RESOLUÇÃO DO SECRETARIADO NACIONAL 1. Uma Situação Preocupante O nosso País tem tido um crescimento económico inferior à média da União Europeia desde 2002. Seis anos continuados de crise económica fizeram com que o desemprego praticamente duplicasse, passando dos 4,1% em 2001 para 7,7% em 2006 (7,9% no 2º trimestre de 2007). O nosso Pais que tinha tradicionalmente um desemprego inferior a metade da média comunitária, foi-se aproximando dessa média e em 2007 prevê-se mesmo que a ultrapasse (7,7% para Portugal contra 7,2% na UE-27). Por outro lado também as dificuldades de reinserção no mercado de trabalho são muito maiores (mais de metade dos desempregados estão nessa situação há mais de um ano e um quarto há mais de 2 anos). Também a evolução salarial tem sido globalmente negativa, em grande parte devido aos desvios da inflação, há nove anos consecutivos, sempre em prejuízo dos salários, situação agravada pelas grandes perdas salariais na Administração Pública verificada nos últimos anos. Em termos de rendimentos a baixa verificada em termos reais, resulta não só dos insuficientes aumentos salariais e dos aumentos de desemprego, como ainda dos grandes aumentos de juros dos dois últimos anos, que tem desequilibrado profundamente muitas famílias, em especial jovens, que adquirem casa própria. A precariedade laboral permanece extremamente elevada e Portugal, Espanha e Polónia continuam a ser Países com maior precariedade na União Europeia, mas enquanto que em Espanha existe um acordo tripartido para diminuição da precariedade (que em 2007 tem tido resultados muito significativos), em Portugal nada se está a fazer. 1
Também se têm agravado as desigualdades sociais, sendo Portugal o País da UE com maior desnível entre os rendimentos dos 20% que mais recebem e os dos 20% mais pobres. As previsões apontam que a divergência no crescimento económico continuará em 2008 e que o nível de desemprego poderá baixar ligeiramente, apontando a UGT as seguintes previsões de crescimento para 2008: PIB 2,0 a 2,4% Inflação 2,3 a 2,4% Produtividade 1,2 a 1,4% Emprego 0,8 a 1,0% 2. As Prioridades da UGT Para a UGT as prioridades são: - Mais emprego e menor desemprego; - Maior aumento dos salários e das pensões; - O combate à precariedade laboral; - A diminuição das desigualdades e o combate à pobreza. É fundamental que se aposte numa política de crescimento e emprego, o que exige não só o aumento do investimento público e privado, mas também o crescimento do consumo interno, por via do aumento dos salários e das pensões. O combate ao insustentável nível de desemprego e de precariedade tem que merecer a devida prioridade nas políticas públicas e uma actuação consequente a nível das empresas. 3. As Reivindicações da UGT 3.1 Aumentos Salariais A UGT defende um aumento salarial na negociação colectiva entre os 3.0% e 4.0%, que possa conduzir a um aumento médio anual de 3.5%, que poderá no entanto ser superior nas empresas e sectores com elevados níveis de produtividade. Este é um referencial, quer para o sector privado, quer para o sector público. 2
3.2 O Salário Mínimo Em 1/1/2009 o salário mínimo deve ser fixado em 450 euros, no cumprimento do acordo tripartido sobre o salário mínimo. Sendo o salário mínimo actual de 403 euros e faltando portanto 47 euros para 2009 a UGT defende um aumento de 23,5 euros em 1/1/08, fixando o salário mínimo em 426,5 euros (mais 5,8%). 3.3 - Aumento das Pensões e das Prestações Sociais O aumento das pensões, tendo em conta o acordo tripartido da Segurança Social, está indexado ao crescimento do PIB anualizado verificado no 3º trimestre de 2007 e da inflação verificado em Outubro de 2007. Como o aumento deverá verificar-se a 1/1/08 (e não em 1/12/07) o acordo prevê que ao valor referido se adicione um aumento extraordinário de 2 / 14 desse aumento. A UGT considera que as restantes prestações sociais deverão aumentar a um nível superior em 2 pontos percentuais relativamente ao valor fixado para as pensões inferiores a 1,5 IAS (indexante dos apoios sociais), de modo a contribuir para o combate à pobreza e a promoção da natalidade. 3.4 - A Politica de Emprego O combate ao desemprego exige uma politica de maior crescimento e de prioridade ao emprego. O crescimento deve ser sustentado pelo aumento das exportações e também se torna fundamental o aumento do investimento público e privado, e do consumo interno por via da melhoria dos rendimentos. O crescimento económico gera mais emprego, mas o insustentável nível de desemprego torna ainda mais necessárias as politicas de emprego. A UGT exige, em particular: Melhoria das políticas activas de emprego, actualmente em discussão na CPCS; A melhoria da actuação dos Centros de Emprego, no apoio activo aos desempregados, com respeito pelo fixado no acordo tripartido sobre o subsidio de desemprego; 3
Uma politica sustentada de combate à precariedade laboral, com especial atenção aos jovens, às mulheres e aos imigrantes; Um programa de apoio à reintegração no mercado de trabalho dos desempregados de longa duração e aos desempregados com mais de 55 anos, quer pelo seu impacto social, quer para aumento da população activa empregada; Um quadro integrado de combate ao desemprego dos licenciados, em especial por via do programa de estágios e por requalificação dos jovens com maior dificuldades de inserção no mercado de trabalho; A aplicação do acordo tripartido sobre a formação profissional, sobretudo através do reforço dos cursos com dupla certificação e o acesso à formação dos trabalhadores por sua própria iniciativa (respeitando o direito de formação fixado na lei); A rápida publicação de legislação que garanta o acesso ao subsídio de desemprego a todos os trabalhadores da Administração Pública a descontar para a Caixa Geral de Aposentações e com vínculos precários; A publicação de dados sobre os desempregados com curso superior (indicação do curso que possuem e da instituição do ensino superior onde o obtiveram), que o Governo se tinha comprometido a iniciar em Junho de 2007; Um programa de combate à discriminação, em particular de género, com simultâneo reforço dos meios inspectivos que garanta o cumprimento da lei. 3.5 A Redução das Desigualdades Sociais O combate ao elevado nível de desigualdades sociais exige não só o combate à pobreza e à exclusão, como o combate ao insustentável desnível de rendimentos, não só por via do aumento dos rendimentos (com especial atenção aos rendimentos mínimos), como também por via do combate à fraude e fuga fiscais, particularmente a nível dos rendimentos não salariais, tendo presente até os lucros chocantes declarados por muitas empresas, sem as devidas consequências em termos de IRS e IRC. O aumento das taxas de juro tem provocado grandes problemas a muitas famílias. A UGT manifesta o seu apoio à posição da Confederação Europeia de Sindicatos que exige ao Banco Central Europeu a não subida das taxas de juro, na actual conjuntura. 4
4. A Revisão do Código de Trabalho O Secretariado Nacional da UGT aprova o parecer da Central sobre o Relatório de Progresso da Comissão do Livro Branco das Relações Laborais. O Código de Trabalho, aprovado pela Assembleia da República em 2003, teve alterações profundas relativamente à proposta inicial do Governo, em muito devido à acção da UGT e à luta dos trabalhadores. Mas sempre dissemos que este não era o nosso Código e que a revisão prevista para finais de 2007, devia ter melhor em conta as propostas apresentadas pela UGT. O debate na Assembleia da República e a mudança de Governo, abre expectativas para o cumprimento de compromissos anteriormente assumidos. O parecer das Confederações Patronais sobre o Código de Trabalho merece a clara rejeição da UGT, visto este fixar como objectivos a maior desregulação social e o despedimento praticamente livre em Portugal. Posição incompreensível e violadora do Estado Social da nossa Constituição. A UGT manifesta a sua profunda preocupação por um Relatório com uma visão que não responde às preocupações dos trabalhadores e com soluções que não aparecem minimamente fundamentadas e muitas vezes com objectivos pouco claros. A UGT reafirma as suas prioridades na revisão do Código de Trabalho: a) Reforçar a Negociação Colectiva; b) Promover a Adaptabilidade Negociada; c) Combater o Inaceitável nível de Precariedade; d) Combater a Individualização da Relação de Trabalho; e) Não revisão dos motivos para despedimento e garantia do efectivo cumprimento da lei; f) Reforçar a Formação Profissional; g) Reafirmar a liberdade e autonomia sindicais; h) Garantir o cumprimento da Lei em geral. Aprovada por unanimidade UGT, 6 de Setembro de 2007 5