ASPECTOS DA APRENDIZAGEM DE COLOCAÇÕES EM PORTUGUÊS L2 Ângela Maria Pereira da Costa Faculdade de Letras Universidade de Coimbra 2010
Atingir a proficiência numa L2 que se aproxime da de um falante nativo requer não só o conhecimento de um sistema de regras que gere um número infindável de enunciados, mas também o conhecimento de sequências memorizadas e de frases lexicais (Pawley e Syder, 1983 apud Rod, 1994: 85).
Estruturas Fraseológicas Pares fraseológicos Construções com verbo-suporte Aforismos Fraseologias de valor comunicativo Provérbios Máximas Sentenças Colocações etc
Porquê as colocações? Elevada ocorrência nas línguas. Nem sempre reconhecidas como construções semifixas, que devem ser memorizadas de forma holística, pelos aprendentes. Entidades complexas, semanticamente transparentes, não colocando, por isso, problemas de descodificação/compreensão. Colocam dificuldades de codificação/produção e, nessa medida, levantam problemas no ensino-aprendizagem de línguas não-maternas.
Pergunta Que mecanismos de apreensão são utilizados pelos alunos estrangeiros na aprendizagem de colocações? grau de dependência da LM (transferência) outros mecanismos, independentes da LM e transversalmente mobilizados por todos os alunos de PL2
Interlíngua Termo cunhado por Selinker (1992 [1972]) para designar os sistema linguísticos intermédios que os aprendentes tardios de uma L2 constituem enquanto, progressivamente, se aproximam dessa L2.
Estratégias de construção da interlíngua Dependente da LM Transferência linguística (positiva ou negativa) Independentes da LM Sobregeneralização do material linguístico da língua-alvo Transferência de instrução da LM Simplificação
Trabalho experimental Amostra LM A2 C1 total Alemão 3 19 22 Espanhol 13 12 25 Inglês 5 9 14 Italiano 15 10 25 total total total 36 50 86
Inquérito Os alunos foram submetidos a um teste escrito com a duração de 1 hora. O teste era composto por duas partes: a primeira consistia na tradução de 20 colocações transparentes e com uma estrutura sintáctica V + N e N + Adj do português à respectiva LM, a segunda parte do teste requeria o exercício inverso.
Resultados
Descodificação/Codificação
Tipologia de respostas Transferência da LM (ex: strong coffee café forte; fare un esempio fazer um exemplo) Transferência de outra língua (ex: tirar uma foto sacar uma foto) Sobregeneralização (ex: tomar uma visita; tomar uma pausa; tomar amigos) Transferência de instrução (café forte café rigoroso) Simplificação (perder o comboio não apanhar o comboio; alta temperatura muito calor) Outras respostas
Conclusões Alunos de LM espanhola Pressuposto de equivalência entre as colocações espanholas e portuguesas. Alunos de LM italiana Entendem as colocações da LM como estruturas específicas do italiano e sem equivalentes totais em português. Confiam em mecanismos como a sobregeneralização (tomar amigos, tomar uma foto, tomar uma pausa, tomar uma visita), a transferência de outras línguas (sacar uma foto) e recorrem à evitação (não resposta).
Conclusões A transferência da LM parece ser o mecanismo mais preponderante no processo de aprendizagem de colocações na L2. Tanto quanto possível, as colocações devem ser ensinadas tendo em conta a LM do aluno. Existem outros mecanismos operantes na aprendizagem das colocações em L2 que deverão ser levadas em linha de conta no desenvolvimento de estratégias pedagógicas aquando do ensino destas estruturas.
Limitações Não foi ponderada a frequência de ocorrência, no português europeu, das colocações utilizadas no teste. Assim, é possível admitir que as respostas correctas dadas pelos alunos, nos casos em que existia equivalência entre a colocação da LM e da L2 aqui consideradas como instanciações de transferência positiva podem dever-se a outros mecanismos que não à transferência. Esta pesquisa não apurou que outras L2 os aprendentes conheciam, um dado que poderia ter contribuído para averiguar possíveis influências de outras línguas.
Desenvolvimentos futuros Alargamento do estudo a alunos de outras LMs. Realização de uma investigação mais exaustiva sobre colocações construídas em torno da mesma base ou do mesmo colocativo.