V O T O P R E L I M I N A R O EXMº SR. JUIZ PLAUTO RIBEIRO (RELATOR): Como se viu do relatório, Eduardo Jorge Caldas Pereira ofereceu, em 05 de março de 2002 (cf. fl. 02), queixa-crime em desfavor do ilustre Procurador da República, Luiz Francisco Fernandes de Souza, com fundamento no artigo 108, inciso I, letra a, da Constituição Federal, pela prática dos crimes de calúnia (C.P., art. 138) e de difamação (C.P., art. 139), esperando deste Tribunal o seu recebimento e processamento, para impor ao querelado as penas previstas nos referidos artigos, agravados como recomendam nos incisos I e III, do artigo 41, do Código Penal (cf. fl. 06). Cuida-se, como visto, de ação penal privada, nos termos do artigo 145, do Código Penal, na qual o titular é o próprio ofendido ou seu representante legal, que, ao oferecer a queixa-crime, deve fazer a exposição do fato tido como delituoso, com todas as suas circunstâncias, qualificando o acusado ou fornecendo elementos que possam identificá-lo, classificando o crime e, quando necessário, oferecendo o rol de testemunhas, conforme o disposto no artigo 41, do Código de Processo Penal. Pois bem, em 10 de fevereiro de 2004 (cf. fl. 1.816), a presente queixa-crime foi incluída, por minha determinação, na pauta de julgamento desta Corte Especial do dia 19 de fevereiro de 2004 (cf. fl. 1.829), a fim de que fosse apreciado o seu respectivo recebimento. Na ocasião, entendendo que o artigo 247, do Regimento Interno deste Tribunal, que estipula o prazo de antecedência de 15 (quinze) dias para realização da sessão de julgamento de feitos como o presente, diz respeito tão-somente aos membros do Colegiado, encaminhei, em face da premência do tempo pela possibilidade de ocorrência de prescrição da queixa no dia 20 de fevereiro de 2004, a todos os meus pares, cópias não só do relatório por mim elaborado, mas também da peça acusatória, da resposta prévia e do parecer exarado pela d. Procuradoria Regional da República (cf. fls. 1.823 e verso). Não obstante essas providências, o eg. Superior Tribunal de Justiça deferiu a liminar requerida por Luiz Francisco Fernandes de Souza, nos autos do Habeas Corpus nº
fls.2/5 33.678/DF, ali impetrado, para que a presente queixa-crime fosse excluída da pauta de julgamento da sessão do dia 19 de fevereiro (cf. fl. 1.826). O eminente Relator do referido Habeas Corpus, Ministro Paulo Medina, solicitou informações a esta Corte sobre os aludidos fatos, as quais foram devidamente prestadas por este Relator, através do Ofício nº 029/2004-GJPR, no mesmo dia 19 de fevereiro passado, nos seguintes termos: Senhor Ministro Em atenção ao Telex nº 48/2004, de 17 de fevereiro de 2004, recebido por mim no dia de hoje, às 13h 50m, cumpre-me informar o cumprimento da liminar deferida por Vossa Excelência, nos autos do Habeas Corpus nº 33.678/DF, impetrado por José Leovegildo Oliveira Morais em favor de Luiz Francisco Fernandes de Souza, para que seja observado o prazo regimental quanto à inclusão, em pauta de julgamento, da Queixa-Crime nº 2002.01.00.007508-0/DF, da qual sou o relator. Aproveitando o ensejo, cumpre-me registrar, também, que a determinação, datada em 10 de fevereiro de 2004, para a inclusão da aludida queixa-crime na pauta de julgamento do dia 19 seguinte (hoje), da Corte Especial deste Tribunal, deu-se porque, (1º) a meu ver, a prescrição da ação ocorrerá no dia 20 do mês em curso (amanhã), além do que, (2º) o disposto no artigo 247, do Regimento Interno deste Tribunal, refere-se, a meu sentir, apenas e tão-somente, aos membros do Colegiado competente para decidir acerca do recebimento ou rejeição da referida queixa-crime, formulada por Eduardo Jorge Caldas Pereira em desfavor de Luiz Francisco Fernandes de Souza (Procurador da República), possibilitando-lhes, assim, uma análise prévia do caso, antes da sessão de julgamento, sem que sua inobservância implique prejuízo ao querelante e/ou querelado. Por essa razão, por meio do Ofício nº 026/2004-GJPR (Circular), datado e recebido pelos aos meus pares no dia 11 de fevereiro de 2004, encaminhei cópia não só do relatório lançado nos autos da aludida queixa-crime, mas, também, da peça acusatória, da resposta prévia e do parecer exarado pela Procuradoria Regional da República. Por fim, informo a Vossa Excelência que, em cumprimento à liminar deferida nos autos do habeas corpus acima referido, impetrado nesse eg. Superior Tribunal de Justiça, determinando a exclusão da referida queixa-crime da pauta da sessão do dia 19 de fevereiro de 2004, levarei o feito a julgamento da Corte Especial deste Regional na próxima sessão, a ser realizada em 04 de março de 2004, para que se decida, agora, acerca da ocorrência da mencionada prescrição, eis que solicitei à Presidência da Corte nova inclusão em pauta, cientes as partes que se encontram presentes na assentada de hoje. Para instruir a aludida impetração, encaminho cópia do despacho por meio do qual pedi dia para julgamento da referida queixa-crime; do relatório lançado aos autos, dando conta, inclusive, das várias redistribuições ocorridas; do ofício circular acima mencionado; da certidão de inclusão do feito em pauta; e do telex que me foi encaminhado para ciência da liminar deferida nesse habeas corpus.
fls.3/5 Colocando-me à disposição de Vossa Excelência para quaisquer informações complementares que se fizerem necessárias, renovo protestos de elevada estima e consideração (cf. fls. 1.827/1.828). Diante de tais circunstâncias, nada mais me resta a não ser trazer a presente queixa a este eg. Colegiado, para que seja analisada a já mencionada prescrição. Cumpre-me relembrar que a queixa formulada por Eduardo Jorge Caldas Pereira foi apresentada em 05 de março de 2002, imputando ao querelado a prática, em tese, dos crimes previstos nos artigos 138 e 139, do Código Penal, decorrentes de entrevista por ele, querelado, concedida à Rádio CBN, no dia 20 de fevereiro de 2002. In casu, como também se viu do relatório, o querelante atribui ao querelado a prática do crime de calúnia, previsto no artigo 138, do Código Penal, segundo o qual: Art. 138 Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena detenção, de seis (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (cf. art. cit.). Além da calúnia, atribui, igualmente, ao querelado o crime de difamação, nos termos do artigo 139, do Código Penal, que assim dispõe: Art. 139 Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa (cf. art. cit.). Os fatos narrados pelo querelante em sua inicial, em princípio, podem se constituir em espécie punível, de acordo com a sua fundamentação, e podem se subsumir a uma eventual conduta caluniosa e outra difamatória, imputadas ao querelado, aqui devidamente qualificado. Ocorre que os dispositivos legais apontados na inicial da presente queixa, no que toca à alegada calúnia e/ou difamação, no caso, em tese, não se inserem, a meu ver, neste juízo prévio e perfunctório, no âmbito do Código Penal, mas nos tipos definidos na Lei de Imprensa. Com efeito, embora descrevam condutas semelhantes às do Código Penal, penso que se enquadram melhor, na hipótese dos autos, aquelas tipificadas nos artigos 12, 20 e 21, da Lei nº 5.250, de 1967 (Lei de Imprensa), in verbis: Art. 12. Aqueles que, através dos meios de informação e divulgação, praticarem abusos no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei e responderão pelos prejuízos que causarem.
fls.4/5 Parágrafo único. São meios de informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras publicações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos.... Art. 20. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa de 1 (um) a 20 (vinte) salários-mínimos da região.... Art. 21. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena: Detenção, de 3 (três) a 18 (dezoito) meses, e multa de 2 (dois) a 10 (dez) salários-mínimos da região (cf. arts. cit.). Ora, sendo assim, a mesma Lei de Imprensa, em seu artigo 41 e parágrafos, estabelece que: Art. 41. A prescrição da ação penal, nos crimes definidos nesta Lei, ocorrerá 2 anos após a data da publicação ou transmissão incriminada, e a condenação, no dobro do prazo em que for fixada. 1º O direito de queixa ou de representação prescreverá, se não for exercido dentro de 3 meses da data da publicação ou transmissão. 2º O prazo referido no parágrafo anterior será interrompido: a) pelo requerimento judicial de publicação de resposta ou pedido de retificação, e até que este seja indeferido ou efetivamente atendido; b) pelo pedido judicial de declaração de inidoneidade do responsável, até o seu julgamento. 3º No caso de periódicos que não indiquem data, o prazo referido neste artigo começará a correr do último dia do mês ou outro período a que corresponder a publicação (cf. art. cit.). Dessa forma, na espécie, não há que se falar em decadência do direito de queixa, eis que a mencionada entrevista ocorreu em 20 de fevereiro de 2002 e a peça acusatória foi apresentada nesta Corte em 05 de março de 2002, antes do transcurso do prazo de 03 (três) meses previsto em lei específica (cf. Lei nº 5.250/67, art. 41 e 1º, cit.). Por outro lado, se levarmos em conta o tipo descrito no Código Penal (C.P., arts. 138 e 139, cit.) e apontado na inicial da presente queixa, a prescrição, da mesma forma, não teria ocorrido, eis que a prescrição, nos termos do artigo 109, do Código Penal, antes do trânsito em julgado da sentença final, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada para o crime, sendo que, se o máximo da pena não excede a 02 (dois) anos, o lapso prescricional é de 04 (quatro) anos (C.P., art. 109, inc. V). Se fosse a hipótese, ocorrida a entrevista em 20 de fevereiro de 2002, sendo o máximo da pena, prevista nos artigos 138 e 139, do Código Penal, de 02 (dois) anos, ainda não estaria consumada a prescrição na presente data, por não ter transcorrido o mencionado lapso de 04 (quatro) anos.
fls.5/5 Contudo, de outro lado, como já disse, melhor se enquadra nos fatos ora em em análise os termos dos artigos 20 e 21, da Lei de Imprensa, que, por sua vez, prevê, em seu artigo 41, caput, prazo prescricional menor, de 02 (dois) anos, para delitos como o presente. Em sendo assim, a presente queixa, efetivamente, encontra-se prescrita, ex vi do já referido artigo 41, caput, da Lei de Imprensa, vez que, consoante enfatizei, ocorrida a malsinada entrevista em 20 de fevereiro de 2002, já se passaram mais de 02 (dois) anos entre esse acontecimento e a presente data. Em face do exposto, portanto, decreto, de ofício, a extinção da punibilidade do querelado, Luiz Francisco Fernandes de Souza, com base no artigo 41, caput, da Lei nº 5.270, de 1967 (Lei de Imprensa), e no artigo 61, do Código de Processo Penal, em decorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal. É como voto.