Incentivos Econômicos para Serviços Ecossistêmicos no Brasil

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Transcrição:

Incentivos Econômicos para Serviços Ecossistêmicos no Brasil

Desde 2004, Forest Trends monitora a situação global dos arranjos de pagamento e compensação por serviços ambientais, através de uma iniciativa chamada Matriz Global de Serviços Ecossistêmicos. A Matriz ajuda a visualizar e acompanhar, de forma simples e direta, as tendências globais e regionais dos mercados de serviços ambientais. Entenda a diferença entre serviços ecossistêmicos e serviços ambientais Os serviços ecossistêmicos são os benefícios relevantes para a sociedade e para a Natureza, gerados pelos ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoria dos processos ecológicos e das condições ambientais, nas seguintes modalidades: a) serviços de provisão: os que fornecem diretamente bens ou produtos ambientais utilizados pelo ser humano para consumo ou comercialização, tais como água, alimentos, madeira, fibras e extratos, entre outros; b) serviços de suporte: os que mantêm a perenidade da vida na Terra, tais como a ciclagem de nutrientes, a decomposição de resíduos, a produção, a manutenção ou a renovação da fertilidade do solo, a polinização, a dispersão de sementes, o controle de populações de potenciais pragas e de vetores potenciais de doenças humanas, a proteção contra a radiação solar ultravioleta e a manutenção da biodiversidade e do patrimônio genético; c) serviços de regulação: os que concorrem para a manutenção da estabilidade dos processos ecossistêmicos, tais como o sequestro de carbono, a purificação do ar, a moderação de eventos climáticos extremos, a manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico, a minimização de enchentes e secas, e o controle dos processos críticos de erosão e de deslizamentos de encostas; d) serviços culturais: os que proveem benefícios recreacionais, estéticos, espirituais e outros não materiais à sociedade humana; Serviços ambientais são as iniciativas humanas, individuais, coletivas ou comunitárias, que podem favorecer a manutenção, a recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos. Fonte: baseado no Projeto de Lei n 312/2015, da Câmara dos Deputados Constituição de 1988 nos termos do art. 231, 2º e art 20, XI. em estudo sobre direitos de fruição de benefícios econômicos de índios da Comunidade Surui 3 Sales, Rodrigo; Kwon, Viviane Otsubo e Frederighi, Patrícia Vidal. Aspectos jurídicos do Projeto de Carbono dos Suruí. In: Valle, Raul Silva Telles do (org.). Desmatamento evitado (REDD) e povos indígenas: experiências, desafios e oportunidades no contexto amazônico. São Paulo / Brasília: Instituto Socioambiental e Forest Trends, 2010. p. 129-147 4 PNGATI, Decreto nº 7.747, de 5 de julho de 2012 5 Lei 13.123 de 20 de maio de 2015, conhecida como Marco da Biodiversidade. 1 2

A legislação nacional e as Comunidades A Constituição de 1988 Há suporte constitucional1, para assegurar o usufruto exclusivo aos povos indígenas das riquezas do solo, dos rios e dos lagos das terras tradicionalmente por eles ocupadas, ainda que tais terras sejam de domínio da União. Também há respaldo em legislação infraconstitucional2 em projeto envolvendo créditos de carbono associados ao manejo sustentável de florestas em seus territórios, inclusive os benefícios de créditos de carbono vinculados a Certificados de Redução de Emissões - CREs (no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto) e de Redução de Emissões Verificadas (REVs, do mercado voluntário). Para Sales et al (2010), não importa a definição da natureza jurídica dos CREs e REVs, ainda em debate, mas sim que tais títulos mobiliários são reconhecidos como direitos, por um lado, e que em nosso país, até então, iniciativas de sequestro e redução liquida de emissões de carbono têm sido implementadas com base na noção geral de que a titularidade dos créditos deriva dos direitos principais relacionados a cada atividade de projeto, por outro lado3. Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI)4 Art. 3º São diretrizes da PNGATI:... XII - reconhecimento dos direitos dos povos indígenas relativos a serviços ambientais em função da proteção, conservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais que promovem em suas terras, nos termos da legislação vigente; Marco da Biodiversidade5: os Protocolos Comunitários foram reconhecidos como instrumento legal, que tem no seu artigo segundo estas duas definições: Consentimento prévio informado consentimento formal, previamente concedido por população indígena ou comunidade tradicional segundo seus usos, costumes e tradições ou protocolos comunitários; Protocolo Comunitário norma procedimental das populações indígenas, comunidades tradicionais ou agricultores tradicionais que estabelece, segundo seus usos, costumes e tradições, os mecanismos para o acesso ao conhecimento tradicional associado à repartição de benefícios de que trata esta Lei.

Incentivos Econômicos para Serviços Ecossistêmicos no Brasil A crise climática e hídrica, o Acordo de Paris, além de novas normas sobre acesso à biodiversidade e impactos socioambientais decorrentes de empreendimentos e formas insustentáveis de uso dos recursos naturais são alguns dos fatores que, apesar do momento de transição político-econômica no Brasil, têm criado oportunidades, interesses e razões para que sejam criadas ou aprimoradas legislações para valorizar serviços ecossistêmicos e ambientais. Por exemplo, a proposta nacional (INDC) para a Conferência do Clima inclui restauração de cobertura florestal e agricultura de baixo carbono. Estados e municípios, em número crescente, têm desenvolvido programas públicos de incentivos para serviços ambientais lastreados em normas de mudanças de clima, do novo código florestal, de proteção de mananciais ou de gestão do ambiente rural e urbano. Acre, Amazonas, Paraná e São Paulo são alguns dos estados que iniciaram programas de fomento a serviços ambientais relacionados com suas respectivas legislações em mudanças de clima. O Programa Nascentes1 em São Paulo é um exemplo de iniciativa governamental que associa a restauração de vegetação com a segurança hídrica e serviços ecossistêmicos. Há também crescente interesse e engajamento por parte de comunidades locais e organizações da sociedade civil. Povos indígenas e populações tradicionais buscam consolidar seus direitos e conciliar ganhos com a elaboração de seus protocolos comunitários, para exercer melhor governança de gestão territorial e de monitoramento de políticas públicas. Destacamos neste infográfico as principais evoluções percebidas em tendências para aproveitar oportunidades e desenvolver os mercados de serviços associados a carbono, água, biodiversidade e de benefícios múltiplos. Para mais detalhes e informações, acesse: www.brazil.forest-trends.org 1 Programa Nascentes em http://www.ambiente.sp.gov.br/programanascentes

FERNANDO DE NORONHA Carbono Biodiversidade Água Múltiplos DADOS DE JULHO/2016 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (2008). Rio de Janeiro, IBGE 2010. Tabela 23. Pag 88. http://bit.ly/2a2nxfs Acesso em 15/07/2008 Lisboa, Carla. Os que sobrevivem do lixo. In: Desafios do Desenvolvimento, 2013. Ano 10. Edição 77-07/10/2013. http://bit.ly/29zzilj Acesso em 15/07/2016 6 7

Carbono Os planos setoriais, alguns ainda em fase de estudos e outros em implementação têm a oportunidade de tratar instrumentos e incentivos econômicos visando o alcance das projeções de redução de emissões. Quanto mais os planos setoriais forem ambiciosos e executados, maior assertividade de uma estratégia nacional que alavanque programas e o mercado de instrumentos de restauração e conservação de serviços ecossistêmicos. Políticas estaduais existentes, em geral, focam na geração de oferta e projetos (MDL, REDD etc). Há oportunidade para evoluir na geração de demanda, sendo necessária regulação que garanta aplicação de incentivos (fiscal, creditício, institucional, administrativo, público entre outros). Protocolos comunitários e consentimento livre, prévio e informado são dois tipos de ferramentas que podem compor conjunto de condições para a governança da justiça ambiental a ser observada na aplicação de instrumentos de caráter econômico em mitigação de carbono e adaptação às mudanças climáticas. Redes de articulação de conhecimentos, informação e monitoramento são também ferramentas relevantes para dar transparência e lidar com a assimetria de condições de acesso e análise sobre oportunidades e riscos associados aos instrumentos econômicos. Biodiversidade Na perspectiva de comunidades locais e organizações da sociedade civil, as ferramentas originárias de acordos multilaterais2, tais como consentimento livre, prévio, e informado, podem ter relevante sinergia com instrumentos e processos das comunidades envolvidas, tais como protocolos comunitários, assegurando transparência e promover a justiça social e eficácia ambiental. O reconhecimento de protocolos comunitários pela Lei de Biodiversidade3 é oportunidade para fortalecimento das comunidades locais na gestão e na participação de iniciativas de manejo sustentável da biodiversidade com justa repartição dos benefícios decorrentes do aproveitamento de conhecimentos tradicionais. A plena execução do CAR Cadastro Ambiental Rural, cujo prazo foi lamentavelmente prorrogado, é condição fundamental para o desenvolvimento de programas e de iniciativas de restauração e de compensação de áreas com vegetação degradada com base em instrumentos previstos na lei de proteção e uso da vegetação nativa, o novo Código Florestal4. A meta brasileira para mudanças de clima de até 2030 restaurar 12 milhões de hectares desmatados depende do engajamento de proprietários rurais junto ao CAR, bem como de mecanismos financeiros, fiscais e outros meios inovadores de suporte. A recuperação florestal custará entre R$ 31 bilhões e R$ 52 bilhões, conforme o cenário escolhido. Isso significa investimentos anuais entre R$ 2,2 bilhões e R$ 3,7 bilhões por ano durante 14 anos, a criação de 138 mil a 215 mil empregos e a arrecadação de R$ 3,9 a R$ 6,5 bilhões em impostos5. Notadamente Convenção OIT 169 e Convenção da Diversidade Biológica Lei de Biodiversidade n 13123, de maio de 2015 Lei Ambiental n 12.651/2012), 5 Estudo do Instituto Escolhas, disponível em http://bit.ly/estudoie. Acesso em 14 de julho de 2016 2 3 4

Água A cobrança pelo uso de água captada mediante outorgas, prevista na legislação, evolui ainda que lentamente. Entretanto, há reconhecimento que parte dos recursos arrecadados poderiam ser alocados para o custeio de sistemas de pagamentos ou subvenções aos serviços ambientais e ecossistêmicos de relevância para a proteção de mananciais e águas de abastecimento. São fundamentais a transparência, o acesso às informações e a participação de comunidades locais e organizações da sociedade na gestão de bacias hidrográficas, notadamente na aplicação de instrumentos de caráter econômico e pagamentos por serviços ambientais. Múltiplos Iniciativas com múltiplos objetivos e resultados em serviços ecossistêmicos oferecem, em tese, maiores possibilidades de serem alavancas do desenvolvimento sustentável das comunidades e regiões de influência, ainda que possam ter maior dificuldade para a mensuração dos serviços ambientais e ecossistêmicos. A degradação ambiental, denotada pelas crises hídrica e climática, por um lado, e pelos impactos socioambientais decorrentes da ocupação irracional do território, pelos desastres naturais, por outro lado, têm proporcionado crescente mobilização em prol da inserção de mecanismos e critérios de serviços ambientais e ecossistêmicos na gestão do desenvolvimento urbano: planos diretores; sistemas de coleta, reuso e reciclagem de resíduos; fomento da eficiência energética e uso de energia renovável, adequação de edificações, posturas e paisagens urbanas aparecem como oportunidades para políticas públicas e iniciativas voluntárias. Associações de catadores de materiais recicláveis e outras organizações da sociedade têm atuado para o reconhecimento dos serviços ambientais vinculados às ações de coleta de resíduos e seu aproveitamento, notadamente por meio de cooperativas de trabalhadores. Atividades de organizações de catadores têm o efeito adicional de prolongar a vida útil de aterros sanitários dos municípios, poupar recursos naturais e energia e contribuir para a qualidade ambiental dos assentamentos humanos urbanos, além dos benefícios de inclusão social e geração de renda. É enorme o potencial de desenvolvimento de amplo mercado (espaço) de atuação e inclusão social de catadores mediante os serviços ambientais de suas atividades. Conforme dados do IBGE (2008) somente 653 dos 5564 municípios contavam com alguma forma de participação de catadores na coleta e destinação de resíduos recicláveis, sendo que associações e cooperativas estavam atuando em somente 4456. Por sua vez, o IPEA revelou, em 2013, que aproximadamente oito bilhões de reais são desperdiçados pela falta de reciclagem de resíduos, por um lado, e que quase 400 mil catadores no país promovem o aproveitamento de materiais (alumínio, plástico, celulose, aço e vidro) no valor de 580 milhões de reais. Esse valor considera somente os preços praticados no setor de reciclagem e não incluem o potencial custo de evitar contaminação ambiental ou de instalação de aterros sanitários7. Mecanismos que indicam qualidade socioambiental da atividade produtiva (por exemplo, certificação florestal e de produtos orgânicos), de procedência (origem comunitária ou territorial) permitem alavancar atitudes de responsabilidade de produtores e consumidores com a sustentabilidade planetária.

Em 2015, a Forest Trends, em parceria com o Fundo Vale, lançou uma versão dedicada ao estudo de experiências brasileiras de transações que caracterizassem pagamentos ou outros incentivos para a valorização dos serviços ambientais. Com ênfase inicial na valorização e reconhecimento da função dos serviços ecossistêmicos (como carbono, água, biodiversidade etc.), o estudo objetivou estimular o desenvolvimento de incentivos econômicos visando a conservação e a recuperação de serviços ecossistêmicos no Brasil. Um ano depois desse estudo pioneiro no Brasil, a Forest Trends faz uma nova análise de tendências, agora com apoio da Fundação Good Energies, com a premissa que políticas públicas, mercados e projetos voluntários de serviços ambientais não podem dispensar a promoção de direitos humanos, notadamente de populações tradicionais e comunidades vulneráveis, e a busca de integridade ambiental com equidade social. Assim, está atenta ao desenvolvimento de instrumentos e iniciativas que valorizem as perspectivas e resultados socioambientais, para que a atualização contínua da Matriz possa servir de plataforma de compartilhamento de conhecimentos e oportunidades sobre as questões de serviços ambientais. A Forest Trends é uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalha para expandir o valor das florestas para a sociedade. Há mais de 15 anos vem promovendo a conservação das florestas e outros ecossistemas por meio da criação de incentivos econômicos inovadores, do monitoramento e fortalecimento das chamadas finanças ambientais. Através da Iniciativa Comunidades apoia os povos indígenas e as comunidades tradicionais na garantia de seus direitos, na conservação de suas florestas, culturas e costumes, e na promoção do seu bem viver. Contato no Brasil msandrini@forest-trends.org www.forest-trends.org www.facebook.com/foresttrends RE ALIZ AÇÃO APOIO