ESTUDO DA VIDA COMERCIAL DE SOUS VIDE DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum) ARMAZENADO SOB CONGELAMENTO

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Transcrição:

ESTUDO DA VIDA COMERCIAL DE SOUS VIDE DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum) ARMAZENADO SOB CONGELAMENTO C.S. Araújo 1, H.C.A. Kato 2, P. N. Bezerra 1, E. M. P. X. Neves 2, L.F.H. Lourenço 2 1- Faculdade de Engenharia de Alimentos Universidade Federal Pará (UFPA), Instituto de Tecnologia CEP: 66075-110 Belém PA Brasil e-mail: (cleidy_araujo@yahoo.com.br; priscila.n.bezerra@hotmail.com) 2- Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos - Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto de Tecnologia CEP: 66.075-900 - Belém PA Brasil, Fone/Fax: 3201-8861 e- mail:(hellen@cnpc.embrapa.br;;eledaneves@gmail.com;luciahl@ufpa.br) RESUMO O objetivo deste trabalho foi a obtenção de sous vide de tambaqui cultivado (Colossoma macropomum) e estudar a vida de prateleira a -18 C. O sous vide foi elaborado com dois tipos de molhos: shoyu e manjericão e as amostras foram armazenadas a -18 C e analisadas a cada 15 dias por 90 dias, quanto a qualidade sensorial, microbiológica, físico-química e de textura instrumental. As análises microbiológicas mantiveram-se dentro dos limites recomendados pela legislação brasileira. A umidade e o teor de proteínas foram de 84,43%, 9,21% para o sous vide com molho shoyu e 87,72%, 8,05% para o de manjericão, respectivamente. A textura, importante índice relacionado ao frescor, manteve-se estável no armazenamento e a aceitabilidade dos produtos foi superior a 70% nos atributos avaliados. A técnica sous vide tem potencial para utilizar peixes de piscicultura obtendo produtos com estabilidade microbiológica, físico-química e sensorial durante o armazenamento a -18º C por 90 dias. ABSTRACT This study aimed to prepare sous vide with tambaqui (Colossoma macropomum) farmed and study the shelf life at -18 C. The sous vide has been drawn up with two different sauces: soy sauce and basil and the samples were stored at -18 C and analyzed every 15 days for 90 days, about the sensory quality, microbiological, physical-chemical and instrumental texture. Microbiological analyzes were maintained within the limits recommended by Brazilian legislation. The moisture and protein content were 84.43%, 9.21% for the sous vide with shoyu sauce and 87.72%, 8.05% for basil, respectively. The texture important index related to the freshness, remained stable in storage and acceptability of the products was higher than 70% in the analyzed attributes. The sous vide technique has potential for use farmed fish obtaining products with microbiological stability, physicochemical and sensory during storage at -18 C for 90 days. PALAVRAS-CHAVE: peixe, embalagem a vácuo, vida comercial. KEYWORDS: fish, vacuum packaging, commercial life.

1. INTRODUÇÃO O pescado é fonte de componentes com significativo valor nutricional, como proteínas, minerais e ácidos graxos poliinsaturados, especialmente da série omega-3, aos quais são atribuídos numerosos benefícios ao organismo humano (LUIZA, et al. 2003). O tambaqui (Colossoma macropomum) pertence à ordem Characiformes, família Serrasalmidae, é uma espécie de peixe nativa da bacia amazônica com alto valor comercial, pode chegar a um metro de comprimento e 30 kg de peso (Araujo-Lima; Goulding, 1998). No Brasil, segundo Valenti et al, (2000), o pescado de água doce é comercializado geralmente fresco in natura, eviscerado e pouco na forma de filé ou industrializado. Entretanto, visa-se aumento na comercialização de industrializados, pois a sociedade tem buscado alimentos de rápido preparo. O sous vide (do francês sob vácuo) é um processo de cocção, que visa preparar comidas com pouco cozimento e baixas temperaturas para manter as características sensoriais e físicas da matéria-prima (Tewari; Juneja, 2007). Logo, a obtenção de produto, tipo alimento de conveniência sous vide de tambaqui cultivado embalado a vácuo com dois tipos de molho visa valorizar e servir de alternativa para um melhor aproveitamento das matérias-primas regionais e como incentivo à produção local, sendo, portanto de fundamental importância para o desenvolvimento econômico-social local. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Obtenção da Matéria-Prima Os peixes (tambaquis) foram obtidos na Estação de Piscicultura de Água Doce da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), sediada em Castanhal Pará. 2.2 Análises Físicas e Físico-Químicas Foram realizadas análises de umidade, proteínas, lipídeos, cinzas e ph (AOAC 2000); teor de carboidratos (Brasil 2003) e Bases Voláteis Totais (N-BVT) segundo Brasil (1999) A atividade de água (Aw) foi medida em higrômetro eletrônico Aqualab, 3TE (Decagon Devices Inc., USA) e a cor instrumental em colorímetro (marca Minolta, modelo CR 310), no espaço CIE (Comission Internacionale de L Eclairage) L*, a*, b*, onde: L*; a*; b*. A textura foi determinada através do parâmetro firmeza (consistência), sendo realizada em analisador de textura QTS, Brookfield, segundo Sigurgisladottir et al. (1999) em amostras padronizadas (2 x 2 x 1,5 cm) (Combes et al., 2004). 2.3 Análises Microbiológicas A pesquisa de Salmonella spp, contagens de Estafilococus coagulase positivo e coliformes a 45ºC foram realizadas de acordo com a legislação vigente (Brasil, 2001) e análises de bactérias psicotróficas, Clostridium sulfito redutor e bactérias láticas. Todas as análises seguiram metodologia descrita por Downes; Ito (2001). 2.4 Análise Sensorial A avaliação sensorial foi realizada com frequentadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (UFPA), selecionados por terem interesse em participar do teste através do teste de

aceitação com escala hedônica (Dutcosky, 2014). A qualidade de cada amostra foi avaliada por atributos: cor, textura, aroma, sabor e aparência global. Cada julgador recebeu uma amostra de 50g de cada tratamento, aquecida em banho-maria a 60 C durante 5min. 2.5 Elaboração do Sous Vide As formulações dos molhos a base de shoyu e de manjericão para serem utilizados na elaboração do sous vide encontram-se na Tabela 1. Tabela 1 - Ingredientes utilizados para elaboração dos molhos shoyu e manjericão SHOYU MANJERICÃO 30% água destilada, filtrada 62% molho shoyu (Tozan) 5% alho em flocos (Cia das Ervas) 3% raiz forte (Cia das Ervas) 55% água destilada, filtrada 16,5% vinagre de maçã (Minhoto) 16,5% saquê culinário (Azuma) 3% manjericão desidratada (Kitano) 2% orégano desidratado (Kitano) 5% cebola desidratada (Cia das Ervas) 4% Sal (Aji-Sal) Para a elaboração do sous vide as porções de filé (5 x 7 x 2,5 cm) em porções de cerca de 200g, 50g de molho e 5 ml de lactato de sódio a 50% foram colocadas em embalagens de nylon/lisa coextrusada com polietileno (marca: Solupack, Brasil), na proporção 1:4 (peixe/molho), em cada embalagem. Em seguida as amostras foram embaladas à vácuo, na embaladora FastVac F200, em embalagens 20 x 25 x 18 cm. O produto foi pasteurizado em banho-maria em equipamento marca Quimis 320, a 65ºC por 12,5 min, a partir do momento em que o centro da peça alcançou a temperatura de processo. Após o tratamento térmico, os produtos foram resfriados em água com gelo até atingir 0ºC no ponto central do filé e armazenados sob congelamento (-18ºC). 2.6 Acompanhamento da Vida Comercial dos Sous Vide Foi realizado o acompanhamento da vida comercial no produto final mantido congelado a cada 15 dias por um período de 90 dias através de análises microbiológicas, textura instrumental e avaliação sensorial. 2.7 Análise Estatística dos Resultados Para a análise dos dados experimentais obtidos no processo das análises foi utilizado o software STATISTICA versão 5.0 (Statsoft INC. 1995). 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da composição centesimal dos sous vide de tambaqui (molho shoyu e manjericão) estão apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 - Resultados da composição centesimal do sous vide com molho manjericão e molho shoyu. Sous vide Determinações (%) Molho shoyu Molho manjericão Umidade (%) 84,43 ± 0,19 87,72 ± 0,07

Proteínas (%)* 9,21 ± 0,17 8,05 ± 0,04 Lipídios (%)* 4,53 ± 0,15 2,88 ± 0,03 Cinzas (%)* 0,36 ± 0,002 0,18 ± 0,0005 Carboidratos (%)* 1,40 ± 0,07 1,14 ± 0,01 Valores representam a média das triplicatas ± desvio-padrão; * Resultados em base úmida. As diferenças entre as formulações podem ser justificadas por conta dos molhos. O sous vide com molho shoyo tem mais proteínas e lipídios por ser derivado da soja e dos outros ingredientes, enquanto que a base do molho manjericão foi uma solução de ácido acético. O índice de aceitabilidade (IA) dos sous vide de tambaqui foi superior a 70% em todos os atributos avaliados. O sous vide com molho manjericão obteve 97% de aceitação e com molho shoyu 89%. Em ambos os casos, apenas 3% dos entrevistados desaprovaram as amostras, para o sous vide com molho shoyu, 8% responderam que não gostaram nem desgostaram. Com relação à aparência geral, houve alta aceitação do produto por parte do consumidor. 4.6 Acompanhamento da Vida Comercial Os resultados da avaliação da estabilidade microbiológica do sous vide de tambaqui com molhos shoyu e manjericão, estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3 - Avaliação microbiológica do sous vide de tambaqui com molhos shoyu e manjericão durante o armazenamento sob congelamento. Tempo * (dias) Coliformes a 45 C NMP/g B. lácticas UFC/g C. S. redutor E. coagulase positivo UFC/g Psicrotróficos UFC/g 15 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 30 <3,0 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 45 <3,0 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 60 <3,0 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 75 <3,0 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 90 <3,0 <1,0x10 1 Ausência <1,0x10 1 <1,0x10 1 * Resultados foram iguais para ambos produtos Embora a legislação brasileira não estabeleça limites para micro-organismos mesófilos e psicrotróficos, populações elevadas podem reduzir a vida útil do pescado (Kirschink; Viegas, 2009). Mendes et al. (2002) asseguram que micro-organismos patogênicos tendem a ser encontrados quando existe deficiência de manipulação, o que não foi constatado neste trabalho. As contagens de Clostrídios sulfito-redutores permaneceram abaixo de 10 4 UFC/g. As análises de coliformes a 45ºC, Estafilococus coagulase positiva, bactérias láticas, psicrotróficos realizadas durante o armazenamento de 90 dias a 25º C mantiveram-se dentro dos padrões recomendados pela legislação (Brasil, 2001). Os resultados das análises físico-químicas dos filés de tambaqui estão apresentados na Tabela 4. Tabela 4 - Resultados da vida comercial do sous vide de tambaqui com molhos shoyu e manjericão. Sous vide com molho shoyo Análise 15 dias 30 dias 45 dias 60 dias 75 dias 90 dias s* ph 6,53±0,01 6,49±0,05 6,49±0,05 6,26±0,02 6,07±0,02 6,05±0,01 Aw 0,97±0,01 0,97±0,01 0,97±0,01 0,97±0,01 0,96±0,01 0,96±0,01 L 39,31±0,32 41,66±0,44 39,35±0,32 39,90±0,07 39,02±0,03 39,37±0,46

a 9,08± 0,18 9,11± 0,11 9,27± 0,15 6,23± 0,08 6,34± 0,18 6,32± 0,03 b 13,49±0,09 13,80±0,04 11,02±0,02 11,03±0,03 11,63±0,16 11,68±0,15 Sous vide com molho manjericão ph 6,38±0,01 6,84±0,04 6,16±0,03 6,11±0,01 6,93±0,04 6,95±0,01 Aw 0,97±0,00 0,97±0,00 0,97±0,00 0,96±0,00 0,96±0,01 0,96±0,01 L 71,33±0,02 72,31±0,21 71,31±0,21 63,47±0,39 63,01±0,01 62,36±0,35 A 0,20±0,06 0,13±0,01 0,12±0,01 0,26±0,04 0,24±0,02 0,25±0,01 B 12,38±0,41 11,77±0,10 11,01±0,01 11,32±0,22 11,70±0,01 11,03±0,01 *Valores representam a média das triplicatas ± desvio-padrão. Os valores de ph do sous vide com molho shoyu e manjericão apresentaram-se abaixo do estabelecido por Gulyavuz; Unlusayin (1999) que consideraram impróprio para o consumo peixes com ph superiores a 7,0. As amostras com os dois molhos não ultrapassaram esse limite durante o período de armazenamento, indicando a estabilidade do produto. Para ambos sous vide foi observada uma diminuição da luminosidade (L*) ao longo do armazenamento, indicando que as amostras escureceram no decorrer do tempo, o que pode estar associado com a desnaturação protéica e a oxidação lipídica. Os valores de Aw registrados apresentaram pouca variação na estocagem em ambos os grupos. Os resultados da análise de textura instrumental de firmeza (consistência), são mostrados na Tabela 5 dos sous vide de tambaqui durante o período de 90 dias. Tabela 5 - Textura instrumental do sous vide de tambaqui com molhos shoyu e manjericão durante o armazenamento. Molhos 15 dias 30 dias 45 dias 60 dias 75 dias 90 dias Shoyu 16,70+0,33 17,88+0,25 15,41+0,09 16,67+0,12 16,81+0,07 15,49+0,42 Manjericão 15,99+0,06 16,15+0,88 16,44+0,74 16,63+0,72 16,53+0,47 16,26+0,22 Os resultados da textura instrumental do sous vide mediu o parâmetro consistência onde no produto com molho shoyu este parâmetro variou de 15,41N a 17,89N e molho manjericão de 15,99N a 16,63N, durante o armazenamento. A firmeza do músculo é um importante índice de frescor e o amolecimento indica deterioração da qualidade da carne. Jonsson et al. (2001) ao analisar a textura da musculatura dorsal de salmão em condições experimentais semelhantes, encontraram valores variando de 15 a 19N, semelhantes aos encontrados neste trabalho. Os testes sensoriais aplicados nos 15º, 30º, 45º, 60º, 75º e 90º dias de armazenamento não tiveram diferenças significativas a nível de 5% (P <0,05). Por volta do 21º dia destaca-se o aparecimento do off-odour e de alterações na aparência global, determinantes para a rejeição do produto, causadas por desnaturação protéica no 42º dia para o sous vide com molho Manjericão e 49º dia para o molho Shoyu, determinando assim a vida comercial do produto quando processados a 65ºC por 12,5 minutos e armazenados em 1ºC. 5. CONCLUSÃO A técnica sous vide apresenta potencial para a utilização de peixes oriundos da piscicultura obtendo produtos com grande aceitabilidade e que apresentaram estabilidade microbiológica, físico-química e sensorial durante o armazenamento de cerca de 40 dias.

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