UNIVERSIDADE DO MINHO ESCOLA DE DIREITO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL DECLARATÓRIO (3.º Ano 1.ª Chamada 25 de Junho de 2007)



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO MINHO ESCOLA DE DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL DECLARATÓRIO (3.º Ano 1.ª Chamada 25 de Junho de 2007) Leia atentamente as questões que lhe são colocadas e, só depois, responda às mesmas de forma sucinta e sempre fundamentada. Cada resposta não pode ultrapassar 10 linhas. Os alunos que fazem exame devem responder aos dois grupos, excepto à questão 11. do grupo II. Os alunos que fazem frequência devem responder a todas as questões do grupo II. GRUPO I (Exame - 3 valores) Carlos e Daniela, casados no regime de comunhão de adquiridos e residentes em Faro, celebraram em Sevilha, em Janeiro de 2007, com o cidadão marroquino Ohmar Al Zahir, residente em Casablanca, um contrato promessa de compra e venda de uma vivenda de férias situada em Marselha, pelo qual os primeiros prometiam comprar e o segundo prometia vender a referida vivenda pelo valor de 350.000,00, tendo aqueles entregue nesse acto, a título de sinal, a quantia de 50.000,00. No contrato promessa de compra e venda ficou estipulado que a escritura de transmissão da propriedade seria celebrada até 15 de Maio de 2007, sendo que a marcação dessa escritura seria da responsabilidade do promitente vendedor. Além disso, as partes acordaram, mediante troca recíproca de e-mails, que, para a apreciação de qualquer litígio emergente do incumprimento desse contrato, seriam exclusivamente competentes os tribunais espanhóis. Sabendo que a referida escritura nunca chegou a ser marcada, não obstante Carlos e Daniela terem interpelado Ohmar Al Zahir para o efeito, e que aqueles perderam o interesse na celebração do contrato de compra e venda em consequência desse incumprimento motivo pelo qual pretendem a devolução do sinal em dobro determine qual ou quais os tribunais internacionalmente competentes para a apreciação deste litígio (25 linhas) - Análise da competência internacional; - Relação jurídica plurilocalizada; - Primazia do direito comunitário sobre o direito interno (art. 8.º, n.º 3 da CRP); - Análise do Reg. CE 44/2001: - Âmbitos objectivo, subjectivo e temporal;

- O âmbito objectivo encontra-se preenchido (art. 1.º) - Quanto ao âmbito subjectivo, embora o réu não tenha domicílio num dos Estadosmembros da União Europeia, o art. 4.º permite a aplicação do regulamento desde que ao caso seja aplicável o regime da competência exclusiva (art. 22.º) ou convencional (art. 23.º); - Âmbito temporal (arts. 66.º, n.º 1 e 76.º); - No caso sub iudice, as partes celebraram um pacto de jurisdição (art. 23.º); - Análise dos requisitos do pacto de jurisdição (art. 23.º, n.º 1 e 2); - Todavia, no caso está em causa uma matéria de competência exclusiva dos tribunais do Estado-membro onde se encontra situado o imóvel (art. 22.º, n.º 1); - Assim, o pacto atributivo de jurisdição não se aplica por força do art. 23.º, n.º 5. - Deste modo, à luz do art. 22.º, n.º 1, localizando-se o imóvel em Marselha, são exclusivamente competentes os tribunais franceses. GRUPO II (Exame 17 / Frequência - 20 valores) As sociedades Antunes & Filhos, Lda, Constroibem, S.A. e Ibéria Empreendimentos e Obras Públicas, S.A., com sede, respectivamente, em Braga, Coimbra e Lisboa intentaram uma acção judicial contra a agência de Vila Nova de Gaia do Banco Deutsch Bank, com sede em Berlim, pela qual peticionam a resolução dos contratos de financiamento celebrados com a Ré em virtude do incumprimento que lhe é imputável. Fundamentaram o seu pedido alegando, em resumo, que a agência de Vila Nova de Gaia do banco Deutsch Bank acordou com as autoras em financiar empreendimentos imobiliários a desenvolver por estas, motivo pelo qual celebrou os respectivos contratos de financiamento que, todavia, mesmo depois de aprovados, não chegaram a ser cumpridos. Acessoriamente, peticionam as autoras a condenação da Ré no pagamento da quantia global de 14.250,00, a título de danos patrimoniais em consequência dos investimentos entretanto realizados, assim distribuída: - Antunes & Filhos, Lda: 6.500,00 - Constroibem, S.A.: 4.000,00 - Ibéria Empreendimentos e Obras Públicas, S.A.: 3.750,00. 1. Que tipo de acção foi intentada e qual a forma de processo? (1 valor) - Tipos de acções art. 4.º, n.º 1

- No caso em análise, estando em causa, a título principal, um pedido de resolução dos contratos de financiamento, deve ser intentada uma acção declarativa constitutiva-extintiva [art. 4.º, n.º 1, c) do CPC] uma vez que o autor pretende extinguir uma relação jurídica pré-existente. - Quanto à forma de processo, o processo pode ser comum ou especial (art. 460.º); - O processo especial só se aplica nos casos especificamente previstos na lei; - O processo comum pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo (art. 461.º); - A forma de processo comum é determinada em função do valor da acção (arts. 305.º e ss) e da alçada dos tribunais (art. 22.º da LOFTJ); - No caso em análise, o valor da acção é determinado em função do critério do acto jurídico (art. 310.º); - Como no caso de verifica uma pluralidade de autores (coligação), o valor corresponde à soma de todos os pedidos, ou seja, 14.250,00. - Tendo em conta que o valor da acção é superior à alçada dos tribunais de 1.ª instância e inferior à alçada do tribunal da Relação, o processo segue forma de processo comum sumário. 2. Qual o tribunal competente para a apreciação da causa? (2 valores) - (Só aparentemente se trata de uma situação de competência internacional uma vez que, nos termos do art. 7.º, as agências têm personalidade judiciária quando, ainda que a administração principal tenha a sua sede em país estrangeiro, a acção proceda de factos por ela praticados; - Relação jurídica interna análise da competência em razão da matéria, da hierarquia, do valor e forma do processo e do território (arts. 66.º e ss); - Análise da competência interna: i) Matéria - art. 66.º CPC: tribunais judiciais (competência residual); - art. 67.º CPC: tribunais de competência genérica vs competência especializada (arts. 78.º e ss LOFTJ) competência dos tribunais de competência genérica. ii) Valor e forma do processo - art. 68.º: tribunais singulares vs tribunais colectivos são competentes os tribunais singulares [art. 104.º, n.º 2 e 106.º, n.º 1, a) a contrario];

- art. 69.º: tribunais de competência genérica vs tribunais de competência específica são competentes, existindo, os juízos cíveis (art. 99.º LOFTJ); iii) Hierarquia - arts. 70.º a 72.º CPC: são competentes os tribunais de 1.ª instância (tribunais de comarca); iv) Território - arts. 73.º e ss (competência dos tribunais em razão do território) - art. 74.º, n.º 1 CPC: é competente para esta acção, em regra, o tribunal do domicílio do réu; todavia, sendo o réu uma pessoa colectiva, pode o autor intentar a acção no tribunal do lugar do cumprimento da obrigação (estando em causa uma obrigação de natureza pecuniária, esta deve ser cumprida no tribunal do domicílio do credor); Assim, a acção pode ser intentada no tribunal do domicílio da agência do Deutsch Bank, ou seja, no juízo cível do Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia ou no tribunal da sede de cada uma das autoras. 3. Como qualifica a relação processual existente entre as autoras na presente acção? (2 valores) - Noção de legitimidade processual (art. 26.º do CPC); - Legitimidade processual singular e plural (arts. 27.º e ss do CPC); - No caso sub iudice, existem várias relações jurídicas controvertidas contratos de financiamento celebrados entre os autores e a ré sendo que esse facto origina uma relação jurídica com pluralidade de autores (legitimidade activa plural); - Existindo mais do que uma relação jurídica controvertida ou mais do que um pedido, verificase uma situação de coligação (art. 30.º do CPC); - Análise dos pressupostos positivos e negativos da coligação (arts. 30.º e 31.º do CPC) 4. Redija o endereço, o cabeçalho e o pedido da petição inicial. (2 valores) Endereço: Exmo. Sr. Juiz de Direito do Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia Cabeçalho: Antunes & Filhos, Lda, com sede em Braga;

Constroibem, S.A., com sede em Coimbra Ibéria Empreendimentos e Obras Públicas, S.A., com sede em Lisboa, vêm intentar, em coligação, contra agência de Vila Nova de Gaia do Deutsch Bank acção declarativa constitutiva-extintiva, sob a forma de processo sumário, nos termos e pelos seguintes fundamentos: Pedido: Termos em que deve a presente acção ser julgada provada e procedente e, em consequência, serem declarados resolvidos os contratos de financiamento celebrados entre asautores e a ré, bem como ser a ré condenada a pagar às autoras Antunes & Filhos, Lda, Constroibem, S.A. e Ibéria Empreendimentos e Obras Públicas, S.A., respectivamente, a quantia de 6.500,00, 4.000,00 e 3.750,00. Junta: Procuração forense, duplicados legais, 3 documentos e documento comprovativo da autoliquidação da taxa de justiça inicial. 5. Suponha que a secretaria citou a ré nos seguintes termos Fica ainda advertida de que poderá contestar a acção, querendo, no prazo de 30 dias. Sabendo que a Ré foi citada pessoalmente por solicitador de execução no dia 30 de Março de 2007, quando termina o prazo com multa para contestar a acção? (2 valores) - Estando em causa um processo sumário, o prazo de contestação é de 20 dias (art. 783.º do CPC); - Todavia, na citação, a secretaria indicou como prazo de defesa o prazo de 30 dias; - Este facto consubstancia uma irregularidade da citação (art. 198.º do CPC), o que implica que a defesa do réu seja apresentada dentro do prazo indicado para a contestação, ou seja, 30 dias; Assim: - prazo peremptório para a contestação: 30 dias (art. 198.º do CPC + 486.º do CPC); - não se verificam prazos dilatórios (art. 252.º-A do CPC); - o prazo começa a correr no dia seguinte ao do evento, ou seja, no dia 31 de Março (Sábado); - o prazo conta-se de forma contínua, mas suspende-se nas férias judiciais, salvo quando estejam em causa actos a praticar em processos que a lei considere urgentes ou prazos superiores a 6 meses (art.144.º, n.º 1 do CPC); - as férias judiciais, entre outras datas, decorrem desde Domingo de Ramos (1 de Abril) até 2.ª feira de Páscoa (9 de Abril), pelo que o prazo fica suspendo durante esse período e retoma a sua contagem no dia 10 de Abril (art. 12.º da LOFTJ); - sem multa, o prazo termina no dia 8 de Maio de 2007; - Com multa, o prazo termina no dia 11 de Maio de 2007.

6. Imagine que a sociedade Construções Júlio Dantas, Lda., que também havia celebrado um contrato de financiamento nos mesmos termos com a referida agência, teve agora conhecimento da existência dessa acção. O que poderia fazer essa sociedade nesta fase processual? (1,5 valores) - Uma vez que a sociedade Construções Júlio Dantas, Lda. também celebrou um contrato de financiamento com a agência nos mesmos termos em que o fizeram as sociedades autores (nomeadamente com cláusulas contratuais perfeitamente análogas), verifica-se a possibilidade de coligação com as autoras (art. 30.º do CPC); - O art. 270.º do CPC admite a modificação subjectiva da instância; - Sendo a sociedade Construções Júlio Dantas, Lda. um terceiro relativamente à instância, esta poderá intervir através de um incidente de intervenção de terceiros (arts. 320.º e ss do CPC); - Análise dos tipos de intervenção de terceiros; - No caso sub iudice, verifica-se uma intervenção principal espontânea porque o terceiro tem na causa um interesse semelhante ao dos autores, podendo coligar-se com estes [art. 320.º, b) do CPC]; - A intervenção é admissível apenas enquanto o interveniente puder deduzir a sua pretensão em articulado próprio (art. 322.º, n.º 1 do CPC). 7. Suponha que a ré veio invocar na sua contestação os seguintes factos: a) A ré não sabe se foram ou não celebrados esses contratos de financiamento ; b) É falso tudo o que vem alegado na petição inicial ; c) A sociedade Antunes & Filhos, Lda. é uma sociedade irregular uma vez que não foi ainda registado o respectivo contrato de sociedade, motivo pelo qual não tem legitimidade para intervir na acção ; d) O incumprimento contratual é imputável às autoras, motivo pelo qual devem as mesmas ser condenadas a pagar a quantia de 15.000,00 a título de cláusula penal pelo incumprimento dos contratos de financiamento. Caracterize a defesa apresentada pela ré e diga quais as consequências que advirão da sua eventual procedência. (25 linhas) (2 valores) a) - Defesa por impugnação (art. 487.º, n.º 1 e 2 do CPC); - Como está em causa um facto pessoal ou de que a ré deva ter conhecimento, essa impugnação equivale a uma confissão (art. 490.º, n.º 3, in fine); b) - A ré veio deduzir uma defesa por impugnação em bloco;

- A doutrina tem sido unânime no sentido de não ser admissível uma defesa em bloco, uma vez que o réu deve adoptar uma posição definida sobre os factos (art. 490.º, n.º 1 do CPC). c) - A invocação da situação irregular da sociedade constitui uma defesa por excepção dilatória todavia, com a irregularidade da sociedade comercial, não está em causa uma situação de falta de legitimidade processual, mas sim de personalidade judiciária; - Sucede que o legislador atribui excepcionalmente personalidade judiciária às sociedades comerciais, ainda que irregulares [art. 6.º, d) do CPC]. d) - Defesa por reconvenção - Análise dos pressupostos processuais para a reconvenção (arts. 274.º e 501.º do CPC); - Sendo a reconvenção julgada procedente, as autoras serão condenadas no pedido reconvencional. 8. Poderia a ré, depois de citada, intentar uma acção judicial contra as autoras com fundamento no ponto 4) da sua contestação? (1 valor) - Princípio da concentração da defesa na contestação o réu deve deduzir toda a sua defesa na contestação, salvo quando estejam em causa incidentes que a lei mande deduzir em separado (art. 489.º, n.º 1 do CPC); - Depois da contestação só podem ser alegadas as excepções, incidentes e meios de defesa que sejam supervenientes ou que a lei expressamente admita passado esse momento; - Face ao princípio da concentração da defesa na contestação, não pode a ré intentar posteriormente uma acção com as mesmas partes e relação jurídica controvertida (análise dos efeitos processuais da citação art. 481.º do CPC); - Análise dos pressupostos da litispendência (arts. 497.º e 498.º do CPC). 9. Tendo o mandatário das autoras sido notificado da contestação apresentada pela ré por via postal registada em 4 de Junho de 2007, como poderão estas reagir e até que dia, sem multa? (1,5 valores) - O valor da acção é definido no momento em que a acção é proposta (art. 308.º, n.º 1 do CPC); - Todavia, sendo deduzida uma defesa por reconvenção, ao valor da acção soma-se o valor do pedido reconvencional (art. 308.º, n.º 2 do CPC); - Com o aumento do valor, a acção passa a seguir os termos do processo ordinário, pelo que os autores podem responder à contestação em sede de réplica uma vez que foi deduzida uma defesa por excepção e por reconvenção (art. 502.º do CPC); - O prazo para replicar é de 30 dias (art. 502.º, n.º 3, 2.ª parte, do CPC);

- A notificação presume-se feita no dia 8 de Junho, por que o dia 7 de Junho é um feriado (art. 254.º, n.º 3 do CPC); - O prazo para replicar começa a correr no dia 9 de Junho de 2007 [art. 279.º, b) do Cc]; - O prazo conta-se de forma contínua, mas suspende-se nas férias judiciais, salvo quando esteja em causa um processo urgente ou um prazo superior a 6 meses (art. 144.º, n.º 1 do CPC); - Sem multa, o prazo termina no dia 08/07/2007 (Domingo); - Terminando o prazo em dia em que os tribunais se encontrem encerrados, o seu termo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte, ou seja, para o dia 09/07/2007 (art. 144.º, n.º 2 do CPC). 10. Imagine que o juiz da causa, ao verificar que as autoras não apresentaram com a petição inicial os respectivos contratos de financiamento, absolveu a ré do pedido. Quid iuris? (2 valores) - O Princípio da prevalência da verdade material sobre a verdade formal no actual processo civil português; - Funções do despacho pré-saneador (art. 508.º do CPC); - Sendo os contratos de financiamento essenciais para a apreciação do mérito da causa, o juiz não pode absolver a ré do pedido com esse fundamento, sendo que deve convidar os autores a juntar aos autos dos respectivos contratos de financiamento (art. 508.º, n.º 2 do CPC). 11. Suponha que o juiz, no despacho saneador, apresentou, relativamente à base instrutória, os seguintes quesitos: a) A ré tem personalidade judiciária? b) O tribunal é territorialmente competente? c) O contrato dos autos deve ser qualificado como de financiamento ou de mútuo? d) As autoras sofreram danos patrimoniais com o incumprimento dos respectivos contratos de financiamento? Como poderiam as partes reagir, com que fundamentos e em que prazo, sabendo que foram notificadas pessoalmente do conteúdo desse despacho em 8 de Junho de 2007? (25 linhas) (3 valores) - Sendo as partes notificadas do despacho saneador, estas podem reclamar contra a selecção da matéria de facto nos termos do n.º 2 do art. 511.º do CPC, com fundamento em deficiência, excesso ou obscuridade; a) e b) a verificação dos pressupostos processuais (personalidade judiciária e competência do tribunal) deve ser feita no início do despacho saneador, incidindo sobre o juiz o ónus de sanar, sempre que possível, a falta de um pressuposto processual (art. 265.º, n.º 2 do CPC). Porque os pressupostos processuais não integram a matéria de facto essencial para o julgamento da causa, mas sim os pressupostos que têm de estar preenchidos para que o tribunal se pronuncie sobre esse mérito, estes não podem ser incluídos na selecção da matéria de facto;

c) Na fixação da base instrutória, o juiz não pode incluir matéria de direito contrato de financiamento e contrato de mútuo. Por outro lado, os quesitos devem ser formulados para respostas de sim ou não. d) O juiz, para além de não poder incluir conceitos de direito na base instrutória, não pode quesitar matéria conclusiva, mas apenas as premissas cuja resposta lhe permitirão chegar a uma conclusão. - As partes podem reclamar contra a selecção da matéria de facto incluída na base instrutória com fundamento em deficiência, excesso ou obscuridade (art. 512.º, n.º 2 do CPC); - O prazo da reclamação é o prazo geral de 10 dias previsto no art. 153.º do CPC; - Tendo as partes sido notificadas pessoalmente desse despacho no dia 8 de Junho de 2007, o prazo começa a correr no dia seguinte, ou seja, no dia 9 de Junho de 2007 [art. 279.º, b) do Cc]; - O prazo conta-se de forma contínua, suspendendo-se nas férias judiciais, salvo quando estejam em causa processos urgentes ou prazos superiores a 6 meses (art. 144.º, n.º 1 do CPC); - Sem multa, o prazo da reclamação termina no dia 18 de Junho de 2007 (2.ª feira). Tempo: 2 horas