DINÂMICA DO NITROGÊNIO NO SOLO PROVENIENTE DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS NA CULTURA DA SOJA Santos, C.J.L. 1 ; Menezes, J.F.S. 2* ; Gonçalves Júnior, D. 3 ; Gonçalves, M.E.M.P. 3 ; Silva, T.R. 3 1 Mestranda em Produção Vegetal pela Fesurv-Universidade de Rio Verde, caixa postal 104. 75901-970 Rio Verde-GO, catarinasantos@yahoo.com.br 2 Professora da Fesurv- Universidade de Rio Verde, caixa postal 104. 75901-970 Rio Verde-GO, june@fesurv.br 3 Mestrandos em Produção Vegetal pela Fesurv-Universidade de Rio Verde, caixa postal 104. 75901-970 Rio Verde-GO, djalmaagriceu@hotmail.com, mareu774@hotmail.com, trs@hotmail.com Resumo O objetivo do trabalho foi avaliar a dinâmica do nitrogênio no solo proveniente dos dejetos líquidos de suínos (DLS) na cultura da soja instalada sobre Latossolo Vermelho distroférrico, na região de Rio Verde, GO. Após aplicações de diferentes doses de dejetos líquidos de suínos, correspondentes a: 25 m 3 /ha de DLS, 50 m 3 /ha de DLS, 50 m 3 /ha de DLS + residual de N, 75 m 3 /ha de DLS e 100 m 3 /ha de DLS e testemunha, e adubação química (350 kg/ha de 02-20-18) foram determinados os teores de N total no solo antes e após o plantio da soja. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com três repetições e sete tratamentos, totalizando assim, 21 parcelas experimentais. O esquema utilizado foi parcela subdividida no tempo. Com aplicação de 100 m 3 /ha de DLS a dose de N aplicada no solo correspondeu a 180 kg/ha. Todas as doses de DLS superaram as quantidades de N comparadas à adubação química, equivalente a 7,0 kg/ha de N. Embora as adubações com DLS ultrapassaram as recomendações de 20 kg/ha de N, os teores de N no solo foram inferiores as aplicações. Provavelmente, o N dos dejetos líquidos de suínos volatilizou durante e após a aplicação no solo. Os resultados indicaram que 87,06 % do N dos dejetos líquidos suínos aplicados no solo foram perdidos antes do plantio da soja, desta forma, o nitrogênio contido nos dejetos não interferiu na nodulação da soja. Palavras-chave: amônio, nitrato, nodulação, resíduos orgânicos. 328
NITROGEN DYNAMICS ON THE SOIL USING DIFFERENT DOSES OF LIQUID SWINE MANURE AT THE SOYBEAN CROP Abstract This research aimed to evaluate the nitrogen dynamics on the soil sprayed with pig slurry at the soybean crop installed in an Oxisoil Ferralsol at Rio Verde-GO. After the application of different rates of pig slurry, corresponding to (25 m 3 /ha, 50 m 3 /ha, 50 m 3 /ha + N residual, 75 m 3 /ha and 100 m 3 /ha of pig slurry) compared to control (without fertilizer) and chemical fertilization (350 kg/ha of 02-20-18), the amounts of nitrogen on the soil before and after the soybean planting were determined. The experimental design was in randomized blocks, with three replications, totalizing 21 plots. The factorial used was split-plot. The rate of 100 m 3 /ha of pig slurry was equivalent to 180 kg/ha of nitrogen. All the rates of pig slurry were superior to the amount of N compared to chemical fertilizer, equivalent to 7.0 kg/ha of N. Although the fertilization with pig slurry exceeded the recommendation of 20 kg/ha of N, the amount of N on the soil was lower compared to the pig slurry rates. Possibly, the N was lost by volatilization during or after the slurry applications. Therefore, the amounts of nitrogen on the soil did not show interference at the soybean nodulation. Key-words: ammonium, nitrate, nodulation, organic residue Introdução No município de Rio Verde, GO, há cerca de 150 núcleos criadores de suínos, 35 do sistema de produção de leitões (SPL) e 115 do sistema vertical terminador (SVT). Estes núcleos produzem ao ano cerca de 1,8 milhão de metros cúbicos de dejetos líquidos de suínos. Todo este resíduo deve ser aplicado no solo. Os dejetos líquidos de suínos, quando utilizados de forma inadequada, podem trazer sérios danos ambientais, porém quando utilizados racionalmente se tornam uma excelente alternativa para adubação de forragens e grãos. Um dos grandes problemas da aplicação dos dejetos de suínos no solo para a fertilização da cultura da soja é que eles contêm N na sua composição, em média de 1,37 % de N (Menezes et al, 2007). nitrogenadas acima 20 kg/ha podem interferir na nodulação da soja causando ineficiência na FBN e conseqüentemente, menor aquisição de N pela planta, menor desenvolvimento da planta e queda na produtividade (Câmara, 2000). Diante do exposto é de grande relevância, avaliar a dinâmica do nitrogênio no solo proveniente da adubação com dejetos líquidos de suínos na cultura da soja. Material e Métodos O experimento foi conduzido no período de novembro de 2006 a março de 2007 na fazenda Fontes do Saber, localizada na Fesurv- Universidade de Rio Verde Goiás. O solo foi classificado como Latossolo Vermelho distroferríco, textura argilosa. A área utilizada para a implantação do experimento é destinada ao projeto 329
Monitoramento ambiental com o uso de dejetos líquidos de suínos na agricultura em parceria com a Fesurv, Perdigão e Embrapa milho e sorgo. As adubações utilizadas do experimento foram constituídas por cinco doses de dejetos líquidos de suínos (25 m³/ha, 50 m³/ha, 50 m³/ha + residual de N (residual da cobertura nitrogenada no milho do cultivo anterior), 75 m³/ha e 100 m³/ha de dejetos líquidos suínos), tratamento químico (350 kg/ha de 02-20-18) e testemunha (controle sem adubação). Os dejetos líquidos de suínos utilizados foram provenientes do Sistema Vertical Terminador. Antes da aplicação dos dejetos foram coletadas amostras do resíduo para análise, na qual foram observadas as seguintes características químico-físicas: N = 0,18 %; P = 0,0044 %; K = 0,10 %; ph 7,9 e densidade média de 1.007,5 kg/m 3. Os dejetos foram aplicados nas parcelas à lanço no dia 15/10/06 conforme as adubações. A cultivar de soja utilizada no experimento foi Monsoy 8000 RR, plantada em 25/11/06 em sistema de plantio direto. O delineamento experimental utilizado foram blocos ao acaso, com três repetições em esquema de parcela subdividida no tempo, em que na parcela foram alocadas as diferentes adubações e nas subparcelas foram alocadas as épocas de amostragem de solo. Considerou-se quatro épocas, correspondentes aos 12, 19, 33 e 40 dias antes do plantio da soja após aplicação dos dejetos e seis épocas com intervalos de 15 dias, durante o ciclo de desenvolvimento da soja. Nas amostras de solo foram analisados os teores de nitrato e amônio segundo metodologia de Tedesco et al. (1995). Resultados e Discussão De acordo com as doses de dejetos líquidos suínos e fertilizantes químicos aplicados nas parcelas, estimaram-se as quantidades de N, P e K (kg/ha) adicionadas ao solo conforme as respectivas adubações (Tabela 1). À medida que as doses de dejetos líquidos suínos aumentaram, a quantidade de N fornecida ao solo aumentou. Com aplicação de 100 m 3 /ha de dejetos líquidos suínos, o N adicionado ao solo correspondeu a 180 kg/ha. Todas as doses de dejetos líquidos suínos superaram as quantidades de N comparada à adubação química, correspondente a 7,0 kg/ha (Tabela 1). Adicionou-se mais N ao solo com aplicação de dejetos do que o recomendado para a cultura da soja. A dose de dejetos líquidos suínos equivalente à adubação química para o suprimento de K foi à de 50 m 3 /ha, porém, com está mesma dose de dejeto, as quantidades P não foram suficientes, variando de 2,5 a 10 kg/ha (Tabela 1). Analisando a aplicação da dose de 100 m 3 /ha de dejetos líquidos suínos equivalente a 180 kg/ha de N observou-se uma perda de 87,06 % de N neste período. Da época da aplicação até a última época de amostragem restaram em média 23,30 kg/ha de N no solo para cultura da soja. As perdas totais de N neste período variaram de 62,18 % a 87,06 %, correspondentes as doses de 25 m 3 /ha de dejetos líquidos suínos e 100 m 3 /ha de dejetos líquidos suínos (Tabela 2). 330
Segundo Scherer et al. (1996) o N presente nos dejetos líquidos de suíno encontra-se na forma amoniacal (N-NH 4 + ) estando, portanto, suscetível à volatilização, que pode variar de 5 a 75 % do N amoniacal, dependo dos fatores climáticos, como precipitação pluviométrica e temperatura (Whitehead, 1995). Teores de N no solo após o plantio da soja foram os seguintes aos 15 dias após plantio da soja (época 1), os teores de N total no solo variaram de 7,74 kg/ha a 11,50 kg/ha (Tabela 3). Desta forma, os teores totais de N no solo não poderiam interferir na nodulação da soja ou na fixação biológica do N atmosférico. Verificou-se pelos resultados apresentados na Tabela 3 que o período de maior demanda de N concentrou-se nos 45 e 60 dias após plantio. Câmara (2000) relatou que o auge do requerimento (exigência) de nitrogênio na soja ocorre entre o florescimento pleno (estádio R 2 ) e o inicio da granação da soja (estádio R 5, ), resultados estes que se assemelharam ao trabalho. Conclusões Aproximadamente 87,06 % do N aplicado no solo via dejetos líquidos suínos foi perdido antes do plantio da soja. As maiores doses de dejetos líquidos de suínos apresentaram os maiores teores de N-NO 3 - no solo antes do plantio. Os teores de nitrogênio no solo após o plantio da soja não interferiu na nodulação. Agradecimentos A Embrapa Milho e Sorgo, a Fesurv e a Perdigão Agroindustrial S.A. Literatura Citada CÂMARA, G.M de S. Soja: tecnologia da produção II. Piracicaba: ESALQ/LPV, 2000. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos ( Rio de janeiro RJ ). Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa-SPI; Embrapa-CNPS, 1999.412p. MENEZES, J.F.S.; PRONER, S.C.P.; BENITES, V.de M.; SILVA, G.P.; KONZEN, E.A.; DUTRA, R. A. Estimativa da composição química de dejetos líquidos de suínos da região de Rio Verde-GO em função da densidade. Boletim Técnico/ FESURV-Universidade de Rio Verde. Ano IV, n 5 (novembro- 2007) Rio Verde, GO. Fesurv, 2007. SCHERER, E.E.; AITA, C. & BALDISSERA, I.T. Avaliação da qualidade do esterco líquido de suínos da região Oeste Catarinense para fins de utilização como fertilizante. Florianópolis, EPAGRI, 1996. 46p. (Boletim Técnico). 331
TEDESCO, M.J. et al. Análise de solo, plantas e outros materiais. Porto Alegre: Departamento de Solos, UFRGS, 1995. 174p. WHITEHEAD, D.C. Grassland nitrogen. Wallingford, Cab International, 1995. 416. Tabela 1. Estimativa das quantidades de N, P e K aplicadas nos tratamentos em função das adubações. N P K ---------- kg/ha -------------- Testemunha 0,0 0,0 0,0 Adubação química 7,0 70,0 63,0 25 m 3 /ha 45,0 2,5 30,0 50 m 3 /ha 90,0 5,0 60,0 50 m 3 /ha + residual de N 90,0 5,0 60,0 75 m 3 /ha 135,0 7,5 90,0 100 m 3 /ha 180,0 10,0 120,0 Tabela 2. Teores de N total no solo (kg/ha) após aplicação dos dejetos líquidos de suínos, antes e após o plantio da soja em função das adubações. N total Antes do plantio N total Após o plantio Testemunha 14,80 19,32 25 m 3 /ha 17,02 20,84 50 m 3 /ha 20,38 19,04 50 m 3 /ha + residual de N 18,98 15,78 75 m 3 /ha 22,20 18,42 100 m 3 /ha 23,30 19,30 Tabela 3. Teores de N total (kg/ha) no solo depois do plantio da soja e após a aplicação dos dejetos líquidos de suínos em relação épocas de amostragem. Época 1 Época 2 Época 3 Época 4 Época 5 Época 6 15 dias 30 dias 45 dias 60 dias 75 dias 90 dias Testemunha 9,78 26,80 15,68 7,68 30,64 25,34 Adubação química 7,74 46,96 10,20 8,72 47,24 31,68 25 m 3 /ha 8,28 38,44 6,94 6,08 40,90 24,48 50 m 3 /ha 11,50 26,76 11,98 9,38 32,88 21,86 50 m 3 /ha + residual de N 8,80 21,30 9,48 6,04 29,30 19,70 75 m 3 /ha 8,54 22,84 12,32 12,66 30,1 23,92 100 m 3 /ha 9,22 47,16 12,64 9,32 23,76 19,70 332