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AGVTE.: INDUSTRIA DE MÓVEIS MOVELAR LTDA. AGVDO.: COMITÊ DE CREDORES RELATOR: O SR. DESEMBARGADOR FÁBIO CLEM DE OLIVEIRA O SR. DESEMBARGADOR ANNIBAL DE REZENDE LIMA (PRESIDENTE):- Neste processo arguo minha suspeição. Transfiro a presidência ao desembargador Arnaldo Santos Souza. O SR. DESEMBARGADOR ARNALDO SANTOS SOUZA (NO EXERCÍCIO DA PRESDÊNCIA):- Com a palavra o eminente Relator. * * R E L A T Ó R I O O SR. DESEMBARGADOR FÁBIO CLEM DE OLIVEIRA (RE- LATOR):- Cuida-se de agravo de instrumento interposto pela Indústria de Móveis Movelar Ltda., contra a decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível e Comercial da Comarca de Linhares, que, em ação de recuperação judicial, indeferiu o pedido de encerramento da recuperação, sob o fundamento de que não foi possível conferir se o plano de recuperação judicial está sendo

cumprido, bem como de que há ações de impugnação de crédito pendentes de julgamento. Sustenta em síntese, que: (1) a Lei de Falências e Recuperação de Empresas prevê o preenchimento de apenas dois requisitos taxativos para que seja decretado o encerramento da recuperação judicial: a) o transcurso de 02 (dois) anos da data da decisão que concedeu a recuperação judicial e b) o cumprimento das obrigações previstas no plano de recuperação durante este período; (2) preenchidos tais requisitos, surge para empresa recuperanda o direito subjetivo ao encerramento da recuperação; (3) comprovou satisfatoriamente o cumprimento das obrigações previstas no plano de recuperação para o primeiro biênio; (4) a inexistência de impugnações de crédito em trâmite não é requisito para o encerramento da recuperação; (5) existem apenas duas impugnações de crédito em trâmite; (6) o eventual acolhimento das aludidas impugnações implicará em irrisória alteração dos créditos atualmente consignados no plano de recuperação; (7) a demora no encerramento da recuperação judicial lhe causa graves prejuízos, na medida em que mantém a pecha de quase falida atribuída às empresas que se encontram em processo de recuperação; e (8) o cumprimento das obrigações previstas no plano de recuperação judicial durante o primeiro biênio demonstra a sua capacidade em dar continuidade às suas atividades empresariais de forma regular. Requer seja o recurso conhecido e provido com a reforma da decisão agravada e a decretação do encerramento da recuperação judicial. Sem contrarrazões, face a ausência de representantes do Comitê de Credores. Vale consignar que o Comitê de Credores foi intimado através da empresa que exercia a sua presidência,

Banco Banestes S/A, todavia, a mesma informou não mais integrá-lo. Não obstante isto, consta da decisão de fls. 284-287, datada de 13 de janeiro de 2012, que o Comitê de Credores pleiteou ao MM. Juiz de 1º Grau a sua extinção, sob o fundamento de que os credores não possuem interesse em participar das questões atinentes ao processo de recuperação judicial. Informações do MM. Juiz de 1º Grau às fls. 288-291, atestando que após a interposição do presente recurso pode constatar que as obrigações previstas no plano de recuperação judicial para o 1º biênio foram integralmente cumpridas. Consta, ainda, que a manutenção do indeferimento do encerramento da recuperação se dá apenas em razão das impugnações de crédito pendentes de julgamento. É o relatório. * V O T O Senhor Presidente. É consabido que o processo de recuperação judicial tem como finalidade precípua reestruturar a situação financeira do empresário ou da sociedade, resguardando a continuidade de suas atividades e a preservação dos empregos dos trabalhadores, como preconizam os princípios da preservação e da função social da empresa. Nesse sentido leciona Sergio Campinho:

A recuperação judicial, segundo perfil que lhe reservou o ordenamento, apresenta-se como um somatório de providências de ordem econômico-financeiras, econômico-produtivas, organizacionais e jurídicas, por meio das quais a capacidade produtiva de uma empresa possa, da melhor forma, ser reestruturada e aproveitada, alcançando uma rentabilidade auto-sustentável, superando, com isso, a situação de crise econômico-financeira em que se encontra seu titular o empresário -, permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego e a composição dos interesses dos credores (cf. art. 47). (Falência e Recuperação de Empresa 3ª edição revista e atualizada conforme a Lei n 11.382/2006, Ed. Renovar, Rio de Janeiro - São Paulo - Recife, 2008, p. 10) Visando a efetivação dos princípios acima mencionados, bem como a composição dos interesses dos credores, a Lei nº 11.101/2005 - Lei de Falências e Recuperação de Empresas, estabeleceu um procedimento pelo qual devem passar as empresas em dificuldade financeira para que possam alcançar, na prática, a desejada recuperação. Referido procedimento prevê, num primeiro momento, que para a instauração do processo de recuperação judicial a empresa deve demonstrar a possibilidade de superação da crise econômico-financeira na qual se encontra. Feito isso, e apresentada a documentação exigida no art. 51, da Lei nº 11.101/2005, o juiz deferirá o

processamento do pedido de recuperação judicial, na forma como determina o art. 52, do aludido diploma legal. Deferido o processamento da recuperação judicial, a empresa recuperanda apresentará o respectivo plano de recuperação, na forma como determina a Lei, passando-se com isto à fase de habilitação e impugnação dos créditos e à aprovação do plano de recuperação pela Assembléia Geral de Credores. Cumpridas essas formalidades, o juiz concederá a recuperação judicial, conforme disposto no art. 58, da Lei nº 11.101/2005, devendo a empresa devedora permanecer em recuperação até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 02 (dois) anos depois da concessão da recuperação, na forma do art. 61, caput, da lei supramencionada. Ressalte-se que o referido art. 58, da Lei nº 11.101/2005, impõe ao juiz a concessão da recuperação nos casos em que não houver objeção ao plano apresentado pela recuperanda, ou mesmo com objeção, nas hipóteses em que o plano tenha sido aprovado pela Assembléia Geral de Credores. Concedida a recuperação judicial, a empresa devedora permanecerá numa espécie de observação judicial por 02 (dois) anos. Findo este prazo, cumpridas as disposições previstas no plano de recuperação para este período, o juiz deverá decretar o encerramento da recuperação, na forma prevista no art. 63, da Lei nº 11.101/2005. Com o encerramento da recuperação, todos os credores cujas obrigações tenham vencimento previsto para o período superior a 02 (dois) anos terão título executivo judicial pelo valor constante no plano de recuperação e, em consequência, poderão executar a dívida ou, caso

queiram, ajuizar a respectiva ação de falência, com fundamento no art. 94, I, da Lei 11.101/2005. Nesse sentido leciona Manoel Justino Bezerra Filho: Presumiu o legislador que o devedor que se submeteu a todos os percalços do pedido de recuperação, que preencheu todas as exigências legais, que cumpriu suas obrigações por dois anos consecutivos, certamente já terá atingido uma situação na qual deverá cumprir todas as demais obrigações assumidas. Dessa forma, após dois anos, mesmo pendentes diversos pagamentos futuros, prevê a lei (art. 63) o encerramento da recuperação judicial desde que todas as obrigações vencidas estejam cumpridas. Neste ponto, a presunção do legislador está correta, pois efetivamente, se pretendesse fazer da recuperação um trampolim para a falência fraudulenta ou para o descumprimento de suas obrigações, certamente não teria cumprido todas as obrigações assumidas, para só descumprir aquelas vencidas após os dois anos previstos. (Lei de Recuperação de Empresas e Falências Comentada, 6ª edição, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2009, pag. 161) Essa descrição do procedimento tem o exclusivo objetivo de demonstrar a regularidade do processo de recuperação, ao qual se submeteu a agravante no presente caso.

Os documentos contidos nos autos, com relevo a decisão que concedeu a recuperação judicial (fls. 122-150), proferida em 11/03/2009, demonstram que a agravante se submeteu a todas as fases do procedimento, tendo o processo de desenvolvido regularmente, na forma como determina a lei. Vale mencionar que a decisão que concedeu a recuperação está respaldada na aprovação do plano de recuperação judicial pela Assembléia Geral de Credores, decisão esta que não foi objeto de recurso. Assim, uma vez concedida a recuperação judicial à agravante, resta apenas aferir o cumprimento das obrigações previstas no plano de recuperação que se venceram nos dois anos seguintes à data da concessão (11/03/2009). E conforme se verifica da ata acostada às fls. 152-162, a Assembléia Geral de Credores, em 01/08/2011, aprovou, por unanimidade de votos, o cumprimento da 1ª etapa do plano de recuperação, reconhecendo que a agravante cumpriu todas as obrigações que venceram durante os 02 (dois) anos subsequentes à aprovação da recuperação. Tal fato é corroborado, ainda, pelas informações prestadas pelo MM. Juiz de Direito de 1º Grau atestando o adimplemento das obrigações previstas no plano durante o 1º biênio (fls. 288-291), restando, por conseguinte, preenchidos os requisitos necessários para o encerramento da recuperação, na forma como prevê o art. 61, da Lei nº 11.101/2005. O fato de haver impugnações de crédito pendentes de julgamento, por si só, não obsta a decretação do encerramento da recuperação. Sabe-se que enquanto não encerrada a recuperação judicial o plano de recuperação pode sofrer alterações,

mesmo após a sua homologação pela Assembléia Geral de Credores. Isto ocorre exatamente para que se possa adequar o plano de recuperação após o julgamento de eventuais impugnações e nos casos de habilitações de crédito retardatárias, como prevê o art. 10, da Lei nº 11.101/2005. Portanto, não há obstáculo legal ou processual para o encerramento da recuperação ainda que as impugnações, eventuais habilitações retardatárias e ações rescisórias não estejam definitivamente julgadas, eis que diferentemente do que pensa o ilustre magistrado prolator da decisão agravada, o encerramento do processo não está vinculado à consolidação do rol de credores. Porque o encerramento decorre de previsão legal, homologa-se o quadro no estado em que se encontra no momento em que verificado o cumprimento das obrigações previstas no plano com vencimento dois anos após a recuperação e encerra-se a recuperação, como forma de eliminar-se as limitações à atividade empresarial. A partir de então, o quadro sofrerá as retificações necessárias de acordo com que as impugnações, como ocorre no caso do autos, eventuais habilitações retardatárias e ações rescisórias forem sendo julgadas, até que se apure o passivo da empresa e garanta-se a proteção do direito dos credores. A postergação ao encerramento da recuperação em virtude da não consolidação do rol de credores mais do que desvirtuar, frustrará a própria finalidade do instituto. Tudo porque, o fato de uma empresa encontrar-se em estado de recuperação judicial é circunstância objetiva que lhe causa uma série de prejuízos decorrentes da perda de confiabilidade junto ao mercado financeiro o

que, se não lhe subtrai por completo, abala-lhe o crédito. E a consequência imediata de operar sem um bom lastro de capital de giro é o fatal comprometimento de sua competitividade face às empresas concorrentes. É possível inferir, inclusive, que sem acesso a crédito bancário a empresa pode ter necessidade de socorrer-se de empréstimos junto a empresas de factgoring, as quais, como é público e notório, disponibilizam créditos a juros expressivamente mais onerosos do que os praticados pela rede bancária. Essa circunstância permite concluir, sem necessidade de qualquer esforço de raciocínio, que ficam sobremaneira agravadas as dificuldades para que a recuperação seja cumprida, eis que é imprescindível e fundamental que a recuperanda tenha capacidade de manter a produtividade, o nível de qualidade da produção e de entregar o produto vendido no tempo exigido pelos compradores. Obviamente que se tiver que pagar juros mais caros a situação momentânea não lhe permite arriscar a obter créditos nos valores suficientes para manter um capital de giro em montante suficiente para operar com sua integral capacidade de produção. Com o intuito de evitar a demora no processamento da recuperação, até porque não há prazo estabelecido para o julgamento das impugnações, a Lei nº 11.101/2005, estabeleceu em seu art. 16, caput, que o juiz determinará, para fins de rateio, a reserva de valor para a satisfação do crédito impugnado. Deste modo, nas hipóteses de impugnações de créditos não decididas antes da aprovação do plano de recuperação, caberá ao juiz determinar a reserva de valor para a satisfação do crédito impugnado em caso de procedência da impugnação.

Não pode, por consequência, submeter a empresa recuperanda a aguardar por prazo indefinido o julgamento das impugnações, para só então encerrar a recuperação, eis que a Lei nº 11.101/2005 não conferiu ao juiz a faculdade de postergar o prazo para o encerramento da recuperação. Pelo contrário, ao prever expressamente que o encerramento da recuperação ocorrerá com o cumprimento das obrigações previstas no plano para o biênio subseguinte à data da concessão da recuperação (Lei nº 11.101/2005, art. 63), lhe impôs a decretação do encerramento nos casos em que preenchidos estes requisitos. E como provado nos autos, a recuperanda tem patrimônio suficiente para garantir o pagamento dos créditos impugnados. Mas enquanto durar a recuperação, não pode, livremente, alienar ou onerar bens ou direitos do seu ativo permanente. Noutra parte, conforme consta nas informações prestadas pelo MM. Juiz de 1º Grau, as ações pendentes de julgamento versam sobre créditos que sequer foram habilitados no plano de recuperação. Assim, ainda que se reconheça a existência dos referidos créditos, os mesmos, na hipótese do encerramento da recuperação, deverão ser executados em consonância com o procedimento previsto no Código de Processo Civil. É que o encerramento da recuperação judicial, a despeito de impedir a habilitação do crédito, não impede que o mesmo seja executado pela via ordinária, procedendo-se a constrição direta do patrimônio da empresa devedora, já que não mais subsistirá a suspensão das execuções individuais prevista no art. 6º, 4º, da Lei nº 11.101/2005.

Dessa circunstância decorre, inclusive, que o encerramento da recuperação, a bem da verdade, vulnera a empresa e beneficia o credor. Cumpre destacar, também, que a despeito da habilitação do crédito ser providência que cabe ao devedor, a este não se impõe, de modo que poderá, a seu critério, aguardar o encerramento da recuperação para prosseguir na busca individual de seu crédito. Nesse sentido vem decidindo o Colendo Superior Tribunal de Justiça, consoante o seguinte precedente: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JU- DICIAL. CRÉDITO SUJEITO À RECUPERAÇÃO. CRÉDITO LÍQUIDO. NÃO INCLUSÃO NO PLANO. HABILITAÇÃO. FACULDADE. IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO INDIVIDUAL DURANTE O TRÂMITE DA RECUPERAÇÃO. 1. Omitido... 2. Omitido... 3. Omitido... 4. A habilitação é providência que cabe ao credor, mas a este não se impõe. Caso decida aguardar o término da recuperação para prosseguir na busca individual de seu crédito, é direito que lhe assegura a Lei. [...]. 5. Omitido... (STJ; CC 114.952; Proc. 2010/0211320-6; SP; Segunda Seção; Rel. Min. Raul Araújo; Julg. 14/09/2011; DJE 26/09/2011) De igual modo os Egrégios Tribunais Regionais do Trabalho, com relação aos créditos trabalhistas que não

foram liquidados a tempo de serem habilitados no processo de recuperação. Vejamos: Recuperação Judicial. Conflito de Competência. Suspensão da execução. O Conflito de Competência de nº 85967-RS (2007/0121842-6), suscitado em 29/05/2007 e somente julgado pelo STJ em 2011, definiu a competência do juízo universal para processar e julgar todos os atos de execução contra a reclamada. Contudo, foi decretado o encerramento da recuperação judicial pelo juízo cível em 22/12/2008. Assim, não há óbice para que a presente execução prossiga nessa justiça especializada, uma vez que o crédito do autor não está previsto no plano de recuperação em andamento. Agravo do autor provido para que se prossiga com a execução. (TRT4ªR. AP 0034500-18.2007.5.04.0291; Oitava Turma; Rel. Juiz Conv. Francisco Rossal de Araújo; Julg. 28/02/2012; DEJTRS 06/03/2012; Pág. 39) AGRAVO DE PETIÇÃO. SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO. ENCERRAMENTO DA RECUPERAÇÃO JU- DICIAL. PROSSEGUIMENTO NA JUSTIÇA DO TRA- BALHO. Encerrado o processo de recuperação judicial sem habilitação do crédito trabalhista líquido, este não se sujeita aos efeitos daquele feito, impondo-se o pros-

seguimento da execução trabalhista nesta Justiça Especializada, em seus ulteriores termos. Agravo provido. (TRT4ªR. AP 0004300-62.2006.5.04.0291; Segunda Turma; Relª Desª Tânia Maciel de Souza; Julg. 26/01/2012; DEJTRS 02/02/2012; Pág. 43) AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO PROFE- RIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA QUE INDEFE- RIU A LIMINAR PLEITEADA. EMPRESA EM RECU- PERAÇÃO JUDICIAL. ENCERRAMENTO DO PROCES- SO DE RECUPERAÇÃO. EXECUÇÃO DIRETA NO PA- TRIMÔNIO DA EXECUTADA. A circunstância do encerramento do processo de recuperação judicial afasta a inscrição do crédito no juízo universal e autoriza a constrição direta no patrimônio da empresa executada, merecendo relevo que a única concessão efetuada pela Lei nº 11.101/2005, que instituiu a recuperação judicial de empresas em substituição à concordata do regime legal anterior, reside na suspensão do processo pelo prazo de 180 dias a contar do respectivo deferimento pelo juiz competente, conforme se observa do art. 6º, 4º do referido diploma legal. Agravo regimental a que se nega provimento para manter o despacho hostilizado. (TRT 6ª R.; Rec. 0000133-06.2010.5.06. 0000; Tribunal Pleno; Relª Desª Virgínia Malta Canavarro; DEJTPE 26/03/2010)

Assim, seja porque não habilitados ou porque pendentes do julgamento de ações de impugnação em que não tenha sido feita a respectiva a reserva de valores, os créditos não previstos no plano de recuperação poderão ser satisfeitos pela via ordinária, observando-se o procedimento previsto no Código de Processo Civil. Ante o exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para decretar o encerramento da recuperação judicial da agravante Indústria de Móveis Movelar Ltda., na forma do art. 63, da Lei nº 11.101/2005, e determinar que: 1) o administrador judicial apresente a prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, bem como o relatório circunstanciado sobre a execução do plano de recuperação, no prazo de 15 (quinze) dias; 2) o MM. Juiz homologue o quadro geral de credores no estado em que se encontra, eis que verificado o cumprimento das obrigações previstas no biênio que se seguiu à concessão da recuperação; 3) o pagamento do saldo de honorários devidos ao administrador judicial, desde que cumpridas as determinações previstas no item "1"; 4) a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; 5) a dissolução do Comitê de Credores; 6) a exoneração do administrador judicial, após o cumprimento das diligências acima determinadas; e 7) seja comunicado à Junta Comercial o encerramento da recuperação. É como voto. * V O T O S O SR. DESEMBARGADOR WILLIAM COUTO GONÇALVES:-

Eminente Presidente, Egrégia Câmara. Interessante o caso trazido a julgamento. Na verdade, a recuperação empresarial que tanto pode ser judicial como extrajudicial, consiste num acordo entre a sociedade empresária devedora e os seus credores. Na verdade, eles fazem um acordo que é expresso, se decorrente de manifestação de assembleia ou pode ser tácito na medida em que publicado o edital de recuperação e o plano de recuperação, os credores concordem com ele. Nesse caso há um acordo tácito. Diferentemente da figura do instituto precedente à recuperação que era a figura da concordata, em que não havia manifestação que era expressa, tácita, dos credores, mas era um instituto que impunha aos credores uma pretensão da parte devedora, desde que deferida pelo juiz, estariam os credores sujeitos e obrigados a atenderem aquela pretensão. Sendo, portanto, a recuperação uma espécie de acordo, é verdade que é um acordo com características interessantes, porque nesse acordo a sociedade empresária é uma parte acordante beneficiada porque traz para o campo das suas possibilidades financeiras e econômicas, traz para o seu próprio campo todos os seus credores, e ali reunidos os credores convencionam uma parte devedora a modalidade para resolverem os problemas financeiros da empresa. Desde que deliberada a recuperação, deferida a recuperação e concedida a recuperação, na verdade, surge uma outra figura que, no meu entender, é um gravame que recai sobre a sociedade empresária. Esse gravame se constitui num óbice de que os credores tomem medidas contra a sociedade empresária du-

rante o período em que estiver vigente aquela recuperação. Portanto, esse gravame protege e bloqueia a empresa, e essa medida de proteção é da exclusiva conveniência da sociedade empresária, tão somente. O que é importante para os credores é que a empresa esteja livre de qualquer proteção jurídica para que eles, credores, a qualquer momento e tempo, tomem quaisquer medidas judiciais que quiserem contra aquela sociedade empresária. Então, quer me parecer que no caso presente, já tendo decorrido o prazo da recuperação, já tendo havido a comprovação do cumprimento da recuperação, pelo que se pode entender, quase que na maioria absoluta, exclusive algumas situações pontuais que são esses créditos que estão sendo discutidos. Mas, pelo que entendi, até a assembleia ja deliberou no sentido de que a recuperação está cumprida. Então, da maneira em que o eminente Relator colocou, a questão está juridicamente perfeita. S.Exª está decretando o cumprimento da recuperação judicial, determinando ao juiz que faça reserva de valores quanto aqueles créditos que estão sendo discutidos. No momento em que se faça reserva de valores desses créditos que estão sendo discutidos, nesse aspecto, nenhum prejuízo aos credores. Mesmo não fossem as reservas de valores, tirando o gravame recuperação, tirando a proteção que tem a empresa na recuperação, o benefício do encerramento da recuperação é em grande parte também para os credores, que podem tomar quaisquer posições contra a empresa porque agora ela está desprotegida do instituto de recuperação. Para a empresa também é bom, porque ela saindo dessa condição de empresa recuperanda, ela reabilita,

naturalmente, em tese, teoricamente, o seu crédito junto da comunidade de empresários e de bancos, naturalmente, com os quais ela se relaciona. Então, de um lado os credores estão protegidos, os credores ficam com todas as possibilidades de tomarem quaisquer medidas judiciais, Ações Executivas ou Ações Ordinárias em desfavor da empresa; a par disso, mesmo assim, o eminente Relator está determinando que se faça reserva de bens para protegerem esses créditos; de outro lado, a empresa ficará liberada para, agora, depois desse período de recuperação em que se oxigenou, quer dizer, tomou um novo folego de vida e que por certo, teoricamente e em tese, há de progredir nos seus projetos empresariais. Então, em tudo e por tudo, é bom para todos. Não vejo outro entendimento que não seja o manifestado pelo eminente Relator, por ser juridicamente perfeito e o de melhor bom senso para a hipotese em julgamento. Acompanho sem qualquer outra observação ao voto no plano objetivo da maneira com que foi colocado. * O SR. DESEMBARGADOR ARNALDO SANTOS SOUZA:- Acompanho o voto do eminente Relator. *

D E C I S Ã O Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. * * * mmv*