Genética de paisagem de Bovinos no Brasil. Ana Clara Barbosa de Souza¹, Andrea Alves do Egito², Concepta Margaret McManus³

Documentos relacionados
Climatologia do conforto térmico humano durante o verão para a cidade de Pelotas-RS, parte 2: índice humidex

Variação espacial de fatores biofísicos e socioeconômicos que afetam a produção de caprinos no Brasil

Categorização de estado de risco de uma população

Revisão de estudos sobre marcadores microssatélite em rebanhos bovinos no Brasil: identificação de áreas de demanda para novas pesquisas

BOVINOS RAÇAS PURAS, NOVAS RAÇAS, CRUZAMENTOS E COMPOSTOS DE GADO DE CORTE. Moderador: Prof. José Aurélio Garcia Bergmann UFMG

Palavras-chave: bem-estar, biometeorologia, conforto térmico, índice de conforto térmico

Relações lineares entre caracteres de tremoço branco

VII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência, Comportamento e Bem-Estar Animal Responsabilidade Ambiental e Inovação

RAÇAS E CRUZAMENTOS PARA PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA REVISÃO DE LITERATURA BREEDS AND CROSSES FOR PRODUCTION OF BEEF - LITERATURE REVIEW

Avaliação comportamental de posicionamento de gado leiteiro em ambientes à pleno sol e sombreado por eucalipto

Publicado on line em animal.unb.br em 20/09/2010. Bovino Pantaneiro. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG.

A Raça Crioula Lageana

Melhoramento genético Evolução e novas tecnologias

Anais do Seminário de Bolsistas de Pós-Graduação da Embrapa Amazônia Ocidental

ESTIMATIVAS DAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS ABSOLUTAS DO AR NO ESTADO DE SANTA CATARINA

GENÉTICA QUANTITATIVA

Cruzamento em gado de corte. Gilberto Romeiro de Oliveira Menezes Zootecnista, DSc Pesquisador Embrapa Gado de Corte

Acadêmica do Curso de Zootecnia, UTFPR Campus de Dois Vizinhos-PR. 6

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

Estudo de caso de ocorrência de onda de calor intensa na cidade de Porto Alegre - RS em Janeiro- Fevereiro de 2010

Ecologia de Populações e Comunidades

MELHORAMENTO GENÉTICO E CRUZAMENTOS DE OVINOS

A CIÊNCIA BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL. Eduardo Brum Schwengber

Raças de corte. Bovinocultura de Corte Prof. Eduardo Bohrer de Azevedo

Avaliação e comparação do índice de conforto térmico humano entre as cidades de São Paulo (SP) e Bauru (SP)

-ECOLOGIA APLICADA. Espécies símbolos. Prevenção da Poluição. Conservação de áreas. Preservação da diversidade genética bbbb

1 de 6 16/11/ :54

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS PARA O CULTIVO DO MILHO, NA CIDADE DE PASSO FUNDO-RS.

Fatores ambientais associados à pneumonia em três cidades do estado de São Paulo Franciele Silva de Barros 1, Marina Piacenti da Silva 2

CST 304-3: Fundamentos de Ecologia e de Modelagem Ambiental Aplicados à conservação da Biodiversidade

AULA Nº 6. aparelhos de circulação de ar forçada ou folhas de papel para seca-las à sombra

Introdução. A importância da compreensão dos fenômenos meteorologicos Grande volume de dados

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Manejo Intensivo de Pastagens para Produção de Carne Bovina. Curso Teórico Prático Embrapa Pecuária Sudeste 22 a 25 de abril de 2003

1º SEMINÁRIO SOBRE AGREGAÇÃO DE VALOR E CONSERVAÇÃO DO BOVINO PANTANEIRO

Variabilidade espacial do microclima em instalações de suínos sob o efeito de pintura de telhado no semiárido pernambucano

Efeito da endogamia sobre pesos aos 120 e 210 dias de idade em um rebanho experimental de bovinos Nelore Mocho criados no bioma Cerrado

REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DAS TEMPERATURAS MÉDIAS DAS MÉDIAS, MÉDIAS DAS MÍNIMAS E MÉDIAS DAS MÁXIMAS MENSAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 1

Potencial de IG para raças locais: caso do Bovino Pantaneiro. Raquel Soares Juliano

Algumas prioridades e demandas da pesquisa relacionadas ao

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

INTRODUÇÃO AO MELHORAMENTO ANIMAL

01- Analise a figura abaixo e aponte as capitais dos 3 estados que compõem a Região Sul.

Cartografia Digital e Geoprocessamento

COLÉGIO DE SANTA DOROTEIA LISBOA ANO LETIVO 2016/2017 DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIOECONÓMICAS Geografia 8 ano Planificação

PRECIPITAÇÕES PROJETADAS PELOS MODELOS CLIMÁTICOS GLOBAIS DO QUARTO RELATÓRIO DO IPCC PARA O NORDESTE BRASILEIRO *

CURSO MEDICINA VETERINÁRIA

Melhoramento Genético da Alfafa

Adriano Venturieri. Chefe Geral Embrapa Amazônia Oriental

TRANSFERIBILIDADE DE MARCADORES MICROSSATÉLITES DE MELÃO PARA MELANCIA

AVALIAÇÃO DAS PROJEÇÕES DE PRECIPITAÇÃO DOS MODELOS CLIMÁTICOS GLOBAIS DO QUARTO RELATÓRIO DO IPCC PARA O BRASIL *

Estudo da Variação Temporal da Água Precipitável para a Região Tropical da América do Sul

CONCEITOS DE ECOLOGIA. É a história natural científica que se relaciona à sociologia e economia dos animais (Elton,1937)

MARCADORES MOLECULARES

Desafios e Perspectivas da Produção Animal no Semiárido frente às Mudanças Climáticas e a Disponibilidade Hídrica

Lista de Recuperação de Geografia 2013

Estudo da produção de leite de caprinos da raça Saanen do IFMG Campus Bambuí

Estudo da diversidade com sequências de DNA

Ecologia de comunidades Novas perspectivas: Macroecologia & Teoria metabólica. Alexandre Palma

Prof. Manoel Victor. Genética Quantitativa

OS TRANSGÊNICOS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS

COMPORTAMENTO SEXUAL DE CARNEIROS NATIVOS PANTANEIROS EM MATO GROSSO DO SUL

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

Tamanho de amostra para estimação de medidas de tendência central de caracteres de tremoço branco

Seleção de variáveis e escalas em estudos com morcegos em paisagens de cerrado

FUNDAMENTOS EM AGROECOLOGIA

Biodiversidade. Rede GEOMA

PRODUÇÃO DE CULTIVARES DE AZEVÉM NO EXTREMO OESTE CATARINENSE. Palavras-chave: Lolium multiflorum L., Produção de leite, Pastagem de inverno.

Balanço Hídrico Seriado de Petrolina, Pernambuco

Tamanho de parcela em nabo forrageiro semeado a lanço e em linha

Distribuição Espaço-temporal das Queimadas no Bioma Cerrado no Período de 1992 a 2007*

História de vida. História de vida. Estratégia r vs. estratégia K. História de vida 06/09/2013. Investimento reprodutivo vs. sobrevivência de adultos

AVALIAÇÕES DE OBJETIVOS ECONÔMICOS PARA GADO DE LEITE, DE CORTE E DE DUPLA APTIDÃO NO BRASIL. Anibal Eugênio Vercesi Filho, Fernando Enrique Madalena

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

ANOVA - parte I Conceitos Básicos

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

Comportamento ingestivo de vacas de raças zebuínas em sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) no Cerrado

Seleção Natural. Fundamentos de Ecologia e Modelagem Ambiental Aplicados à Conservação da Biodiversidade

TECNICAS ESTATÍSTICAS APLICADAS À ANÁLISE DO CRESCIMENTO MORFOMÉTRICO EM OVELHAS DA RAÇA MORADA NOVA CRIADAS NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO NORDESTE

COLETA DE GERMOPLASMA DE CAJUEIRO COMUM EM PLANTIOS SEGREGANTES INTRODUÇÃO

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1213

ESTIMAÇÃO DE PARÂMEROS GENÉTICOS PARA O PESO AO NASCIMENTO E A DESMAMA EM BOVINOS DA RAÇA HOLANDESA

CAPÍTULO 5 Identificação de tendência de família na. raça Nelore para permanência no rebanho

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE PETROLINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Análise da concentração produtiva mesorregional de leite no Estado de Minas Gerais

A TEORIA DO CONFORTO NATURAL, A DINÂMICA DA NATUREZA TERRESTRE E O PARADIGMA DA GEOGRAFIA ARTICULADA AO CONHECIMENTO HUMANO

"Economia Verde nos Contextos Nacional e Global" - Desafios e Oportunidades para a Agricultura -

COMPARATIVO DE LUCRATIVIDADE ENTRE O PLANTIO DE MILHO SEQUEIRO/SOJA E O ARRENDAMENTO DA ÁREA

Distribuição Potencial de Peixes em Bacias Hidrográficas

Cadeia Produtiva da Silvicultura

Seminário Ano Internacional da Biodiversidade Quais os desafios para o Brasil? Painel 11: Os Oceanos e a Biodiversidade Marinha

Uso da terra na bacia hidrográfica do alto rio Paraguai no Brasil

Manejo de Pastagem na Seca

AGRICULTURA DE PRECISÃO

Aula 6 Indicadores ambientais em planejamento ambiental

DESENVOLVIMENTO DE BOVINOS DE CORTE COMPOSTOS NO BRASIL O DESAFIO DO PROJETO MONTANA TROPICAL. José Bento Sterman Ferraz, Joanir Pereira Eler

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Ciências do Ambiente. Prof. M.Sc. Alessandro de Oliveira Limas Engenheiro Químico (UNISUL ) Mestre em Engenharia de Alimentos (UFSC )

Ecologia de comunidades. Padrões e processos. Alexandre Palma

Transcrição:

VII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência, Comportamento e Bem-Estar Animal Responsabilidade Ambiental e Inovação VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare Environmental Responsibility and Innovation Genética de paisagem de Bovinos no Brasil Ana Clara Barbosa de Souza¹, Andrea Alves do Egito², Concepta Margaret McManus³ 1 Aluna de Graduação do curso de Agronomia Universidade de Brasília. E-mail: anaclarabarbosadesouza1@gmail.com ² Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte ³ Professora Titular da Universidade de Brasília. Email:concepta@unb.br Resumo O objetivo deste estudo foi de explorar padrões de estrutura genética espacial em raças bovinas localmente adaptadas no Brasil. Os 876 animais das dez raças avaliadas foram georeferenciados usando o software QGIS 2.4.0, demonstrando os diferentes locais de amostragem. Os testes de Mantel, autocorrelação espacial e Teste de Monmonier foram realizados. Para os testes de correlação espacial as distâncias variaram de 5 a 15 classes. Em sequência os dados foram analisados utilizando o procedimento Forma da Paisagem Genética. Os resultados indicam descontinuidades genéticas no Centro-oeste, Sul e Sudeste. Existe uma falta de correlação entre distância genética e geográfica. Assim os animais geograficamente mais distanciados não são geneticamente mais distantes. O Monmonier Maximum Distance Algorithm indica em uma subdivisão inicial que separa o Curraleiro dos outros e depois o Pantaneiro dos outros. Outra subdivisão separa Crioulo, Mocho Nacional e Caracu. Se atendo que no município de Brasília e Alvorada do Norte tiveram três raças pontuadas: Caracu, Curraleiro e Mocho Nacional, mas para análise somente foram utilizados os dados da raça Curraleiro. Foi apresentada descontinuidade genética a partir dos 176 km quando analisados com uma quantidade maior de classes. Palavras-chave: Mantel, Monmonier, georreferenciamento. Os autores deste trabalho são os únicos responsáveis por seu conteúdo e são os detentores dos direitos autorais e de reprodução. Este trabalho não reflete necessariamente o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Biometeorologia (SBBiomet). The authors of this paper are solely responsible for its content and are the owners of its copyright. This paper does not necessarily reflect the official position of the Brazilian Society of Biometeorology (SBBiomet). DOI: 10.6084/m9.figshare.5183155 VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare 1

Introdução A relação entre adaptação das espécies e as características de paisagem levou ao surgimento da genética de paisagens, que consiste em uma linha de pesquisa interdisciplinar que combina conhecimentos de genética de populações, ecologia de paisagem e estatística espacial (Storfer et al., 2007, 2010) com o objetivo de descrever e explicar como a paisagem e seus componentes afetam a variação genética de populações de animais e de plantas. Essa disciplina provê informações sobre a interação entre a paisagem e os processos microevolucionários, como o fluxo gênico, seleção natural, entre outros (Manel et al., 2003, 2010), auxiliando no conhecimento sobre como a heterogeneidade da paisagem influencia a estrutura populacional, o fluxo gênico e as adaptações das plantas e animais. Observa-se que os fazendeiros empiricamente tentam eliminar ou controlar fatores externos que afetam negativamente a produção agropecuária (Herrero et al., 2010), tais como os relacionados ao ambiente físico (vegetação, solo, clima e geomorfologia), fazendo com que seja importante o conhecimento dos controles ambientais locais, como as características climáticas (temperatura e umidade do ar) e a altitude (Costa et al., 2014), por exemplo, que são fatores importantes na implementação e estabelecimento da produção (Joost et al., 2010). Nesse sentido, a aplicação de informações corretas e modernas e de pesquisas tecnológicas representam 99% do sucesso econômico e quantitativo das fazendas (Sibbald et al., 2008), levando ao entendimento de que o controle dos fatores físicos pode incrementar a produção. Segundo Manel et al. (2003), as duas chaves da genética de paisagens são a detecção da descontinuidade genética e a correlação entre essa com a paisagem e as barreiras impostas pelas feições ambientais. Mas é importante ressaltar, como afirmam Anderson et al. (2010), que a escala espacial é relevante e deve ser ditada pelos atributos ecológicos dos organismos em estudo, coincidindo com a distribuição espacial e o tempo que os fenômenos podem ter influenciado na estrutura genética. Assim, o objetivo deste estudo foi de explorar padrões de estrutura genética espacial em raças de bovinos localmente adaptados e comerciais no Brasil. Material e Métodos Um total de 876 indivíduos pertencentes a 10 raças bovinas criadas no Brasil foram analisados e georeferenciados através da utilização de um sistema de informação geográfica (software QGIS 2.4.0), um sistema de projeção de latitude-longitude geográfica e SIRGAS 2000. Foram utilizados animais provenientes de diferentes rebanhos e regiões (Figura 1), com o intuito de obter amostras representativas, os quais podem ser divididos em três grupos: (a) raças taurinas localmente adaptadas (Caracu; Crioulo Lageano; Curraleiro; Mocho Nacional e Pantaneiro); (b) raças taurinas especializadas (Holandês e Jersey) e (c) raças zebuínas (Gir; Guzerá e Nelore). O DNA genômico foi extraído utilizando um procedimento inorgânico com altas concentrações salinas e vinte um microssatélites foram amplificados pela reação em cadeia da polimerase (PCR) em cinco sistemas multiplexes diferentes em que o primer forward de cada microssatélite foi marcado com os fluorocromos 6-FAM, HEX ou NED de acordo com o tamanho esperado dos alelos. Os produtos amplificados foram eletroinjetados em um sequenciador automático de DNA (ABI PRISM 3100, Applied Biosystems) e o filtro virtual D foi utilizado para a leitura das florescências. Um padrão interno marcado com Rox (Brondani & Grattapaglia, 2001) foi utilizado para predizer o tamanho dos alelos. Os programas GeneScan 2.0 e Genotyper 2.1 (Apllied Biosystems) foram utilizados para a genotipagem dos alelos observados (Egito et al., 2007). Foram usados os testes de Mantel e autocorrelação espacial implementados pelo programa Alleles In Space (Miller, 2005). Nos testes de Mantel, 1000 repetições de randomização foram usadas para avaliar a significância das correlações entre a (P/(1-P). Para as análises de correlação espacial, as distâncias variaram de 5 a 15 classes. Figura 1: Mapa de distribuição das raças de bovinos no Brasil. VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare 2

Resultados e Discussão Há um interesse crescente no uso de tecnologias de georreferenciamento, juntamente com a informação genética na gestão e planejamento de sistemas de produção de gado, bem como previsão de capacidades adaptativas. Os resultados podem ser utilizados como critérios para otimizar a gestão das populações conservadas in situ e os esquemas de conservação ex situ, bem como no planejamento de expansão e adaptação dos sistemas de produção (Hermuche et al 2013; Costa et al, 2014). Compreender as diferenças genéticas espaciais em programas de conservação pode favorecer a amostragem e representação adequada das populações. A maior parte das raças no presente estudo teve dois ou mais locais de coleta em sistemas de criações e ambientes diferentes. A maior divisão é entre as raças do Sul e Sudeste com as regiões Nordeste e Centro-oeste. Enquanto algumas subdivisões podem estar evidenciado a diferenciação racial em si, outras podem representar subdivisões de raça. A correlação de Mantel de distâncias genéticas e geográficas foram de 0,012. Tendo a probabilidade de observar uma correlação maior do que ou igual à observada foi de P = 0,13 e menor do que ou igual ao observado P = 0,868. Essas probabilidades indicaram que houve uma baixa variação individual dentro das raças e locais amostrados. Existiu então, uma falta de correlação entre distância genética e geográfica. Assim os animais geograficamente mais distanciados não são geneticamente mais distantes. A média de distância genética de pares de conjuntos a partir de dados completos foi definida com 0,729 usando o Spatial Autocorrelation Analyses. Quanto as classes de distância analisada (Tabela 1) apresentaram um padrão claro de descontinuidade genética com raças de bovinos no Brasil podendo ser notado já nos 176 km quando comparado em um maior número de classes. Tabela 1: Classes de distância igual e as diferenças genéticas entre os animais amostrados. Results for each distance class Range: Class From To Ay n Upper-tail P Lower-tail P 1 0 176 0,704863 47351 P = 1,00000 P =,00000 2 176 352 0,734877 42655 P =,00100 P =,99900 3 352 527 0,737905 79536 P =,00000 P = 1,00000 4 527 703 0,738488 68742 P =,00000 P = 1,00000 5 703 879 0,722093 36595 P = 1,00000 P =,00000 6 879 1055 0,726741 33238 P =,92000 P =,08000 7 1055 1231 0,752098 7015 P =,00000 P = 1,00000 8 1231 1406 0,728307 36299 P =,60700 P =,39300 9 1406 1582 0,699773 14894 P = 1,00000 P =,00000 10 1582 1758 0,74311 7398 P =,00000 P = 1,00000 11 1758 1934 0,74216 2955 P =,02000 P =,98000 12 1934 2110 0,761241 1426 P =,00000 P = 1,00000 13 2110 2285 0,689607 2746 P = 1,00000 P =,00000 14 2285 2461 0,763811 100 P =,13200 P =,86800 15 2461 2637 0,738848 2300 P =,07000 P =,93000 Dependendo do ambiente, genótipos diferentes podem responder de maneiras diferentes (Blackburn et al., 1998). Sem estresse ambiental os genótipos de raças altamente produtivas e selecionadas podem se expressar. Em ambientes adversos animais selecionados/adaptados para características de fitness, que no passado foram ignoradas pelos melhoristas, podem produzir melhor. Estas características incluem os desafios a carrapatos, parasitas internos, forragem de baixa qualidade e nutrição altamente variável em termos de quantidade ou qualidade, bem como temperatura ambiental (Hammond & Leitch, 1996). A interpolação do formato da paisagem genética que se mostra na Figura 2 com uma perspectiva, picos e vales altos representam descontinuidades genéticas. Portanto, altas descontinuidades genéticas são observadas ao Sudeste, Centro-oeste e Sul do país. Estas são representadas por Pantaneiro no Centro-Oeste, Crioula ao Sul e Nelore no Sudeste. Figura 2. Duas perspectivas da superfície 3D de distâncias genéticas espacializadas de bovinos no Brasil. VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare 3

Em termos de distribuição geográfica e genética a raça Pantaneiro é o mais perto da Curraleira, assim como notado em Egito et al. (2007). A raça Pantaneira tem Associação de criadores deste 2012 mas ainda não tem registro no MAPA (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Assim o registro oficial da raça seria importante para auxiliar no fomento da raça e na sua criação, facilitando e contribuindo para a disseminação do material genético deste bovino por parte de seus criadores. O estabelecimento de um sistema de criação economicamente viável em determinada região requer a escolha de raças ou variedades que sejam adequadas às condições ambientais locais. Um tema comum para muitos argumentos para conservação genética é a resistência a doenças, porque esta afeta a conservação de várias maneiras. Raças ou populações requerendo conservação são frequentemente as que têm grande variabilidade de adaptação para doenças ou para ambientes inóspitos (Scherf, 2000). O tamanho da população, individualmente, é um risco, especificamente quando se consideram doenças às quais a população não é resistente. A agrobiodiversidade é um componente crítico de biodiversidade global. Mais de 75% da produção mundial de alimentos são produzidos por pouco mais de 25 espécies domésticas de plantas e animais. A manipulação e manejo destes recursos são essenciais para a segurança alimentar do mundo. Por outro lado, a pressão para aumento de produtividade e sustentabilidade dos sistemas de produção é intensa e crescente. Desta forma, buscar alternativas que manipulem o ambiente e gere conforto aos animais é uma das soluções apontadas para condicioná-los a apresentar melhor desempenho para o uso comercial. Como foi ser visto aqui, a diferenciação existe com uma distância de 176 km. Uma razão pode ser devido a amostragem e a falta de coleta de animais cobrindo todo o território, a qual foi restrita em algumas populações ou por sua existência local à época ou pelo nível de extensão do Brasil. Pode ser útil para avaliar a especiação local, adaptação e os efeitos da seleção humana (Manel et al., 2010). Como o fluxo de genes em animais é influenciado principalmente por fatores humanos (Storfer et al, 2007;. Berthouly et al, 2009; Anderson et al, 2010), a distribuição das raça é o resultado da seleção dos indivíduos mais desejados, adaptação aos diferentes ambientes e efeitos demográficos, como a domesticação e migração (Bruford et al., 2003). Nos resultados mostrados aqui, raças localmente adaptadas são distribuídas regionalmente com elevada diferenciação genética em curtas distâncias, o que pode causar confundimento na hora de avaliar os resultados observados. Isto pode ser devido a uma falta de circulação de animais entre localidades devido a deficiências em infra-estrutura, especialmente nas regiões do Nordeste, onde as fazendas tendem a ser isoladas e rebanho pequeno tamanho (Lobo et al., 2011). Outro ponto a ser considerado e que, até pouco tempo, estas raças tinham pouco valor de mercado e, desta forma, havia pouco intercâmbio entre as distintas fazendas, sendo estes utilizados apenas para consumo familiar ou regional. Todas as raças localmente adaptadas são geneticamente próximas, pois tiveram sua origem na Península Ibérica portanto existe pouca diferença entre elas pela mesma origem inicial. Há possibilidade de miscigenação entre estas quando aqui chegaram e não havia distinção entre as diferentes raças (conceito de raça veio muito depois por aqui, tanto que nos próprios zebuínos, existiu alguma miscigenação inicial, muito tempo depois, porque era tudo zebu). A diferenciação existente em curtas distâncias pode ser devido à criação em sistemas familiares e rebanhos fechados. O que gera uma diferenciação entre animais das mesmas raças, justamente pela fixação de alelos distintos. No Curraleiro isto é bem evidente pelo número de populações amostradas. Com microssatélites foi possível dizer quais populações tem intercambio de animais e são mais próximas e as que são mais distintas embora estejam no mesmo estado (Egito et al 2007), inclusive demostrar a similaridade de duas populações criadas em estados distintos mas cujo proprietário é o mesmo. A disponibilidade de gado de diversas raças com grandes diferenças adaptativas e produtivas permite que estas possam ser combinadas com os diferentes ambientes, capacidades de gestão e mercados - maximizando assim a oportunidade para alta produtividade e lucratividade. É quase certo que o conteúdo taurino em bovinos compostos nos ambientes (sub) tropicais se tornará maior no futuro (Bourdon, 2008). No entanto, Ntombizake (2002), Burrow (2006) e Scholtz & Theunissen (2010) reiteraram que raças bovinas localmente adaptadas devem ser conservadas para assegurar sua disponibilidade contínua para produção de carne bovina nos (sub)trópicos, em função da manutenção da variabilidade de seus genes adaptativos. Nas áreas mais desenvolvidas, no qual as competências de gestão podem ser melhores, mas as condições são muitas vezes inóspitas, com níveis relativamente baixos de nutrição natural, cruzamento com vacas de pequeno porte, enquadradas como crioulas ou localmente adaptadas, pode ter sucesso na melhoria da produção de gado de corte (Calegare et al,. 2007 ). Conclusão O estudo mostra a necessidade de aumentar a amostragem de bovinos para fins de conservação já que há diferenciação entre locais de coleta relativamente pertos (176km) que pode ser em função do sistema de criação existente. VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare 4

Agradecimentos Agradecemos a Embrapa, Capes e CNPq para bolsas e financiamento. Referências ANDERSON, C.D.; EPPERSON, B.K.; FORTIN, M.; HOLDEREGGER et al. (2010). Considering spatial and temporal scale in landscape-genetic studies of gene flow. Molecular Ecology, V.19, 3565 3575, 2010. BERTHOULY, C., DO NGOC, D., THÉVENON, S., et al. (2009). How does farmer connectivity influence livestock genetic structure? A case-study in a Vietnamese goat population. Molecular Ecology, vol. 18, pp. 3980-3991. BRUFORD, M.W., BRADLEY, D.G., & LUIKART, G. (2003). Dna markers reveal the complexity of livestock domestication. Nature, vol. 4, pp. 900-910. BURROW, H.M.(2006). Utilization of diverse breed resources for tropical beef production. Proc. 8 th Wrld Congr. Genet. Appl. Livest. Prod., August 13-18, Belo Horizonte, MG, Brazil. www.wcgalp8.org.br/wcgalp8/articles. CALEGARE, L., ALENCAR, M.M., PACKER, I.U., LANNA, D.P.D., 2007. Energy requirements and cow/calf efficiency of Nellore and Continental and British Bos Taurus x Nellore crosses. J. Anim. Sci. 85, 2413 2422. COSTA, N. S.; HERMUCHE, P. et al. (2014) Georeferenced evaluation of genetic breeding value patterns in Brazilian Holstein cattle. Genetics and Molecular Research, v. 13, p. 9806-9816. EGITO, A.A.; PAIVA, S.R.; ALBUQUERQUE, M.S.M. et al. Microsatellite based genetic diversity and relationships among ten Creole and commercial cattle breeds raised in Brazil. BMC Genetics, v.8, p.83, 2007. HERMUCHE, P.; MARANHÃO, R. L. A.; et al. (2013) Dynamics of Sheep Production in Brazil. ISPRS International Journal of Geo-Information, v. 2, pp. 665-679. MHERRERO, M.; THORNTON, P.K.; NOTENBAERT, A.M.; WOOD, S.; MSANGI, S.; FREEMAN, H.A.; BOSSIO, D.; DIXON, J.; PETERS, M.; VAN DE STEEG, J.; LYNAM, J.; RAO, P. P.; MACMILLAN, S.; GERARD, B.; MCDERMOTT, J.; SERÉ, C.; ROSEGRANT, M. Smart Investments in Sustainable Food Production: Revisiting Mixed Crop-Livestock Systems. Science, 327:822-827. 2010. JOOST, S., COLLI, L., BARET, P.V., GARCIA, J.F., BOETTCHER, P.J., TIXIER-BOICHARD, M., AJMONE-MARSAN, P. & the GLOBALDIV Consortium. Integrating geo-referenced multiscale and multidisciplinary data for the management of biodiversity in livestock genetic resources, Animal Genetics, Volume 41, Issue s1. 2010. DOI: 10.1111/j.1365-2052.2010.02037.x LOBO R.N.B., PEREIRA I.D.C., FACÓ O. & MCMANUS C.M. 2011. Economic values for production traits of Morada Nova meat sheep in a pasture based production system in semi-arid Brazil. Small Rumin. Res. 96:93-100 MANEL, S., SCHWARTZ, M.K., LUIKART, G., AND TABERLET, P. 2003. Landscape genetics: combining landscape ecology and population genetics. Trends Ecol. Evol. 18: 189-197. MANEL, S.; JOOST, S.; EPPERSON, B.K.; HOLDEREGGER, R.; STORFER, A.; ROSENBERG, M.S.; SCRIBNER, K.T.; BONIN, A.; FORTIN, M. Perspectives on the use of landscape genetics to detect genetic adaptive variation in the field. Molecular ecology 19 (17): 3760-3772, 2010. MCMANUS, C.M., RIBEIRO, R.S., MARIANTE, A.S., EGITO, A.A., LOUVANDINI, H., PAIVA, S.R. Production aspects of a herd of Mocho Nacional breed. Arch. Zootec. 54: 459-464. 2005 MILLER, MP, 2005. Alleles In Space (AIS): Computer Software for the Joint Analysis of Interindividual Spatial and Genetic Information. J Hered 96 (6): 722-724. doi: 10.1093/jhered/esi119 NTOMBIZAKHE, M., 2002. The multiplication of Africa s indigenous cattle breeds internationally: the story of the Tuli and Boran breeds. Available at: http://agtr.ilri.cgiar.org/casestudy/case-mpofu-1- TuliBoran-31.htm SCHOLTZ, M. M., THEUNISSEN, A. (2007) The use of indigenous cattle in terminal cross-breeding to improve beef cattle production in Sub-Saharan Africa. Anim Gen Res, 2010;46:33 39. STORFER A., MURPHY M.A., EVANS, J.S.et al. Putting the landscape in landscape genetics. Heredity, v.98 p. 128 42. STORFER, A.; MURPHY, M.A.; SPEAR, S.F.; HOLDEREGGER, R.; WAITS, L.P. Landscape genetics: where are we now? Molecular Ecology V.19, P 3496 3514, 2010. VII Brazilian Congress of Biometeorology, Ambience, Behaviour and Animal Welfare 5