CC0059-09.SINDICAL Vitória ES, 23 de dezembro de 2009. Às Cooperativas Capixabas Prezados Presidentes, A OCB/ES (Registro Sindical n 46000.001306/94, publicado no DOU do dia 04.04.94, Seção I, pág. 4819, Filiado à FECOOP-SULENE, Registro Sindical Nº Processo MTE: 46000.016566/2003-13), no desempenho de sua função sindical, como representante patronal das cooperativas sediadas no Estado do Espírito Santo, divulga o presente BOLETIM SINDICAL Nº 05/2009, com o fim de orientá-las e comunicá-las sobre TRABALHO DA MULHER, conforme se segue: BOLETIM SINDICAL Nº 05/2009 Uma das questões mais infaustas do Direito, em especial do Direito do Trabalho, é a discriminação que toma conta das sociedades modernas e suas variadas formas. Neste estudo o que nos interessa é a discriminação no trabalho da mulher, principalmente quanto aos aspectos relacionados ao acesso ao trabalho e ao tratamento diferenciado no respectivo ambiente. Em todos os sistemas jurídicos, a mulher merece tratamento particular, asseguradas condições mínimas de trabalho, diferente e mais vantajosas do que aquelas estabelecidas em relação aos homens. 1 1 Curso de Direito do Trabalho, 24. Ed., Saraiva, 2009, p. 726
No início da sociedade industrial surgiram as primeiras preocupações com a defesa do trabalho da mulher, pois este trabalho era aproveitado em larga escala. A partir daí consolidou-se no mundo um novo posicionamento onde se buscava uma nova cultura de democracia, de Estado de bem estar social, pleno emprego e de incremento e proteção dos direitos fundamentais. Várias declarações, pactos e convenções internacionais foram produzidos pelas Nações e Organismos Internacionais, sendo de se observar um traço comum a todos eles: a preocupação e o respeito ao princípio ético-jurídico da igualdade. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO - OIT 2 A Organização Internacional do Trabalho, organismo internacional encarregado de elaborar instrumentos referentes aos direitos humanos fundamentais do trabalhado observa uma questão que vem merecendo especial atenção também pelo Governo brasileiro é a da igualdade entre homens e mulheres no trabalho, que é tratada como uma questão de direitos humanos e um requisito indispensável ao regime democrático. As mulheres representam metade da população mundial e mais da terça parte da população ativa no mundo, e a questão da igualdade abrange o direito à igualdade de oportunidades, de igual tratamento no emprego, de condições de trabalho compatíveis com sua condição biológica e social, e também o acesso à formação profissional e, principalmente, a participação das mulheres na definição das políticas. O trabalho em regime de cooperação entre a OIT e diversos órgãos governamentais brasileiros (Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, Ministério da 2 BOLETIM DA OIT. La OIT y la igualdad entre las mujeres y los hombres en el trabajo. p. 3
Justiça), no combate à discriminação no emprego, levou à constatação de várias formas de discriminação no trabalho, sendo mais comuns as seguintes hipóteses: 1. Mulheres têm o acesso dificultado a certos trabalhos que impliquem contato com o público; 2. Os salários pagos às mulheres são inferiores aos pagos aos seus colegas, com a mesma qualificação; 3. Mulheres costumam ser preteridas nas promoções no emprego; 4. Em muitos casos a justificativa para a preterição das mulheres nas promoções é que os seus colegas poderiam ter dificuldade em aceitar o comando feminino; 5. As mulheres estão sujeitas ao assédio sexual como instrumento de pressão no trabalho; A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O PRINCÍPIO DA IGUALDADE As Constituições de praticamente todos os países consagram o direito à igualdade dentre os direitos fundamentais dos cidadãos, no Brasil, não é diferente a Constituição de 1988, alude à igualdade como valor supremo de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social, e traça como objetivo a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, incisos III e IV). No Título II da Constituição Federal 3 consta no dispositivo abaixo: está gravado o princípio da igualdade. É o Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 4 Através desse dispositivo concluímos que a Constituição de 1988 fortaleceu e aprimorou a proteção dos direitos políticos e a igualdade entre gêneros como direito fundamental. Assim, não pode a lei dar tratamento mais vantajoso para determinada categoria de pessoas, grupo ou classe sem que haja motivo justificado e plausível em lei. Portanto, entendesse a igualdade como a aplicação igualitária da lei a todos os indivíduos, sem distinção de qualquer natureza. PROTEÇÃO AO TRABALHO DA MULHER Nas últimas décadas, houve avanços significativos na construção dos direitos civis e políticos das mulheres brasileiras. A mulher, quando adquire a maioridade, não sofre restrições quanto ao direito de empregar-se. Se casada, a CLT (art. 446) presumia autorizado o seu trabalho pelo marido e a este assegurava a faculdade de pleitear a rescisão do seu contrato de trabalho, se suscetível de acarretar ameaça aos vínculos da família ou perigo 4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm
manifesto às suas condições peculiares. Porém essa restrição não mais existe, porque a Lei n. 7.855, de 25.10.1989, art. 13, revogou o art. 446 da CLT. Como consequência, a mulher casada está autorizada a obter trabalho, não só presumida, mas efetivamente. 5 A mulher também terá direito aos mesmos salários do homem, se o trabalho que exercer for de igual valor, a isso damos o nome de igualdade salarial, prevista no Tratado de Versailles e também na Constituição Federal que acolhe este princípio no art.7. A CLT visando à proteção das mulheres proibiu alguns tipos de trabalho como o trabalho noturno, em subterrâneos, nas minerações, nas pedreiras entre outros, porém essas leis desapareceram com leis que revogaram os dispositivos, em consequência não há mais proibição para estes tipos de trabalho. Mas é proibido o emprego de força muscular pela mulher superior a 20 quilos para trabalhos contínuos e 25 quilos para trabalhos ocasionais (CLT, art.390), limites que são alterados no caso de atividade por impulsão ou outra força. 6 A jornada de trabalho da mulher não difere da do homem e será de 8 horas. Em algumas atividades profissionais a lei fixa jornadas inferiores, não por causa do sexo, mas em decorrência da natureza do trabalho. Em relação à rescisão do contrato de trabalho da mulher submete-se em suas linhas gerais às mesmas regras previstas para todo trabalhador, mas se tratando de mulher grávida, a dispensa, se imotivada, é um ato jurídico nulo. O contrato é considerado em vigor. 5 Nascimento. Amauri Mascaro, 1932. Iniciação ao direito do trabalho. 35. Ed., São Paulo: LTr, 2009. Pag. 190. 6 Nascimento. Amauri Mascaro, 1932. Iniciação ao direito do trabalho. 35. Ed., São Paulo: LTr, 2009. Pag. 191.
PROTEÇÃO A MATERNIDADE E LICENCA À GESTANTE A maternidade merece a proteção da legislação, através, entre outros, de dois princípios básicos, a estabilidade da gestante e a licença-maternidade. 7 A estabilidade da gestante significa que esta terá direito à estabilidade no emprego, sendo proibida a sua dispensa sem justa causa. A dispensa arbitrária ou sem justa causa da gestante é prevista na Constituição Federal, senão vejamos: Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição: II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. 1º - Até que a lei venha a disciplinar o disposto no art. 7º, XIX, da Constituição, o prazo da licença-paternidade a que se refere o inciso é de cinco dias. Quando ocorrer a dispensa em desacordo com este princípio esta será nula e a consequência para isto será a reintegração do emprego, continuando a proteção até o termo final da estabilidade. Havendo dispensa imotivada, embora o correto fosse à reintegração se em vigência o prazo da estabilidade, o TST fixou jurisprudência 8 (Súmula n. 244), segundo a qual a garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. Portanto, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes. Existem outras normas de proteção à maternidade, como: 7 Curso de Direito do Trabalho, 24. Ed., Saraiva, 2009, p. 733 8 http://www.tst.jus.br/jurisprudencia/index_enunciados.html: SUM-244 GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 88 e 196 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
Direito de mudar de função (CLT, art. 392, 4 ); Direito de rescindir o contrato, se prejudicial à gestação (CLT, art.394); Direito de dois intervalos especiais de meia hora cada um para amamentação do filho até que complete 6 meses (CLT, art.396); Direito de contar com creche no estabelecimento, desde que nele trabalhem mais de 30 empregados com mais de 16 anos (CLT, art. 389, 1 ); Direito de, no caso de aborto não-criminoso, o direito de licença de duas semanas; A licença gestante é prevista na CLT (art.392) onde é denominada licença- maternidade, onde a empregada gestante tem o direito à licença de 120 dias sem prejuízo do emprego e do salário. De acordo com Amauri Mascaro Nascimento 9 a licença tem dois objetivos: possibilitar à mulher a recuperação física do parto e a possibilidade da presença da mãe com a criança em tão importante período. Esse segundo motivo levou o legislador a conferir a empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança, o direito à licença (CLT, art. 392-A). Existe um instituto correlato, criado pela Constituição Federal de 1988 (art. 7, XIX), é a licença-paternidade, cuja duração, fixada pelas Disposições Transitórias (art. 10, 1 ), é de 5 dias. A finalidade é permitir o acompanhamento da mulher e do filho recém-nascido pelo pai. É encargo do empregador, ao contrário da licença-maternidade. 10 9 Nascimento. Amauri Mascaro, 1932. Iniciação ao direito do trabalho. 35. Ed., São Paulo: LTr, 2009. Pag. 192. 10 Curso de Direito do Trabalho, 24. Ed., Saraiva, 2009, p. 734.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as considerações acima, concluímos, sem a pretensão de esgotar a matéria, em face da amplitude do tema, as necessidades de, com o princípio da isonomia, entender os detalhes e diferenciais do trabalho da mulher. Precisamos conscientizar e envolver toda a sociedade com a questão da discriminação para que todas as práticas discriminatórias sejam eliminadas, e lutarmos para que nossas cooperativas valorizarem, sempre, e cada vez mais, as mulheres no desenvolvimento de objetivos sociais. Assim, mantemo-nos a disposição de todas as cooperativas, para orientação no trato negocial com seus empregados ou sindicatos destes, inclusive para prestar as assessorias e consultorias necessárias, quer seja contábil, jurídica, técnica ou de capacitação. Atenciosamente, Carlos André Santos de Oliveira Superintendente Haynner Batista Capettini Assessor Jurídico OAB/ES nº 10.794