EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, DR. ROBERTO MONTEIRO GURGEL SANTOS:

Transcrição

1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, DR. ROBERTO MONTEIRO GURGEL SANTOS: JOÃO ALMEIDA, brasileiro, geólogo, Deputado Federal pelo PSDB/BA, com endereço funcional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 452 ( ), Brasília DF; RAUL JUNGMANN, brasileiro, consultor, Deputado Federal pelo PPS/PE, com endereço funcional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 637 ( ), Brasília DF; CÁSSIO TANIGUCHI, brasileiro, engenheiro eletrônico, Deputado Federal pelo DEM/PR, com endereço funcional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 513 ( ), Brasília DF; e GUSTAVO FRUET, brasileiro, advogado, Deputado Federal pelo PSDB/PR, com endereço funcional na Câmara dos Deputados, Anexo IV, Gabinete 821 ( ), Brasília DF; vêm, respeitosamente, com fundamento na alínea a do inciso XXXIV do art. 5º e no art. 37, caput, da Constituição Federal, solicitar a Vossa Excelência a adoção das providências cabíveis a respeito de graves fatos, amplamente divulgados na imprensa nacional, relacionados à quebra dos sigilos fiscais de lideranças Partido da Social Democracia Brasileira PSDB, como narrado a seguir. Segundo notícia veiculada, em , pelo jornal Folha de S. Paulo, membros da equipe de campanha da então pré-candidata do Partido dos Trabalhadores PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, produziram um dossiê contendo dados fiscais e financeiros sigilosos do Vice-Presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

2 Tal conduta é narrada com detalhes na matéria em questão, tendo sido posteriormente confirmada pela própria Receita Federal do Brasil, que instaurou um processo administrativo para investigar os responsáveis pela quebra de sigilo fiscal do dirigente do PSDB. Em 14 de julho de 2010, o Secretário da Receita Federal do Brasil, Otacílio Cartaxo, compareceu ao Congresso Nacional, em audiência pública no Senado Federal, para esclarecer os fatos em questão, tendo confirmado a quebra do sigilo e afirmado, expressamente, que tinha conhecimento dos responsáveis pela irregularidade, bem como sabia quando e como acessaram os dados: sei o nome deles, onde estão lotados, o dia, a hora e a máquina que utilizaram, entretanto os dados estão protegidos pelo sigilo. Recusou-se, porém, a informar maiores detalhes, alegando o sigilo que incidia sobre as investigações. De qualquer forma, os esclarecimentos do Secretário da Receita aos congressistas desde logo transformaram a denúncia da imprensa em certeza de ilícito. A simples suspeita de cometimento de um crime, com as confirmações da própria Receita Federal do Brasil, evoluiu para a comprovação de uma conduta criminosa de alta gravidade, impondo-se, então, a necessária apuração dos responsáveis e a imposição da respectiva punição. Entretanto, apesar de todos os dados já serem de conhecimento da Receita Federal do Brasil quando das declarações do Secretário Cartaxo ao Congresso Nacional, as investigações tornaram-se extremamente morosas, tendo a autoridade processante fixado prazo por demais longo para a divulgação de seus resultados. Ante esse quadro, a vítima do crime em questão, Eduardo Jorge Caldas Pereira, obteve em juízo a autorização para ter acesso aos documentos que compõem a investigação da Receita Federal. Na decisão que deferiu o pedido do Vice-Presidente do PSDB, o Juiz Federal Antonio Claudio

3 Macedo da Silva destacou o comprometimento do aparato burocrático do Estado no caso. A gravidade dos fatos sob enfoque foi realçada com a divulgação, no dia de ontem, 25 de agosto de 2010, de que outros três sigilos fiscais foram quebrados por meio da utilização do mesmo computador e da mesma senha utilizados para a quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira. Na verdade, 16 minutos após a violação do sigilo do Vice- Presidente do PSDB, foram irregularmente acessados os dados fiscais do ex- Ministro das Comunicações do Governo de Fernando Henrique Cardoso Luiz Carlos Mendonça de Barros, do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio e de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. A comprovação dessas novas quebras irregulares de sigilo, como anteriormente afirmado, deram nova repercussão aos fatos anteriores. O quadro que de início caracterizava um crime individual alterou-se para uma situação de crime coletivo, dirigido não a causar danos a um indivíduo, mas sim a um conjunto de pessoas, as quais se encontram ligadas por um nexo objetivo: todos são ligados a uma campanha oposicionista à Presidência da República. O ato supostamente isolado passou a revestir a natureza de verdadeira conspiração, voltada a utilizar o aparato do Estado para constranger membros da oposição ao Governo atual e, numa perspectiva ainda mais danosa, influir no resultado das eleições presidenciais que se desenrolam. Os poucos dados até agora apurados ou até agora divulgados, tendo em vista que a investigação da Receita Federal já se estendeu bastante permitem identificar uma ligação clara entre indivíduos ligados à

4 campanha da candidata petista à Presidência da República, servidores da Receita Federal e a prática de atos criminosos, com motivação explicitamente política e eleitoral. A apuração da real dimensão dos fatos acima narrados pode levar à caracterização do envolvimento de diferentes escalões da Administração Pública federal e da direção partidária governista, não se restringindo a simples indicação dos servidores que agiram de modo ilícito. Há necessidade de se apurar o porquê dessas ações e sob que ordens foram os dados violados, identificandose a extensão real da cadeia criminosa que efetuou, com sistematicidade, a violação dos sigilos fiscais acima indicados. Os fatos relatados, ademais de indicarem, entre outros crimes, a prática de quebra de sigilo, caracterizam no mínimo o cometimento de prevaricação por parte dos servidores diretamente responsáveis pelas quebras, mas também o que é mais grave a mesma conduta ilícita por parte de autoridades hierarquicamente superiores que as tenham ordenado ou que com elas tenham sido condescentendes. Por outro lado, além de crime, é possível identificar atos de improbidade administrativa a serem imputados às autoridades acima indicadas, em especial no que toca ao desrespeito aos princípios constitucionais da administração pública, uma vez que a conduta dos servidores e de seus superiores motivada que foi por interesses partidários viola os princípios constitucionais da legalidade, da moralidade administrativa e da impessoalidade. E mais, estando o país em período eleitoral, no qual seriam utilizados os dados obtidos por meio dessas quebras ilícitas de sigilo, as condutas acima narradas podem, ainda, configurar crimes eleitorais e condutas vedadas a agentes públicos em época de eleições; com conseqüências drásticas para a candidatura que seria beneficiada pelos crimes.

5 Finalmente, ante a clara interferência política no desempenho das atividades da Receita Federal, apresenta-se como imprescindível a apuração de fatos tão graves pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público Eleitoral, instâncias não subordinadas ao Poder Executivo, em especial ao Ministro da Fazenda e à Receita Federal do Brasil, e, portanto, livre de suas deletérias ingerências. Ante o exposto, requerem os representantes: a) a instauração do competente procedimento investigatório, para apuração dos crimes comuns e eleitorais acima descritos; b) a instauração de inquérito civil público para a elucidação dos fatos e a conseqüente formalização de ação de improbidade administrativa contra os envolvidos; c) a designação de um Procurador da República para acompanhar as investigações que se desenvolvem junto à Receita Federal do Brasil; d) a adoção de todas as demais providências que Vossa Excelência considerar necessárias à defesa da ordem constitucional vigente e do Estado de Direito, gravemente ameaçados por condutas como as narradas na presente peça. Termos em que, pedem deferimento. Brasília, 26 de agosto de Deputado Federal RAUL JUNGMANN Deputado Federal JOÃO ALMEIDA Deputado Federal CASSIO TANIGUCHI Deputado Federal GUSTAVO FRUET