PARECER N. 14.016 Sociedade de Economia Mista. Diretores. Remuneração. Participação nos lucros. O presente expediente administrativo tem origem na Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, a partir de encaminhamento feito pela Companhia Riograndense de Mineração CRM -, sendo solicitada manifestação desta Procuradoria-Geral do Estado acerca da possibilidade de percepção, por parte dos diretores da empresa, de parcela remuneratória a título de participação nos lucros. Do expediente consta manifestação da Assessoria Jurídica da própria CRM dando conta da possibilidade de tal pagamento, bastando, para isso, autorização do acionista majoritário (fls. 02-08), tendo sido anexadas cópias da Lei 10101/00, da Convenção Coletiva de Trabalho e dos atos constitutivos da sociedade. Há, também, manifestação da Assessoria Jurídica da Secretaria de Energia, Minas e Comunicações, na qual opina pela possibilidade de extensão do benefício da participação dos lucros aos diretores da entidade em face do permissivo da Lei de Falências, em seu art. 152. É o Relatório. A questão posta pela Secretaria de Estado solicitante diz com a possibilidade de extensão da participação nos lucros aos diretores da Companhia Riograndense de Mineração CRM, benefício previsto em Convenção Coletiva de trabalho assinada com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Carvão no Estado do Rio Grande do Sul. Para o tratamento da questão deve-se ter presente, antes de mais nada, a definição jurídica do tipo societário sociedade de economia mista para
verificar-se a legislação aplicável à mesma, bem como a posição ocupada pelos diretores junto à empresa. No que diz com o tipo societário da CRM, deve-se ter presente tratar-se de uma sociedade de economia mista, do gênero paraestatal, que adota a forma de sociedade anônima, estando submetida, portanto, à Lei que rege tais sociedades, a Lei 6404/76, com a característica peculiar de ter como acionista majoritário ente público, assim como está atrelada ao conteúdo de seus atos constitutivos, como já alicerçado no Parecer 13566/03 desta Procuradoria Geral do Estado. Como entidade paraestatal ficam as sociedades de economia mista sujeitas ao controle da administração pública, em particular para o cumprimento dos objetivos estatutários, por meio de normas administrativas que visem a regulação das atividades e do funcionamento da entidade. Para a questão posta, portanto, deve-se buscar, na Lei 6404/76, em seus arts. 152 e 162, a definição do conteúdo da remuneração atribuível aos membros da diretoria de tais pessoas jurídicas. Assim, dispõe o art. 152 da Lei 6404/76: A Assembléia Geral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive benefícios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado. Da mesma forma, o art. 162, 3º diz: A remuneração dos membros do conselho fiscal, além do reembolso, obrigatório, das despesas de locomoção e estada necessárias ao desempenho da função, será fixada pela assembléia geral que os eleger, e não poderá ser inferior, para cada membro em exercício, a 10% (dez por cento) da que, em média, for atribuída a cada diretor, não computados benefícios, verbas de representação e participação nos lucros.
Por outro lado, o Estatuto da CRM, em seu art. 23, assim se expressa: A remuneração e demais vantagens dos Diretores serão fixadas pela Assembléia Geral. No que diz com a posição funcional ocupada pelos diretores da sociedade, de há muito esta Casa tem posição firmada no sentido de entendê-los como órgão da entidade, sujeitando-se aos seus Estatutos, como já afirmado nos Pareceres 7783/89, 9297/92, 9635/93, 10820/96, 13566/03 todos da Procuradoria-Geral do Estado e 13463/02 do Conselho Superior desta Casa. Assim sendo, é certo que a remuneração dos diretores, como órgãos da entidade, cuja relação não está sujeita às normas trabalhistas consolidadas Pareceres 10820/96 e 13566/03, mas às regras estatutárias próprias, deverá sempre ser aquela que for fixada por decisão de sua Assembléia Geral, como visto na legislação acima descrita. Resta, portanto, saber quanto à composição da remuneração a ser paga aos diretores destas entidades. Ora, o Estatuto da entidade é silente quanto a este aspecto, restringindo-se a atribuir à Assembléia-Geral a competência para tal fixação, como já previsto em sede legislativa. Por fim, cumpre verificar, então, a possibilidade de ter-se incluído valores a título de participação nos lucros no montante remuneratório dos diretores. Quanto ao tema, o Parecer 13463/03, descrevendo doutrinariamente o conteúdo próprio à remuneração dos diretores destas entidades, deixa clara a possibilidade de que estes, como retribuição da atividade gestionária da empresa, sejam expressos através de honorários fixos, percentagens sobre lucros ou jétons de présence, cuja fixação, todavia, fica submetida à decisão assemblear. Ou seja, a remuneração dos diretores é atribuição da Assembléia Geral, a qual poderá fixá-la sob a forma e o montante que entender adequados, sendo-lhes imprestável, posto que não incidente na situação peculiar dos diretores, as regras provenientes da legislação consolidada ou de negociação coletiva de trabalho, tal como já expresso, há longa data, no Parecer 9635/93, nos seguintes termos:
Quanto à remuneração mensal (constituída normalmente de honorários mais a representação) dos membros da diretoria das sociedades de economia mista e das fudações estaduais, os seus critérios e limites têm sido, sistematicamente, fixados pelo Senhor Governador, mediante decreto. Esta determinação tem natureza impositiva para os representantes do acionista controlador quando de sua atuação na Assembléia Geral, órgão de deliberação coletiva que, de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, tem competência para fixar a remuneração dos administradores e dos integrantes do Conselho Fiscal (Lei 6404/76, artigos 152 e 162). Em conclusão, entendo que a remuneração dos diretores deverá ser sempre, e tão só, aquela fixada pela Assembléia Geral, cujo conteúdo poderá revestir-se das diversas formas acima elencadas, obedecendo-se a orientação quanto ao conteúdo e o valor - advinda do acionista controlador o ente público - expresso em atos normativos, a exemplo dos Decretos 33997/91 e 36041/95, entre outros. É o parecer. Porto Alegre, 24 de maio de 2004. JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS PROCURADOR DO ESTADO EA 17-1700/04-0
Processo nº 000017-17.00/04-0 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.016, da Procuradoria de Pessoal, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSE LUIS BOLZAN DE MORAIS. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado de Energia, Minas e Comunicações. Em 23 de julho de 2004. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.