Isotermas de dessorção de grãos de café com pergaminho

Documentos relacionados
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS ESTÁTICO E DINÂMICO NA DETERMINAÇÃO DO EQUILÍBRIO HIGROSCÓPICO DAS ESPÍGAS DE MILHO

PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FRUTOS DE MAMONA DURANTE A SECAGEM

Isotermas e Calor Isostérico de Sorção do Feijão 1

ISOTERMAS DE SORÇÃO DAS ESPIGAS DE MILHO: OBTENÇÃO E MODELAGEM

ISOTERMAS DE DESSORÇÃO DE GRÃOS DE FEIJÃO MACASSAR VERDE (Vigna unguiculata (L.) Walpers), VARIEDADE SEMPRE-VERDE.

Secagem e Armazenagem de Grãos e Sementes Aula 04

Obtenção e modelagem das isotermas de dessorção e do calor isostérico para sementes de arroz em casca

Isotermas de dessorção e calor isostérico dos frutos de crambe

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DE SEMENTE DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) VARIEDADE EMGOPA OURO

MODELAGEM MATEMÁTICA DA SECAGEM DO CAFÉ (Coffea canephora Pierre) EM TERREIROS DE CONCRETO E HÍBRIDO 1

MODELAGEM MATEMÁTICA PARA DESCRIÇÃO DA CINÉTICA DE SECAGEM DO FEIJÃO ADZUKI (Vigna angularis)

EQUILÍBRIO HIGROSCÓPICO DE SEMENTES DE GERGELIM

Isoterma de dessorção e calor latente de vaporização da semente de pimenta Cumari Amarela (Capsicum chinense L.)

MODELAGEM MATEMÁTICA DA ABSORÇÃO DE ÁGUA EM SEMENTES DE FEIJÃO DURANTE O PROCESSAMENTO DE ENLATADOS.

Contração volumétrica e forma dos frutos de mamona durante a secagem

3.1. Como varia com a temperatura? A pressão de vapor aumenta com o aumento da temperatura e diminui com a diminuição da temperatura.

Hygroscopic equilibrium and viability of angico vermelho (Anadenanthera peregrina (L.) Speng) seeds under different storage environmental conditions

USO DE PLANEJAMENTO COMPOSTO CENTRAL NA AVALIAÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPERAURA E CONCENTRAÇÃO DE SOLVENTES NO ESTUDO DA SOLUBILIDADE DA UREIA

DETERMINAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO DE UMIDADE PARA GRÃOS DE SOJA

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NOS PARÂMETROS DE MODELOS BI- PARAMÉTRICOS QUE PREDIZEM ISOTERMAS DE ADSORÇÃO DE UMIDADE DO GUARANÁ

ARMAZENAMENTO E PROCESSAMENTO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

CALOR ISOSTÉRICO DA POLPA DE BANANA VARIEDADES MAÇÃ E NANICA

PARÂMETROS TERMODINÂMICOS DURANTE A SECAGEM DE FOLHAS DE AROEIRA (Schinus terebinthifolius)

HIGROSCOPIA DAS FOLHAS DE LOURO (Lauro nobilis L.) Curso de Engenharia Agrícola, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas/UEG RESUMO

PROPRIEDADES FÍSICAS DE SEMENTES DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) VARIEDADE EMGOPA 201 OURO

Modelagem matemática e difusividade efetiva de folhas de aroeira durante a secagem 1

ESTUDO DA SOLUBILIDADE DO PARACETAMOL EM ALGUNS SOLVENTES UTILIZANDO O MODELO NRTL

Propriedades Aerodinâmicas dos Grãos de Quinoa (Chenopodium quinoa Willd.)

EFICIÊNCIA DA SECAGEM DE CAFÉ (Coffea arabica L.), EM SECADOR DE CAMADA FIXA VERTICAL COM REVOLVIMENTO MECÂNICO

DESEMPENHO DO MÉTODO DAS PESAGENS EM GARRAFA PET PARA A DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO

UMIDADE DE EQUILÍBRIO DE SEMENTES PIONEIRAS: ISOTERMAS DE DES- SORÇÃO E ADSORÇÃO PARA Cecropia glaziovi SNETHLAGE

MODELAGEM MATEMÁTICA DAS CURVAS DE EQUILÍBRIO HIGROSCÓPICO DE SEMENTES DE MARACUJÁ DOCE (Passiflora alata Curtis)

DETERMINAÇÃO E MODELAGEM

Utilização do sabugo de milho como fonte energética no processo de secagem

ÍNDICE DE COR E QUALIDADE DO CAFÉ ARMAZENADO EM COCO COM DIFERENTES TEORES DE UMIDADE

AVA LIA ÇÃO D A CIN ÉTICA D E SECAGEM D O TIJO LO CERÂM ICO

61 CINÉTICA DA CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA DOS GRÃOS DE DUAS CULTIVARES DE MILHO-PIPOCA DURANTE O PROCESSO DE SECAGEM

OSVALDO RESENDE. VARIAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS E DA QUALIDADE DO FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) DURANTE A SECAGEM E O ARMAZENAMENTO

Isotermas de dessorção de resíduos de abacaxi

ESTUDO DA SECAGEM DE COENTRO (coriandrum sativum) NO SECADOR DE BANDEJA

FORMA, TAMANHO E CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA DO FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) DURANTE A SECAGEM

Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

ANÁLISE DA SECAGEM DE CEVADILHA VACARIANA (BROMUS AULETICUS T.) EM LEITO FIXO COM ESCOAMENTO DE AR PARALELO RESUMO

MODELAGEM MATEMÁTICA DAS CURVAS DE SECAGEM DA PIMENTA DE CHEIRO

CINÉTICA DE SECAGEM DAS FOLHAS DE MORINGA OLEÍFERA LAM RESUMO

AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DA MAMONA (Ricinus communis L.) CULTIVAR PARAGUAÇU

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DE SEMENTES DE MAMONA: TAMANHO, PESO, VOLUME E UMIDADE

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAGEM NA COR DOS GRÃOS DE CAFÉ PRÉ-PROCESSADOS POR VIA SECA E VIA ÚMIDA

ESTUDO COMPARATIVO DE MODELOS DE COEFICIENTES DE ATIVIDADE DA FASE LÍQUIDA PARA SEPARAÇÃO DA MISTURA ETANOL-ÁGUA

ISOTERMAS DE EQUILÍBRIO E CURVAS DE SECAGEM PARA ARROZ EM CASCA EM SILOS DE ARMAZENAGEM

ISOTERMAS E CALOR ISOSTÉRICO DE SUBPRODUTOS DA UVA (VITIS VINIFERA)

CURVAS DE SECAGEM E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE ÁGUA DA BANANA PASSA

ANOVA - parte I Conceitos Básicos

Este documento contém 7 páginas e só pode ser reproduzido com autorização formal prévia do IBEC. Docto. n. DMT015 Rev. 3.

Construção e Avaliação de um Aparelho de Baixo Custo para a Determinação da Porosidade de Grãos

GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN ) CINÉTICA DE SECAGEM DO FEIJÃO ADZUKI (Vigna angularis)

SIMULAÇÃO DA PRODUTIVIDADE, EM UM MODELO APLICADO AO PLANEJAMENTO DE PROJETOS DE IRRIGAÇÃO PARA A CULTURA DO CAFEEIRO 1

Cinética de secagem de folhas de Cymbopogon citratus Drying kinetics of Cymbopogon citratus leaves

DIMENSÕES PRINCIPAIS, MASSA E VOLUME UNITÁRIOS, ESFERICIDADE E ÂNGULO DE REPOUSO DE FRUTOS DE CAFÉ

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA E DA CONCENTRAÇÃO DO CLORETO DE SÓDIO (NaCl) NAS ISOTERMAS DE SORÇÃO DA CARNE DE TAMBAQUI (Colossoma Macroparum) 1

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE SECAGEM DOS GRÃOS DE ABÓBORA

1. FATORES CLIMÁTICOS

ESTUDO DAS ISOTERMAS DE EQUILÍBRIO DO FARELO DE SOJA 1

PROPRIEDADES FÍSICAS DO AMENDOIM EM FUNÇÃO DOS TEORES DE ÁGUA DOS GRÃOS

QUALIDADE DE SEMENTES DE CAFÉ DURANTE A SECAGEM E O ARMAZENAMENTO

ESTUDO DA TRANSIÇÃO ENTRE ESCOAMENTO LAMINAR E TURBULENTO EM TUBO CAPILAR

DETERMINAÇÃO DE EQUAÇÕES DE REGRESSÃO OBTIDAS EM TERMÔMETROS DE GLOBO NEGRO PADRÃO E PLÁSTICO VERÃO E INVERNO

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE MAMONA ACONDICIONADAS EM DIFERENTES EMBALAGENS E ARMAZENADAS SOB CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DE CAMPINA GRANDE-PB

O PONTO DE ARMAZENAMENTO DO EM CÔCO ( 1 )

ANDRÉ LUÍS DUARTE GONELI

DETERMINAÇÃO DA SOLUBILIDADE DE UREIA EM MISTURAS ETANOL-ÁGUA EM TEMPERATURAS DE 278,15 A 333,15 K

Mecânica dos solos AULA 4

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Composição química do café submetido ao processo de descafeinação.

RELAÇÕES ÁGUA/SEMENTES

FÍSICO-QUÍMICA GASES IDEAIS E GASES REAIS. Prof. MSc. Danilo Cândido

Fundamentos de Isoterma de Sorção. Decagon Devices LatAm

Conservação de frutos secos: resultados de ensaios experimentais. Paula Correia Cátia Almeida Raquel Guiné

Avaliação da Capacidade de Expansão de Grão de Café Moca e sua Comparação à Grãos de Café Convencionais RESUMO

INCERTEZA NA DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ÁGUA DE EQUILÍBRIO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS

A Tabela 2 apresenta os valores médios de porosidade e o desvio padrão para as amostras dos Painéis de Fibra de Coco definidos nesta etapa.

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA CINÉTICA DE SECAGEM DO MORANGO.

QUALIDADE DA SECAGEM EM DIFERENTES TIPOS DE TERREIRO

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

ESTUDO E ANÁLISE DA MISTURA DE ÁGUA E ETANOL ATRAVÉS DE EQUAÇÕES DE ESTADO.

Cap 3 Introdução à Experimentação

Química Analítica IV INTRODUÇÃO A VOLUMETRIA

5 CURVAS CARACTERÍSTICAS OU DE SUCÇÃO

Avaliação de danos físicos causados pela infestação de Sitophilus zeamais Motschulsky (Coleoptera: Curculionidae) em grãos de milho armazenado

CINÉTICA DE SECAGEM DE HORTALIÇAS EM ESTUFA DE SECAGEM COM LUZ RESUMO

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

MODELAGEM MATEMÁTICA E DIFUSIVIDADE EFETIVA DE FOLHAS DE JAMBU DURANTE A SECAGEM RESUMO

PRI 638/311 DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO IMPACTO SEGUNDO ISO INSTITUTO SENAI DE INOVAÇÃO EM ENGENHARIA DE POLÍMEROS

Curso: Eng da Produção Aula 1, 2, 4, 5 Agosto 09. Prof. Eduardo R Luz - MsC

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A SECAGEM DE GRÃOS DE GIRASSOL EM LEITO FIXO E EM LEITO DE JORRO

EQUILÍBRIO HIGROSCÓPICO E ATIVIDADE DE ÁGUA PARA OVO INTEGRAL PROCESSADO EM SPRAY DRYER

APÊNDICE B Temperatura e umidade relativa do ar ambiente durante os experimentos de secagem

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA ACELERAÇÃO DE CORPOS EM QUEDA SELEÇÃO DE INSTRU- MENTOS

étodos uméricos AJUSTE DE FUNÇÕES Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

CIRCULAR TÉCNICA N o 62 AGOSTO/79 AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS DE EXPLORAÇÃO FLORESTAL DO EUCALIPTO PARA FINS ENERGÉTICOS

Transcrição:

Isotermas de dessorção de grãos de café com pergaminho André Luís Duarte Goneli 1, Paulo Cesar Corrêa 2, Paulo Cesar Afonso Júnior 3, Cristiano Márcio Alves de Souza 4, Raquel Bonacina Vitorino 5 112 1 Professor Adjunto, Universidade Federal da Grande Dourados. andregoneli@ufgd.edu.br 2 Professor Associado, Universidade Federal de Viçosa. copace@ufv.br 3 Eng. Agrícola, D.S., pesquisador Embrapa Café. paulo.junior@embrapa.br 4 Professor Adjunto, Universidade Federal da Grande Dourados. cristianosouza@ufgd.edu.br 5 Professora Assistente, UNIGRAN /Dourados-MS. raquel.vitorino@unigran.br Resumo O objetivo deste trabalho foi determinar as isotermas de dessorção dos grãos de café com pergaminho. Utilizou-se o método estático, no qual dessecadores contendo as amostras e soluções salinas saturadas foram colocadas em câmaras mantidas em temperaturas de 10 a 50 C. Ajustou-se aos dados experimentais os modelos matemáticos frequentemente utilizados para representação da higroscopicidade dos produtos agrícolas. Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que o teor de água de equilíbrio dos grãos de café com pergaminho decresce com o aumento de temperatura para uma mesma umidade relativa, sendo o modelo de Henderson modificado o que melhor representa sua higroscopicidade. Palavras-chave: Higroscopicidade, sorção, modelagem, Coffea arabica L. Introdução O café é considerado um dos produtos agrícolas de maior importância no Brasil, tanto pela receita gerada pela exportação e industrialização, como também pelo número de empregos diretos e indiretos relacionados com o seu agronegócio. Para consolidação do sucesso econômico e da sustentabilidade das atividades cafeeiras, são fundamentais em um modelo tecnológico de produção, ações pontuais que contemplem em especial, a melhoria da qualidade do produto. Para correta realização das operações de secagem e armazenagem torna-se necessário o conhecimento das relações existentes entre a temperatura e a umidade relativa do ar e as condições desejáveis de conservação do produto. É muito importante para garantir a qualidade do produto final, que o café seja armazenado em locais secos e, principalmente, com baixos teores 760

de água. Do contrário, o desenvolvimento de microrganismos pode causar fermentações indesejáveis e contaminações por toxinas, que depreciam a qualidade do produto e dificultam sua comercialização. Assim como diversos outros tipos de produtos agrícolas, os grãos e frutos de café possuem a capacidade de ceder ou absorver água do ambiente. Se o teor de água aumenta, o risco de aparecimento de fungos torna-se maior, comprometendo seriamente a qualidade do produto. Por outro lado, a redução do teor de água promove perdas econômicas devido à perda de massa do produto (YAZDANI et al., 2006). Essas mudanças no teor de água prosseguem até que o produto entre em equilíbrio com as condições do ar que o circunda. O teor de água de qualquer produto, quando em equilíbrio com a atmosfera que o circunda, é chamado de teor de água de equilíbrio ou equilíbrio higroscópico. O teor de água de equilíbrio é útil na determinação da perda ou ganho de água sob determinada condição de temperatura e umidade relativa, relacionando-se diretamente com os processos de secagem e armazenagem de produtos agrícolas (GHODAKE et al., 2007). O teor de água de equilíbrio é alcançado quando a pressão parcial de vapor de água no produto iguala-se a do ar que o envolve. A relação entre o teor de água de um determinado produto e a umidade relativa de equilíbrio para uma temperatura específica pode ser expressa por equações matemáticas, que são denominadas isotermas de sorção ou curvas de equilíbrio higroscópico (KAYMAK-ERTEKIN & GEDIK, 2004). Atualmente, na literatura, existem mais de 200 equações propostas para representar o fenômeno de equilíbrio higroscópico dos produtos agrícolas. Estes modelos diferem na sua base teórica ou empírica e na quantidade de parâmetros envolvidos (MULET et al., 2002). De acordo com Ayranci e Duman (2005), as curvas de equilíbrio higroscópico ou isotermas de sorção são importantes para definir limites de desidratação do produto, bem como estimar as mudanças de teor de água sob determinada condição de temperatura e umidade relativa do ambiente e definir os teores de água adequados ao início da atividade de microrganismos, que podem provocar a deterioração do produto. Em função da necessidade de se estudar os processos de sorção em café, devido ao interesse tecnológico no processamento e armazenamento do produto, desenvolveu-se o presente trabalho com o objetivo de determinar as isotermas de sorção para os grãos de café com pergaminho (descascados), bem como ajustar diferentes modelos matemáticos aos dados experimentais, selecionando, com o auxílio de parâmetros estatísticos, o de melhor ajuste aos dados. Materiais e métodos Foram utilizados grãos de café (Coffea arabica L.) com pergaminho variedade Catuaí Vermelho, provenientes de frutos colhidos manualmente no estádio cereja, com teor inicial de água de, aproximadamente, 55% b.u. Estes frutos foram descascados durante o processamento por via úmida após a sua colheita, sendo eliminados os frutos imaturos, deteriorados ou danificados. Para obtenção de dados para construção das isotermas de dessorção, três amostras de 100 g de café com pergaminho, para cada combinação de temperatura e umidade relativa do ar, foram 761

colocadas para entrar em equilíbrio estático com o ambiente em pequenas cestas suspensas, sobre 250 ml de solução salina depositada em um recepiente de vidro de 2,0 L de capacidade, hermeticamante fechado, e mantido em cinco câmaras climáticas nas temperaturas controladas de 10, 20, 30, 40 e 50 C. Tais amostras foram colocadas em diferentes condições de umidade relativa do ar, proporcionadas por diferentes soluções salinas saturadas, conforme a Tabela 1. Tabela 1. Umidades relativas (decimal) estabelecidas no interior dos dessecadores para a determinação do equilíbrio higroscópico dos grãos de milheto pelo método estático. Composto Temperatura ( C) Químico 10 20 30 40 50 LiCl 0,13-0,11 0,12 0,11 CaCl 2 0,40 0,35 - - - Ca(NO 3 ) 2 0,59 0,55 - - - NH 4 Cl 0,81 - - - - NaCl - 0,76 0,76 0,75 0,75 KBr - 0,84 - - - K 2 SO 4 - - - 0,96 - MgCl 2 - - 0,32 - - KNO 2 - - 0,47 - - KNO 3 0,96 0,93 0,91 - - MgCl 2 x 6H 2 O - - - 0,32 0,31 Na 2 Cr 2 O 7 - - - 0,50 0,46 Pesagens diárias foram realizadas regularmente, até que a variação da massa da amostra fosse inferior ou igual a 0,001 g. Os teores de água do produto foram determinados pelo método gravimétrico em estufa a 105 ± 1 C, até massa constante, com três repetições. Aos dados experimentais do teor de água de equilíbrio dos grãos de café com pergaminho foram ajustados os modelos matemáticos apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Modelos matemáticos usados para a representação da higroscopicidade dos grãos de café com pergaminho. Designação do modelo Modelo Chung-Pfost (1) Copace (2) Halsey Modificado (3) Henderson Modificado (4) Oswin Modificado (5) 762

em que, M e : teor de água de equilíbrio, % b.s. UR : umidade relativa do ar, decimal; T : temperatura, C; a, b, c : coeficientes que dependem do produto. Na seleção dos modelos, foram considerados os seguintes parâmetros estatísticos: a magnitude do coeficiente de determinação ajustado (R 2 ); a magnitude do erro médio relativo (P) e do desvio padrão da estimativa (SE), além da verificação do comportamento da distribuição dos resíduos. Considerou-se o valor do erro médio relativo inferior a 10%, como sendo um dos critérios para seleção dos modelos, de acordo com Mohapatra e Rao (2005). O erro médio relativo e o erro médio estimado, para cada modelo, foram calculados conforme as seguintes expressões: (6) (7) em que n Y : número de observações experimentais; : valor observado experimentalmente; : valor calculado pelo modelo; GLR : graus de liberdade do modelo. Resultados e discussão Os modelos matemáticos testados para estimar o teor de equilíbrio higroscópico dos grãos de café com pergaminho apresentaram valores do coeficiente de determinação (R 2 ) superiores a 96%, bem como reduzidos valores de erro médio relativo(p) e desvio padrão da estimativa (SE) (Tabela 3). Entre as equações ajustadas, o modelo de Halsey modificado apresentou valores do erro médio relativo superiores a 10%, mostrando ser o único modelo, dentre todos os testados, inadequado para representar o fenômeno de higroscopicidade do café beneficiado (ÖZDEMIR & DERVES, 1999). A análise do comportamento da distribuição do resíduos apresentada na Tabela 2, nos 763

permite verificar que o modelo de Halsey modificado também apresenta distribuição tendenciosa dos seus resíduos, confirmando a sua não adequação em representar o fenômeno de higroscopicidade. Tabela 3. Estimativas dos parâmetros dos modelos de equilíbrio higroscópico dos grãos de café com pergaminho (descascados). Parâmetros R 2 SE P Distribuição Modelos A B C (%) (% d.b.) (%) de resíduos Chung-Pfost 35,0372 6,2140 53,6042 98,62 0,6755 8,7081 Aleatória Copace 1,3908 0,0075 2,0883 98,61 0,6784 9,3996 Aleatória Halsey modificado 3,6927 0,0115 1,7058 96,66 1,0526 13,8285 Tendenciosa Henderson modificado 0,0003 63,4880 1,4987 99,27 0,4916 3,2112 Aleatória Oswin modificado 11,2467-0,0662 2,2611 98,70 0,6575 7,4657 Aleatória Analisando todos os parâmetros estatísticos de comparação entre modelos, o modelo de Henderson modificado foi o que apresentou o melhor ajuste dentre todas as equações testadas, com menores valores do erro médio relativo e do desvio padrão da estimativa, assim como elevado valor do coeficiente de determinação (R 2 ) e distribuição aleatória dos resíduos. Assim, o modelo de Henderson modificado foi o recomendado para representar a higroscopicidade do produto, sendo os parâmetros ajustados de sua equação podem ser utilizados para estimar as isotermas de teor de água de equilíbrio dos grãos de café com pergaminho. As isotermas de sorção da água em grãos de café com pergaminho, obtidas para as temperaturas de 10, 20, 30, 40 e 50 C são mostradas na Figura 1. Figura 1. Valores observados e estimados, pelo modelo de Henderson Modificado, do teor de água de equilíbrio para os grãos de café com pergaminho. 764

Assim como esperado, os valores do teor de água de equilíbrio se elevam com aumento nos valores da umidade relativa para uma mesma temperatura e decrescem com a elevação da temperatura para um valor de umidade relativa constante. Esta tendência provavelmente se deve à redução no número de locais de sorção ativos para a ligação da água, como resultado de mudanças físicas e químicas no produto induzidas pela temperatura (MAZZA & LEMAGUER, 1980). Além disso, o aumento da temperatura pode também provocar mudanças nas isotermas, promovendo aumento dos valores de umidade relativa para um mesmo teor de água de equilíbrio, tornando o produto mais susceptível a perdas por microorganismos (ROCKLAND, 1969). Segundo Palipane e Driscoll (1992), com o aumento da temperatura, as moléculas de água atingem maiores níveis de energia, tornando-se termodinamicamente menos estáveis e, assim, permitindo que ocorra quebra da ligação entre a água e os locais de sorção, reduzindo o teor de água do produto. À medida que a temperatura varia, a excitação das moléculas, bem como a distância e, por conseguinte, a atração entre as moléculas, também variam. Isso faz com que a quantidade de água sorvida mude à medida que ocorre variação na temperatura a uma dada umidade relativa (Mohsenin, 1986). Conclusão Com base nos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que o teor de água de equilíbrio higroscópico dos grãos de café com pergaminho (descascados) é diretamente proporcional à umidade relativa e decresce com o aumento de temperatura para um mesmo valor de umidade relativa. Baseando-se em parâmetros estatísticos, o modelo de Henderson modificado é o que melhor representa a higroscopicidade dos frutos de café com pergaminho. Referências bibliográficas AYRANCI, E.; DUMAN, O. Moisture sorption isotherms of cowpea (Vigna unguiculata L. Walp) and its protein isotate at 10, 20 and 30 C. Journal of Food Engineering, v.70, p.83-91, 2005. GHODAKE, H.M.; GOSWAMI, T.K.; CHAKRAVERTY, A. Moisture sorption and vaporization of withered leaves, black and green tea. Journal of Food Engineering, v.78, p. 827-935, 2007. KAYMAK-ERTEKIN, F.; GEDIK, A. Sorption isotherms and isosteric heat of sorption for grapes, apricots, apples and potatoes. Lebensmittel-Wissenchaft und Technology, v.37, p.429 438, 2004. MAZZA, G.; LEMAGUER, M. Dehydration of onion: some theoretical and practical considerations. Journal of Food Technology, v.15, p.181 194, 1980. MOHAPATRA, D.; RAO, P.S. A thin layer drying model of parboiled wheat. Journal of Food Engineering. p.513-518, 2005. MOSHENIN, N.N. Physical properties of plant and animal materials. New York: Gordon and 765

Breach Publishers, 1986. 841p. MULET, A.; GARCIA-REVERTER, J.; SANJUÁN, R.; BON, J. Sorption isosteric heat determination by thermal analysis and sorption isotherms. Journal of Food Science, v.64, p.64-68, 1999. OZDEMIR, M.; DEVRES, Y.O. The thin layer drying characteristics of halzenuts during roasting. Journal of Food Engineering, v.42, p.225-233, 1999. PALIPANE, K.B.; DRISCOLL, R.H. Moisture sorption characteristics of inshell macadamia nuts. Journal of Food Engineering, v.18, p.63 76, 1992. ROCKLAND, L.B. Water activity and storage stability. Food Technology, v.23, p.1241 1251, 1969. YAZDANI, M.; SAZANDEHCHI, P.; AZIZI, M.; GHOBADI, P. Moisture sorption isotherms and isosteric heat for pistachio. European Food Research Technology, v.223, p. 577-584, 2006. 766