Aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade. Resenhado por: Larisse Lázaro Santos Pinheiro (Universidade de Brasília)

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Transcrição:

Universidade de Brasília (UNB) Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução (LET) Programa de Pós- Graduação em Linguística aplicada (PGLA) Disciplina: Aquisição de Segunda Língua Professor: Dr. Yuki Mukai Aluna: Larisse Lázaro Santos Pinheiro Aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade LEFFA, V. J. Aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 3, n. 1, p. 21-30, 2005. Resenhado por: Larisse Lázaro Santos Pinheiro (Universidade de Brasília) Palavras-chave: Aprendizagem; Computador; Mediação; Teoria da Atividade. O artigo discute questões relacionadas à aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade, e investiga uma experiência de capacitação de professores de línguas no uso do computador como ferramenta para a produção de materiais de ensino. Escrito pelo professor e pesquisador, Vilson J. Leffa, Phd em Linguística Aplicada, que atua no curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas. Atualmente, conhecido pelos diversos trabalhos que desenvolve na área das novas tecnologias no ensino de línguas, incluindo o computador e o ensino a distância, traz nesse artigo novas contribuições para o ensino/aprendizagem de línguas. Esse estudo constitui-se de grande valor, visto que ainda são poucas as publicações voltadas para a aprendizagem de línguas mediada pelo computador, nas quais são discutidos a interação entre sujeitos, através de um processo de mediação, com o uso obrigatório de um determinado instrumento (LEFFA, 2005). Organizado em três partes, o artigo inicia-se com uma visão da Teoria da Atividade, em que o autor descreve seus componentes básicos. Em seguida, alguns dados de experiência da Aprendizagem Mediada por Computador (AMC) são apontados, envolvendo a capacitação 1

de professores de língua materna e de línguas estrangeiras no uso do próprio computador. Na última parte, o autor sinaliza suas preocupações com esse ensino e conclui oferecendo alguns pontos para reflexão. Leffa, ainda apresenta seu ponto de vista em relação à transposição rápida que é feita da sala de aula tradicional para a AMC, desconsiderando que a interação com o aluno através do computador é diferente de uma conversa face a face, pois segundo o autor os recursos de interatividade oferecidos pelo computador não estão presentes na sala de aula tradicional. Por isso, ele destaca que para criar novas condições de aprendizagem é necessário saber usar esses recursos. Para explicar este novo tipo de interação (com capacidade de isolar e contextualizar simultaneamente), o autor utiliza neste trabalho a Teoria da Atividade (TA), [...] proposta por Leontiev (1981), com base em Vygotsky e desenvolvida por Engeström (1999) (LEFFA, 2005, p. 2). Nessa perspectiva, é importante ressaltar, um aspecto muito positivo desse artigo, que é a relação que o autor faz entre prática e teoria, buscando sempre contextualizá-las. Em todo o momento que a teoria é apresentada, exemplos práticos do dia a dia do professor e aluno são também evidenciados no texto, o que possibilita ao leitor maior reflexão sobre a aplicabilidade da TA. Na primeira parte do artigo, o autor fornece uma síntese dessa teoria, justificando porque a escolheu. Conforme o autor surgiu da necessidade de explicar não apenas o desenvolvimento de uma ferramenta de autoria, mas também o desenvolvimento da competência no uso dessa mesma ferramenta junto aos professores (LEFFA, 2005, p. 3). Ou seja, a capacidade da TA ver a ferramenta como um processo de mediação, entre o sujeito e o objeto do conhecimento, e o processo de interação entre o sujeito e os demais componentes do contexto em que ele está inserido foram de grande relevância para sua escolha. Nesse sentido, Leffa (2005, p. 3) afirma ainda que: Buscava uma teoria que considerasse o papel do modelo na aprendizagem sem negar a criatividade do sujeito; que incorporasse a aprendizagem por tentativa e erro sem cair no behaviorismo imediato; e que prestigiasse a aprendizagem colaborativa sem negar a autonomia de quem aprende. A proposta teórica que melhor atendia a todos esses pré-requisitos foi a TA. 2

Outras teorias que também tratam dessas relações poderiam ser utilizadas nesse artigo, como a da Interação (LONG, 1996) ou a dos Sistemas Dinâmicos Complexos (LARSEN- FREEMAN, 1997), porém nenhuma envolve todos os aspectos propostos pela AMC, como a Teoria da Atividade (LEONTIEV,1978; ENGESTRÖM, 1999), com foco para a importância do instrumento no processo de mediação entre o sujeito e o conteúdo que ele pretende adquirir. Por isso, o autor explicita, no artigo, de forma clara, a completude dessa teoria para AMC. Com relação a este ponto proposto pelo autor, concordo e ressalto que a TA deveria ser uma teoria melhor explorada pelo ensino de línguas. É necessário, quebrar o paradigma do aprendiz apenas como dispositivo de processamento, e vê-lo baseado na perspectiva da TA como agente humano. Pois, a aquisição de segunda língua, ou seja, a maneira de se aprender outras línguas, exceto a língua materna, em ambiente formal ou informal, é muito mais que o aprendizado de formas e estruturas, ela diz respeito "[...] ao desenvolvimento ou ao fracasso no desenvolvimento, às novas formas de mediação e às relações com os outros e consigo mesmo" (LANTOLF, 2001, p. 145 apud PAIVA, 2014, p.174). Alguns aspectos considerados mais relevantes pelo autor são destacados para a contextualização deste trabalho. Há dois enfoques importantes da atividade humana, a necessidade de interação com o contexto em que está inserido o sujeito e a consciência do objetivo de uma determinada ação. Portanto, são os objetivos que levam o ser humano a ação. E quando, na sala de aula, o aluno conhece e deseja o objetivo de uma determinada atividade o incentivo do professor não é necessário; mas o domínio do instrumento de mediação que lhe permita chegar ao objetivo desejado é importante e necessário. Nesse sentido, Leffa levanta uma problemática existente nas escolas, que muitas vezes o objetivo do professor não coincide com o do aluno, o que pode ocasionar uma desmotivação na aprendizagem. Com base nessa discussão, sugere que cabe ao professor deixar claro o objetivo que ele tem em mente, pois este envolve o resultado final da atividade, e é de suma importância que inicialmente mostre para o aluno como se faz a atividade proposta. Então, a consecução de um determinado objetivo se dá efetivamente através de um processo de mediação, com o uso de diferentes instrumentos de mediação, que agem em conjunto. E o domínio do instrumento torna-se pré-requisito básico para atingir o objetivo. Outro aspecto discutido no artigo, também de relevância é o contexto no qual o aluno está inserido. Pois, em qualquer comunidade há sempre um conjunto de normas que este deve 3

conhecer e seguir para que seja aceito. E, há também uma distribuição de responsabilidades entre os membros que a compõem. Com intuito de mostrar as relações que se estabelecem entre cada um dos elementos da TA em uma situação de aprendizagem, o autor resume de modo esquemático na Figura 1. Figura 1 Esquema da Teoria da Atividade (adaptado) Fonte: (LEFFA, 2005, p. 6) A forma como o autor constrói o texto é magistral, pois não é feito apenas um esboço teórico. Novamente ressalto a fusão da prática com a teoria na escrita o que possibilita uma leitura reflexiva e bem fundamentada do tema desenvolvido. E esse esquema teórico arremata todas as considerações feitas pelo autor em relação à Aprendizagem Mediada pelo Computador, pois o aluno interage com os membros da comunidade, através de regras aceitas por todos, conforme o papel que cada um exerce na comunidade, considerando a divisão de trabalho e visando a consecução de um mesmo objetivo, compartilhado por todos. Na segunda parte, o artigo elucida a TA em três momentos cruciais da aprendizagem. Primeiramente, busca mostrar o objetivo a que se pretende chegar, partindo do fim para o início. No segundo momento, descreve o processo de aquisição do instrumento. E por fim, descreve a complexidade da tarefa, que exige cada vez mais interação e trabalho em grupo, sendo importante a troca de experiências com colegas, monitores, tutores, professores, e com o próprio computador. 4

Desse modo, são apresentados os sujeitos dessa investigação que são 73 professores de língua materna e de línguas estrangeiras, incluindo professores universitários, do ensino médio e de escolas de línguas. Todos participaram de um de quatro cursos (três presenciais e um a distância) de produção de materiais de ensino mediado por computador. Objetivando capacitá-los na produção desses materiais. Para isso, usou-se um sistema de autoria - construído dentro do projeto ELO Ensino de Línguas On-line (LEFFA, 2004), que permitia ao professor elaborar algumas atividades clássicas do ensino de línguas. Considerando a dificuldade e desconhecimento de alguns professores em relação às atividades de aprendizagem mediada pelo computador, sentiu-se a necessidade de se começar pelo fim, não só descrevendo o resultado final a que se pretendia chegar, mas também demonstrando a atividade a ser elaborada e, principalmente, dando ao professor a vivência da própria atividade, experimentado-a da perspectiva do aluno (LEFFA, 2005, p.10). Os instrumentos usados pelo autor para coletar os dados foi um diário de observações. Nele foi possível observar que o problema está muito além de saber, ou não usar o computador, o problema estava na falta do domínio da própria técnica utilizada, que seria necessário demonstrar o potencial de cada técnica proposta. Por isso, a inversão da sequência do curso, começando pela demonstração do objetivo. Segundo o autor, nesta fase, houve algumas reações frustradas dos professores, mas de modo geral reações bastante positivas. Nesse aspecto, faço algumas considerações na forma como o curso foi conduzido. O projeto partiu do pressuposto que todos os professores sabiam utilizar o instrumento (o computador), no entanto, segundo os relatos alguns tinham grande dificuldade em manuseálo. Sabe-se que as mídias digitais possuem outra lógica organizacional com diferentes formas de potencialidades de significação que demanda letramento digital. Portanto, penso que deveriam incluir no início do curso um processo desse letramento, em que os professores pudessem conhecer as potencialidades de significação de diferentes meios semióticos, e entender que os textos são multimodais e assim, saberem como imagens e recursos gráficos se estruturam e se interrelacionam. Após a primeira fase, o artigo enfatiza o ambiente do professor (com seis módulos), em um novo processo de demonstração, desta vez, com o intuito de apontar o percurso que deve ser seguido para chegar ao objetivo. O professor precisava ver que o resultado da atividade permitia várias possibilidades. Desse modo, o objetivo final divide-se em objetivos menores, e gradualmente são conquistados ao longo do curso. 5

Leffa afirma que, o dinamismo da TA, possibilita que um elemento que é o objetivo de uma determinada atividade, pode ocupar o espaço do instrumento em outra atividade e viceversa. O autor observou que durante os cursos, houve um momento, em que a aprendizagem do instrumento (sistema de autoria) destacou-se como aspecto mais importante. O artigo descreve a aquisição desse instrumento em três etapas, que não funciona de modo isolado; tudo está intimamente relacionado, a demonstração, a tentativa e erro (em que o professor, diante dos resultados obtidos, pode sempre revisar e testar o que fez até chegar a um resultado satisfatório) e interação (não só com os colegas, professor ministrante e tutores, mas também com os próprios artefatos usados, incluindo o computador). Uma atividade na TA não é um evento isolado. Por isso, o trabalho do professor-aluno nos cursos dados deveria continuar nos alunos para os quais o material foi realmente produzido. Pois, com o advento da tecnologia e com o uso cada vez mais disseminado do computador na educação, torna-se cada vez mais necessário estudá-lo como instrumento de mediação no processo de aprendizagem. Assim, o autor conclui, que para dar conta de toda complexidade do ato de ensinar é necessário uma fundamentação teórica abrangente. E dentre as várias possibilidades dos estudos sobre aquisição, o artigo em questão destaca-se pela forma como abrange o uso da Teoria da Atividade na aprendizagem mediada pelo computador. Apresenta uma abordagem interessante e bem fundamentada teoricamente, possibilitando ao leitor um panorama completo sobre essa teoria tão rica e ampla. Segundo Leffa (2005, p. 18): Uma teoria deve ter a capacidade de explicar e prever. A TA, criada muito antes do computador e da complexidade da vida atual, não só previu importância do instrumento como mediador das relações entre o sujeito e seu ambiente, mas também me parece capaz de explicar a complexidade dessas relações Por isso, a contribuição do artigo é inegável. Mostrou que não existe aprendizagem sem a percepção do objetivo, sem o esforço e sem a interação com o outro. Tanto apresenta uma abordagem teórica da TA, o que o ajuda a compreendê-la melhor, como também relata uma experiência de aprendizagem mediada por computador, possibilitando uma reflexão prática do ensino de línguas. A leitura, portanto é recomendada tanto para estudantes da área como para professores de língua estrangeira. 6

Referências: LEFFA, V. J. Aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade. Disponível em:<http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/aprendizagem_mediada_computador.pdf >. Acesso em: 02 nov. 2015. PAIVA, V. L. M. de O. Aquisição de segunda língua. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2014, p. 173-174. 7