RECOMENDAÇÕES SOBRE A ELABORAÇÃO DO CONTRATO DE RESSEGURO I. Forma de Atuação da Cedente 1. A negociação de coberturas de resseguro, seja sob a forma de contrato automático ou sob forma facultativa, exige planejamento antecipado, através de informações adequadas, colhidas nos setores de sinistro, subscrição e jurídico da cedente. 2. No caso de pedido de cobertura de seguro que exija negociação de colocação de resseguro facultativo, recomenda se o início antecipado de suas tratativas, com o objetivo de integralizar a cobertura de resseguro antes do início de vigência pleiteado pelo segurado. 3. Um contrato automático ou uma cobertura facultativa, para que sejam considerados como instrumentos válidos, exigem a aceitação mútua e verdadeira. Por isso, deve ser exigida a aceitação incondicional e inequívoca de ambas as partes (formal). 4. Nas negociações com resseguradores recomenda se não utilizar, como referência obrigatória aquelas práticas adotadas pelo ressegurador único no País, respeitadas as exceções. 5. É fundamental promover investimentos imediatos na capacitação e treinamento dos funcionários das sociedades seguradoras na arte de negociar, com ênfase na atividade de resseguro. Recomenda se que seja avaliada a criação de departamento específico de resseguro. 6. Recomendam se a boa comunicação e utilização dos departamentos técnico, atuarial, financeiro, jurídico dentre outros da cedente, de forma a agilizar a contratação de resseguro. O resultado ao final será a agilização do processo de elaboração desse tipo de contrato, inclusive do SLIP, pois ao longo do tempo serão criados padrões de funcionamento dos setores tendentes a evitar litígios e a facilitar o resultado operacional. 7. Nos co resseguros, a seguradora deve obter a concordância de todos os resseguradores aos termos contratados, porque a simples negociação com o ressegurador líder não vincula os demais resseguradores, a menos que fique expresso no SLIP que as condições aceitas pela líder serão acompanhadas pelos demais. II. Cuidados com a Redação dos Contratos 1. O tamanho do contrato não é tão importante quanto a clareza de suas cláusulas. Cuidar para que os textos das cláusulas reflitam o seu título e sejam redigidas de forma a facilitar a compreensão sobre as obrigações e deveres das partes. 2. Recomenda se que a cedente observe se o início e o fim de responsabilidade do contrato de resseguro está em consonância com o seu contrato de seguro. É fundamental observar que o início e fim de vigência dos contratos de seguro no Brasil se dá às 24h e, dependendo do ressegurador, a prática internacional poderá ser distinta, o que cria período de vigência da apólice sem cobertura. 1
3. É preciso definir no contrato de resseguro qual o local será usado como referência para definição da hora de início e término de vigência (Ex. Brasília; local do risco; local da sede da ressegurada; local de emissão da apólice; etc.). 4. Para evitar litígios sobre ambigüidades no contrato de resseguro, recomenda se a formalização dos acordos verbais, de maneira mais completa possível, tanto no SLIP como no COVER NOTE, inserindo todos os termos combinados durante a fase de negociação. 5. O SLIP deve ser abrangente e completo, com todas as informações essenciais sobre o negócio. 6. A leitura do contrato de resseguro deverá ser feita em comparação aos documentos que lhe deram suporte, como Slip, para que reflita exatamente o que foi negociado. É recomendável identificar os detalhes técnicos do negócio celebrado, para que estejam claramente identificados nos contratos. 7. Devem se evitar cláusulas com textos longos. A objetividade evitará litígios futuros. Se necessário, deve ser elaborada nova cláusula, sempre se evitando textos ambíguos e com vários períodos. 8. Recomenda se avaliar a necessidade de inclusão de cláusula através da qual as partes concordam com prazo de prorrogação da cobertura do resseguro, automática ou facultativa, para facilitar a sua renovação. 9. É importante considerar a possibilidade de inserir nos contratos de resseguro automáticos a cobertura para prorrogações eventuais de apólices de seguro. 10. Os contratos devem ser redigidos com visão de longo prazo, com clareza, pois contratos redigidos hoje serão utilizados para sinistros no futuro. 11. Devem se evitar abreviaturas ou palavras em idioma estrangeiro (Exemplo: TBA TO BE AGREED/ADVISED; AS ORIGINAL COMO O ORIGINAL). 12. Existem cláusulas entre ressegurador e cedente cuja desobediência podem levar a resolução do contrato ou a suspensão da cobertura. São as denominadas Warranty clauses, as quais exigem a perfeita obrigação de seu cumprimento pela cedente. 13. Cláusulas consideradas como padrão de mercado não significam segurança. Logo, recomenda se o uso de cláusulas específicas para as necessidades da cedente. 14. A redação do contrato de resseguro deverá ser feita no idioma português. Em havendo versão em outro idioma, deverá prevalecer o texto elaborado em português. 15. É recomendável a utilização de métodos de conferência de termos como é exemplo o check list, contendo todos os elementos que devem estar presentes no clausulado, inclusive no slip e na cover note. No check list deverão constar as cláusulas obrigatórias exigidas pela regulamentação. 16. As cláusulas deverão ser redigidas com muita clareza e objetividade, absorvendo os usos e costumes externos, mas com a adaptação ao direito local, tanto às normas legais como as infralegais (resoluções, circulares, portarias, etc.). 2
17. Os contratos somente deverão ser assinados após leitura cuidadosa e estudo atento de suas cláusulas, de modo a identificar ambigüidades e outras deficiências. 18. O risco de resseguro somente poderá ser entendido como coberto após a efetiva assinatura do contrato de resseguro, por parte do ressegurador, seja qual for a sua modalidade. No entanto, o aceite formal do ressegurador no documento inicial (ex.: slip) poderá ser entendido suficiente para conclusão dos contratos e geração de responsabilidade contratual, desde que sua composição seja a mais completa possível, respeitada a modalidade de resseguro. 19. Em havendo dúvidas, recomenda se apresentar todos os questionamentos necessários para seu esclarecimento, até esgotar os pontos não compreendidos, sobretudo quanto a cláusulas contratuais redigidas com adaptações e traduções de outros idiomas. 20. Recomenda se a inclusão da cláusula de arbitragem nos contratos automáticos e facultativos. 21. Segundo o disposto no artigo 13, da LC 126/2007, a Cláusula de Insolvência é obrigatória, de forma que as obrigações do ressegurador não se alteram com a insolvência da cedente. 22. Em caso de insolvência, nos contratos facultativos, o pagamento direto ao segurado é permitido, caso não haja vedação contratual. 23. Em todos os contratos de resseguro automáticos com Cláusula de Pagamento Direto (Cut Through Clause), em caso de insolvência da cedente, o segurado receberá a indenização diretamente (Ref.: Inciso II, do Parágrafo Único, do Art. 14). 24. Deve ser garantida a consistência das cláusulas de resseguro dos contratos de resseguro automáticos e facultativos, proporcionais e não proporcionais que fazem parte do mesmo programa de proteção de resseguro. Exemplo: a cláusula de Arbitragem deve ser a mesma em todos os contratos de resseguro negociados para a carteira de Engenharia. III. Sinistros 1. O contrato de resseguro automático ou facultativo deverá definir se o ressegurador vai acompanhar a regulação e liquidação de sinistros a cargo da cedente ou se será incluída a cláusula de cooperação de sinistros ou a de controle. 2. Deve se cuidar para que o texto da cláusula de cooperação de sinistros ou a de controle reflita o seu título. 3. A Cláusula de Pagamento de Sinistro deverá especificar todas as despesas recuperáveis do ressegurador. 4. Na regulação de sinistros deverão ser observadas as condições e os prazos negociados, especialmente no que se refere à comunicação do aviso de sinistro e da respectiva reserva, sob pena de atraso no recebimento da recuperação ou de perda de direitos. 3
5. Recomenda se cuidado na exigência de documentos e providências a cargo dos segurados, para que o sinistro seja regulado sem deficiências capazes de gerar ausência de cobertura por parte do ressegurador. 6. Deve ser evitada a celebração de cláusulas estabelecendo condições que a cedente não terá como cumprir durante a vigência do contrato, especialmente relativas a sinistros. 7. Devem ser negociadas as cláusulas que tratem do adiantamento de sinistro (cash loss) e do pagamento simultâneo. 8. Vale ainda considerar como preocupante para efeito de fluxo de caixa da sociedade seguradora, a alteração na prática de adiantamento de recuperação por parte do ressegurador. Atualmente o IRB antecipa ou reembolsa o segurador, muitas vezes sem ter ainda recebido a sua recuperação dos retrocessionários, o que é, aliás, absolutamente natural nesse tipo de relação contratual. Em alguns casos sequer chega a receber, ou os recebe com atraso, seja pelas dificuldades comuns em termos de relações internacionais. No futuro, certamente, o segurador brasileiro terá que aguardar todos os trâmites burocráticos junto aos resseguradores, para efeito de liberação de valores, algo que poderá ser decisivo em seu fluxo financeiro e de caixa. IV. Questões Relativas à Prestação de Contas e ao Encontro de Contas 1. A sociedade seguradora deve estabelecer com o ressegurador as regras de prestação e de encontro de contas. 2. Deve também ser exigente e transparente na elaboração do movimento contábil ou de conta corrente, para que fique claro cada item relativo ao pagamento do prêmio e dos desembolsos de custas e sinistros. 3. É fundamental a clareza na confecção de documentos, de forma que ambas as partes possam ter a certeza se as obrigações econômicas foram cumpridas pela cedente, pelo ressegurador e pelo corretor de resseguros. 4. Recomenda se cuidado especial na apresentação das contas, ou seja, a utilização de contabilidade clara e objetiva para que seja facilitada a compreensão do ressegurador e, conseqüentemente, o pagamento das recuperações de resseguro. V. Participação do Corretor de Resseguro 1. É recomendável exigir se do corretor a autorização de funcionamento emitida pela SUSEP, caso seja utilizado corretor de resseguro. 2. Deve ser identificada a forma de atuação do corretor de resseguro, inserindo se, obrigatoriamente, Cláusula de Intermediação, especificando seus poderes, deveres e obrigações (responsabilidades). 3. Deve ser exigida do corretor de resseguro a entrega à cedente de cópia do slip assinado pelo(s) ressegurador(es), contendo, obrigatoriamente, seu(s) percentual(is) de participação. 4. Os contratos devem ser firmados apenas por quem detém poderes expressos para sua celebração, tanto por parte do segurador, como do ressegurador e do corretor de resseguro. 4
5. É recomendável a exigência de seguro de responsabilidade civil do corretor de resseguro, com coberturas compatíveis com suas operações. VI. Litígios 1. A cláusula de arbitragem deve ser abrangente, estabelecendo as condições, como o local da sua realização (não necessariamente o local do sinistro ou do domicílio das partes); a forma e o prazo de indicação dos árbitros; a lei aplicável (preferencialmente o direito brasileiro); e o regime de divisão das custas da arbitragem. 2. É vedado o uso de foro e de jurisdição que não sejam brasileiros. 3. É fundamental que o segurador informe ao ressegurador a existência de ação judicial capaz de exigir o uso do resseguro, independente do chamamento ao processo judicial (denunciação à lide). 4. Nos casos em que a cedente não denuncie o ressegurador à lide, é fundamental que os depósitos judiciais por ela realizados sejam informados ao ressegurador e que seu levantamento seja a ele repassado com brevidade. 5. Convém estabelecer cláusula que garanta o acompanhamento pelo ressegurador dos acordos judiciais e extrajudiciais realizados pela cedente. VII. Questões Relativas a Quota Parte 1. É importante definir se a cobertura de resseguro será aplicada sobre a retenção da cedente ou sobre todo o risco. 2. Devem ser definidos claramente os critérios tarifários que serão aceitos pelo ressegurador. 3. Deve se definir o critério de cessão do prêmio (net ou comercial); o critério de comissão de resseguros (escalonada ou fixa) e a cláusula de participação nos lucros (quando houver). 4. A cedente precisa conhecer e concordar com todas as exclusões gerais e específicas propostas no contrato ou os riscos que requererem aceitação especial. 5. Deve ser observado se o clausulado da cobertura de seguro está de acordo com os termos da cobertura de resseguro, sobretudo examinando suas exclusões. Caso contrário, pode ser necessário alterar o clausulado do seguro para manter a melhor cobertura possível, diminuindo a exposição do segurador. 6. O limite de cobertura (capacidade) necessita ser definido criteriosamente e maior atenção deve ser dada aos limites em dólar, em função da possível variação cambial. VIII. Problemas Específicos de Excedente de Responsabilidade 1. É fundamental definir o pleno (retenção) para fixar exatamente o limite de responsabilidade da cedente e o do ressegurador. 2. Recomenda se definir o termo excedente de responsabilidade, justo para evitar conflitos com outras denominações encontradas no mesmo texto contratual. A definição poderá ser feita na cláusula que trata do objeto do contrato. 5
3. É altamente recomendável a definição clara sobre: os descontos que serão aceitos pelo ressegurador (o critério tarifário); o critério de cessão do prêmio (net ou comercial); o critério de comissão de resseguros (escalonada ou fixa); e o limite contratual do excedente de responsabilidade (plenos). 4. Deve ser observado se o clausulado da cobertura de seguro está de acordo com os termos da cobertura de resseguro, sobretudo examinando suas exclusões, que podem ficar integralmente retidas. 5. Atenção deve ser dada para a variação do percentual de cessão, que é diferente a cada risco, de forma que a contabilidade possa refletir a fidelidade das contas dessa modalidade de resseguro, facilitando a compreensão do ressegurador e, conseqüentemente, o pagamento das recuperações de resseguro. IX. Problemas Específicos de Excesso de Danos 1. A cedente deve definir claramente a base contratual de cobertura (risks attaching ou losses occurring). 2. Nas renovações contratuais a cedente deve atentar para as eventuais alterações na base contratual de cobertura (mudança de risks attaching para losses occurring/vice versa). Nessas hipóteses deve se atentar para a existência de run off ou necessidade de compra de coberturas. 3. Recomenda se definir com objetividade a abrangência das garantias resseguradas que podem não representar a totalidade das garantias da apólice de seguro. 4. Na definição do tipo de contrato (risco, evento/ocorrência e/ou catástrofe) devem ser considerados os termos e definições estabelecidos no contrato de seguro a respeito dos bens cobertos, da responsabilidade (acidentes), e de catástrofe. 5. Será importante definir os critérios para a reintegração se será ilimitada ou limitada. Neste caso o número de reintegrações acordadas, respectivos custos e a base de cálculo. 6. Nas coberturas de resseguro: CLASH, UMBRELLA, STOP LOSS, AGGREGATE XL, dentre outras, é necessária definição sobre as garantias que serão acumuladas. X. Problemas Contratuais Especiais 1. Deve ser examinada por parte da cedente a necessidade de ser negociada a inclusão no contrato de resseguro das cláusulas: Obrigações Extracontratuais e Indenização acima do Limite da Apólice, bem como seus limites e condições. 6