EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) PROCURADOR(A)- CHEFE DA PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO (SP). PAULO TEIXEIRA, brasileiro, casado, advogado, no exercício do mandato de Deputado Federal, com endereço na Câmara dos Deputados Anexo IV - Gabinete nº 281, vem à ilustrada presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 5º, XLII, 109 e 129 da Constituição Federal, além de dispositivos da lei nº 7.716, de 1989 e artigo 140, 3º do Código Penal, propor a presente REPRESENTAÇÃO pugnando para que esse órgão do Ministério Público Federal, no exercício de seu mister legal e constitucional adote as providências legais julgadas pertinentes com vistas a melhor apurar e buscar a punição dos responsáveis pela prática de crime contra a brasileira Silvia Novais,
recentemente eleita Miss Itália no mundo, tudo conforme os fatos e fundamentos abaixo delineados. 1 Breve síntese dos fatos. Com efeito, no último dia 3 de julho do ano em curso, a brasileira Silvia Novais sagrou-se vencedora do concurso de Miss Itália no Mundo, realizado em Reggio Calábria, no sul da Itália. Ato contínuo ao resultado do certame, a cidadã nacional passou a sofrer ataques racistas em vários sites internacionais, inclusive de fundamentação neonazista, dentre os quais se destaca o denominado stormfront.org. A situação assume maior gravidade na medida em que essas ofensas tiveram a imediata adesão de diversos nacionais residentes no País, que passaram a repercutir em redes sociais e sites diversos as imprecações ofensivas dirigidas à brasileira, conforme demonstram algumas das matérias selecionadas pelo ora Representante. II Da prática de crime. Ora, conquanto as notícias já indiquem que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de São Paulo já investiga o caso e a atuação de alguns desses grupos criminosos, entende o Parlamentar Representante que a hipótese veicula um crime transnacional, que deva merecer uma atenção especial do Estado 2
brasileiro, na perspectiva de buscar a responsabilização de quaisquer nacionais que adiram e façam repercutir condutas da espécie, além de atuar juntamente com as autoridades internacionais com vistas a combater sem tréguas os grupos criminosos que praticam de forma odiosa a intolerância e a discriminação contra seres humanos. Ora, a prática da discriminação racial em quaisquer de suas modalidades é expressamente vedada pela Carta da República e pela legislação infraconstitucional. Os motivos de tais ações estão associados a uma torpe concepção arcaica de que o valor e as qualidades de uma pessoa podem ser mensurados pela cor de sua pele, o que evidentemente não encontra e não deve encontrar guarida no atual desenvolvimento da sociedade mundial e dos Estados democráticos. Não é por outra razão que a Conferência Mundial sobre direitos humanos, ao delinear a Declaração e Programa de Ação de Viena, em 1993, deixou expresso em seu artigo 15 o seguinte, verbis: 15. O respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem distinções de qualquer espécie, é uma norma fundamental do direito internacional na área dos direitos humanos. A eliminação rápida e abrangente de todas as formas de racismo e discriminação racial, de xenofobia e de intolerância associadas a esses comportamentos deve ser uma tarefa prioritária para a comunidade internacional. Os Governos devem tomar medidas eficazes para prevenilas e combate-las. 3
É importante afirmar que não se aplicam na espécie nem aos nacionais e nem aos estrangeiros responsáveis pelas ofensas objeto da presente representação, a garantia constitucional da liberdade de expressão prevista no artigo 5º, incisos IV, VI e IX da Carta Fundamental. Na verdade, nenhuma garantia constitucional pode ser tida como absoluta, em face de outros valores também protegidos pela Constitucional Federal, como a igualdade e a dignidade humana. Não é por outro motivo que o texto constitucional de 1988 tem o racismo como crime inafiançável e imprescritível (artigo 5º, XLII, CF), além de determinar que o legislador infraconstitucional estabeleça outras formas de repressão a manifestações discriminatórias. Não é por outra razão que o artigo 20, da Lei 7.716/89 garante proteção a grupo de pessoas, ao tipificar como crime a prática de racismo. Definido por Guilherme de Souza Nucci como o pensamento voltado à existência de divisão dentre seres humanos, constituindo alguns seres superiores, por qualquer pretensa virtude ou qualidade, aleatoriamente eleita, a outros, cultivando-se um objetivo segregacionista, apartando-se a sociedade em camadas e extratos, merecedores de vivência distinta. (Leis Penais e Processuais Penais comentadas, SP:RT, 2006, p. 221). Como se observa, é imperioso que esse órgão do Ministério Público Federal, juntamente com a Polícia Federal e a Polícia Estadual adotem todas as medidas cabíveis que permitam identificar e punir, no 4
plano nacional e internacional, os responsáveis pela ação criminosa ora noticiada. De mais a mais, é fundamental que o Estado brasileiro adote medidas urgentes com vistas a buscar aperfeiçoar os sistemas de cooperação com outras nações democráticas, visando a repressão dessas ações que maculam a própria existência humana. III Do Pedido. Face ao exposto, é a presente para solicitar que esse órgão do Ministério Público Federal adote todas as providências legais para identificar e punir os nacionais responsáveis pelos crimes noticiados na presente e, também, promova as medidas necessárias para em colaboração com as autoridades internacionais seja possível identificar e desmantelar as ações de grupos criminosos responsáveis pelas práticas descritas nesta Representação. Termos em que Pede e espera deferimento. São Paulo (SP), 22 de julho de 2011. Paulo Teixeira Deputado Federal PT/SP 5
À Sua Excelência, a Senhora Dra. Anamara Osório Silva Procuradora Chefe da República no Estado de São Paulo (SP) Rua Peixoto Gomide, 768 Bairro Cerqueira Cesar 01409-904 São Paulo (SP) 6