VERIFICAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE DERIVAÇÕES VENTRÍCULO-PERITONEAIS COM VÁLVULA MEDIANTE EMPREGO DE RADIOISÓTOPOS CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA PESSOAL JORGE FACURE * ALTAIR J. CAMERA** NUBOR FACURE * NYDER R. OTERO ** A derivação ventrículo-peritoneal com válvula para o tratamento da hidrocefalia, tem sido realizada com resultados satisfatórios por diversos autores 1 < 2. 9» 1 0. Para verificar o funcionamento e a eficiência da derivação os autores recomendam o exame clínico-neurológico periódico dos pacientes operados, a palpação das válvulas e das bombas de fluxo e o método pneumoradiográfico 1 0. O emprego de radioisótopos para verificação da permeabilidade do sistema nos vários tipos de derivação do trânsito liquórico teve seu início com Bell 3 (1957), para verificar o funcionamento de derivações ventrículo-cisternais tipo Torkildsen e ventrículo-peritoneais sem válvulas. Migliore e col. 7 preconizaram o seu uso para o estudo das derivações ventrículo-atriais. Ulteriormente diversos autores, com modificações próprias, também realizaram estudos com radioisótopos em crianças hidrocefálicas operadas mediante derivação ventrículo-atrial 4 > 5. 6. O método por nós utilizado constitui evolução natural da técnica de estudos com radioisótopos. MATERIAL E MÉTODOS a) Paciente em decúbito dorsal horizontal; b) injeção intra-ventricular de 50 a 100 microcuries de RIHSA (Radioiodinated Human Serum Albumln); c) inicio imediato da captação da radioatividade por dois colimadores sendo o primeiro justaposto à região têmporo-parietal e, o segundo, colocado ao nivel do ponto de McBurney. Éste conjunto é acoplado a um sistema inscritor que registra simultáneamente a intensidade da atividade radioativa captada por ambos colimadores. Após a difusão da RIHSA nos ventrículos, à medida que o liquido cefalorraqueano vai sendo drenado, a intensidade da radioatividade tende a diminuir nos ventrículos e a aumentar na cavidade peritoneal, sendo registrada pelo sistema inscritor; d) com intervalo de 18 a 24 horas realiza-se mapeamento cerebral e abdominal. * Neurocirurgiões do Hospital da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, Campinas, São Paulo. ** Médicos responsáveis pelo Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Vera Cruz, Campinas, São Paulo.
O estudo foi realizado em 7 pacientes hidrocefálicos operados mediante derivação ventríeulo-peritoneal com o uso da válvula de Holter, com período pós-operatório variando de 1 a 12 meses (média de 5 meses). RESULTADOS E COMENTÁRIOS Em virtude do longo trajeto do cateter distai na derivação ventríeuloperitoneal, em alguns casos, o método palpatório 5. s deixa dúvidas quanto à existência ou não de intercorrências bloqueantes. O método por nós apresentado, além de sua simplicidade, apresenta como grande vantagem o fato de nos informar não só as condições de permeabilidade do sistema de derivação como também o seu ritmo de funcionamento. Em 4 pacientes a drenagem do líquido cefalorraqueano para a cavidade peritoneal efetuou-se lentamente (Fig. 1), havendo registro de atividade radioativa no peritônio apenas 30 minutos após a introdução da substância nos ventrículos, continuando a intensidade da radiação a aumentar lentamente na cavidade peritoneal. O mapeamento cerebral e abdominal com intervalo de 24 horas mostrou, nesses casos, permanência de intensa radioatividade nos ventrículos.
Em dois pacientes o ritmo de drenagem foi rápido e 10 minutos após o início do exame já se registrava atividade radioativa na cavidade peritoneal com aumento progressivo na sua intensidade (Fig. 2). Nesses casos o mapeamento após 18 horas mostrou pequena atividade radioativa nos ventrículos e grande no peritônio. A figura 3 mostra os resultados em um caso em que não houve drenagem do líquido cefalorraqueano para a cavidade peritoneal. Nosso objetivo neste trabalho é a comunicação de um método pessoal de exame. Oportunamente publicaremos nossas conclusões e outras observações sobre o método, baseadas em análise de casuística maior. R E S U M O Apresentação de um método pessoal de exame para avaliação do funcionamento da derivação ventrículo-peritoneal com válvula, consistente na injeção intra-ventricular de RIHSA, seguida da captação simultânea da atividade radioativa nos ventrículos e na cavidade peritoneal. Mapeamentos simultâneos das regiões cerebral e abdominal, feitos com intervalo de 18 a 24 horas completam o estudo.
S U M M A R Y Radioisotopic method for evaluating the patency of ventriculo-peritoneal shunts with valve: a personal contribution A simplified method to evaluate the patency of ventriculo-peritoneal shunts with valve by simultaneous captation of radiation at ventricles and peritoneal cavity of intraventricular injected RIHSA is reported. The study is completed by simultaneous brain and peritoneal scanning after an 18-24 hours interval. R E F E R Ê N C I A S 1. ALMEIDA, G. M. & PEREIRA, W. C. Derivação ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia do lactente. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 27:308, 1969. 2. AMES, R. H. Ventrículo-peritoneal shunts in the management of hydrocephalus. J. Neurosurg. 27:525, 1967. 3. BELL, R. L. Isotope tranfer test for diagnosis of ventriculo-subarachnoidal block. J. Neurosurg. 14:674, 1957.
4. DI CHIRO, G. & GROVE, A. S. Evaluation of surgical and spontaneous cerebrospinal fluid shunts by isotope scaning. J. Neurosurg. 24:743, 1966. 5. LEPOIRE, J. & LAPRAS, C. Traitement de l'hydrocéphalie non tumorale du nourison par la dérivation ventriculo-atriale. Neuro-chirurgie 13:209, 1967. 6. McCULLOUGH, D. C. & LUESSENHOP, A. J. Evaluation by photoscanning of the diffusion of intrathecal RISA in infantile and childhood hydrocephalus. J. Neurosurg. 30:673, 1969. 7. MIGLIORE, A.; PAOLETTI, P. & VILLANI. R. Radioisotopic method for evaluating the patency of the Spitz-Holter valve. J. Neurosurg. 19:605, 1962. 8. NULSEN, F. E. & SPITZ, E. B. Treatment of hydrocephalus by direct shunt from ventricle to jugular vein. Surg. Forum 2:399, 1952. 9. RAIMONDI, A. J. & MATSUMOTO, S. A simplified technique for performing the ventriculo-peritoneal shunt. J. Neurosurg. 26:357, 1967. 10. WEISS, S. R. & RASKIND, R. Twenty-two cases of hydrocephalus treated with a silatic ventriculoperitoneal shunt. Int. Surg. 51:13, 1969. Rua 11 de Agosto 412 Campinas, SP Brasil.