AVALIAÇÃO DE CONTUSÕES E FRATURAS EM FRANGOS APÓS O TREINAMENTO DE FUNCIONÁRIOS D.F. Marchi 1, B.C.G. Pereira 2, R.S. Oliveira 2, F.C. Candido 2, G.R.S. Almeida 3 1- Instituto Federal do Paraná-Campus Londrina CEP: 87703-536 Londrina PR Brasil, Fone: +55(43) 9937-2311 e-mail: (denis.marchi@ifpr.edu.br) 2- Discentes do Curso de Licenciatura em Química Instituto Federal do Paraná - Campus Paranavaí CEP: 87703-536 Paranavaí PR Brasil, Fone: +55(44) 3482-0110 e-mail: (rosilene191@hotmail.com, brena_bre@hotmail.com) 3- Docente do Curso de Licenciatura em Química Instituto Federal do Paraná - Campus Paranavaí CEP: 87703-536 Paranavaí PR Brasil, Fone: +55(44) 3482-0110 e-mail: (gleice.almeida@ifpr.edu.br) RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia do treinamento aplicado aos funcionários responsáveis pelas etapas pré-abate de frangos por meio do número de contusões e fraturas observadas nas aves. O experimento foi realizado em um frigorífico localizado na região Noroeste do Paraná. Nos dois primeiros meses, as aves foram submetidas às etapas pré-abate por funcionários não-treinados e, nos dois meses posteriores, após treinamento. O número de contusões e fraturas foi monitorado durante todo o experimento e avaliado pelo teste t-student a 5% de probabilidade empregando o programa STATISTICA 7.0. Os resultados demonstraram diminuição de aproximadamente 30% no número de contusões e fraturas nas aves, após o treinamento dos funcionários, gerando um ganho econômico em torno de 550 mil reais por ano. A implementação do treinamento dos funcionários é uma ótima alternativa para a redução do número de contusões e fraturas em aves, além de proporcionar ganho econômico significativo ao frigorífico. ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the effectiveness of training applied to officials responsible for pre-slaughter stages of chickens by the number of bruises and fractures observed in birds. The experiment was conducted in a refrigerator located in Paraná, Brazil. In the first two months, the birds were subjected to pre-slaughter stages by non-trained employees and within two months later, after training. The number of bruises and fractures was monitored throughout the experiment and evaluated by Student's t-test at 5% probability using STATISTICA 7.0 software. The results showed decrease of approximately 30% in the number of injuries and fractures in birds, after training of employees, generating an economic gain of around 550,000 reais/year. The implementation of employee training is a great alternative to reduce the number of injuries and fractures in birds, in addition to providing significant economic gain to the refrigerator. PALAVRAS-CHAVE: bem estar animal; qualidade; estresse pré-abate. KEY-WORDS: animal welfare, quality, pre-slaughter stress. 1. INTRODUÇÃO Segundo dados preliminares da União Brasileira de Avicultura (UBABEF), a produção brasileira de frangos em 2014 ocupava o terceiro lugar no ranking, detendo 15% de toda produção
mundial. Em 2015, o Brasil atingiu 13,08 milhões de toneladas, volume 6,9 % maior que em 2013, tornando o país o maior exportador de frango (38%), o que gera uma necessidade de melhorias na gestão da cadeia avícola. O modo de criação atual da avicultura de corte em confinamento e em altas densidades constitui um fator de maximização de riscos sanitários, sendo este a maior preocupação de todos os elos da cadeia (Júnior, 2007). Germano e Germano (2001) relataram que o transporte de granjas ao abatedouro é outro fator fundamental. Além disso, as condições climáticas e veículos deixam os animais suscetíveis a contusões e fraturas, tornando-se uma porta de entrada para vários agentes bacterianos (Bressan e Beraquet, 2002). Uma considerável fração das carcaças de frangos é condenada nos matadouros brasileiros, seguindo as determinações legais determinadas pela fiscalização do Serviço de Inspeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), bem como do Controle de Qualidade das Agroindústrias. Tais condenações resultam em perdas parciais ou totais, sendo a primeira mais significativa (Vieira, 2009). As causas mais prováveis de contusões e fraturas devem-se ao manejo de criação, captura das aves, transporte e descarregamento na plataforma, sendo que a porcentagem de contusões e fraturas em razão da apanha, observada por Reali (1994), está em torno de 11%. Tendo em vista a importância da mão-de-obra na redução de contusões e fraturas, é de extrema relevância a realização de treinamentos com os colaboradores envolvidos no processo. Robbins (2002 a,b) relatou que: A maioria dos treinamentos visa à atualização e ao aperfeiçoamento das habilidades técnicas dos funcionários. Percebe-se, desta forma, que o treinamento pode trazer um grande retorno ao profissional e empresa, evitando ou amenizando perdas, além de aumentar a produtividade e garantir o bem estar animal. Portanto, o objetivo deste trabalho foi realizar a implementação de um treinamento aos funcionários responsáveis pelas etapas pré-abate de frangos visando à redução do número de contusões e fraturas das aves e melhoria do bem estar animal. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 1.1. Animais As aves foram cedidas por um frigorífico localizado na região Noroeste do Paraná com capacidade de abate de 135.000 aves/dia. Foram avaliadas as aves abatidas no período de dezembro/2011 a março/2012. Nos meses de dezembro e janeiro, os funcionários não receberam treinamento para realização das etapas pré-abate (manejo, apanha, transporte, recepção e pendura), o qual foi aplicado somente em fevereiro e março de 2011. Durante todo o tempo, o número de contusões e fraturas foi avaliado e comparado em relação ao emprego ou não de treinamento. 1.2. Tratamentos Sem Treinamento (ST): Nesta fase do trabalho, os funcionários realizaram as etapas préabate sem treinamento. Diante disso, foram analisados e identificados diversos procedimentos inadequados, conforme apresentado abaixo: Emprego de força demasiada na pendura. Perturbações causadas por pessoas ao redor da linha: a movimentação de pessoas na área de pendura pode ocasionar aumento do estresse pré-abate.
Falta do apoio do peito da ave no parapeito: instalado em todo percurso da pendura até sangria, o parapeito, reduz significativamente o número de aves com batimento das asas devido à segurança causada pelo contato, o que acalma as aves e diminui a sensação de medo causada pela posição invertida enquanto são levadas para a cuba de insensibilização. Demora na apanha das aves por falta de ajuste na programação: quanto mais durar a apanha, maior o risco de estresse, desidratação e morte das aves no galpão. Apanha das aves pelas duas pernas: esse método consiste em apanhar as aves do chão por ambas as pernas e carregá-las com, no máximo, três aves por mão. É mais rápido que a apanha pelo dorso e exige menor número de pessoas; entretanto, as aves são invertidas e suspensas pelas pernas e há maior estresse, risco de lesões e mortalidade do que na apanha pelo dorso. Fechamento e manejo inadequado das gaiolas de transporte e ajuste da densidade ao peso da ave. Com Treinamento (CT): Após a identificação dos procedimentos inadequados, foi projetado um treinamento em duas etapas, sendo que o problema foi primeiramente exposto de forma teórica. Esta etapa foi realizada com a apresentação de fotos e vídeos, demonstrando as falhas cometidas e expondo a forma correta, além de frisar por meio de dinâmicas e dados estatísticos a importância da realização do procedimento correto. Na segunda etapa foi aplicado um treinamento na prática, demonstrando a forma correta de execução de cada procedimento e, dessa maneira, conseguiu-se corrigir os procedimentos pré-abate inadequados citados anteriormente. Ao pendurar as aves, os funcionários passaram a colocar uma das mãos no dorso das mesmas apoiando-as no parapeito, evitando assim o bater exacerbado das asas. As duas portas de acesso ao setor de pendura foram fechadas, evitando a presença de pessoas no local. A programação foi realizada de forma mais rigorosa e de uma maneira a não prolongar a apanha. Além disso, a mesma passou a ser realizada pelo dorso das aves, um método menos estressante e o mais indicado para redução das lesões. 1.3. Avaliação de Contusões e Fraturas O número de contusões e fraturas foi obtido em linha de produção, avaliando todas as carcaças abatidas, apontamento este realizado pelo Serviço de Inspeção Federal. Na avaliação foram levadas em consideração as fraturas e contusões ocorridas no período de 24 horas que antecederam o abate e ocorridas antes da sangria. Para tanto, foi utilizado o método de diferenciação das cores dos hematomas/contusões, conforme apresentado na Tabela 1. Tabela 01 Diferenciação das cores de hematomas/contusões Idade aproximada da contusão Coloração da contusão 2 minutos Vermelho 12 horas Vermelho arroxeado escuro / Vermelho escuro 24 horas Verde arroxeado claro Para o estudo foram utilizados os dados de dois meses antes da aplicação do treinamento e dois meses após a realização do mesmo.
1.4. Análise Estatística Aos resultados obtidos foi aplicado o teste t-student a 5 % de probabilidade utilizando o programa STATISTICA 7.0. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Tabela 2 apresenta o número de contusões e fraturas das aves nos meses do tratamento ST. Não houve diferenças (p>0,05) entre os meses avaliados, evidenciando que a incidência de contusões e fraturas foi constante por mês antes do treinamento dos funcionários. Tabela 02 Número de contusões e fraturas em aves submetidas às etapas pré-abate por funcionários não treinados Meses Contusões e Fraturas Dezembro/2011 1782 a ± 390 Janeiro/2012 1766 a ± 493 Letras diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste t-student a 5 % de probabilidade. ± Desvio-padão A Tabela 3 apresenta a quantidade de contusões e fraturas das aves nos meses do tratamento CT. Neste caso, também não foram observadas diferenças (p>0,05) entre os meses avaliados, demonstrando uma constância no índice de contusões e fraturas após o treinamento dos funcionários. Tabela 03 Número de contusões e fraturas em aves submetidas às etapas pré-abate por funcionários treinados Meses/Ano Contusões e Fraturas Fevereiro/2012 1203 a ± 338 Merço/2012 1185 a ± 306 Letras diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste t-student a 5 % de probabilidade. ± Desvio-padão Quando o número de contusões e fraturas foi comparado entre os meses em que os funcionários receberam e não receberam treinamento, houve uma redução de aproximadamente 30 % do índice de contusões e fraturas (Tabela 4), o que mostrou a eficácia da aplicação de treinamento. Tabela 04 Número de contusões e fraturas em aves submetidas às etapas pré-abate por funcionários treinados e não treinados
Tratamento Contusões e Fraturas Sem Treinamento 1774 a ± 425 Com Treinamento 1193 b ± 316 Letras diferentes sobrescritas na mesma coluna diferem entre si pelo teste t-student a 5 % de probabilidade. ± Desvio-padão A diminuição do número de contusões e fraturas evidencia uma melhora no bem estar animal, o que provavelmente deve-se à redução do estresse das aves momentos antes do abate e consequente ganho na qualidade da carne (Langer, 2007). Além disso, outro fator importante deve ser considerado. Como uma boa parte das carcaças de frangos é condenada nos frigoríficos e tais condenações resultam em perdas parciais ou totais (Vieira, 2009), a aplicação do treinamento proporcionou ganhos financeiros relevantes ao mesmo. O frigorífico passou a ter um rendimento adicional de aproximadamente 0,4 toneladas por dia de produto, o que representa em torno de R$ 1500,00. Levando em consideração o faturamento mensal e anual, a empresa terá aumento no seu lucro por volta de R$ 45.000,00 e aproximadamente 550 mil reais, respectivamente. 4. CONCLUSÕES A implementação do treinamento aos funcionários é uma ótima alternativa para a diminuição do número de contusões e fraturas, além de melhorar o bem estar animal com consequente redução do estresse pré-abate, promovendo ganhos econômicos ao frigorífico. 5. AGRADECIMENTOS Ao Instituto Federal do Paraná - Campus Paranavaí. 6. REFERÊNCIAS Bressan, M. C. & Beraquet, N. J. (2002). Efeito de Fatores Pré-Abate sobre a Qualidade da Carne de Peito de Frango. Ciência Agrotécnica, 26(5), 1049-1059. Germano, P. M. L. & Germano, M. I. S. (2001). Higiene e Vigilância Sanitária dos Alimentos. São Paulo: Varela. Junior, C. J. (2007). A cadeia da carne de frango: tensões, desafios e oportunidades. BNDES Setorial. 26, 191-232.
Marras, J. P. (2001). Administração de Recursos Humanos: Do Operacional ao Estratégico (4. ed.) São Paulo: Futura. Reali, E. H. (1994). Retirada do lote. Fatores que afetam o rendimento e a qualidade da carcaça. Manejo de Frangos. FACTA, 103-8. Robbins, S. P. (2002)a. Administração: Mudanças e Perspectivas. São Paulo: Saraiva. Robbins, S. P. (2002)b. Comportamento Organizacional. (9. ed.) São Paulo: Prentice Hall. Toledo, F. & Milioni, B. (1986). Dicionário de Recursos Humanos (3. ed.) São Paulo: Atlas. UBABEF União Brasileira de Avicultura. Disponível em: http://www.abef.com.br. Acesso em: 10 dezembro 2012. Vieira S. L. 2009. Condenações em matadouro-frigoríficos de frangos de corte no Brasil. In: Anais do X Simpósio Brasil Sul de Avicultura e I Brasil Sul Poultry Fair, Chapecó, Brasil.