Conservação e aumento da longevidade floral de Lisianthus. Sérgio T. Fukasawa 1 ; Douglas V. A. Campos 1 ; Junichi F. Wada 1 ; Denise Laschi 1 ; Ieoschua Katz 1 1 UNESP - FCA - Departamento Produção Vegetal / Horticultura, C. Postal 237, 18.603-970, Botucatu-SP, stfukasawa@fca.unesp.br RESUMO O objetivo do trabalho foi determinar o melhor tratamento durante o cultivo e pós-colheita para manutenção floral e aumento da longevidade de Lisianthus (Eustoma grandiflorum), com diferentes concentrações de sacarose na solução pulsing. As hastes foram adquiridas de um experimento com diferentes doses de nitrogênio na fertirrigação da estufa da Fazenda Experimental de São Manuel. Durante o ensaio em laboratório, as hastes foram selecionadas uniformizando o estágio de desenvolvimento. As hastes, depois de imersas em água de torneira, à sombra, durante uma hora, foram cortadas sob água na base do caule. As hastes foram distribuídas nos diferentes tratamentos de "pulsing" com sacarose a 0%, 2% e 4%, durante 24 horas, na câmara fria com temperatura de 9ºC e 70 a 90% de umidade relativa do ar. O tratamento de pulsing teve como objetivo preservar o fluxo de água na planta, fornecer energia à respiração e aumentar o período de pós-colheita. Palavras chaves: Eustoma grandiflorum, pós-colheita, sacarose, nitrogênio. ABSTRACT Conservation and prolonging flower longevity of Lisianthus The objective of the present work was to evaluate the best treatment to keep and prolong the post harvest longevity of Lisianthus (Eustoma grandiflorum), with sucrose concentration in pulsing solutions. The stems were acquire from the experiment that was carried out using different nitrogen dose in the fertirrigation solution, in the greenhouse, at São Manuel, Brazil. In the laboratory, the whole stem were immersed in tap water at darkeness, during an hour. The flowers were selected for uniformity in terms of development. The flowers were held in different pulsing treatment sucrose at 0%, 2% and 4%, during 24 hours, at 9º C and 70 to 90% of air relative humidity. The pulsing solution aimed improve water uptake, supply energy and extend the flower longevity. Keywords: Eustoma grandiflorum, post-harvest, sucrose, nitrogen
INTRODUÇÃO Lisianthus (Eustoma grandiflorum) é uma planta ornamental originada da parte sudeste dos Estados Unidos. Na natureza, lisianthus inicialmente forma uma roseta e tem um crescimento lento no inverno, o alongamento do ramo ocorre na primavera e floresce no verão (Zaccai & Edri, 2002). A produção de flores de corte constitui uma atividade promissora, cuja comercialização exige técnicas de conservação que contribuam em manter a qualidade floral pós-colheita. As principais causas de deterioração pós-colheita envolvem a exaustão das reservas, principalmente de carboidratos pela respiração, ocorrência de bactérias e fungos, produção de etileno e perda excessiva de água (Nowak et al., 1991). É altamente desejável a inibição desses processos deteriorantes. Segundo Nowak & Mynett (1985) a baixa temperatura de armazenamento é um fator importante no retardamento da deterioração, uma vez que diminui os processos metabólicos e o crescimento de patógenos. Inúmeros trabalhos de pesquisa têm demonstrado o efeito benéfico da adição de produtos químicos conservantes nas soluções de manutenção das flores de corte. Estes produtos, constituídos principalmente por açúcares e germicidas, como os ésteres de 8- hidroxiquinolina e nitrato de prata, podem duplicar ou triplicar a longevidade das flores (Brackmann et al, 1998). O fornecimento de açúcares, principalmente sacarose, repõe carboidratos consumidos pela respiração (Nowak et al. 1991) e proporciona redução na transpiração das flores, uma vez que atua no fechamento dos estômatos (Marousky, 1971). Há poucas informações sobre o uso destes produtos na conservação de Lisianthus. Em virtude da carência de informações sobre o comportamento da vida decorativa e da fisiologia pós-colheita de Lisianthus, objetiva-se com esse trabalho avaliar os efeitos da sacarose na manutenção da qualidade dessas flores armazenadas em temperatura ambiente após a solução de pulsing. MATERIAIS E MÉTODOS O objetivo do trabalho foi determinar o melhor tratamento durante o cultivo e póscolheita para manutenção floral e aumento da longevidade de Lisianthus cv. Blue Picotee. As hastes foram adquiridas de um experimento com diferentes doses de nitrogênio na fertirrigação da estufa da Fazenda Experimental de São Manuel. Em cima das diferentes doses de nitrogênio na pré-colheita (50g/L, 100g/L, 150g/L, 200g/L, 250g/L e 300g/L), foi avaliada uma fonte energética para reduzir o processo de senescência com sacarose a 0%,
2% e 4% no tratamento de pulsing, com o objetivo de preservar o fluxo de água na planta, fornecer energia à respiração e aumentar o período de pós-colheita. Estabeleceu-se como ponto de colheita o momento em que as hastes apresentavam um botão floral aberto, com o segundo botão para abrir. Durante o ensaio em laboratório, as hastes, após totalmente imersas em água de torneira, à sombra, durante uma hora, foram cortadas sob água na base do caule. As hastes foram distribuídas nos diferentes tratamentos de "pulsing" durante 24 horas, na câmara fria com temperatura de 9ºC e umidade relativa do ar de 70 a 90%. Posteriormente, as flores foram transferidas para recipientes de 500 ml contendo água de torneira. Diariamente foram realizadas: renovação de água, análise do murchamento e senescência das flores e hastes, absorção de água pela haste. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com 6 tratamentos de nitrogênio e 3 tratamentos de sacarose, com 8 repetições contendo uma haste por vaso, perfazendo um total de 144 hastes e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pode-se observar que não houve interação significativa entre os fatores nitrogênio e sacarose nas características avaliadas, ocorrendo diferença apenas no tratamento com nitrogênio. A maior absorção de água se deu no tratamento com 300 g/l de nitrogênio, uma média de 118,11 ml de água absorvida durante os 16 dias de pós-colheita (Tabela 1). Tabela 1. Média do total da absorção de água (ml) com 16 dias de pós-colheita, em função do nitrogênio e sacarose, na pós-colheita de Lisianthus. Botucatu, UNESP, 2003. NITROGÊNIO (g/l) 50 100 150 200 250 300 MÉDIA 0% 78,11 87,79 85,19 96,34 97,50 105,24 91,69a SACAROSE 2% 80,66 88,15 90,01 98,18 100,00 100,21 92,87a 4% 89,00 84,81 96,36 97,40 98,20 118,88 97,44 a MÉDIA 82,59c 86,92c 90,52bc 97,3b 98,57ab 108,11a CV 12,69% Médias seguidas pela mesma letra na linha e na coluna, não diferem pelo teste de tukey a 5%. Pode-se observar que a absorção de água pela haste, durante a pós-colheita, tem uma relação direta com o aumento do nitrogênio, o mesmo pode-se observar com o tratamento de sacarose (Figura 1). Este resultado pode ser justificado por apresentar maior taxa respiratória.
Absorção de água (ml) 120 100 80 60 40 20 y = 0,0001x 2 + 0,0549x + 79,857 R 2 = 0,9755 0 0 50 100 150 200 250 300 g/l de nitrogênio Durante o experimento a temperatura variou de 19,1 a 28,3ºC e a umidade relativa de 35 a 75%, gerando diferentes análises de absorção de água a cada dia, conforme o estágio de senescência das hastes, temperatura e umidade relativa. Do 15º ao 20º dia de póscolheita, observou-se aumento na absorção de água, reação esta proveniente da diminuição da umidade relativa do ambiente neste mesmo período. Conforme a tabela 2, não se observou diferença estatística na duração da vida póscolheita. Entretanto, a despeito da estatística, pode-se observar maior período de sobrevivência das hastes com a interação de tratamento com 100 g/l de nitrogênio + 2% de sacarose, com uma média de 16,25 dias de vida. Tabela 2. Média do período de sobrevivência (dias) das hastes na pós-colheita de Lisianthus. Botucatu, UNESP, 2003. NITROGÊNIO (g/l) 50 100 150 200 250 300 MÉDIA 0% 13,12 14,00 12,20 13,00 12,75 12,50 12,94 a SACAROSE 2% 13,62 16,25 13,25 14,25 14,12 12,12 13,96 a 4% 14,37 14,12 12,17 14,50 13,75 14,12 13,81 a MÉDIA 13,71 a 14,79 a 12,54 a 13,92 a 13,54 a 12,92 a CV 27.55% Médias seguidas pela mesma letra na linha e na coluna, não diferem pelo teste de tukey a 5%. Nos tratamentos tanto de nitrogênio quanto de sacarose, observou-se um declínio na vida pós-colheita após a melhor dose, seguindo a regressão polinomial quadrática. (Figura 2).
Dias 15 14,5 14 13,5 13 12,5 12 y = -6E-05x 2 + 0,0165x + 13,288 R 2 = 0,8055 0 100 200 300 400 g/l nitrogênio Dias 14,5 14 13,5 y = -1462,5x 2 + 80,25x + 12,94 13 R 2 = 1 12,5 0% 2% 4% sacarose Figura 2. Média do período de sobrevivência das hastes, em função do nitrogênio (à esquerda) e em função a sacarose (à direita) na pós-colheita de Lisianthus. Botucatu, FCA, 2003. Quanto à durabilidade da primeira flor pode-se observar o mesmo comportamento quanto à durabilidade das estacas, onde o melhor tratamento foi obtido na dose de 100 g/l de nitrogênio perfazendo uma média de 10,88 dias até o murchamento das pétalas. Nesta análise pode-se observar também um declínio na durabilidade das flores, indicando que alta dose de nitrogênio durante seu cultivo favorece a senescência na pós-colheita de Lisianthus. Dose de 300 g/l de nitrogênio afetou significativamente no murchamento das pétalas em relação a melhor dose de nitrogênio (Tabela 3). Tabela 3. Durabilidade da primeira flor (dias), do período da abertura a senescência da flor de Lisianthus. Botucatu, UNESP, 2003. NITROGÊNIO (g/l) 50 100 150 200 250 300 MÉDIA 0% 9,38 10,50 9,13 10,00 9,00 8,25 9,38 a SACAROSE 2% 9,75 12,50 9,13 10,63 9,50 8,50 10,00 a 4% 9,88 9,62 10,25 10,88 10,25 10,50 10,23 a MÉDIA 9,67 ab 10,88 a 9,5 ab 10,5 ab 9,58 ab 9,08 b CV 21,58% Médias seguidas pela mesma letra na linha e na coluna, não diferem pelo teste de tukey a 5%. De acordo com os resultados obtidos conclui-se que, durante o manejo, doses acima de 100 g/l de nitrogênio encurtam a vida pós-colheita de Lisianthus cv. Blue Picotee, acelerando a deterioração das flores e estacas. Quanto ao tratamento com sacarose, apesar de não obter resultados significativos, pode-se observar benefícios na utilização de sacarose na solução de pulsing, obtendo em média ganhos de um dia tanto na durabilidade das hastes quanto na durabilidade da primeira flor. Com a interação dos fatores pode-se obter ganhos de até 4,13 dias de durabilidade das hastes em relação ao melhor tratamento, com 16,25 dias de vida pós-colheita (100 g/l de nitrogênio + 2% de sacarose ) e
o pior tratamento, com 12,12 dias de vida pós-colheita (300 g/l de nitrogênio + 2% sacarose). Com este resultado deve-se prosseguir novos estudos com diferentes produtos para otimizar a conservação pós-colheita de flores de corte. LITERATURA CITADA ZACCAI, M. & EDRI, N. Floral transition in lisianthus (Eustoma grandiflorum). Scientia Horticulturae Volume 95, Issue 4, 15 November 2002, Pages 333-340. BLESSINGTON, T. M. Post harvest handling of cut flowers. Cut flower management short course manual. Maryland. 1996. Disponível em: <http://www.agnr.umd.edu/ipmnet/cutpost.htm>. Acesso em: 28 nov. 2003. NOWAK, J., GOSZCZYNSKA, D., RUDNICKI, R. M. Storage of cut flowers and ornamental plants: present status and future prospects. Postharvest News and Information, London, v. 2, n. 4, p. 255-260, 1991. NOWAK, J., MYNETT, K. The effect of sucrose, silver thiosulphate and 8-hydroxyquinoline citrate on the quality of lilium inflorescences at the bud stage and stored at low temperature. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v. 25, p. 299-302, 1985. MAROUSKY, F. J. Inhibition of vascular blockage and increased moisture retention in cut roses induced by ph, 8-hydroxiquinoline citrate and sucrose. J. Amer. Soc. Hort. Sci., Alexandria, v. 96, n. 1, p. 38-41, 1971. BRACKMANN, Auri; BELLÉ, Rogério A.; BORTOLUZZI, Gláucia. Armazenamento de Zinnia elegans jacq. em diferentes temperaturas e soluções conservantes Rev. Bras. de Agrociência, v.4, no 1, 20-25, Jan.-Abr., 1998.