VERIFICAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE DERIVAÇÕES VENTRÍCULO-PERITONEAIS COM VÁLVULA MEDIANTE EMPREGO DE RADIOISÓTOPOS

Documentos relacionados
VENTRÍCULO-AURICULOSTOMIA NOS BLOQUEIOS INFLAMATORIOS E TUMORAIS À CIRCULAÇÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO

VALORES DO ENXOFRE, COBRE E MAGNÉSIO NO SORO SANGUÍNEO E NO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NOS TRAUMATISMOS CRÂNIO-ENCEFÁLICOS RECENTES

HIDROCÉFALO COM PRESSÃO NORMAL E NEUROCISTICERCOSE.

TRATAMENTO CIRURGICO DO HIDROCEFALO EM CRIANÇAS

INFECÇÕES DE DERIVAÇÕES LIQUÓRICAS EM CRIANÇAS

VALORES NORMAIS DA CONCENTRAÇÃO PROTÉICA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO: VARIAÇÕES LIGADAS AO LOCAL DE COLHEITA DA AMOSTRA

COMPLICAÇÕES NA DERIVAÇÃO VENTRÍCULO-PERITONEAL EM CRIANÇAS PORTADORAS DE HIDROCEFALIA

PROTEINOGRAMA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO NA LEPRA

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

. Intervalo livre de sintomatologia até 12h (perda de consciência seguindo-se período de lucidez);

Nome: Paulo Mendonça Ferreira Sexo: M Altura: 1.84 Peso: 98 Fumante: 0 Data de nascimento: 11/10/1981

REGISTRO DA PRESSÃO INTRACRANIANA

HIDROCEFALIA NA INFÂNCIA

Pneumoventrículo hipertensivo pós-traumático: relato de caso

ASPECTO TUMORAL DA CISTICERCOSE INTRACRANIANA

AVALIAÇÃO HIDRODINÂMICA DE UMA VÁLVULA NEUROLÓGICA AJUSTÁVEL POR ACIONAMENTO MECÂNICO

- CAPÍTULO 3 - O SISTEMA CIRCULATÓRIO

TRATAMENTO DE HIDROCEFALIA COM DERIVAÇÃO VENTRÍCULO-PERITONEAL: ANÁLISE DE 150 CASOS CONSECUTIVOS NO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE RIBEIRÃO PRETO 1.

VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTERNA MAGNA

Cintilografia Cerebral LARYSSA MARINNA RESIDENTE DE ENFERMAGEM EM NEONATOLOGIA

ALTERAÇÕES DO LIQUIDO CEFALORRAQUEANO NO MIELOMA MULTIPLO

Hidrocefalia: relação entre o conhecimento do cuidador e sequelas motoras

Setor: Todos os setores Responsável pela prescrição do POP Médico, Enfermeiro Responsável pela execução do POP Auxiliar ou Técnico em Enfermagem

QUARTO VENTRÍCULO ISOLADO

FÍSICA MÉDICA. Aula 04 Desintegração Nuclear. Prof. Me. Wangner Barbosa da Costa

UNIVERSIDADE DE SÃOPAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA

MEDIDA DA VELOCIDADE DE FLUXO NAS ARTÉRIAS CEREBRAIS UTILIZANDO ULTRA-SOM DOPPLER TRANSFONTANELA ANTES E APÓS O TRATAMENTO CIRÚRGICO DA HIDROCEFALIA

FISIOLOGIA DA CONTRAÇÃO MUSCULAR DISCIPLINA: FISIOLOGIA I

Exercícios de Circulação Comparada

defi departamento de física

DETERMINAÇÃO DA MEIA-VIDA DO CO-57 USANDO DADOS DA VERIFICAÇÃO DIÁRIA DE DETECTORES

HIDROCEFALIA DERIVADA NA INFÂNCIA. Um estudo clínico-epidemiológico de 243 observações consecutivas. Susana Ely Kliemann 1, Sérgio Rosemberg 2

Recomendação de vídeo!

Universidade de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde TESE DE DOUTORADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA FRANCISCO DAS CHAGAS FLÁVIO CARVALHO COSTA

HEMATOMAS INTRACEREBRAIS EM TUMORES METASTATICOS

CATÉTERES VENOSOS CENTRAIS DE LONGA DURAÇÃO Experiência com 1000 catéteres

QI EM PACIENTES COM HIDROCEFALIA E MIELOMENINGOCELE

1969:Estado da Guanabara IECAC Comunicação Inter-Ventricular com Hipertensão Pulmonar-13/08/1969

a) Escrever a equação nuclear balanceada que representa a reação que leva à emissão do positrão.

Atividade Física e Cardiopatia

ANEXO I ÓRTESES PRÓTESES E MATERIAIS ESPECIAIS (OPME) ELENCO DE CAIXAS E IMPLANTES NECESSÁRIOS AO SERVIÇO DE NEUROCIRURGIA DO HRC E HRN

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria

MANUAL DE INSTRUÇÕES

CURSO DE RADIOPROTEÇÃO COM ÊNFASE NO USO, PREPARO E MANUSEIO DE FONTES RADIOATIVAS NÃO SELADAS

CARACTERIZAÇÃO HIDRODINÂMICA DE UM SISTEMA DE DRENAGEM EXTERNA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO

TRATAMENTO DOS ABSCESSOS INTRACRANIANOS TREPANOPUNÇÃO

Semiologia Cardiivascular. Pulso Jugular Venoso. por Cássio Martins

PRESSÃO ARTERIAL Fisiologia

inadequada ou muito lenta.

Um dos parâmetros de escoamento mais importantes

Mecanismos de Elevação Artificial

ANATOMIA DO SISTEMA VENTRICULAR VISÃO ISOMÉTRICA

Conclusões e Trabalhos Futuros

Materiais e Métodos As informações presentes neste trabalho foram obtidas a partir de revisão bibliográfica e do prontuário do paciente

Site:

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

1a. Aula. O que é Medicina Nuclear? Medicina Nuclear. Medicina Nuclear. Medicina Nuclear. Métodos de Imagem Medicina Nuclear Aspectos Técnicos 3/22/12

CAPÍTULO 5 RESULTADOS. São apresentados neste Capítulo os resultados obtidos através do programa Classific, para

Estudo Radiográfico de Abdome Agudo (ERAA): Ingestão de cápsulas de entorpecentes*

Trauma torácico ATLS A airway (vias aéreas pérvias) B breathing (avaliação manutenção resp e mecânica resp) C circulation D disability (avaliação esta

FATORES CLÍNICOS ASSOCIADOS A FÍSTULA LIQUÓRICA CUTÂNEA EM LACTENTES OPERADOS DE DERIVAÇÃO VENTRÍCULO PERITONEAL

ANTONIO ALVES BARRADAS NETO

Transporte de nutrientes e oxigénio até às células

RINONEOPLASTIA TOTAL NA LEPRA (Método Indiano)

Sistemas de monitoramento de pacientes

Curso de capacitação em interpretação de Eletrocardiograma (ECG) Prof Dr Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho

Insuficiência Renal Crônica Claudia Witzel

Exemplos de Aplicações das Funções Exponencial e Logarítmica em Biologia (com uma introdução às equações diferenciais)

CARACTERIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PARA ATRIBUIÇÃO DE IDONEIDADE FORMATIVA PARA O INTERNATO DE ORTOPEDIA

Lígia Maria C. Junqueira Silva Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência Setor de Fisioterapia Março/2006

BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA FUNÇÃO CARDIO-VASCULAR E EXERCÍCIO

PLANO DE TRABALHO DA DISIPLINA PRO 127 : TECNOLOGIA EM MEDICINA NUCLEAR I

Exames Complementares Morte Encefálica. Pedro Antonio P. de Jesus

ULTRA-SONOGRAFIA CEREBRAL EM CRIANÇAS NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

Função ventricular diastólica.

NEUROCISTICIRCOSE: A DIFERENÇA DO SISTEMA PRIVADO PARA O SITEMA PUBLICO.¹

INDICAÇÕES: Em RNs instáveis hemodinamicamente e/ou em uso de drogas vasoativas e inotrópicas.

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO SEGUIMENTO DE PACIENTES COM TUMORES INTRACRANIANOS

Orientações sobre procedimentos em Medicina Nuclear. Neurologia

CQ dos sistemas de gerenciamento, verificação e transferência de dados

Study of Personal Dosimetry Efficiency in Procedures of Abdominal Aortic Aneurism in Interventional Radiology

HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE

Figura 1. Equipamento de LECO Carlos Alberto Ferreira Chagas

GRANULOMA BLASTOMICOTICO NA MEDULA CERVICAL

ACHADOS ELETRENCEFALOGRÁFICOS NA ENCEFALOPATIA MIOCLÔNICA PÓS ANÓXICA

HOSPITAL DE CARIDADE SÃO VICENTE DE PAULO. Cartilha Atendimento ao Cliente

Marcos Sekine Enoch Meira João Pimenta

CATETERISMO CARDÍACO. Prof. Claudia Witzel

Instrumentação em Medicina Nuclear

APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE TERMOGRAFIA ATIVA NA INSPEÇÃO NÃO-DESTRUTIVA DE TAMBORES DE REJEITO NUCLEAR

Síncope O que fazer no PS? Jeová Cordeiro de Morais Júnior

ESTABILIZAÇÃO GRANULOMÉTRICA

Bloqueios Atrioventriculares

CATARATA. O olho funciona como uma máquina fotográfica

MENINGENCEFALITES BACTERIANAS AGUDAS EM CRIANÇAS

Processo Seletivo/UFU - julho ª Prova Comum QUÍMICA QUESTÃO 41

HISTÓRICO 1895 WILHEM ROENTGEN

Lista 1 - Radioatividade

Transcrição:

VERIFICAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE DERIVAÇÕES VENTRÍCULO-PERITONEAIS COM VÁLVULA MEDIANTE EMPREGO DE RADIOISÓTOPOS CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA PESSOAL JORGE FACURE * ALTAIR J. CAMERA** NUBOR FACURE * NYDER R. OTERO ** A derivação ventrículo-peritoneal com válvula para o tratamento da hidrocefalia, tem sido realizada com resultados satisfatórios por diversos autores 1 < 2. 9» 1 0. Para verificar o funcionamento e a eficiência da derivação os autores recomendam o exame clínico-neurológico periódico dos pacientes operados, a palpação das válvulas e das bombas de fluxo e o método pneumoradiográfico 1 0. O emprego de radioisótopos para verificação da permeabilidade do sistema nos vários tipos de derivação do trânsito liquórico teve seu início com Bell 3 (1957), para verificar o funcionamento de derivações ventrículo-cisternais tipo Torkildsen e ventrículo-peritoneais sem válvulas. Migliore e col. 7 preconizaram o seu uso para o estudo das derivações ventrículo-atriais. Ulteriormente diversos autores, com modificações próprias, também realizaram estudos com radioisótopos em crianças hidrocefálicas operadas mediante derivação ventrículo-atrial 4 > 5. 6. O método por nós utilizado constitui evolução natural da técnica de estudos com radioisótopos. MATERIAL E MÉTODOS a) Paciente em decúbito dorsal horizontal; b) injeção intra-ventricular de 50 a 100 microcuries de RIHSA (Radioiodinated Human Serum Albumln); c) inicio imediato da captação da radioatividade por dois colimadores sendo o primeiro justaposto à região têmporo-parietal e, o segundo, colocado ao nivel do ponto de McBurney. Éste conjunto é acoplado a um sistema inscritor que registra simultáneamente a intensidade da atividade radioativa captada por ambos colimadores. Após a difusão da RIHSA nos ventrículos, à medida que o liquido cefalorraqueano vai sendo drenado, a intensidade da radioatividade tende a diminuir nos ventrículos e a aumentar na cavidade peritoneal, sendo registrada pelo sistema inscritor; d) com intervalo de 18 a 24 horas realiza-se mapeamento cerebral e abdominal. * Neurocirurgiões do Hospital da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, Campinas, São Paulo. ** Médicos responsáveis pelo Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Vera Cruz, Campinas, São Paulo.

O estudo foi realizado em 7 pacientes hidrocefálicos operados mediante derivação ventríeulo-peritoneal com o uso da válvula de Holter, com período pós-operatório variando de 1 a 12 meses (média de 5 meses). RESULTADOS E COMENTÁRIOS Em virtude do longo trajeto do cateter distai na derivação ventríeuloperitoneal, em alguns casos, o método palpatório 5. s deixa dúvidas quanto à existência ou não de intercorrências bloqueantes. O método por nós apresentado, além de sua simplicidade, apresenta como grande vantagem o fato de nos informar não só as condições de permeabilidade do sistema de derivação como também o seu ritmo de funcionamento. Em 4 pacientes a drenagem do líquido cefalorraqueano para a cavidade peritoneal efetuou-se lentamente (Fig. 1), havendo registro de atividade radioativa no peritônio apenas 30 minutos após a introdução da substância nos ventrículos, continuando a intensidade da radiação a aumentar lentamente na cavidade peritoneal. O mapeamento cerebral e abdominal com intervalo de 24 horas mostrou, nesses casos, permanência de intensa radioatividade nos ventrículos.

Em dois pacientes o ritmo de drenagem foi rápido e 10 minutos após o início do exame já se registrava atividade radioativa na cavidade peritoneal com aumento progressivo na sua intensidade (Fig. 2). Nesses casos o mapeamento após 18 horas mostrou pequena atividade radioativa nos ventrículos e grande no peritônio. A figura 3 mostra os resultados em um caso em que não houve drenagem do líquido cefalorraqueano para a cavidade peritoneal. Nosso objetivo neste trabalho é a comunicação de um método pessoal de exame. Oportunamente publicaremos nossas conclusões e outras observações sobre o método, baseadas em análise de casuística maior. R E S U M O Apresentação de um método pessoal de exame para avaliação do funcionamento da derivação ventrículo-peritoneal com válvula, consistente na injeção intra-ventricular de RIHSA, seguida da captação simultânea da atividade radioativa nos ventrículos e na cavidade peritoneal. Mapeamentos simultâneos das regiões cerebral e abdominal, feitos com intervalo de 18 a 24 horas completam o estudo.

S U M M A R Y Radioisotopic method for evaluating the patency of ventriculo-peritoneal shunts with valve: a personal contribution A simplified method to evaluate the patency of ventriculo-peritoneal shunts with valve by simultaneous captation of radiation at ventricles and peritoneal cavity of intraventricular injected RIHSA is reported. The study is completed by simultaneous brain and peritoneal scanning after an 18-24 hours interval. R E F E R Ê N C I A S 1. ALMEIDA, G. M. & PEREIRA, W. C. Derivação ventriculoperitoneal com válvula no tratamento da hidrocefalia do lactente. Arq. Neuro-Psiquiat. (São Paulo) 27:308, 1969. 2. AMES, R. H. Ventrículo-peritoneal shunts in the management of hydrocephalus. J. Neurosurg. 27:525, 1967. 3. BELL, R. L. Isotope tranfer test for diagnosis of ventriculo-subarachnoidal block. J. Neurosurg. 14:674, 1957.

4. DI CHIRO, G. & GROVE, A. S. Evaluation of surgical and spontaneous cerebrospinal fluid shunts by isotope scaning. J. Neurosurg. 24:743, 1966. 5. LEPOIRE, J. & LAPRAS, C. Traitement de l'hydrocéphalie non tumorale du nourison par la dérivation ventriculo-atriale. Neuro-chirurgie 13:209, 1967. 6. McCULLOUGH, D. C. & LUESSENHOP, A. J. Evaluation by photoscanning of the diffusion of intrathecal RISA in infantile and childhood hydrocephalus. J. Neurosurg. 30:673, 1969. 7. MIGLIORE, A.; PAOLETTI, P. & VILLANI. R. Radioisotopic method for evaluating the patency of the Spitz-Holter valve. J. Neurosurg. 19:605, 1962. 8. NULSEN, F. E. & SPITZ, E. B. Treatment of hydrocephalus by direct shunt from ventricle to jugular vein. Surg. Forum 2:399, 1952. 9. RAIMONDI, A. J. & MATSUMOTO, S. A simplified technique for performing the ventriculo-peritoneal shunt. J. Neurosurg. 26:357, 1967. 10. WEISS, S. R. & RASKIND, R. Twenty-two cases of hydrocephalus treated with a silatic ventriculoperitoneal shunt. Int. Surg. 51:13, 1969. Rua 11 de Agosto 412 Campinas, SP Brasil.