CONSTRUÇÃO DE TECNOLOGIA EDUCATIVA PARA AVALIAÇÃO DE ÚLCERA POR PRESSÃO CONSTRUCTION OF EDUCATIONAL TECHNOLOGY FOR EVALUATION OF PRESSURE ULCER Resumo Luana Nunes Caldini¹, Thiago Moura de Araújo², Natasha Marques Frota³, Joselany Áfio Caetano 4 Objetivo: construir uma tecnologia educativa, através de vídeos, para avaliação e tratamento de úlceras por pressão. Método: Estudo de construção, desenvolvido na Universidade Federal do Ceará em parceria com a Escola de Enfermagem de São Paulo, no qual seguirá duas etapas para elaboração de uma tecnologia educativa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética com o parecer nº 098.09.11. Resultados: Foram elaborados quatro vídeos sobre o assunto. Os vídeos estão disponibilizados no formato de avi e armazenados como anexo do curso online de úlcera por pressão. Considerações finais: O vídeo educacional pode ser considerado um recurso tecnológico adequado para o uso na Educação à Distância desde utilizado combinado com outras mídias e outros recursos didáticos. Descritores: Tecnologia, Informática em Enfermagem, Úlcera por pressão. Abstract Objective: To build an educational technology, through videos, for evaluation and treatment of pressure ulcers. Method: construction, developed at the Federal University of Ceará in partnership with the School of Nursing of São Paulo, which will follow two steps to developing an educational technology. The project was approved by the Ethics Committee No. 098.09.11. Results: We prepared four videos on the subject. The videos are available in avi format and stored as an attachment of the online course of pressure ulcers. Conclusion: The educational video can be considered a technological resource suitable for use in distance education since used in combination with other media and other educational resources. Keywords: Technology, Nursing Informatics, Pressure Ulcer 1. INTRODUÇÃO A úlcera por pressão (UP) é qualquer alteração na integridade da pele decorrente da compressão não aliviada nos tecidos moles entre uma proeminência óssea e uma superfície dura por um período longo de tempo (Dealey, 2008). A prevalência de UP é medida pela frequência de sua ocorrência ou pelo seu coeficiente apresentado como índice de pacientes com UP em determinada população em um determinado tempo. Pode ser medida tendo como referência a situação em certo período de tempo, como ano, mês ou dia (FRANTZ, 1997). Nos Estados Unidos, a prevalência está em torno de 3-14% nos hospitais e de 25% nas casas de repouso (DEALEY, 2008; PEDLEY, 2004). O reconhecimento dos indivíduos em risco de desenvolver UP não depende somente da habilidade clínica do profissional, mas também é importante o uso de um instrumento de medida, como uma escala de avaliação que apresente adequados índices de validade preditiva, sensibilidade e especificidade (GOULD et al., 2004; RANGEL, 2004; ROCHA, BARROS, 2007). A tecnologia na área da saúde tem proporcionado aos profissionais avançarem na avaliação dos pacientes, no intuito de melhorar a qualidade e a padronização do atendimento. ¹ Estudante de enfermagem da Universidade Federal do Ceará. E-mail: luana_caldini@hotmail.com ² Enfermeiro. Universidade Federal do Maranhão. ³ Enfermeira. Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará. 4 Professora adjunta. Universidade Federal do Ceará.
A avaliação das úlceras por pressão (UPs) é realizada, principalmente, pelo profissional enfermeiro, sendo utilizada uma padronização nos estágios das lesões, embora nem sempre conhecida por esses profissionais de enfermagem. A construção de tecnologias para auxiliar o profissional no atendimento das necessidades de seus clientes é de grande importância nos dias atuais, mostrando assim a necessidade de o enfermeiro aprofundar seus conhecimentos sobre avaliação das UPs. A aquisição de habilidade e técnicas na avaliação de uma UP requer disposição do profissional; embora as tecnologias leves sejam de fácil acesso, é necessário que tratem o assunto com objetividade, para uma boa aceitação. Estudos realizados com tecnologias educativas na enfermagem tiveram início, no Brasil, nos anos de 1990, e vêm avançando nos dias atuais. (SANTOS, LIMA, 2008; DIAS, CASSIANI, 2004; MARQUES, MARIN, 2002; RIBEIRO, LOPES, 2006). A construção de um vídeo educativo sobre avaliação e tratamento das UPs propicia gerar uma tecnologia promissora para atender as necessidades dos profissionais na prática clínica diária. A adequação de tecnologias, com uso de figuras e filmagens que retratem a prática clínica do enfermeiro na avaliação de lesões, pode aumentar a possibilidade de adquirir empoderamento sobre a temática com o decorrer do tempo, podendo esse profissional torna-se um multiplicador dos conhecimentos adquiridos. Com a construção de uma tecnologia educativa voltada para avaliação das UPs, poderemos aumentar o interesse dos profissionais em discutir o assunto e, posteriormente, o interesse em aprender e se habilitar sobre o tema, proporcionando segurança na equipe para avaliar as lesões, conquistando assim melhorias na qualidade do serviço e promovendo a saúde do paciente. Frente a essa realidade o estudo teve como objetivo construir uma tecnologia educativa, através de um vídeo, para avaliação e tratamento de úlceras por pressão. 2. MÉTODO Trata-se de um estudo de construção de uma tecnologia educativa. Também pode ser considerada como uma pesquisa aplicada, de produção tecnológica, sendo o resultado final o desenvolvimento de um produto referente à elaboração de uma proposta educativa por vídeo sobre avaliação e tratamento de UP para enfermeiros. A escolha do tema da úlcera por pressão justifica-se diante da relevância do tema para a área da saúde, considerando que a avaliação da incidência de UP é utilizada como indicador de qualidade do cuidado nos serviços de saúde, desde 1987 com a criação da Joint Commission for the Acreditation of Health Care Organization (JCAHO), órgão responsável pela avaliação e credenciamento dos serviços de saúde nos Estados Unidos da América (BATES-JESEN, 2001). A construção dos vídeos foi realizada como parte de uma proposta educacional em forma de Curso online sobre prevenção e tratamento de úlceras por pressão. Foi realizada no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará. O período para construção do vídeo foi de aproximadamente seis meses. A metodologia científica utilizada para elaboração do vídeo foi composta de duas etapas, a da concepção e planejamento e a de desenvolvimento, caracterizada por um conjunto de procedimentos, documentação, digitalização de informações e de imagens e vídeos. Esse método foi adotado por possibilitar o alcance dos objetivos educacionais numa abordagem colaborativa e interativa de ensino virtual (CAETANO, 2006). Assim, a etapa de concepção e planejamento compreende a definição do tema e do público-alvo, a elaboração dos objetivos educacionais, a seleção dos recursos disponíveis e a definição do design instrucional. Para a organização do material será utilizada a técnica de
storyboard, que permite o detalhamento da sequência de conteúdo, estrutura de navegação e as interfaces. A etapa de desenvolvimento é caracterizada pela produção ou reprodução das mídias utilizadas no ambiente virtual (CAETANO, 2006). Com relação aos recursos humanos, contou com a participação de duas enfermeiras Mestres em Enfermagem e especialistas em Enfermagem em Estomaterapia: Ostomias, Feridas e Incontinências. Na elaboração do conteúdo teórico, na descrição do layout dos objetos virtuais e nas formas de avaliação de aprendizagem. Contaremos, ainda, com o apoio do laboratório de habilidades e cuidados (LabHab) da Universidade Federal do Ceará. O LabHab é um espaço destinado para prática, onde o aluno pode desenvolver habilidades especificas para a prática hospitalar, através do manuseio de materiais e execução de procedimentos. O vídeo educativo foi subdividido em quatros módulos que abordam os seguintes tópicos: Vídeo 1: Protocolo de prevenção de úlcera por pressão; Vídeo 2: Produtos utilizados no tratamento de úlcera por pressão; Vídeo 3: Tratamento das úlcera de grau I e II Vídeo 4: Tratamento das úlceras de III e IV 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O curso Úlcera por Pressão (On line) trata-se de uma Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) que foi desenvolvida a partir de uma pesquisa aplicada de produção tecnológica pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo para capacitar enfermeiros e acadêmicos de enfermagem sobre a prevenção e tratamento da UP. Essa tecnologia já passou por um processo de validação por especialistas, e remodelada após as sugestões dos juízes (PERES et al., 2011). A pesquisa de validação do curso foi realizada com parceria com o Grupo de Estudo e Pesquisa na Promoção da Saúde do Adulto em Situação Crítica (GEPASC) da Universidade Federal do Ceará, onde foi realizada a construção dos vídeos. Entretanto, como uma sugestão dos juízes foi o acréscimo de vídeos, ficando assim sob nossa responsabilidade, assim, a construção dos vídeos foi desenvolvido por uma sequência de fotos, montagens, textos, coml uma abordagem assíncrona. Os vídeos estão disponibilizados no formato de avi e armazenados como anexo no módulo V do curso e só podem ser visualizados a partir do download dos links disponibilizados no site. Na fase de construção do vídeo, a gravação pode ser realizada no lócus do estudo ou em ambientes tais como laboratórios. Optamos realizar a captura das imagens no laboratório de habilidades da UFC com cenários fictícios, pois consoante com o estudo de Barbosa, 2008, este tipo de espaço é considerado um ambiente adequado para a gravação, pois não causa exposição do paciente. Ainda nesta fase, pode-se optar por acrescentar recursos de interação para melhorar a comunicação entre professor e aluno, como por exemplo, recursos de abordagem assíncrona. De acordo com a literatura abordagem assíncrona é toda aquela que não necessita da presença dos atores do processo de ensino-aprendizagem, com isso torna mais flexível à interação entre eles. Podemos citar listas e fóruns de discussão e correio eletrônico (e-mail). A abordagem também pode ser classificada como síncrona, onde professor e aluno devem estar utilizando o meio no mesmo instante (BRITO, 2003). Para edição das fotos foram utilizados dois programas: Photoscape e o Adobe Photoshop CS2. O Photoscape é um software simplificado de edição de fotos, onde podemos redimensionar as imagens como também fazer montagens e adicionar textos sendo utilizada a versão v3. 6.
Com a evolução da tecnologia nos últimos anos, observamos uma maior facilidade de construção de vídeos tanto pela evolução tecnológica de filmadoras e câmera digitais como pela quantidade de programas disponíveis para a realização e edição de vídeos (JÚNIOR; COUTINHO, 2009). Optamos por utilizar o software Windows Movie Maker. O Vídeo 1 Protocolo de prevenção de úlcera por pressão tem duração de 2:34 minutos e aborda a mudança de decúbito, posicionamento correto no leito e na cadeira de rodas e medidas de alivio da pressão. Optamos por abordar estes dois assuntos por serem intervenções eficazes e sem custo e que, além disso, geram muitas dúvidas nos profissionais sobre a técnica de realização destas intervenções. Na tela inicial do vídeo utilizamos a figura em desenho animado de uma enfermeira como objeto educacional assíncrono, com o objetivo de estimular a participação do aluno. Nessa tela é feita uma prévia sobre o que será abordado no vídeo (Figura 1). Figura 1: Tela inicial do vídeo sobre protocolo de prevenção de UP. Curso úlcera por Pressão On line. Fortaleza/CE, 2012. O Vídeo 2 - Produtos utilizados para prevenção e tratamento da UP tem duração de 3:40 minutos, onde são abordados os produtos mais utilizados e conhecidos para prevenção e tratamento de úlcera por pressão. Entre eles estão: AGE (ácidos graxos essenciais), hidrocolóide, alginato de cálcio, hidrogel e papaína. (Figura 2). Este vídeo tem a finalidade de auxiliar o profissional na escolha da melhor intervenção de acordo com a característica da úlcera. Para a construção do vídeo foi necessário utilizar, além das imagens pertencentes ao grupo de pesquisa, imagens de domínio público, devido à indisponibilidade do produto. Figura 2: Tela com produtos abordados no vídeo Produtos utilizados para prevenção e tratamento de UP. Curso úlcera por Pressão On line. Fortaleza/CE, 2012.
O vídeo 3: Protocolo de tratamento de úlcera por pressão tem duração de 2:38 minutos e aborda o protocolo de tratamento de úlcera por pressão de grau I e II. Além disso, demonstra a aplicação das coberturas utilizadas como primeira opção de tratamento. Para fazer o estadiamento das úlceras nos vídeos 3 e 4, e assim indicar o tratamento apropriado, foi utilizado o estadiamento descrito pela European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP) e a American National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP): Estágio I: eritema não branqueável em pele intacta; Estágio II: perda parcial da espessura da pele ou flictena; Estágio III: Perda total da espessura da pele (Tecido subcutâneo visível); Estágio IV: Perda total da espessura dos tecidos (músculos e ossos visíveis). O Vídeo 4, tem duração de 2:40 minutos, e é uma continuação do protocolo de tratamento de úlcera de pressão. Neste vídeo o tratamento é direcionado para úlcera de grau III e IV (Figura 3). Figura 3: Tela de protocolo de tratamento de UP nos estágios III e IV. Vídeo protocolo de tratamento de úlcera por pressão Curso úlcera por Pressão On line. Fortaleza/CE, 2012. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O vídeo educacional pode ser considerado um recurso tecnológico adequado para o uso na Educação À Distância (EAD) desde que sejam observados os seguintes aspectos: que seja utilizado de maneira adequada, com o devido planejamento e que deve ser utilizado combinado com outras mídias e outros recursos didáticos. Referências 1. BARBOSA, R. C. M. Validação de um vídeo educativo para a promoção do apego seguro entre mãe soropositiva para o HIV e seu filho. 156p. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Ceará. 2008. 2. BATES-JESEN, B. Quality indicators for prevention and management of pressure 30. ulcers in vunerable elders. Ann Intern Med, 135: 744-51, 2001. 3. BRITO, M.S.S. Tecnologias para EAD via internet. ALVES, L. R. G., NOVOA, C. C. Educação e tecnologia: trilhando caminhos. Salvador : Editora da UNEB, 2003, v.1.p 62-89 4. CAETANO, K.C. Desenvolvimento e avaliação de um ambiente de aprendizagem virtual em administração em enfermagem [dissertação] São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP, 2006. 5. DEALEY C. Cuidando de Feridas um guia para as enfermeiras. Tradução: Eliane Kanner. 2 a edição. São Paulo (SP): Atheneu; 2008.
6. DIAS, D.C.; CASSIANI, S.H.D.B. Educação de enfermagem sem distância %u2013 uma ruptura espaço/temporal. Rev Esc. Enfermagem USP. 38(4), P.467-74, 2004. 7. FRANTZ, R.A. Measuring prevalence and incidence of pressure ulcers. Adv Wound Care 1997; 10(1): 35-44. 8. GOULD, D; GOLDSTONE, L; KELLY, D; GAMMON, J. Examining the validity of pressure ulcer risk assessment scales: a replication study. Int J Nurs Stud 2004; v.41, n.3, p.331-339. 9. MARQUES IR, MARIN HF. Enfermagem na web: o processo de criação e validação de um web site sobre doença arterial coronariana. Rev Latino-am Enfermagem 2002 maio-junho; 10(3):298-307. 10. PEDLEY, G.E. Comparison of pressure ulcer grading scales: a study of clinical utility and inte-rater reliability. Int J Nurs Stud 2004; v. 41, n.2, p.129-40. 11. PERES, H.H.C.; LEITE, M.M.J. Software Educacional: objetivos educacionais. Versão II [CD-ROM]. São Paulo: Escola de Enfermagem da USP, 2000. 12.. RANGEL, E.M.L. Conhecimento, práticas e fontes de informação de enfermeiros de um hospital sobre a prevenção e tratamento da úlcera de pressão. [Mestrado em Enfermagem Fundamental]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo/ Ribeirão Preto, 2004. 74f. 13. RIBEIRO, M.A.S.; LOPES, M.H.B.M. Desenvolvimento, aplicação e avaliação de um curso à distância sobre tratamento de feridas. Rev Latino-Americana de Enfermagem. 14(1).p 77-84, 2006. 14. ROCHA, A.B.L.; BARROS, S.M.O. Avaliação de risco de úlcera por pressão: propriedades de medida da versão em português da escala de Waterlow. Acta Paulista de Enfermagem. São Paulo: abr./jun, 2007, v.20 n.2. 15. SANTOS, Z.M.S.A.; LIMA, H.P. Tecnologia educativa em saúde na prevenção da hipertensão arterial em trabalhadores: análise das mudanças no estilo de vida. Texto Contexto Enferm. 17(1) P90-7, 2008.