Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 51

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Transcrição:

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 51 4.3.1- MODELO ESTÁTICO 3D Nesta etapa foi empregado o software Gocad em sua versão 2.1 para integrar, modelar e visualizar tridimensionalmente os dados geológicos no espaço tridimensional. A metodologia utilizada é descrita a seguir. Primeiramente os dados obtidos nos levantamentos planialtimétricos foram inseridos como pontos (x,y,z) sendo, posteriormente, criadas superfícies (surfaces) empregando diferentes método de interpolação (figura 4.7 A). O resultado deste processo foi a construção dos modelos digitais de terreno. As imagens e perfis geofísicos georreferenciados (neste caso, os perfis de reflexão de GPR) foram incorporados ao projeto como imagens, adicionando uma perspectiva 3D (figura 4.7 B). Na interpretação geológica, realizada nos radargramas, foi possível correlacionar os refletores e identificar a geometria relacionada com um canal (figura 4.8). Figura 4.7- Etapas desenvolvidas na construção do modelo 3D. A- Construção dos modelos digitais do terreno e visualização. B- Importação, georreferenciamento e visualização das imagens referentes aos perfis de reflexão do GPR.

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 52 Figura 4.8- Visualização e modelagem do canal de maré (em verde) interpretado nos radargramas. Os trabalhos realizados nas duas etapas de campo permitem identificar diferentes estruturas sedimentares relacionadas com depósitos de maré, destacando-se entre elas, bioturbação, flaser, wave, marcas onduladas, dunas 3D e deposição de clastos de argilas (figura 4.9). Com as informações obtidas a partir do grid de linhas GPR foi possível interpretar os depósitos de planície e canal de maré, situados na margem direita do atual leito do Rio Parnaíba. Nas linhas 07, 08, 09, 10, A e B, encontra-se a planície de maré, representada por refletores planos, paralelos à superfície topográfica. Nesta região, rica em camadas argilosas, altamente condutivas, a penetração das ondas eletromagnéticas é bastante prejudicada, verificando-se uma perfeita blindagem à propagação das ondas para o interior das camadas sedimentares.

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 53 Figura 4.9- Feições sedimentares identificadas em campo. A- Bioturbação. B- Flaser e wave. C- Marcas onduladas de corrente. D- Duna 3D parcialmente erodida. E, F- Clastos de argila. Na região onde se situava o canal de maré, a profundidade alcançada pelo GPR variou entre 3-4 m, permitindo a delimitação da geometria do canal e, em alguns casos, da geometria das formas de leito e até das estratificações cruzadas (figura 4.10).

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 54 Figura 4.10- Apresentação do radargrama com sua interpretação, exemplo da linha 02. A- Dados processados. B,C- Interpretação dos refletores.

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 55 Em perfis GPR, levantados paralelamente ao paleofluxo, observou-se a geometria tabular, resultante da migração das formas de leito e de seus limites erosivos (localizados na porção superior dos depósitos sedimentares) marcados pela reativação do canal de maré como, por exemplo, na linha E90B10. A maioria das linhas foi levantada oblíquamente em relação ao canal de maré, gerando uma superfície que exagera a largura do canal de maré. A composição de todas as linhas GPR levantadas segundo o grid préestabelecido, redefinido no campo, permitiu a reconstrução precisa do limite oeste do canal (figura 4.11). A borda leste foi erodida pelo Rio Parnaíba antes do primeiro levantamento. Posteriormente, na segunda etapa de campo foi observado que todo canal foi erodido. Isto pode ser visualizado com a superposição dos dados planialtimétricos levantados nos meses de fevereiro e julho de 2004, os quais mostraram uma forte erosão. Figura 4.11- Grid das linhas GPR levantadas e a localização do canal imageado. Obtidos os radargramas que representam o canal de maré (2D) e as coordenadas da área estudada, o próximo passo foi a parametrização deste canal. Neste processo,

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 56 foram determinados os parâmetros espessura e largura do canal. Os valores médios da espessura e largura do canal variam cerca de 3,5 m e 80 m respectivamente. 4.4- ÁREA DO FAROL A área encontra-se localizada na desembocadura do Rio Parnaíba, a poucos quilômetros a oeste da primeira área estudada (figura 4.12). A análise dos produtos de sensoriamento remoto (figura 4.13) e os trabalhos de campo realizados em fevereiro mostraram antigos canais de maré que foram cobertos por sedimentos eólicos. Os levantamentos de superfície e subsuperfície foram realizados em duas etapas (julho e setembro de 2004). Figura 4.12- Localização da área dos levantamentos. Os perfis de GPR foram levantados com antenas de 200 MHz e 100 MHz e, paralelamente, realizados os levantamentos plani-altimétricos. Os parâmetros de aquisição dos perfis de GPR foram os mesmos empregados no segundo levantamento realizado na região da desembocadura (tabelas 4.1 e 4.2). Na primeira etapa de campo foram adquiridos 1740,4 m de perfis de GPR e 1840 m durante a segunda. Conjuntamente, foram realizados levantamentos planialtimétricos para cada uma das etapas de campo (figura 4.14).

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 57 Figura 4.13- Imagens satélites mostrando a evolução do canal de maré na área estudada. AImagem SPOT (04/10/1991) composição colorida RGB 231. B- Imagem SPOT (13/08/1999), composição colorida RGB 231. Figura 4.14- Imagem Ikonos com os dados do levantamento de dgps realizados na área durante a primeira (vermelho) e segunda (verde) etapa de campo.