MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE PORTOS E COSTAS INCIDENTE OCORRIDO COM A PLATAFORMA PETROBRAS XXXIII. 14 de julho de 2010



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Transcrição:

MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE PORTOS E COSTAS INCIDENTE OCORRIDO COM A PLATAFORMA PETROBRAS XXXIII 14 de julho de 2010 RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO DE SEGURANÇA MARÍTIMA Plataforma Petrobras P XXXIII Referência: Código de Investigação de Acidentes da Organização Marítima Internacional - MSC-MEPC.3/Circ.2 13 June 2008/ Resolução MSC.255(84)

ÍNDICE LISTA DE ABREVIATURAS... 3 I - INTRODUÇÃO... 4 II - SINOPSE... 4 III INFORMAÇÕES GERAIS... 5 a) Caracterísitcas da Plataforma Petrobras P-XXXIII... 5 b) Certificados da Plataforma... 6 IV SEQUÊNCIA DOS ACONTECIMENTOS... 6 V FATORES HUMANOS E TRIPULAÇÃO...9 VI DADOS DO LOCAL DO ACIDENTE...11 VII - PROCEDIMENTOS PÓS-INCIDENTE...12 VIII CONSEQUÊNCIAS DO INCIDENTE...12 IX - ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS E FATORES CAUSAIS...13 IX.1 - EVIDÊNCIAS / FALHAS...15 IX.2 FATORES CONTRIBUINTES...16 X - LIÇÕES PRELIMINARES APRENDIDAS E CONCLUSÕES...16 XI - RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA...17 ANEXOS...18 2

LISTA DE ABREVIATURAS ABS American Bureau of Shipping AMB - Autoridade Marítima Brasileira CIA - Código de Normas Internacionais e Práticas Recomendadas para uma Investigação de Segurança de um Acidente Marítimo, ou de um Incidente Marítimo CPRJ - Capitania dos Portos do Rio de Janeiro CTS - Cartão de Tripulação de Segurança DelMacaé Delegacia da Capitania dos Portos em Macaé DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegação DPC Diretoria de Portos e Costas DPEM - Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou suas Cargas FLAP Janelas para ventilação IMO - Organização Marítima Internacional ISM Code - Código Internacional de Gerenciamento da Segurança POB Persons on board WHRU - Waste Heating Recovery Unit 3

I - INTRODUÇÃO Com a finalidade de efetuar a coleta e a análise de provas, a identificação dos fatores causais e a elaboração das recomendações de segurança que forem necessárias, a fim de impedir que no futuro ocorram acidentes e/ou incidentes marítimos semelhantes, a Delegacia da Capitania dos Portos em Macaé (DelMacae) realizou a presente Investigação de Segurança de Acidentes e Incidentes Marítimos (ISAIM), em cumprimento ao disposto no Código de Investigação de Acidentes Marítimos da Organização Marítima Mundial (OMI), adotado pela Resolução MSC.255(84). Este Relatório Final é um documento técnico que reflete o resultado obtido pela DelMacae em relação às circunstâncias que contribuíram ou podem ter contribuído para desencadear a ocorrência, e não recorre a quaisquer procedimentos de prova para apuração de responsabilidade civil ou criminal. Outrossim, deve-se salientar a importância de resguardar as pessoas responsáveis pelo fornecimento de informações relativas à ocorrência do acidente, sendo que o uso de informações constantes neste relatório para outros fins que não o da prevenção de futuros acidentes semelhantes poderá induzir a interpretações e a conclusões errôneas. II SINOPSE No dia 14 de julho de 2010, aproximadamente às 18 horas, a bordo da plataforma PETROBRAS XXXIII, IMO 7357749, bandeira do Panamá, localizada na Bacia de Campos, Campos dos Goytacazes RJ, no Campo de Marlim, na posição de coordenadas de latitude 22º22 S e longitude 040º01 W, ocorreu um incidente no Turbo compressor B, no qual foi constatada uma avaria devido ao repentino aumento de pressão de descarga dos gases da turbina, provocando o rompimento do coletor de descarga em sua emenda soldada e outros danos. A comunicação da ocorrência do incidente foi recebida na Delegacia da Capitania dos Portos em Macaé (DelMacae) por telefone no dia 20 de junho de 2010 e, no dia seguinte, um Inspetor Naval, atuando como Investigador de Acidente, visitou a plataforma para avaliar a situação e coletar evidências para conduzir a presente Investigação de Segurança Marítima. 4

De acordo com os registros examinados, as condições ambientais no momento do incidente, eram de visibilidade boa, mar calmo, vento fraco e céu claro, condições normais para operação, não sendo constatada qualquer contribuição para a ocorrência do incidente. A investigação do acidente em lide teve início imediatamente após os principais interessados terem sido formalmente notificados, em cumprimento aos dispositivos do Código de Investigação de Acidentes da Organização Marítima Internacional (IMO). III INFORMAÇÕES GERAIS Por ocasião da realização da perícia inicial na Plataforma Petrobras PXXXIII (Foto 1), seu aspecto visual não era bom, apresentando muita corrosão em sua estrutura. Foto 1 Plataforma P-XXXIII em operação na Bacia de Campos a) Características da plataforma PETROBRAS XXXIII: Embarcação: PETROBRAS XXXIII Bandeira: PANAMÁ AB: 137.707 Porto de inscrição: PANAMA Casco: AÇO Comprimento: 337,40m Área de navegação: MAR ABERTO Nº IMO: 7357749 Nº Inscrição: 387-E00090-9 Indicativo de Chamada: 3FKZ6 MMSI : 356790000 Arqueação Bruta: 135673 Deslocamento: 279749 tons 5

Classificadora: AMERICAN BUREAU OF SHIPPING Ano de Construção: 1978 Atividade: OUTRA ATIVIDADE OU SERVIÇO Armador: PETROBRÁS NETHERLANDS B.V. Proprietário: PETROBRÁS NETHERLANDS B.V. P&I: Assuranceforeningen Gard - Norway Carga: XXXX Propulsão: Sem propulsão Tipo: PLATAFORMA (FPSO) Posicionamento Dinâmico: Não b) Documentação (Certificados da Plataforma): Autoridade Emissora Título Emissão Validade ABS Classe 14/05/2009 29/09/2013 ABS Internacional de Borda Livre 14/05/2009 29/09/2013 ABS Internacional de Prevenção de Poluição por Óleo 15/07/2009 29/09/2013 ABS Segurança de Unidade Móvel de Perfuração 14/05/2009 14/09/2013 Delegacia da Capitania dos Cartão de Tripulação de Segurança - Portos em Macaé CTS 17/07/2010 01/12/2012 Panamá Arqueação Internacional 10/06/2002 indeterminada IV SEQUÊNCIA DOS ACONTECIMENTOS De acordo com as informações colhidas pelos Investigadores a bordo da Plataforma, e a partir do Relatório Preliminar de Análise do Incidente elaborado pela Petrobras, verificou-se que no dia 14 de julho de 2010, aproximadamente às 18 horas, ocorreu um incidente no turbo compressor B devido à falha de funcionamento da válvula Diverter, que fechou a saída de gases para atmosfera e gerou sobre pressão interna no equipamento, resultando em danos na sua estrutura. O turbo compressor B havia apresentado problemas em seu funcionamento momentos antes do incidente, quando então foi chamado ao local o técnico da fabricante do mesmo. Esse equipamento tem a função de auxiliar a elevação do óleo proveniente do poço e, segundo depoimentos, funcionava automaticamente mediante uma prévia programação. 6

A válvula Diverter estava alinhando grande vazão de gases para o recuperador de calor e desarmando o sistema por alta temperatura. O recuperador de calor foi desabilitado e foi fechada a guilhotina que dava passagem de gases para ele, o que teria provocado superaquecimento. O técnico da fabricante do equipamento executou o procedimento force, que significa fazer com que o equipamento funcione alheio à lógica de sua programação, sobrepondo, com isso, a proteção no programa de controle automático da turbina (Figura 1). A válvula Diverter operou (modulou) até fechar totalmente a saída de gases para a atmosfera, fazendo a pressão interna aumentar até o rompimento do coletor de escape, resultando numa explosão. Todos os procedimentos foram realizados com o equipamento em funcionamento. Figura 1 Gases alinhados para o by-pass/guilhotina e diverter fechadas Fonte: UO-BC da PETROBRAS A seqüência cronológica dos acontecimentos foi a seguinte: Às 15h02 a válvula Diverter (moduladora do alinhamento dos gases de exaustão da turbina para o Waste Heating Recovery Unit (WHRU), unidade recuperadora dos gases de exaustão) abriu, fazendo com que os gases da descarga não fossem para a atmosfera e sim ficassem retidos dentro do WHRU (Figura 2). 7

Figura 2 Modo de operação pelo WHRU Isso ocasionou o aumento da temperatura da água de injeção, fazendo com que o WHRU desarmasse e assim permanecesse. A temperatura da água subiu e retirou de linha o Turbo compressor B. Às 15h32 foi dada nova partida no Turbo compressor B. Às 15h50 a válvula voltou a permanecer aberta. Foi desabilitada a WHRU, entretanto, esta válvula Diverter permaneceu aberta (Figuras 3a, 3b e 3c) não aceitando o comando dado, o que ocasionou a elevação da temperatura da água, mais uma vez. Figura 3a- Modo de operação modulando a diverter 8

Da esquerda para a direita: Figura 3 b) Gases de exaustão bloqueados pela guilhotina/ Figura 3c) Gases de exaustão bloqueados pela guilhotina e pela diverter. Os gases sem saída provocaram o rompimento do turbo. Às 16h00 o Turbo compressor B sofreu mais uma parada, e o operador efetuou nova partida estando o Turbo compressor B com o WHRU desabilitado. Às 18h01 a válvula Diverter começou a operar. Às 18h08 a válvula Diverter modulou até fechar para exaustão a descarga dos gases e abrir para o WHRU. Como o WHRU estava com a guilhotina fechada, os gases se acumularam na saída da turbina, sendo acionado o alarme de alta pressão na exaustão dos gases da turbina. Isto acarretou a parada do Turbo compressor B, gerando a explosão pelo acúmulo de gases na exaustão projetando a porta do casulo contra a antepara. V FATORES HUMANOS E TRIPULAÇÃO O Pessoal embarcado atendia aos requisitos estipulados no Cartão de Tripulação de Segurança (Anexo A) e Lista de Pessoal a Bordo - Persons on Board/POB, tanto nas quantidades quanto nas qualificações estabelecidas. Os tripulantes e os técnicos (não marítimos) eram habilitados e estavam credenciados para a operação da unidade. A plataforma dispunha de boas acomodações para todas as 154 pessoas embarcadas. 9

Os principais profissionais envolvidos no incidente eram devidamente habilitados. Ainda com relação a pessoal, destaca-se o seguinte: Gerente da Plataforma - trabalha há mais de 30 anos na Petrobras e é devidamente qualificado para exercer as tarefas da função. No dia do incidente exercia a função de Gerente Setorial de Plataforma. Técnico de Operações - trabalha na Petrobras há mais de 6 anos e é devidamente qualificado para exercer as tarefas da função técnica de operação da plataforma PETROBRAS XXXIII. Na hora do incidente se encontrava na sala de controle e tomou conhecimento do fato via rádio VHF. Técnico de Operações (2) - trabalha na Petrobras há 8 anos e exerce a função de Supervisor de Produção. Na hora do incidente se encontrava na planta de Processo e que tem conhecimento do funcionamento do equipamento, trabalhando na supervisão da sua operação. O Representante de serviços da empresa contratada para realizar a manutenção do equipamento embarcou na plataforma no dia do incidente para prestar assistência técnica geral e foi solicitado comparecer na sala de controle dos tubos compressores para verificar o mau funcionamento do turbo compressor B. Ao chegar no local verificou que a válvula diversora do recuperador de calor não estava funcionando corretamente e solicitou ao Supervisor de Produção para que o equipamento ficasse fora de operação a fim de proceder com a manutenção, mas não foi atendido porque o outro compressor estava fora de operação. Segundo depoimentos prestados representantes da plataforma decidiram pela desabilitação do trocador de calor, e não havia nenhum impedimento técnico para operação da turbina com o trocador de calor desabilitado. 10

VI DADOS DO LOCAL DO ACIDENTE Marinha do Brasil Diretoria de Portos e Costas A plataforma PETROBRAS P-XXXIII está posicionada na Bacia de Campos, Campos dos Goytacazes RJ, no Campo de Marlim, na posição de coordenadas de latitude 22º22 S e longitude 040º01 W, a uma distância de 180 Km a leste da cidade de Macaé (Mapa 1). Mapa 1 Localização da embarcação (Google Maps) Condições ambientais: De acordo com as informações obtidas e registros examinados pelos investigadores, no dia da ocorrência do acidente as condições do tempo eram boas, com visibilidade boa, mar calmo, vento fraco e céu claro. 11

VII PROCEDIMENTOS APÓS O INCIDENTE: Marinha do Brasil Diretoria de Portos e Costas Após o incidente foram realizados os primeiros procedimentos previstos nas normas internas da unidade e da empresa, tendo sido constatado que não houve acidentes pessoais. Em seguida foram adotados os procedimentos operacionais para desligar os equipamentos avariados e o levantamento de dados para elaborar o Termo de Ocorrência de Avarias, sendo essa ocorrência comunicada à PETROBRÁS e à DelMacaé. No dia 11 de agosto de 2010, em nova perícia realizada por Investigadores da Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, foram constatadas em vários pontos diferentes da plataforma, falhas no sistema de ar de controle, sistema esse que emite comandos para diversos sistemas e monitoriza tantos outros e que possivelmente ocasionaram leituras e controles imprecisos. Foram realizados exames visuais das partes da carcaça do turbo compressor e análise documental. VIII CONSEQUÊNCIAS DO INCIDENTE a) Acidentes pessoais não houve; b) Danos materiais Avaria no turbo compressor Bravo (fotos 2 e 3). Foto 2 Avaria no duto de ligação ao WHRU. 12

Foto 03 Avaria no turbo compressor c) Poluição não houve registro de poluição relacionado ao acidente. IX - ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS E FATORES CAUSAIS Dadas às circunstâncias, foi possível aos investigadores constatar que o procedimento de manutenção do equipamento deveria ser realizado com o equipamento fora de funcionamento. O fechamento da guilhotina associado ao mau funcionamento da válvula Diverter criou uma situação de risco potencializada pela execução do procedimento force. Isso deveu-se ao fato de que a guilhotina fechada impediu a exaustão dos gases para o recuperador de calor enquanto a válvula Diverter, defeituosa e modulando por ação forçada, impediu a saída de gases para a atmosfera. O procedimento force significa forçar uma atuação direta da válvula, sem passar pela lógica de controle automatizado. Em que pese o fato de ter sido realizado o procedimento force indevidamente, caso o equipamento estivesse fora de funcionamento o incidente não ocorreria. Neste ponto pode-se indicar uma imprudência, ao realizar o procedimento de manutenção com o equipamento em funcionamento. Como podemos observar, houve uma seqüência de acontecimentos inesperados pela equipe de manutenção durante a manutenção corretiva dos equipamentos turbo-compressores A e B. Não foi feito um planejamento adequado para a manutenção correta dos turbo-compressores, oferecendo um grande risco de acidente. 13

Nas entrevistas com o pessoal de bordo envolvido na operação dos equipamentos, verificaram os investigadores que todos eram profissionais habilitados e que o incidente ocorreu no turbo compressor B da planta de processo. Esse equipamento (turbo compressor B) tem a função de auxiliar a elevação do óleo proveniente do poço. Os investigadores não tiveram acesso ao turbo compressor avariado devido ao Armador não ter comunicado à Autoridade Marítima a ocorrência do incidente. O incidente foi informado por meio de denúncia, sete dias após o ocorrido, e a cena do incidente já havia sido descaracterizada. A partir de depoimentos e do relatório Preliminar da Petrobras, os investigadores constataram que houve um fechamento indevido dos flaps que direcionam o fluxo de exaustão de gases, ocasionando sobre pressão no coletor dos gases de exaustão da turbina, resultando no rompimento do coletor, e que o equipamento funcionava automaticamente mediante uma prévia programação. Pressupõe-se que o turbo compressor estivesse calibrado para o ar de controle em plena capacidade, o que não foi constatado por ocasião da perícia na plataforma pois não houve acesso ao turbo compressor avariado. O fechamento indevido da válvula Diverter, que regula o fluxo de gases de exaustão da turbina, resultou em sobre pressão no interior do duto de descarga e conseqüente o seu rompimento. Verificou-se ainda que o equipamento apresentava problemas na válvula Diverter, motivo pelo qual um técnico do fabricante foi chamado ao local. Na tentativa de consertar o equipamento a guilhotina foi fechada e a válvula Diverter foi habilitada para operar com o equipamento em funcionamento. Essa habilitação da válvula Diverter foi feita pelo procedimento denominado force, que significa forçar uma atuação direta da válvula, sem passar pela lógica de controle automatizado, o que não era recomendado com a máquina em operação, e por conta dessa ação a válvula fechou totalmente impedindo a saída de gases para a atmosfera. Isso provocou um aumentando na pressão do duto devido ao fato de a guilhotina estar fechada, e a explosão ocorreu quando da tentativa de se fazer a manutenção com a guilhotina fechada diante de um defeito na válvula Diverter. Essa guilhotina não poderia estar fechada já que a válvula Diverter estava sendo forçada, não sendo esse um procedimento recomendável com o equipamento em funcionamento porque pode ocorrer uma atuação indevida da válvula Diverter. Agravou a situação o fato de não ter sido parada a turbina porque o turbo compressor A estava inoperante. Relembra-se que o procedimento correto seria deixar a máquina parada durante a manutenção. 14

IX.1 - EVIDÊNCIAS / FALHAS a) Relacionadas ao pessoal: Apesar da habilitação dos tripulantes e técnicos envolvidos na operação da unidade, pelos relatos obtidos, constatou-se pelos depoimentos prestados e pela análise documental que ocorreram ações imprudentes ao executar a manutenção dos equipamentos em operação. b) Relacionadas a documentos: Não foram constatadas falhas na documentação. c) Relacionadas ao material Ocorreu uma falha de material no funcionamento da válvula Diverter. O ar de controle estava com inúmeros vazamentos. d) Relacionadas ao ambiente Não há evidências de que as condições atmosféricas reinantes no dia e hora do incidente tenham contribuído para a ocorrência do acidente. No caso em tela, as falhas de maior enquadramento são referentes à política e planejamento de manutenção e treinamento deficiente. De acordo com os fatos descritos anteriormente, verifica-se que não estava sendo cumprido o disposto no Artigo 10 do Código Internacional de Gerenciamento de Segurança (Código ISM) que versa sobre a Manutenção da Plataforma e do Equipamento, que estabelece que a companhia (o armador) deve assegurar que inspeções sejam efetuadas em intervalos apropriados, qualquer nãoconformidade seja relatada com sua possível causa se conhecida, que uma ação corretiva apropriada seja tomada e registros destas atividades sejam mantidos. IX.2 FATORES CONTRIBUINTES (a) fator humano Não contribuiu, sob o ponto de vista bio-psicológico; 15

(b) fator material Contribuiu com a falha no funcionamento da válvula Divertir, devido ao sistema de ar de controle que se encontrava com inúmeras falhas; (c) fator operacional Contribuiu, pois a manutenção corretiva que estava sendo executada no Turbo Compressor B não seguiu um planejamento mínimo com segurança, que constava da parada do equipamento, devido a essa parada interferir com a operação normal da plataforma. O fator causal do incidente foi o fechamento da guilhotina sem observação da sua monitoração, agravada pela tentativa de manutenção do sistema de controle de temperatura do recuperador de calor (WHRU), mediante colocação de force na válvula solenóide de habilitação da válvula Diverter com o turbo compressor B em operação e com a guilhotina fechada. A investigação concluiu que essas falhas ocorreram devido ao mau funcionamento do sistema de Ar de Controle que motivaram o incidente do turbo compressor B. X - LIÇÕES PRELIMINARES APRENDIDAS E CONCLUSÕES: As investigações sobre as circunstâncias dos acidentes têm mostrado que os acidentes a bordo de plataformas são na maioria dos casos provocados por um conhecimento insuficiente ou desrespeito à necessidade de adotar precauções. A investigação apontou que a cultura de segurança e de gestão da segurança por parte dos envolvidos no incidente não eram fortes. As rotinas de manutenção e operacionais de um sistema tão complexo como uma plataforma de petróleo têm por obrigação prover a segurança, manutenção e treinamento de pessoal extremamente bem controladas e efetivamente realizadas, cumprindo essas rotinas pré-estabelecidas em projeto e pelos fabricantes, bem como analisar as interpelações entre estes vários sistemas que atuam em conjunto e interdependentemente. Fruto da investigação em lide, concluiu-se que os vários sistemas e, em particular, o de ar de controle que se fazia fundamental do ponto de vista operacional, já que controlava e monitorava os demais sistemas, não atuou devidamente por ocasião do incidente. Ressalta-se que equipamentos não podem continuar a operar enquanto falhas são detectadas e correções não são efetuadas. 16

XI - RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA: Primeiramente relembra-se que recomendações de segurança não devem, sob quaisquer circunstâncias, criar a presunção de culpa ou responsabilidade. O incidente ocorreu por conta de uma cadeia de diferentes fatores causados provavelmente pelo descumprimento dos procedimentos de manutenção e controle dos equipamentos e da plataforma em seu conjunto. Apesar do incidente investigado não ter causado vítimas, ele apontou para a necessidade de um aprimoramento nos objetivos do Gerenciamento de Segurança da Companhia, em conformidade com o disposto no Código Internacional para Gerenciamento da Operação Segura de Navios (Código ISM), uma vez que o incidente poderia ter sido evitado caso as rotinas dos sistemas de manutenção tivessem sido respeitadas, bem como se tivesse sido dada uma maior atenção para o sistema de ar de controle que apresentava inúmeros vazamentos. Esse sistema monitora e controla todos os sistemas nas regiões de risco de incêndio e explosão das plataformas de petróleo. Enfim, um bom Sistema de Gerenciamento de Segurança deve prever e avaliar todos os riscos nas operações realizadas a bordo. As conseqüências pessoais, técnicas e financeiras de um incidente ou uma ocorrência inesperada envolvendo operações marítimas podem ser devastadoras, e esse fato ressalta a importância de haver um escopo de verificação das rotinas de manutenção de equipamentos bem definida, com referência técnica, competência e supervisão, de forma a ser obtida a qualidade do serviço. Por conta das providências já adotadas pelo armador no decorrer da investigação não há outras recomendações de segurança aplicáveis ao incidente. LISTA DE ANEXOS: Anexo A Cartão de Tripulação de Segurança (4 páginas) 17

Anexo A Cartão de Tripulação de Segurança 18

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