e a Eufonia
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ra uma vez um planeta habitado por dois povos diferentes: os Musicalis e os Floralis. Os Musicalis precisavam de música para viverem; os Floralis adoravam as flores. Depois de muito tempo a coabitarem em harmonia, começaram a desentender-se. E quando rebentou a guerra, a magnífica cidade de Felícia foi destruída. No seu lugar, passou a existir a Planície do Silêncio, que sepa- rava os dois povos. E se até ali a vida dos Musicalis era compassada como uma pauta de música, no dia em que Eufonia, a sua bela diva, começou a desafinar, tudo deixou de funcionar 3
Quando o Principezinho e a Raposa chegaram à cidade da Música, viram uma torre enorme parecida com um órgão de tubos. No seu interior, funcionava uma fábrica de instrumentos. Começou a ouvir-se uma ária de ópera e os dois amigos ficaram a ouvir, maravilhados. A ouvir e a ver os Musicalis trabalharem ao ritmo do canto de Eufonia. De repente, a Raposa fez uma careta: notas fora de tom no meio da doce melodia! Nesse momento, tudo se desregulou. Um Musicalis estava a tocar trompete, mas este produzia um som tão horrível que os dois visitantes t s até desmaiaram! Semitom, proíbo-te de tocar estes instrumen- tos dissonantes! disse Otto, o chefe da fábrica. A situação é cada vez mais grave continuou ele. Eufonia é a única que sabe cantar. Semitom, onde é que podemos encontrar a vossa diva? perguntou o Principezinho.
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Dirigiram-se então os três para o topo da fábrica, transformado num verdadeiro palco de ópera, e viram surgir uma jovem e deslumbrante mulher, num vestido de gala. Quando ela começou a cantar, o Principezinho e a Raposa emocionaram-se. Mas, subitamente, a voz desvaneceu-se. Eufonia escondeu o rosto com as mãos e abandonou o palco a soluçar. Pronto, agora está sempre nisto! gou Semitom. Começa a cantar e, de repente, resmunvezes, está assim durante horas! sem que se saiba porquê, rompe em soluços. Às Porque seria que Eufonia estava tão triste? Decidido a descobrir o que se passava, o Principezinho foi ter com ela ao camarim. Ao entrar, o seu coração apertou-se. Eufonia estava sentada diante do toucador, com a cabeça baixa 6
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O Principezinho i i ficou alguns instantes a admirar a diva, cuja magnífica cabeleira preta se estendia quase até aos pés. Depois, dirigiu-se a ela com doçura: Olá, Eufonia, eu sou o Principezinho. És tão bela quanto a tua voz! A diva ergueu a cabeça. O Principezinho apercebeu-se então de que Eufonia tinha uma rosa na mão. Uma rosa! Sabes, no meu planeta também tenho uma Rosa. E amo-a mais que tudo! A Eufonia sorriu entre lágrimas. 8
Mas, de repente, Semitom interrompeu-os, muito aborrecido. Tinha acabado de descobrir que um estojo de contrabaixo estava cheio de rosas secas. Isso queria dizer que Eufonia se encontrava com os Floralis, esses malditos criadores de flores! Quem é que tas deu? perguntou ele, em cólera. Não tens nada a ver com isso! respondeu Eufonia. Claro que tenho! disse ele, atirando uma rosa para o chão. Assim, corremos o risco de os nossos dois povos voltarem a entrar em guerra! Virando costas, a diva fugiu. 9
Principezinho encontrou novamente Eufonia na Planície do Silêncio, com uma rosa na mão. Esta confessou-lhe então o seu amor por Ivory, filho da rainha dos Floralis, contando-lhe que o tinha conhecido quando um dia tinha avistado um incrível tapete de flores no meio do deserto, para onde tinha ido cantar. Era um amor correspondido, mas impossível, porque os seus dois povos eram inimigos! A pobre diva estava tão triste por ter de viver afastada do seu amor, que não conseguia cantar. 10