Avaliação da contaminação por parasitas zoonóticos em praças públicas da cidade de Muriaé (MG)

Documentos relacionados
PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA MEDICINA VETERINÁRIA

PESQUISA DE LARVAS E OVOS DE ANCILOSTOMÍDEOS EM LOCAIS PÚBLICOS DE SERINGUEIRAS, RONDÔNIA.

PESQUISA DE ENDOPARASITAS EM CÃES DE COMPANHIA NA REGIÃO DE ÁGUAS CLARAS-DF

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR PARASITAS EM UM ESPAÇO PÚBLICO DE LAZER DO MUNICÍPIO DE NOVO ITACOLOMI, PARANÁ, BRASIL

ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0167

Toxocara canis Toxocara cati

Contaminação por fezes caninas das praças públicas de Cuiabá, Mato Grosso

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR PARASITAS POTÊNCIAIS CAUSADORES DE ZOONOSES EM ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER EM APUCARANA, PARANÁ, BRASIL

INVESTIGAÇÃO SOROEPIDEMIOLÓGICA SOBRE A LARVA MIGRANS VISCERAL POR TOXOCARA CANIS EM USUÁRIOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE GOIÂNIA GO

PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM GATOS DOMÉSTICOS JOVENS COM DIARREIA PREVALENCE OF INTESTINAL PARASITES IN YOUNG DOMESTIC CATS WITH DIARRHEA

OCORRÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM ALUNOS DE DUAS ESCOLAS NO DISTRITO DE ITAIACOCA EM PONTA GROSSA - PARANÁ

CONTAMINAÇÃO DO SOLO POR OVOS DE ANCYLOSTOMA SPP. EM PRAÇAS PÚBLICAS, NA CIDADE DE SANTA MARIA, RS, BRASIL1

Características gerais

PREVALÊNCIA DE PARASITAS GASTROINTESTINAIS EM AMOSTRAS DE FEZES CANINAS ANALISADAS NA REGIÃO DA BAIXADA SANTISTA SP

Ocorrência de parasitos zoonóticos em fezes de cães provenientes de uma entrequadra da asa norte de Brasília, DF

VERMINOSES. Professor BELLINATI BIOLOGIA

CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA COORDENADORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

As parasitoses intestinais são doenças cujos agentes CONTAMINAÇÂO DO SOLO POR PARASITAS E OCORRÊNCIA DE DOENÇAS INTESTINAIS

Ocorrência de parasitos com potencial zoonótico em áreas de feiras públicas da cidade de Manaus, AM

Avaliação da ocorrência de formas parasitárias no solo de praças públicas do município de Esteio (RS)

Ocorrência de parasitos com potencial zoonótico em áreas de feiras públicas da cidade de Manaus, AM

ESTUDO DE PARASITAS INTESTINAIS CANINOS PROVENIENTES DE CÃES HOSPEDADOS NO CANIL E ESCOLA EMANUEL, MARINGÁ-PR

Pesquisa de parasitas em gramados de vias públicas de Maringá, Paraná

EDUCAÇÃO PREVENTIVA DA ANCILOSTOMÍASE ABORDANDO ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS EM ESCOLA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

Incidência de endoparasitos de caráter... INCIDÊNCIA DE ENDOPARASITOS DE CARÁTER ZOONÓTICO EM LOCAIS PÚBLICOS NA CIDADE DE VIÇOSA MINAS GERAIS1

Relações Parasitas e Hospedeiros. Aula 03 Profº Ricardo Dalla Zanna

ÍNDICE DE CONTAMINAÇÃO DO SOLO POR OVOS DOS PRINCIPAIS NEMATÓIDES DE CANINOS NAS PRAÇAS PÚBLICAS DA CIDADE DE URUGUAIANA RS, BRASIL.

TENÍASE Homem: Boi ou porco: Contaminação: Sintomas: Tratamento: Profilaxia:

Palavras-chave: parasitos, gatos, ocorrência Keywords: parasites, cats, occurrence

OCORRÊNCIA DE PARASITAS COM POTENCIAL ZOONÓTICO EM FEZES DE CÃES COLETADAS EM VIAS PÚBLICAS DA CIDADE DE NATAL

Bem-vindo a casa. Um gatinho bateu à vossa porta Terão já tudo pronto para ele? PTCAHMIL00090

SISTEMA BOM JESUS DE ENSINO COORDENAÇÃO DE BIOLOGIA CEP CURITIBA PR

ENTEROPARASITOSES COMO FATOR DE INTERFERÊNCIA NEGATIVA NOS PROCESSOS EDUCATIVOS DE ESCOLAS DA ZONA URBANA DE SANTANA DO IPANEMA, AL.

ENTEROPARASITOS EM CÃES DOS MUNICÍPIOS DE CANOINHAS E TRÊS BARRAS, SC 1 Daniela Pedrassani 2

É o processo pelo qual o solo vai se esgotando (perdendo nutrientes). Esta degradação do solo pode ser causada por fatores naturais ou por

DOENÇAS INFECCIOSAS DE CÃES

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

4º FILO - NEMATELMINTOS

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade B Apresentação de resultados de ações e/ou atividades

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. OUTRAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Aula 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Atividade do Bicho-geográfico : Importância e Prevenção da Larva Migrans Cutânea. (Projeto Mini-hospital Veterinário UFPR)

Contaminação enteroparasitária em cédulas de dinheiro provenientes das cantinas de um Centro de Educação Superior em Belo Horizonte Minas Gerais.

PREVALÊNCIA DE GIARDIA LAMBLIA NA CIDADE DE BURITAMA ESTADO DE SÃO PAULO

Numerosas espécies apresentam vida livre, porém muitas são parasitas de plantas e animais.

FREQUENCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS DE CINCO INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO DE PONTA GROSSA PR DURANTE OS ANOS DE 2014 A 2016

ISSN Contaminação do solo de áreas de recreação...

PREVALÊNCIA DE PARASITOSES EM PACIENTES ATENDIDOS EM LABORATÓRIOS DE PALMAS (TOCANTINS)

HIMENOLEPÍASE RA:

Resumo teórico: Saiba mais sobre as verminoses

Giardíase Giardia lamblia

PREVENÇÃO DE ENTEROPARASITOS EM CRIANÇAS E MANIPULADORES DE ALIMENTOS EM CRECHES DA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB - PROBEX 2012

OS HELMINTOS CONSTITUEM UM GRUPO MUITO NUMEROSO DE ANIMAIS, INCLUINDO ESPÉCIES DE VIDA LIVRE E DE VIDA PARASITÁRIA

PREVALÊNCIA DE PARASITISMO EM CÃES DOMICILIADOS NUM BAIRRO DE SANTA MARIA - RS

PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOS EM ESCOLARES DA REGIÃO DE PONTA GROSSA PARANÁ,

Ancilostomíase e. Larva migrans 02/09/2016. Parasitose de veiculada por penetração ativa. Características gerais da doença

Nematódeos. O nome vem da palavra grega nema, que significa fio.

CONTAMINAÇÃO DO SOLO DE PRAÇAS DE CONJUNTOS HABITACIONAIS POR HELMINTOS E PROTOZOÁRIOS EM PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

OCORRÊNCIA DE PARASITAS ZOONÓTICOS EM PRAÇAS DA CIDADE DE QUIRINÓPOLIS-GO

PARASITOLOGIA MÉDICA. Diogo Parente

Reino Animal Filo Nematelmintos. Turma: 7 C Professora: Mariana Mello

Estrongiloidíase. - São 52 espécies pertencentes à família Strongyloididae, mas apenas o S. stercoralis é patogênico para o homem.

PLANO DE CURSO 3 PERÍODO ANO:

FACULDADE UNIÃO DE GOYAZES CURSO DE BIOMEDICINA CONTAMINAÇÃO DE PRAÇAS PÚBLICAS POR PARASITOS NO MUNICÍPIO DE ANICUNS, GOIÁS, BRASIL


ENTEROPARASITOS DE CÃES ERRANTES DA ZONA URBANA DOS MUNICÍPIOS DE ÁGUA DOCE, IRANI, JOAÇABA, PONTE SERRADA E TREZE TÍLIAS, SANTA CATARINA, BRASIL

OCORRÊNCIA DE PARASITAS ZOONÓTICOS NO SOLO DE PRAÇAS PÚBLICAS DA CIDADE DE BENTO GONÇALVES, RIO GRANDE DO SUL

Bem-vindo a casa. Terão já tudo pronto para ele? Um cachorro bateu à vossa porta PTCACMIL00089

CADERNO DE EXERCÍCIOS 1D

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA CÓDIGO DISCIPLINA REQUISITOS BIO 405 PARASITOLOGIA HUMANA --

EM UMA COMUNIDADE DO LESTE MINEIRO

Archives of Veterinary Science, v.13, n.2, p , 2008 ISSN X

Classe Nematoda. Ascaridíase

Plateomintos achatados. Nematelmintos cilíndricos

Eloísa da Silva* Mônica Frighetto** Nei Carlos Santin***

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

PESQUISA DE OVOS DE PARASITAS EM PARQUES E PRAÇAS PÚBLICAS DE SÃO PAULO *

Filo Nematelmintos. O tamanho corporal varia de poucos milímetros ate 8m!

INCIDÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE UMA COMUNIDADE NAS PROXIMIDADES DE UM AÇUDE NO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ

Nematódeos. cutânea. - infecção muco-cutânea. Classificação

Apostila de Parasitologia Humana Parte II Helmintos

Paróquia Nossa Senhora de Lourdes PROPONENTE: PARÓQUIA N. SRA. DE LOURDES - PE. NATAL BRAMBILLA

Principais helmintos intestinais em cães no Brasil

Curso de Farmácia EMENTA DE DISCIPLINA

PARASITOLOGIA CLÍNICA

Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

Questões Parasitologia- 1ª Prova

FREQUÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM CRIANÇAS E MANIPULADORES DE ALIMENTOS NO CREI SANTA CLARA (CASTELO BRANCO) NA CIDADE DE JOÃO PESSOA-PB.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA Tel (62) FAX

PREVALENCIA DE ENDOPARASITOS EM CÃES DA REGIÃO D E UBERLÂNDIA, M INAS GERAIS

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PARASITOLOGIA

LEVANTAMENTO DA CONTAMINAÇÃO DE ENTEROPARASITAS NA ALFACE (LACTUCA SATIVA) VENDIDAS NA CIDADE DE IJUI/RS 1

Curso de Farmácia EMENTA DE DISCIPLINA

Curso de Farmácia EMENTA DE DISCIPLINA

Biologia Professor Vianna 2ª série / 1º trimestre

Prevalência de parasitas intestinais em crianças de Descanso Santa Catarina Brasil

11 CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

¹ Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da PUCRS Uruguaiana, BR-472 Km 07, s/n, , Uruguaiana, RS, Brasil.

Aspectos epidemiológicos das parasitoses intestinais

Transcrição:

Avaliação da contaminação por parasitas zoonóticos em praças públicas da cidade de Muriaé (MG) Jandeli de Andrade Rosa SANTOS¹ (jandely27@hotmail.com); Leonardo Jacinto VIEIRA¹, Graziela Aparecida CARVALHO¹, Fernanda Mara FERNANDES² 1. Graduandos do Curso de Biomedicina do Centro Universitário UNIFAMINAS, Muriaé (MG). 2. Doutora em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa (MG); docente no UNIFAMINAS, Muriaé (MG). RESUMO: Praças públicas com livre acesso a animais como cães e gatos podem apresentar o solo infectado por parasitas veiculando doenças aos seres humanos. A pesquisa teve por objetivo avaliar a contaminação por parasitas zoonóticos em praças públicas da cidade de Muriaé (MG). Foi utilizado o método de sedimentação espontânea Hoffmann Pons Janer (HPJ) para análise parasitológica das amostras colhidas em 5 praças localizadas no município. Foi observada a presença de larvas de Ancilostoma ssp (75%), ovos embrionados de Toxocara ssp (25%). Os resultados representam a contaminação desses ambientes e alertam para o risco de propagação de doenças aos seres humanos. Palavras-chave: zoonoses, solo, medidas sanitárias. Introdução De acordo com Neves et al. (2005), a doença parasitária ocorre em consequência de um desequilíbrio entre hospedeiro e parasito e seu espectro pode variar de acordo com o número de formas infectantes, a capacidade de causar doença da cepa, a idade, a nutrição do hospedeiro e os órgãos afetados. Já as zoonoses são classificadas como doenças provenientes de animais e transmitidas ao homem, sendo que os progressos no seu controle não contribuíram muito para redução da sua incidência em países emergentes (ANDRADE et al., 2002). A afinidade entre o ser humano e o animal de companhia acontece devido a uma mudança de caráter social como, por exemplo, o menor número de filhos. Assim, as pessoas passaram a considerar o animal como membro do grupo familiar, mas, em contrapartida, existe a problemática do abandono de proles nas ruas e a elevação populacional de animais podendo assim contrair ou disseminar todo o tipo de doenças (SANTANA; OLIVEIRA, 2006). A contaminação de praças públicas e parques relaciona-se com a presença desses animais, onde geralmente possuem livre acesso e por vezes fazem suas necessidades fisiológicas, podendo assim transmitir doenças ao homem. As caixas de areia podem funcionar como fonte de contágio e as crianças são mais afetadas sobretudo na fase de geofagia (NEVES et al., 2005). Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 46

Os parasitas mais comuns são Ancylostoma spp, Toxocara spp, Dipylidium caninum, que podem apresentar-se de forma assintomática até casos com complicações mais graves (REY, 2011; CIMERMAM, 2010). Os sintomas observados incluem, entre outros, prurido, anorexia, náusea, anemia, apatia, redução da produtividade e eosinofilia. Em casos mais graves, podem ocorrer hepatomegalia, manifestação pulmonar ou cardíaca e até mesmo lesão cerebral (REY, 2011). A permanência de um agente patogênico em uma população vincula-se ao status social em que a concentração populacional, condições precárias de higiene e alimentação, falta de saneamento básico são fatores que favorecem o desenvolvimento das formas evolutivas, propiciando condições para completarem seu ciclo biológico. Visando o controle dessas doenças, temos como medidas profiláticas a proteção de áreas destinadas ao lazer e recreação, saneamento básico, tratamento periódico com anti-helmínticos de cães e gatos, educação sanitária, ações de controle dos parasitas interrompendo seu ciclo biológico (NEVES et al., 2005). O presente estudo teve por objetivo avaliar a contaminação por parasitas zoonóticos em praças públicas da cidade de Muriaé (MG). I Revisão de literatura Animais como cães e gatos, quando tem livre acesso a ambientes públicos, podem fazer desses locais fontes de transmissão de diversas doenças ao homem, uma vez que eles podem abrigar diversos patógenos, incluindo algumas espécies de helmintos, e assim contaminam o solo com suas fezes e formas evolutivas de determinados parasitas e podem disseminar doenças consideradas zoonóticas (PASTÓRIO et al., 2009). As fontes de infestação são constituídas pelas fezes desses animais lançadas indiscriminadamente no ambiente e contaminam o solo que constitui um meio natural para evolução de diversas espécies, sendo grande parte delas patogênicas. Alguns fatores como a umidade, a temperatura e nível de oxigênio são essenciais para o desenvolvimento das formas evolutivas no solo (MORAES, 2000). Dentre as mais comumente encontradas podemos citar a ancilostomíase que apresenta como agente etiológico duas espécies que infectam frequentemente o homem, Ancylostoma duodenale e Necator americanus, podendo provocar quadro de anemia grave. Já o Ancilostoma braziliensis e o Ancilostoma caninum são hospedeiros do intestino de cães e gatos, porém quando infectam o organismo humano podem invadir a pele e epiderme, causando uma irritação conhecida como larva migrans cutânea (LMC) (CIMERMAM, 2010). Já a toxocaríase pode ser ocasionada pelo Toxocara canis e T.catis, agentes etiológicos da larva migrans visceral (LMV) que habitam o intestino de cães e outros canídeos, porém, seu ciclo biológico não se conclui em humanos, permanecendo em tecidos como fígado, pulmões, cérebro e olhos, por semanas ou meses. Outra doença que pode ser transmitida por fezes de cães contaminados é a dipilidose que tem como agente etiológico o Dipillidium caninum. Trata-se de uma parasitose intestinal de cães e gatos e pode contaminar humanos, principalmente as crianças. É pouco patogênico, porém em infecções maciças pode causar Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 47

irritação da mucosa e até mesmo obstrução intestinal. Pode apresentar como hospedeiro intermediário várias espécies de pulgas que podem desenvolver a larva cesticercóide e de acordo com algumas espécies podem transmitir doenças ao homem como a peste e o tifo murino (CIMERMAM, 2010; MORAES, 2000). Considerando-se os variados tipos de infecções, torna-se extremamente importante a realização do exame parasitológico de fezes no intuito de auxiliar em um diagnóstico preciso das parasitoses que podem ser nocivas à saúde. Por causa de sua relevância, acredita-se que o mesmo deveria constituir uma exigência de rotina nas unidades de saúde, observando critérios adequados de coleta, conservação e processamento dos exames, para cumprir com a exigência inicial de informar sobre o índice de contaminação do indivíduo e auxiliar no diagnóstico e tratamento, que varia de acordo com a forma infectante e o grau de infecção (MORAES, 2000). As medidas profiláticas relacionadas às parasitoses tornam-se desafiadoras devido à ubiquidade de cães e gatos, situação que se agrava nos grandes centros devido à concentração populacional. Indica-se, portanto, o tratamento específico em todos os animais, visto que medidas isoladas tornam-se pouco eficientes devido à reinfecção. Impedir o acesso dos animais ás áreas destinadas ao lazer e recreação também é uma iniciativa de grande valia, além de orientações à população quantos aos cuidados relacionados à higiene e guarda do seu animal (REY, 2001). II Metodologia O estudo foi realizado no mês de junho de 2015, em cinco praças da cidade de Muriaé (MG), localizada na Zona da Mata mineira, com área de 841,693 Km² e população estimada em 107.263 (IBGE, 2015). As praças foram classificadas em P1 (Praça São Paulo), P2 (Praça da Matriz São Paulo), P3 (Praça do Trabalhador), P4 (Praça Hastenreiter) e P5 (Praça do Rosário). Foi observado, durante as coletas, que em nenhuma das praças havia qualquer medida de proteção impedindo o acesso dos animais. Foram feitas 2 coletas em cada praça por um período de 5 dias, em horários distintos (às 9 horas e às 17 horas), totalizando assim 10 amostras por praça (aproximadamente 200 gramas). Foi utilizado um coletor universal estéril e as amostras foram colhidas a uma profundidade de 5 cm, de acordo com metodologia adaptada descrita por Ribeiro et al., (2013). As amostras foram armazenadas em sacos plásticos estéreis, identificadas (P1, P2, P3, P4 e P5) e mantidas em caixa isotérmica até o momento do processamento. Posteriormente as amostras foram submetidas à técnica de sedimentação espontânea de Hoffman, Pons e Janer (HPJ) de acordo com metodologia descrita por Neves (2005), confeccionando 3 lâminas de cada amostra. As mesmas foram processadas e analisadas no laboratório de parasitologia do Centro Universitário UNIFAMINAS. III Resultados e discussão Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 48

De 50 amostras, 8 (16 %) mostraram-se positivas, nas quais foram encontradas larvas e ovos de helmintos: 6 larvas de Ancilostoma ssp (75%) e ovos embrionados de Toxocara ssp (25%). Observou-se também a presença de protozoários de vida livre e pulga em estágio pupal. Todas as praças tiveram pelo menos um ponto de coleta positivo e em 40% delas poliparasitismo (presença de mais de uma espécie em um mesmo local). Com relação à contaminação por praça, os índices mais altos foram observados nas praças classificadas como P1, P2, P5 (4%), seguidos por P3 e P4 com (2%). Prestes et al. (2015), ao analisar 100 amostras de solo em seis municípios da região sul do Estado do RS, obtiveram (41%) de positividade, onde observaram espécies de Toxocara spp em 25% das amostras, seguido pela superfamília Strongyloidea (possivelmente ancilostomídeos) em 11%. Semelhante ao presente estudo, Pedrassani et al. (2008) constataram que a contaminação das praças públicas por Ancylostoma spp ocorreu com maior frequência do que a contaminação por Toxocara spp. Segundo os autores, os animais não adquirem resposta imune contra os antígenos deste parasito, propagando a infecção durante toda a vida pelo ambiente e podendo transmitir aos humanos. Spósito e Viol (2012) não encontraram helmintos em fase larval, diferentemente do presente resultado que obteve frequência significativa de larvas, indicando que as condições climáticas como umidade, temperatura e nível de oxigênio se encontravam favoráveis ao desenvolvimento dessas espécies, representando assim um risco para a saúde pública. Em trabalho realizado por Ribeiro et al. (2013), em 30 amostras de solo de seis praças do município de Esteio (RS), 88,2% estavam contaminadas com ovos de Ancylostoma spp e 52,9% foram positivas para ovos de Toxocara spp. Corrobando com o presente estudo, o acesso de animais era livre nas praças pesquisadas e foi sugerida a adoção de medidas de proteção que impedissem o acesso dos animais a esses locais. Prestes et al. (2015) selecionaram dez praças da região sul do RS, resultando em 100 amostras, sendo que todas as praças analisadas apresentaram contaminação do solo: 41% das amostras foram positivas e as principais espécies encontradas foram Toxocara spp. Nos municípios com áreas de recreação cercadas, as amostras revelaram-se negativas, reforçando a relação da presença dos animais com a contaminação do ambiente por parasitas. Brenner et al. (2008) alertaram para a presença de espécies de vida livre e relataram que, apesar de não serem patogênicos ao homem, indicam que o solo oferece condições ideais para seu próprio desenvolvimento. Já a presença de pupa de pulgas indica uma precariedade do estado de higiene dos animais que frequentam esses locais, podendo assim estar diretamente ligada ao número de cães errantes nessas praças. A execução de ações preventivas como o uso de calçados, lavagem das mãos, melhoria do saneamento básico, bem como a prática da guarda responsável (cuidados adequados de vacinação, vermifugação e higiene, entre outros) são medidas de combate ao ciclo dos parasitas, proporcionando qualidade de vida aos animais e diminuindo o risco de infecção às pessoas. Sugere-se, portanto, que sejam realizadas medidas emergenciais como instalação de cercas ou alambrados, impedindo o acesso dos animais a esses locais. Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 49

IV Considerações finais Considerando o grau de contaminação existente nos espaços estudados, o resultado do estudo aponta para uma situação de alerta à saúde pública. Os indicadores alcançados já eram aguardados por se tratar de locais públicos frequentados por animais errantes que não possuem acesso a cuidados básicos como higiene e vermifugação. Dessa forma, tornam esses locais insalubres, podendo transmitir doenças às pessoas que frequentam esses ambientes, particularmente as crianças. O presente estudo serve de alerta para a necessidade de maior investimento na conservação desses locais e no investimento em programas sanitários, dentre eles o controle populacional de cães e gatos, visando à melhoria na qualidade de vida da população, bem como em programas educativos de orientação quanto à prática da guarda responsável de animais. Ressalta-se ainda que as praças estudadas são do centro da cidade, as quais normalmente se apresentam mais limpas e conservadas que as de bairros mais distantes, fato que pode levantar a hipótese de que nesses referidos locais a contaminação seja ainda maior, o que aponta para a necessidade de estudos futuros que possam comprovar essa conjectura. Referências ANDRADE, A.; PINTO, S. C.; OLIVEIRA, R. S. (Orgs.) Animais de laboratório: criação e experimentação [online]. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002. BRENER et al. Estudo da contaminação de praças públicas de três municípios do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, por ovos e larvas de helmintos. Rev Patol Trop, v. 37, n. 3, p. 247-254, 2008. CIMERMAN; BENJAMIN. Parasitologia humana e seus fundamentos gerais. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2010. IBGE. Estimativas das populações residentes, em 1º de julho de 2015. IBGE Brasil, 2015. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2015/estimativa_tcu.shtm>. Acessado em 2016. MORAES, Ruy Gomes de. Parasitologia e micologia humana. 4. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2000. NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 11. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. PASTORIO, C.; LIBERATI, M. N.; LEONARDO, J. M. L. Prevalência de parasitos de caráter zoonótico no solo de praças públicas e canis em Maringá, Paraná. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ, 6., 2009, Maringá. Anais... Maringá: Cesumar, 2009. PEDRASSANI, D.; VIEIRA, A. M.; THIEM, E. M. B. Contaminação por Toxocara spp. e Ancylostoma spp. em áreas de lazer do município de Canoinhas, SC. Arch Vet Sci, v. 13, n. 2, p. 110-17, 2008. Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 50

PRESTES, L. F. et al. Contaminação do solo por geohelmintos em áreas públicas de recreação em municípios do sul do Rio Grande do Sul (RS), Brasil. Revista de Patologia Tropical, v. 44, n. 2, p. 155-162, abr./jun. 2015. REY, Luis. Parasitologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. RIBEIRO, K. L. et al. Avaliação da ocorrência de formas parasitárias no solo de praças públicas do município de Esteio (RS). Revista Acadêmica Ciências Agrária Ambiental, Curitiba, v. 11, n. 1, p. 59-64, jan./mar. 2013. SANTANA, L. R.; OLIVEIRA, T. P. Guarda responsável e dignidade dos animais. Revista Brasileira Direito Animais. 2006. SPÓSITO, Juliana Dias; VIOL, Bárbara Melina. Avaliação da contaminação ambiental por parasitas potenciais causadores de zoonoses em espaços públicos de lazer em Apucarana, Paraná, Brasil. Saúde e Pesquisa, v. 5, n. 2, 2012. Revista Científica da Faminas (RCFaminas), Muriaé, v. 12, n. 2, maio/ago. 2017, p. 46-5 1 51