TEOR DE MACRONUTRIENTES EM FOLHAS DE MUDAS DE MAMONEIRA CULTIVADAS EM DIFERENTES SUBSTRATOS Rosiane de Lourdes Silva de Lima 1, Liv Soares Severino 1, Napoleão Esberad de Macêdo Beltrão 1 e Gilvan Barbosa Ferreira 2 1 Embrapa Algodão, limarosiane@yahoo.com.br; liv@cnpa.embrapa.br; napoleao@cnpa.embrapa.br; 2 Embrapa Roraima, gilvan@cpafrr.embrapa.br RESUMO - A composição química do substrato é um dos principais aspectos a serem observados na produção de mudas, e depende fundamentalmente do materiais usados em sua formulação. Mediu-se o teor de nutrientes no tecido foliar de mudas de mamoneira da cultivar BRS Nordestina cultivadas em substratos compostos por mistura de areia com cinco materiais orgânicos. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições e cinco tratamentos, compostos por mistura simples de areia com uma das fontes de matéria orgânica a seguir: bagaço de cana, cama de frango, casca de amendoim, esterco bovino e mucilagem de sisal. Aos 43 dias após a emergência, o tecido foliar foi colhido para análise química do teor de N, P, K, Ca, Mg e S. Observou-se que diversos fatores podem fazer com que o teor de nutrientes nas folhas das mudas de mamoneira não reflitam o teor de nutrientes do substrato, como ocorreu com a cama de frango, que embora tenha alto teor de todos os nutrientes estudados, propiciou baixos teores de nutrientes no tecido foliar. INTRODUÇÃO Entre as oleaginosas cultivadas no Brasil, a mamoneira destaca-se pela rusticidade e adaptabilidade a condições adversas de clima e solo, pelo rápido crescimento, elevada produção e considerável teor de óleo em suas sementes. Segundo Ferreira et al., (2004) produções de até 1.500 kg/ha têm sido obtidas na região semi-árida utilizando-se as cultivares BRS Nordestina e BRS Paraguaçu. Produções acima de 2.500 kg/ha têm sido observadas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais quando se faz correção da acidez do solo e adubação com NPK. Canecchio Filho e Freire (1958) relatam que a mamoneira exporta da área de cultivo cerca de 80 kg/ha de N, 18 kg/ha de P 2 O 5 e 32 kg/ha de K 2 O, 13 kg/ha de CaO e 10 kg/ha de MgO para produzir 2.000 kg de semente, sendo estes resultados confirmados posteriormente por Nakagawa e Neptune (1971),os quais mostraram que a absorção de nutrientes pelas plantas aos 133 dias após a germinação atinge cerca de 156, 12, 206, 19 e 21 kg/ha de N, P 2 O 5, K 2 O, CaO e MgO, respectivamente, evidenciando as necessidades nutricionais desta cultura no inicio do seu desenvolvimento. O teor de nutrientes no tecido foliar na fase de muda não foi encontrada na literatura.
Santos et al. (2004) mencionam que a mamoneira tem forte demanda por nitrogênio, podendo apresentar sintomas de deficiência no início do crescimento se o suprimento deste elemento não for adequado. Ferreira et al. (2004) relatam que níveis insatisfatórios de P e K retardam o crescimento inicial da mamoneira e provocam redução considerável na produtividade. Diversos materiais orgânicos e inorgânicos têm sido utilizados na formulação de substratos para a produção de mudas, havendo necessidade de se determinar os mais apropriados para cada espécie de forma a atender sua demanda quanto a fornecimento de nutrientes e propriedades físicas como retenção de água, aeração, facilidade para penetração de raízes e não favorecer o surgimento de doenças. O substrato precisa também ser um material abundante na região e ter baixo custo, razão pela qual geralmente se utilizam resíduos agroindustriais. Este trabalho teve o objetivo de medir o teor de macronutrientes no tecido foliar de mudas de mamoneira cultivadas em substratos com diferentes formulações. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação, na Embrapa Algodão, Campina Grande, PB, no período de maio a junho de 2004. Adotou-se o delineamento em blocos ao acaso, com 5 tratamentos e 4 repetições, sendo a parcela experimental representada por 2 sacos plásticos, cada um contendo uma planta. Cada tratamento foi composto por uma mistura em partes iguais de terra e uma das seguintes fontes de matéria orgânica: bagaço de cana, casca de amendoim, esterco bovino, mucilagem de sisal e cama de frango. A composição química das fontes de matéria orgânica é apresentada na Tabela 1. Os substratos foram acondicionados em sacos de polietileno medindo 17cm de largura e 28cm de comprimento. Foram utilizadas sementes de mamona da cultivar BRS Nordestina. A semeadura foi realizada diretamente nos recipientes, plantando-se três sementes por saco para posterior desbaste. Amostras de tecido vegetal das plantas cultivadas em cada substrato foram coletadas aos 43 dias após a emergência e secas em estufa a 70 C por 72 horas. O material vegetal foi moído em moinho tipo Wiley com peneira de 20 mesh e submetido a digestão nítrico-perclórica para determinação dos teores de P, K, Ca, Mg e S. O P foi medido pelo método da redução do fotomolibdato pela vitamina C; o K, por fotometria de chama; o Ca e Mg, por espectrofotometria de absorção atômica e o S, por turbidimetria do sulfato conforme metodologia proposta por Malavolta (1989). O N foi medido pelo método micro-khjedhal. Os dados foram
submetidos à análise de variância e ao Teste de Tukey (5%) para comparação das médias, segundo recomendação de Santos et al. (2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO O sintoma da deficiência de N se manifesta inicialmente por atraso no desenvolvimento e raquitismo da planta; plantas com deficiência de N produzem apenas 6% do peso seco da folha, caule e área foliar após 30 dias de germinadas (SANTOS et al., 2004 a). Houve diferenças significativas no teor de N entre as mudas de mamoneira cultivadas nos diferentes substratos. A maior concentração de N foi observada nas mudas cultivadas nos substratos contendo casca de amendoim, mucilagem de sisal e esterco bovino e os menores nos substratos contendo bagaço de cana e cama de frango. O teor de N no tecido foliar refletiu diretamente a quantidade do nutriente contida nos materiais componentes do substrato (Tab. 1), com exceção daquele contendo cama de frango, que embora fosse rico em N, provavelmente não propiciou aeração adequada às raízes, o que prejudicou a absorção de nutrientes e conseqüentemente o crescimento da planta. Segundo Ferreira et al. (2004a), plantas cultivadas em substrato deficiente em P têm crescimento inicial lento, provavelmente devido à redução na absorção de nutrientes, da taxa fotossintética e da translocação interna de carboidratos, que se acumulam no cloroplasto. Houve diferença significativa no teor de P do tecido foliar das mudas de mamoneira crescidas nos diferentes substratos, sendo o valor máximo obtido no substrato contendo esterco bovino (10,62 g/kg) e o mínimo no substrato contendo mucilagem de sisal (2,95 g/kg). O P é um nutriente fundamental para a formação do sistema radicular das plantas e deve ser suprido preferencialmente no início do crescimento. Na produção de mudas esse aspecto é ainda mais importante, pois como as raízes exploram um volume pequeno de solo em comparação a uma planta semeada diretamente no solo, é preciso que a composição química do substrato contenha elevada quantidade de P. Observou-se neste experimento que algumas vezes o P está presente em teor relativamente alto no substrato, mas por alguma razão não se reflete no teor foliar do nutriente. Como exemplo, cita-se a cama de frango que tem teor de P mais de quatro vezes maior que o do esterco bovino (Tab. 1), no entanto, na folha o teor deste nutriente nutriente é próximo à metade daquele observado no esterco bovino (Tab. 2). Possivelmente essa inversão ocorreu porque o substrato contendo cama-de-frango não propiciou condições físicas adequadas. Segundo Ferreira et al. (2004 a), a planta de mamoneira deficiente em K reduz a atividade fotossintética das folhas e aumenta a respiração radicular, mostrando sintomas visuais de deficiência
30 dias após o plantio com o surgimento de necrose molhada sobre a folha e total queima dos tecidos com o avanço da deficiência. Os teores de K nas folhas variaram entre 32 g/kg no substrato contendo esterco bovino e 21 g/kg no substrato contendo bagaço de cana (Tab. 2). A cama de frango, embora contivesse o maior teor de K (1,10%), não propiciou o maior teor de K no tecido foliar pelas mesmas razões expostas anteriormente. Embora o teor desse nutriente seja muito diferente nos materiais usados na composição do substrato (amplitude de 11 vezes entre o maior e o menor), a variação do teor do nutriente na folha variou numa faixa menor (amplitude de 1,5 vezes). Segundo Santos et al. (2004 b) a deficiência de Ca manifesta-se aos 70 dias após a germinação das plantas provocando endurecimento nas folhas do ponteiro, com clorose verde amarelada, nervuras esverdeadas e enrugamento do lóbulo. O teor foliar de Ca variou pouco entre as mudas cultivadas em diferentes substratos, exceto no substrato contendo mucilagem de sisal que apresentou teor de 7,05 g/kg; nos demais substratos a variação foi de 2,90 g/kg no substrato contendo casca de amendoim a 2,0 g/kg no substrato contendo cama de frango. Não se detectou a razão para o alto teor de Ca no substrato contendo mucilagem de sisal, pois o teor desse nutriente no material orgânico não é maior que nos demais materiais. Assim como em todos os outros nutrientes, o alto teor de Ca da cama de frango não se refletiu no teor foliar do nutriente. Segundo Santos et al. (2004 b), a deficiência de Mg na mamoneira manifesta-se aos 60 dias após a emergência, caracterizando-se por acamamento de plantas sobre o caule e redução na produção de matéria seca da planta. O teor de Mg no tecido foliar das mudas variou de 11,3 g/kg no substrato contendo bagaço de cana a 6,45 g/kg no substrato contendo esterco bovino. Os teores foliares de Mg refletiram os teores do nutriente no material de composição do substrato, com exceção da cama de frango, pelas razões já expostas. Apenas chamou a atenção o substrato contendo mucilagem de sisal, que embora não tenha destacado teor de Mg, possibilitou alto teor do nutriente na folha. Os sintomas de deficiência de S são muito parecidos com aqueles de N, pois os dois nutrientes são componentes fundamentais das proteínas, resultando em lento crescimento da planta e raquitismo (FERREIRA et al., 2004 b). Os teores de S na no tecido foliar das mudas variou de 8,2 g/kg no substrato contendo esterco bovino a 5,0 no substrato contendo cama de frango. Os teores desse nutriente no material orgânico não foi determinado, mas a amplitude de variação no tecido foliar não foi muito grande, apenas 1,6 vezes. CONCLUSÕES
O teor de nutrientes nas folhas das mudas de mamoneira não refletem o teor de nutrientes do substrato. A cama de frango tem alto teor de todos os nutrientes estudados, mas os teores destes nutrientes detectados no tecido foliar de mudas cultivadas neste substrato foram os mais baixos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANECCHIO FILHO, V.; FREIRE, E.S. Adubação da mamoneira: experiências preliminares. Bragantia, v.17, p.243-259, 1958. FERREIRA, G.B.; SANTOS, A.C.M.; XAVIER, R.M.; FERREIRA, M.M.M.; SEVERINO, L.S.; BELTRÂO, N.E. De M.; DANTAS, J.P.; MORAES, C.R.A. Deficiência de fósforo e potássio na mamoneira (Rícinus communis): descrição do efeito sobre o crescimento e a produção da cultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 1., 2004, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004 a. CD. FERREIRA, M.M.M.; FERREIRA, G.B.; SANTOS, A.C.M.; XAVIER, R.M.; SEVERINO, L.S.; BELTRÂO, N.E. De M.; DANTAS, J.P.; MORAES, C.R.A. Deficiência de enxofre e micronutrientes na mamoneira (Rícinus communis): descrição do efeito sobre o crescimento e a produção da cultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 1., 2004, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004 a. CD. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A.de. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba: Potafos, 1989. 201p. NAKAGAWA, J.; NEPTUNE, A.M.L. Marcha de absorção de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio na cultura da mamoneira (Rícinus communis L.) cultivar Campinas. Anais da ESALQ, v.28, p.323-337, 1971. SANTOS, J. W.; GHEY, H. R. (Eds). Estatística experimental aplicada. Campina Grande: Embrapa Algodão/UFPB, 2003. 213p. SANTOS, A.C.M.; FERREIRA, G.B.; XAVIER, R.M.; FERREIRA, M.M.M.; SEVERINO, L.S.; BELTRÂO, N.E.de M.; DANTAS, J.P.; MORAES, C.R.A. Deficiência de nitrogênio na mamona (Rícinus communis): descrição do efeito sobre o crescimento e a produção da cultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MAMONA, 1., 2004, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004. CD. SANTOS, A.C.M.; FERREIRA, G.B.; XAVIER, R.M.; FERREIRA, M.M.M.; SEVERINO, L.S.; BELTRÂO, N.E.de M.; DANTAS, J.P.; MORAES, C.R.A. Deficiência de cálcio e magnésio na mamona (Rícinus communis): descrição do efeito sobre o crescimento e a produção da cultura. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE MAMONA, 1., 2004b, Campina Grande. Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004. CD. Tabela 1. Composição química do bagaço de cana, casca de amendoim, esterco bovino, mucilagem de sisal e cama de frango N P K Ca Mg Cinzas Material % Bagaço de cana 0,24 0,20 0,11 0,39 0,45 18,5 Cama de frango 2,95 3,97 1,10 4,71 6,93 - Casca de amendoim 1,54 0,36 0,79 0,46 0,21 3,5 Esterco bovino 0,78 0,87 0,33 0,31 0,18 - Mucilagem de sisal 0,12 0,01 0,10 0,40 0,24 - Análises feitas no Laboratório de Solos da Embrapa Algodão Tabela 2. Teores foliares de N, P, K, Ca, Mg e S no tecido foliar de mudas de mamoneira cultivadas em diferentes substratos. Campina Grande, PB, 2004. Substratos N P K Ca Mg S -------------------------------------------- g/kg -------------------------------------------- Bagaço de cana 23,80 c 7,62 b 21,25 c 2,40 bc 11,30 a 6,32 b Cama de frango 40,40 b 6,92 b 25,07 b 2,00 c 7,47 bc 5,00 c Casca de amendoim 51,50 a 4,50 c 27,00 b 2,90 b 8,17 b 7,75 a Esterco bovino 47,27 a 10,62 a 32,00 a 2,60 bc 6,45 c 8,20 a Mucilagem de sisal 50,55 a 2,95 d 25,75 b 7,05 a 11,20 a 5,37 bc Média geral 42,7 6,52 26,21 3,39 8,92 6,53 CV (%) 7,03 6,46 3,88 11,55 7,16 7,75 Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey (5%)