a não ser que sejam assistidos pela graça, mas não tem qualquer poder, exceto aquele que é animado pela graça 16. Referindo-se às acusações de semipelagianismo, Pinson comenta: A maioria dos críticos reformados tem retratado Arminius como um semipelagiano e um desertor da teologia reformada. A maioria dos arminianos, tanto wesleyanos quanto remonstrantes, o retratam em termos wesleyanos ou remonstrantes, deixando de levar a sério a sua teologia e o contexto na qual brotou. Ambas perspectivas não entenderam Arminius, utilizando-o apenas com propósitos polêmicos em vez de simplesmente tentar entender e se beneficiar de sua teologia 17. Outro mal-entendido com relação à teologia de Arminius é o seu ponto de vista quanto à expiação. Alguns atribuem erroneamente a Arminius um ponto de vista governamental da expiação. No entanto, Hugo Grotius, seguidor de Arminius, é quem defendeu esta posição quanto à expiação. Como esta posição tem conquistado ao fio dos anos aderentes arminianos (incluindo Charles Finney, James H. Fairchild, John Miley e H. Orton Miley), isto tem levado muitos a crerem que o próprio Arminius defendia esta posição 18. No entanto, esta não era a posição de Arminius. Ademais, existem duas correntes dentre os que se auto identificam como arminianos: arminianismo clássico e arminianismo wesleyano 19. Como sugere o nome, arminianismo wesleyano é meramente uma adaptação dos ensinos de Arminius por John Wesley. Portanto, como estudiosos cuidadosos da história e da teologia, não devemos impor as interpretações de Wesley sobre o próprio reformador. Por outro lado, o arminianismo clássico procura incorporar os verdadeiros ensinos do próprio Arminius portanto, o termo clássico ou da Reforma 20. 14 Picirilli, ix. 15 Picirilli, x. 16 Arminius; citado em Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?, 129 17 Pinson, Will the Real Arminius Please Stand Up?, 121. 18 Forlines, 221. 19 O teólogo Batista Livre (Free Will Baptist), F. Leroy Forlines, criou o termo arminianismo clássico. Semelhantemente, seu colega criou o termo arminianismo da Reforma. Os termos são essencialmente intercambiáveis; ambos procuram retratar os ensinos originais de Arminius durante a Reforma em vez dos ensinos dos arminianos desenvolvidos posteriormente pelos seus seguidores. 20 Para um tratamento mais aprofundado do arminianismo clássico e da teologia do próprio Arminius, leia o livro de F. Leroy Forlines: Classical Arminianism: A Theology of Salvation.

5 Conclusão Calvinismo e arminianismo: o debate provavelmente continuará. Durante este mês a Helwys Society Forum continuará a considerar outros temas da teologia de Arminius, incluindo a queda/condição humana, graça preveniente e santificação. No entanto, é minha esperança que estas verdades tenham esclarecido como dois homens, convencidos pela suficiência das Escrituras, foram parceiros na Reforma Protestante. Mesmo não concordando em todos os pontos da teologia, cada um procurou exaltar as verdades das Escrituras como a suficiente Palavra de Deus. Sobre o autor: Christopher Talbot é graduado por Welch College onde estudou teologia e ministério. Natural de Tecumseh, Michigan, atualmente reside em Greenville, North Carolina. Ele trabalha em tempo integral como pastor de estudantes na Unity Free Will Baptist Church. Seus interesses acadêmicos incluem literatura, eclesiologia e hermenêutica. http://www.helwyssocietyforum.com/?p=2534