Em 01/07/2013. Sentença

Documentos relacionados
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

SENTENÇA. Ribeirao Niterói Empreendimentos Imobiliários Spe Ltda e outro

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL R E L A T Ó R I O

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 9ª Câmara de Direito Privado ACÓRDÃO

Ação Indenizatória em virtude de Acidente de Trânsito. Rito. sumário. Sentença que julgou procedente o pedido,

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO I. RELATÓRIO

Vigésima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

SENTENÇA. Processo nº: Classe Assunto: Procedimento Ordinário - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

Negativas a Procedimentos Médicos

BB Crédito Imobiliário

SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Indenização por Dano Material

I Locação em geral. 30 dias Antecedência mínima necessária para que o Locador denuncie locações de prazo indeterminado.

Á'Os. Poder yudiciário 'Tribunal de :Justiça do Estado da 'Paraíba Gabinete da Desembargadora Maria de Fátima Moraes BeJerra Cavalcanti

C O N C L U S Ã O S E N T E N Ç A

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 14ª Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº ( ) COMARCA GOIÂNIA APELANTE

SENTENÇA. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Anna Paula Dias da Costa. Vistos.

VISTOS. Com a inicial, adunaram procuração e documentos (fls. 13/96). Citada (fls. 100), a ré apresentou contestação (fls. 101/123).

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

: MIN. MARCO AURÉLIO DECISÃO

lauda 1

Vigésima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Fórum João Mendes Júnior - 18º Andar, sala 1806, Centro - CEP , Fone: , São Paulo-SP

CONCLUSÃO. Em 18 de junho de 2015, estes autos são conclusos ao MM. Juiz de Direito Titular II, Dr. Marco Antonio Botto Muscari.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

SENADO FEDERAL PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 732, DE 2011

3.1. Para execução dos SERVIÇOS objeto do presente CONTRATO, o CLIENTE deverá pagar à LIGHT o montante de R$ [XXXX] (xxxx por extenso xxxx).

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR WASHINGTON LUIS BEZERRA DE ARAUJO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE FERNANDÓPOLIS FORO DISTRITAL DE OUROESTE JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS MARIO GALBETTI (Presidente sem voto), MIGUEL BRANDI E RÔMOLO RUSSO.

Resumo do Regulamento de Utilização do Cartão Business Travel Bradesco

Sentença. 1. Relatório. Relatório dispensado (artigo 38 da Lei 9.099/95). 2. Fundamentação

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA SENTENÇA

Acórdão. Processo ri /001

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo. Voto nº 23951

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERViÇOS ADVOCATíCIOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Código de Defesa do Consumidor Bancário Código de Defesa do Consumidor RESOLUÇÃO R E S O L V E U:

O abandono de emprego configura-se quando estão presentes o elemento objetivo ou material e o elemento subjetivo ou psicológico.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos UNISIM 2015

MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA E DO COMÉRCIO SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS. CIRCULAR N 016, de 4 de junho de 1973

Processo nº: 001/ (CNJ: )

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIROJUÍZO DE DIREITO DO XI JUIZADO ESPECIAL CÍVELProcesso n Autora: Dorvalina Rosa da

DANO MORAL PRÁTICA ABUSIVA DE SUSPENSÃO E DESCONTO SALARIAL SEM A COMPROVAÇÃO DA CULPA

DECISÃO MONOCRÁTICA ADVOCATÍCIOS CORRETAMENTE FIXADOS EM

REGINA PENNA DE CARVALHO A QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL HOSPITALAR

RESOLUGÃO CFP N 002/98 de 19 de abril de O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais,

MATÉRIA: LEI Nº 8.429/92 PROFESSOR: EDGARD ANTONIO NÍVEL SUPERIOR

Regulamento Municipal de Remoção e Recolha de Veículos

Edital de Leilão Público Alienação Fiduciária Imóveis EMGEA

RELATÓRIO. FUNDAMENTAÇÃO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO COLÉGIO RECURSAL DA COMARCA DE SANTOS ACÓRDÃO. Recurso nº Registro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

CONTRATO ADMINISTRATIVO Nº /2010

lauda 1

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE SÃO PAULO FORO CENTRAL CÍVEL 26ª VARA CÍVEL SENTENÇA

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PROCESSO Nº: APELAÇÃO APELANTE: CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE

CONTRATANTE: C I ou CNPJ: Órgão Expedidor: CPF Endereço: Cidade: Estado:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Procuradoria

RESOLUÇÃO Nº a) cláusulas e condições contratuais; c) divergências na execução dos serviços;

DIREITO EMPRESARIAL. Exame de Ordem Prova Prático-Profissional 1 PEÇA PROFISSIONAL

Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Câmara Cível

Ao saber de todo estes acontecimentos, Mariana ingressou com ação de partilha dos bens, adquiridos na constância do casamento.

: MIN. DIAS TOFFOLI :DUILIO BERTTI JUNIOR

O processo prosseguiu e o r. Juízo de Direito a quo fez a entrega da prestação jurisdicional, declarando nula a fiança e extinguindo a execução.

Poder Judiciário Estado do Rio de Janeiro Vigésima Quinta Câmara Cível

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE REDAÇÃO. PROJETO DE LEI N o 2.079, DE 2003

PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO

GABARITO SIMULADO WEB 1

CONVÊNIO ICMS 108, DE 28 DE SETEMBRO DE 2012

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ANÁPOLIS/GO

DECISÃO. proferida em demanda de cobrança do seguro DPVAT, em virtude de atropelamento

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - ANNIBAL DE REZENDE LIMA 5 de novembro de 2013

22/10/2015

EM QUE CONSISTE? QUAL A LEGISLAÇÃO APLICÁVEL?

AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE (com pedido de liminar)

Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Nona Câmara Cível Apelação Cível n.º

REGULAMENTO DA PROMOÇÃO BANDA LARGA VIVO SPEEDY

TURMA RECURSAL ÚNICA J. S. Fagundes Cunha Presidente Relator

Escola Superior da Advocacia-Geral da União (ESAGU) DEFESA DO EXECUTADO. Prof. Glauco Gumerato Ramos. jun/2008

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA

TABELA DE TEMPORALIDADE DE DOCUMENTOS UNIFICADA - JUSTIÇA ESTADUAL

CONTRATO DE CRÉDITO PESSOAL PRÉ-APROVADO

Transcrição:

Fls. Processo: 0015395-36.2010.8.19.0209 Classe/Assunto: Procedimento Ordinário - Pagamento Indevido - Repetição de Indébito; Rescisão do Contrato E/ou Devolução do Dinheiro / Responsabilidade do Fornecedor; Dano Moral - Outros/ Indenização Por Dano Moral Autor: LUCIANA FUJII PONTELLO Autor: GUSTAVO NORONHA SILVA Réu: RICARDO JOSÉ AZEVEDO FARIA Réu: ANA MARIA VALVERDE TAVEIRA FARIA Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz Arthur Eduardo Magalhaes Ferreira Em 01/07/2013 Sentença LUCIANA FUJII PONTELLO e GUSTAVO NORONHA SILVA, devidamente qualificados na inicial, propõem ação pelo rito ordinário em face de RICARDO JOSÉ AZEVEDO FARIA e ANA MARIA VALVERDE TAVEIRA FARIA, igualmente qualificados, alegando, em resumo, que em 31 de maio de 2009 firmaram com os Réus instrumento contrato de promessa de compra e venda, tendo por objeto o imóvel situado na Rua Alfredo Ceschiatti n 150, 210, Bloco 1, pelo valor total de R$ 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais). Aduzem que efetuaram o pagamento de sinal no importe de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), tendo convencionado que o restante seria pago à promitente vendedora do bem, Carvalho Hosken S/A, mediante contratação de financiamento imobiliário; eventual diferença do preço reverteria em favor dos Réus. Salientam que o negócio foi celebrado em virtude de os Réus asseverarem a inexistência de dívidas ou gravames sobre o bem, à exceção da hipoteca lavrada em favor da promitente vendedora. Aduzem a impossibilidade de obtenção do financiamento, de vez que o imóvel encontra-se

penhorado em ações que visam o recebimento de cotas condominiais em atraso e que, em razão da total insegurança do negócio, os Réus foram notificados para solução da questão, tendo permanecido inertes. Requerem, portanto, a rescisão do contrato e consequente devolução do valor pago, em dobro, devidamente corrigido e acrescido de juros, além de indenização por danos morais em valor a ser estipulado pelo Juízo e respectivos ônus da sucumbência. Juntam os documentos de fls. 17/33. Citados os Réus, o primeiro pessoalmente (fls. 58/59) e a segunda por hora certa (fls. 58/61), transcorreu in albis o prazo para apresentação de defesa (fls. 63). Contestação da 2ª Ré apresentada pela Curadoria Especial às fls. 65/69, com preliminar de nulidade da citação ficta, no mérito afirmando, em síntese, que não restou comprovada a culpa dos Réus pela não concretização do negócio, razão pela qual não há que se falar na devolução das arras em dobro. Salienta que os Autores tinham conhecimento do saldo em favor da construtora, tendo assumido o risco da contratação. Por fim, impugna os termos da inicial por negativa geral. "Réplica" às fls. 71/74. Instadas as partes a se manifestarem em provas, pelos Autores foi requerido o julgamento da lide (fls. 76), ao passo que a 2ª Ré pugnou pelo depoimento pessoal dos Autores (fls. 76 v.). Ata de audiência para oitiva dos Autores em carta precatória às fls. 104/106. Com manifestações das partes às fls. 108/ e v., os autos vieram conclusos para sentença em 1.7.2013. É o relatório. Passo a decidir. Rejeita-se a preliminar de nulidade da citação por hora certa, na medida em que as certidões lançadas às fls. 39 e 60 bem ilustram o exaurimento dos meios de citação pessoal da 2ª Ré. Basta ver que, em ambas as oportunidades, o 1º Réu, seu marido, foi encontrado e regularmente citado, em nenhum momento tendo informado eventual mudança de residência da 2ª Ré ou afastamento, ainda que temporário, do lar conjugal. Em lugar disso, limitou-se o 1º Réu a sustentar não

saber em que dias e horários a esposa estaria em casa, o que, convenhamos, extrapola qualquer limite do razoável. No mais, devidamente citado, o 1º Réu não apresentou defesa, deixando fluir in albis o prazo para resposta, caracterizando, destarte, sua revelia, cujos efeitos, contudo, não se operam (CPC, artigo 320, inciso I). A análise da prova documental colhida nos autos revela que os Réus são promissários compradores do imóvel objeto da lide (fls. 26 e 27), tendo cedido seus direitos à aquisição do bem aos Autores por meio do instrumento particular de promessa de compra e venda trazido às fls. 21/23. Nesse contrato, os Réus anuem com o pagamento do preço convencionado mediante entrega de sinal no valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) e a assunção, pelos Autores, do saldo apurado junto a Carvalho Hosken S/A Engenharia e Construções, o qual, por sua vez, seria quitado por meio da contratação de financiamento imobiliário. Essa a razão de as partes estabelecerem, na Cláusula 3, que "o imóvel no início descrito e caracterizado se encontra livre e desembaraçado de todos e quaisquer ônus reais, judiciais ou extrajudiciais (...) estando o mesmo hipotecado junto a CARVALHO HOSKEN S/A ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES, cujo saldo devedor será quitado pelos outorgados com utilização de financiamento a ser pleiteado pelos mesmos junto a CEF." A existência de dívidas sobre o imóvel, inclusive com a lavratura das penhoras determinadas nos processos n 2006.209.008469-9 e 2005.209.008475-2, consoante informado na inicial, evidentemente frustra a contratação de financiamento imobiliário e, por conseguinte, a própria conclusão do negócio, por culpa dos Réus, que deliberadamente ocultaram essa circunstância na formulação do pré-contrato. Sendo assim, nada obstante a tentativa da 2ª Ré de descaracterizar sua culpa pela inexecução do contrato, certo é que os Réus não poderiam, de boa-fé, avençar obrigação que sabiam ser de cumprimento impossível para os Autores. Diante disso, tem incidência a previsão contida na Cláusula 4 do instrumento particular de promessa de compra e venda de fls. 21/23, de seguinte redação: "SINAL - R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), neste ato, através dos cheques (...) agência (...), dos quais os Outorgantes dão a mais ampla, total, rasa, irrevogável e irretratável quitação, ficando esta vinculada a regular compensação, se paga em cheque. Esta quantia é oferecida a título de sinal e princípio de pagamento e é gravada como arras penitenciais, na forma do artigo 420 do Código Civil, sendo

esta importância devolvida em sua totalidade aos Outorgados em caso de qualquer impedimento junto a CEF para quitação do saldo devedor junto a CARVALHO HOSKEN S/A ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES.". Como se vê, as partes estabeleceram que o sinal de R$ 22.000,00, pago pelos Autores a título de sinal, se constituiria em arras, nos termos do artigo 420 do Código Civil, ou seja, na hipótese de arrependimento de um dos contratantes. Na hipótese vertente não se trata propriamente de arrependimento, mas de inadimplemento culposo imputável aos Réus. Todavia, o pedido formulado pelos Autores é exatamente de condenação dos Réus ao pagamento, em dobro, do que foi pago a título de arras (R$ 44.000,00), impondo-se seu acolhimento. No que diz respeito ao pedido de indenização por danos morais, tem-se que o pedido não deve ser acolhido. A Súmula 75 do do Rio de Janeiro firmou orientação no sentido de que: "O simples descumprimento de dever legal ou contratual, por caracterizar mero aborrecimento, em princípio, não configura dano moral, salvo se da infração advém circunstância que atenta contra a dignidade da parte". Lembre-se da advertência do Desembargador Sérgio Cavalieri Filho no sentido de que: "Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos." (Programa de Responsabilidade Civil, 2ª ed., pág. 77/78) Destarte, não se vê nenhuma circunstância geradora de ofensa à honra ou à imagem dos Autores que tenha causado profundo desequilíbrio psicológico, eis que a conduta dos Réus configura, tão-somente, a prática de ilícito contratual. Confira-se, a propósito, a jurisprudência do Superior acerca do tema: "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE AUTOR. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA EM REGRA. SITUAÇÃO

EXCEPCIONAL NÃO CARACTERIZADA. (...) O inadimplemento do contrato, por si só, pode acarretar danos materiais e indenização por perdas e danos, mas, em regra, não dá margem ao dano moral, que pressupõe ofensa anormal à personalidade. Embora a inobservância das cláusulas contratuais por uma das partes possa trazer desconforto ao outro contratante - e normalmente o traz - trata-se, em princípio, do desconforto a que todos podem estar sujeitos, pela própria vida em sociedade. Com efeito, a dificuldade financeira, ou a quebra da expectativa de receber valores contratados, não tomam a dimensão de constranger a honra ou a intimidade, ressalvadas situações excepcionais. (...)." (Recurso Especial n 202.564-RJ, relator Ministro Sálvio de Figueiredo) Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE, EM PARTE, o pedido, para decretar a rescisão do contrato de fls. 21/23 e condenar os Réus a restituir, em dobro, o sinal de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), corrigido monetariamente a partir de seu desembolso e acrescido de juros moratórios de 12% (doze por cento) ao ano, contados da citação. Considerando que os Réus decaíram da maior parte do pedido, arcarão eles com 2/3 (dois terços) das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Transitada em julgado e nada sendo requerido em cinco dias, dê-se baixa e arquive-se. Publique-se, registre-se e intimem-se. Rio de Janeiro, 22/07/2013. Arthur Eduardo Magalhaes Ferreira - Juiz Titular Autos recebidos do MM. Dr. Juiz Arthur Eduardo Magalhaes Ferreira Em / /

Øþ