XXII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétri SENDI 2016-07 a 10 de novembro Curitiba - PR - Brasil Fabrício Hoeltz Steffens Monica Patricia Leite Rio Grande Energia SA Rio Grande Energia SA fsteffens@rge-rs.com.br mleite@rge-rs.com.br Reflorestamentos e Educação Ambiental em Territórios Indígenas Palavras-chave Educação Ambiental Reflorestamento Territórios Indígenas Resumo Considerando a importância da execução de reflorestamentos e de atividades de educação ambiental, bem como o cumprimento de exigências legais por parte de concessionárias de distribuição de energia, este projeto se justifica pela eficiência de sua metodologia inovadora e pelos valores agregados nos territórios indígenas da área de concessão da RGE, sendo uma proposta de alternativa para Reposição Florestal Obrigatória (RFO). Este trabalho apresenta as principais diretrizes utilizadas para o desenvolvimento dos projetos de reflorestamento e educação ambiental nestes territórios, desde a definição de ações de educação ambiental, com palestras dirigidas a alunos e entrega de materiais didáticos, até a execução dos plantios de mudas com participação efetiva e espontânea destes alunos. Todas as ações contaram com anuência do IBAMA, que posteriormente respaldou a eficácia da iniciativa através de documento formal. Dentre os aspectos abordados neste trabalho, destacam-se as funções dos reflorestamentos e critérios para uso de espécies nativas, importância de trabalhos de educação ambiental com populações indígenas e procedimentos para a execução dos projetos. Como resultado, destacam-se os 898 alunos e 30 professores de 5 escolas indígenas beneficiadas, materiais de apoio doados para as escolas e a continuidade da iniciativa por parte da RGE. 1. Introdução No contexto deste trabalho, reflorestamentos podem ser definidos como a reintrodução de florestas em seus locais de origem, com o uso de espécies nativas originárias destes locais. Educação ambiental faz parte de um processo pedagógico de construção de conhecimentos, valores sociais e competências no âmbito da conservação do ambiente no qual vivemos. A conciliação destes dois conceitos, através de atividades teóricas e práticas, foi o principal propósito quando este projeto, ainda em fase experimental, teve início no ano de 2011. Atualmente, a metodologia está sendo 1/12
adotada como forma de reposição florestal obrigatória em todos os licenciamentos ambientais para cortes de vegetação realizados pela RGE em territórios indígenas. Sabidamente, territórios indígenas existentes no Estado do Rio Grande do Sul carecem de adequada infraestrutura para as populações. Sob a ótica ambiental, estas áreas também passaram por degradações ao longo dos anos, com fragmentos florestais nativos sendo gradualmente substituídos por culturas agropastoris. Escolas indigenistas não fogem a esta realidade, revelando dificuldades estruturais para transmitir a cultura indígena de conservação ambiental para as atuais e futuras gerações. A necessidade das concessionárias do setor elétrico em executar projetos de reposição florestal obrigatória sempre que se fazem necessários licenciamentos florestais para obras de expansão do sistema, para fins de atendimento à legislação ambiental, vai ao encontro desta oportunidade de agregar valor para comunidades indigenistas, aumentando probabilidades de sucesso dos reflorestamentos, através das ações de educação ambiental nas escolas. O desenvolvimento dessas iniciativas demonstra a proatividade da empresa em termos de alternativas para projetos de reposição florestal, de modo que contemple não somente sua obrigação perante a legislação vigente, mas também seu interesse no desenvolvimento de um sistema para melhor atender os interesses ambientais das diversas comunidades e etnias de sua área de concessão. O presente trabalho tem como objetivo apresentar as principais diretrizes utilizadas para o desenvolvimento dosprojetos integrados de reflorestamento e educação ambiental realizados pela empresa RGE, em parceria com o IBAMA, destacando suas principais potencialidades, benefícios e possibilidades de replicabilidade por demais distribuidoras de energia do país. 2. Desenvolvimento REFLORESTAMENTOS COM ESPÉCIES NATIVAS Para atender às demandas de aumento no consumo de energia, faz parte da rotina das empresas do setor elétrico brasileiro a execução de obras para expansão de seus sistemas, as quais passam por processos de licenciamento junto aos respectivos órgãos ambientais. Nestas obras, ainda que seja evitado, um dos principais impactos ambientais é o corte de árvores nativas. Todos os cortes são registrados e, conforme Decreto Estadual 38.355/98 (RIO GRANDE DO SUL, 1998), devem ser compensados na forma de reposição florestal obrigatória. Cabe destacar do conteúdo desse Decreto, seu Artigo 43, o qual determina que a reposição florestal obrigatória poderá ser viabilizada na forma de recuperação ou ampliação da vegetação componente de florestas ou áreas degradadas, em áreas de preservação permanente, como abrigos e quebra-ventos, na arborização de açudes e barragens, na participação em projetos comunitários e outros de natureza semelhante. Na esfera de projetos comunitários e de recuperação e ampliação da vegetação se insere a iniciativa deste trabalho, com a implementação de reflorestamentos com essências nativas regionais e atividades teóricas e práticas de educação ambiental, junto a populações indígenas. Reflorestamentos são planejados usualmente para fins econômicos através da exploração da madeira e subprodutos florestais, por meio de determinados tipos de manejos. A recuperação de áreas degradadas e o adensamento de áreas florestais consistem em outras modalidades, as quais se aplicam a realidade deste trabalho. Segundo Bacha, As 2/12
florestas podem ser utilizadas de modo a produzir benefícios ecológicos nem sempre comercializáveis, como fonte de ecoturismo e para produzir produtos de base florestal. Para Viana, As florestas produzem diferentes serviços ambientais, dentre os quais destacam-se: o sequestro de carbono para atenuar mudanças do clima, proteção de mananciais de água para abastecimento, conservação de margens de hidrovias, conservação da biodiversidade, fornecimento de polinizadores e inimigos naturais de pragas e doenças para cultivos agrícolas, entre outros. No Brasil, a pesquisa científica de reflorestamentos comerciais com uso de espécies nativas ainda conta com poucos investimentos, porém trabalhos publicados indicam limitações para o uso extensivo de determinadas espécies, em virtude de pragas e fatores climáticos. Portanto, a seleção adequada de espécies para determinados ambientes é fundamental, com diversidade e quantias corretas de cada espécie, pioneiras e secundárias. Além disso, fatores como porte arbóreo, tamanho das copas, presença de flores e frutos, resistência ao clima, crescimento radicular, características morfológicas, índice de fertilidade e profundidade do solo também são vitais para o sucesso do reflorestamento. A tabela 1 apresenta as variedades e respectivas quantias de mudas utilizadas neste projeto: Tabela 1 Lista de espécies utilizadas para os projetos de Reflorestamento e Educação Ambiental em Territórios Indígenas. Os plantios são monitorados pela RGE por quatro anos e tem no mínimo 90% de sobrevivência ao final do período. Lideranças indígenas recebem orientação de proteger os locais contra queimadas e de comunicar a empresa no caso de vandalismos ou avarias com os reflorestamentos. EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM POPULAÇÕES INDÍGENAS 3/12
O principal objetivo da educação ambiental pode ser definido como o desenvolvimento de uma noção sistêmica dos ambientes naturais, em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, científicos, culturais, entre outros. Resumindo, educação ambiental denota a capacidade de uma determinada sociedade de ser consciente em relação ao modo como vive e consome recursos naturais, com vistas a não extrapolar a capacidade do ambiente em oferecer meios de subsistência para futuras gerações. O propósito é o mesmo para diferentes culturas e etnias, incluindo populações indígenas, as quais tem em suas raízes profunda relação com o meio ambiente. Segundo Brand, para os grupos indígenas, a natureza, bem como os animais e as plantas, o mundo sobrenatural e os seres humanos, interagem e se intercomunicam a todo o momento. Porém, com o passar dos anos e frente a uma remodelagem da contextualização indígena no meio social atual, trabalhos de educação ambiental com índios passaram a ter a mesma importância em relação aos demais povos. Para Paredes, na última década, nunca houve tamanha preocupação dos povos indígenas com relação à questão educacional. Faz-se necessária uma maior participação desses povos, em todos os níveis de discussão de uma política educacional própria (específica) que atenda a contento, às expectativas daqueles povos, seja na esfera municipal, estadual ou mesmo federal. Ninguém é melhor do que eles, tanto no conhecimento da realidade local como na definição de estratégias compatíveis com as suas necessidades mais prementes. Desta forma, este projeto serve como modelo de importante ferramenta a ser aplicada com o propósito de atender ao anseio educacional de comunidades indígenas, mesmo que de forma complementar, no tocante a recuperação da qualidade ambiental e do suporte estrutural escolar, na forma de subsídios para professores e diretores das escolas contempladas. PLANEJAMENTO, ATIVIDADES TEÓRICAS E PRÁTICAS O planejamento anual de cada edição do projeto é fator fundamental para o adequado andamento das ações propostas, consistindo essencialmente na definição dos locais para reflorestamentos e das escolas beneficiadas, bem como quanto à contratação de empresa especializada em plantios e materiais didáticos a serem adquiridos. Anteriormente aos reflorestamentos com espécies nativas, ocorrem atividades teóricas nas escolas indígenas, com amplo envolvimento de docentes e alunos. Por atividades teóricas, entende-se como o conjunto de ações de educação ambiental preparatórias para as atividades práticas, estas, envolvendo essencialmente os plantios das mudas, também com participação das escolas. Tabela 2 Detalhamento de atividades. 4/12
A definição da quantidade de mudas a serem plantadas também ocorre na etapa de planejamento, sendo que essa quantia considera o número de árvores nativas cortadas nas obras de melhoria e expansão do sistema da RGE em territórios indígenas. O cálculo ocorre conforme as diretrizes estabelecidas pelo Decreto Estadual 38.355/94, o qual determina, em seu Artigo 29, que a reposição florestal deverá ser efetuada na base de quinze mudas de espécies nativas para cada árvore adulta suprimida, incluindo ainda, a soma da reposição proveniente dos serviços de roçadas ou 5/12
descapoeiramentos. As técnicas de reflorestamentos utilizadas são as convencionais, com mudas possuindo em torno de 20 a 30 centímetros de altura e espaçamentos entre mudas de 5 metros. O controle de formigas utiliza formicidas orgânicos naturais, com baixo impacto ambiental associado. A adubação confere dosagens de nitrogênio, fósforo e potássio. Os tutores utilizados recebem pinturas com tinta branca em suas extremidades, a fim de facilitar a visualização das mudas no campo. A definição das espécies obedece a critérios estéticos, ambientais e de sobrevivência das mudas, com sortimentos de espécies pioneiras, frutíferas e paisagísticas. 3. Conclusões Através da implantação dos projetos de reflorestamentos e educação ambiental por parte da concessionária RGE, a reposição florestal obrigatória referente aos cortes de árvores nativas em obras ligadas ao seu sistema, é atendida conforme exigido pela legislação vigente. Mais do que isso, seus benefícios já citados anteriormente tornam-se potencializados. Levando-se em consideração as costumeiras dificuldades de êxito em projetos de reposição florestal, seja por fatores climáticos, biológicos ou até mesmo por vandalismos, tem-se uma alternativa eficiente para estas demandas no âmbito do setor elétrico brasileiro. Além dos ganhos ambientais diretos, possibilidades de ganhos em imagem ambiental das empresas também são proporcionadas, junto aos clientes e sociedade em geral. Pode-se afirmar que os trabalhos de educação ambiental e sinergia junto às escolas contempladas, são essenciais para o sucesso do projeto. A participação dos alunos nos trabalhos teóricos e nos plantios, com identificação de seus nomes junto aos caules das mudas, é fundamental para que haja consistente comprometimento e interesse das comunidades indígenas. Ainda, tais atividades, que vão além do simples cumprimento de demandas legais, não oneram significativamente a empresa, sobretudo por que futuramente trabalhos de replantio de mudas acabam tornando-se desnecessários. Evidencia-se ainda, o grande potencial de replicabilidade dos projetos para outras situações e locais, permitindo que demais concessionárias de energia também executem ações similares, levando-se em conta questões edafoclimáticas e fitogeográficas, além de peculiaridades regionais. Por fim, a RGE tem como objetivo para os próximos anos manter esta metodologia de reposição florestal em territórios indígenas, tendo em vista a respectiva eficiência dos projetos, reconhecidos inclusive pelo órgão ambiental federal que licencia obras para expansão de seu sistema nestes locais. A Tabela 3 apresenta os principais resultados obtidos, divididos por território indígena e escolas beneficiadas. Tabela 3 Principais resultados. 6/12
A seguir, segue soma detalhada dos resultados obtidos ao longo das edições do projeto: 4.805 mudas de 11 espécies de árvores nativas plantadas em áreas indígenas, totalizando aproximadamente 4 campos de futebol oficiais reflorestados até o momento; 898 alunos e 30 professores de 5 escolas indígenas envolvidos com os trabalhos de reflorestamento e/ou educação ambiental; 900 cartilhas; 60 cartazes; 300 bottons; 900 canetas e 5 manuais de arborização entregues para trabalhos de pedagogia ambiental nas escolas; Reflorestamentos em territórios indígenas abrangeram locais de áreas de preservação permanente (APPs); centros esportivos; praças centrais e áreas de lazer; Divulgação na mídia regional sobre as ações de reflorestamento e educação ambiental atraiu o interesse de outras entidades para futuras parcerias; Ampla aceitação e comprometimento das comunidades envolvidas demonstraram que a metodologia empregada no projeto é eficaz para os resultados pretendidos; Êxito na execução do projeto viabiliza a continuidade dos trabalhos nos anos subseqüentes. A seguir, são ilustradas algumas das principais atividades desenvolvidas no projeto: 7/12
Figura 1: Muda plantada por aluno indígena sob supervisão técnica da RGE, com respectiva identificação no caule. 8/12
Figura 2: Plantio demonstrativo realizado pela RGE. Figura 3: Alunos realizando plantios sob supervisão técnica de consultores ambientais da RGE. 9/12
Figura 4: Abertura de atividades de educação ambiental na Escola Kaigang Cacique Sy Gre. 10/12
Figura 5: Declaração do IBAMA atestando a eficiência do projeto de reposição florestal obrigatória. (*) As imagens utilizadas neste projeto receberam prévia autorização para coleta e divulgação, por parte das lideranças indígenas locais. 4. Referências bibliográficas BACHA, C.J. Caetano. O Uso de Recursos Florestais e as Políticas Econômicas Brasileiras Uma Visão Histórica e Parcial de um Processo de Desenvolvimento. Revista Estudos Econômicos: Volume 34. São Paulo. 2004. P.393-426. 11/12
BRAND, Antonio Jacó. Interculturalidade e Desenvolvimento Local: a problemática da subsistência econômica das sociedades indígenas em MS. Campo Grande: UCDB, 1999. BRASIL. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Decreto Estadual 38.355 de 1 de Abril de 1998. Estabelece as normas básicas para o manejo dos recursos florestais nativos do Estado do Rio Grande do Sul de acordo com a legislação vigente. Disponível em: <http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/legislacao/id591.htm>. Acesso em: 8 de Março de 2012. PAREDES, A.B. Pereira. A Educação Ambiental em Comunidade Indígena Terena: A percepção de alunos e professores visando o Desenvolvimento Local na Aldeia Lagoinha. Aquidauana: Universidade Católica Dom Bosco, 2008. VIANA, V. M. As florestas brasileiras e os desafios do desenvolvimento sustentável: manejo, certificação e políticas públicas apropriadas. 2002. Tese (Livre-Docência), ESALQ/USP, Piracicaba. 12/12