Novo concorrente Gigante mundial do setor investirá US$ 470 milhões em fábrica no Brasil Metrópoles de vidro Evolução tecnológica em fachadas envidraçadas molda o cenário dos grandes centros urbanos e contribui para a eficiência energética revista Vidro Impresso Ano 2 Nº 7 Segurança máxima Mercado de blindados cresce no Brasil e desenvolve produtos cada vez mais leves e resistentes Educação transparente Luz natural, integração e conforto termo-acústico fazem do vidro elemento indispensável em edifícios para uso cultural e educacional
fique por dentro Corpo fechado Mercado de blindados avança no Brasil e estimula a busca de novas tecnologias na fabricação de produtos customizados para veículos e para a construção civil FOTOS: DIVULGAÇÃo 52 www.vidroimpresso.com.br
Os altos índices de violência nas grandes cidades têm impactado a demanda por vidros blindados, tanto no setor automotivo como na construção civil. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Blindagem (ABRABLIN), o segmento de blindagem de veículos bateu recorde no país em 2010. Mais de 7 mil veículos receberam esse tipo de proteção no ano, um aumento de 5,86% na comparação com 2009. A pesquisa revela que a sensação de insegurança diante da criminalidade é o grande motivador do cidadão na busca pela proteção blindada. O levantamento mostra também que esse tipo de proteção vem se deslocando do eixo Rio-São Paulo, consequência do aumento da violência em outras cidades do País. Tal fato, somado ao aquecimento na economia, resultou no número recorde de blindagens, explica Christian Conde, presidente da ABRABLIN. No setor da construção não é diferente. Segundo Lucas Harada, gerente de marketing da Blindaço, empresa especializada em blindagem arquitetônica, a demanda por blindados no segmento apresentou um crescimento da ordem de 30% no último ano. Hoje esses vidros já são aplicados em fachadas completas de prédios, o que exige uma tecnologia específica não só de fabricação como também de logística e instalação, afirma Harada. O segmento de blindagem de veículos bateu recorde no país em 2010. Mais de 7 mil veículos receberam esse tipo de proteção no ano, um aumento de 5,86% na comparação com 2009 Atentas a essa tendência do mercado, empresas já consolidadas no ramo de blindados têm concentrado investimentos em novas frentes de atuação para aumentar sua participação nos dois setores. É o caso da Fanavid, que recentemente anunciou estar alocando seu know how de vidros blindados automotivos para o mercado de arquitetura e construção civil. Aplicada desde 2004 em presídios e em quase 200 bases da Polícia Militar, delegacias e postos da Polícia Rodoviária Estadual, a linha de blindados espera atender a crescente demanda por mais segurança em empreendimentos civis. A ação é um exemplo de como a Fanavid vem ampliando sua atuação no mercado da construção. Nos últimos dois anos aplicamos o equivalente a 10% de nosso faturamento na aquisição de equipamentos, treinamento e capacitação de colaboradores, e no desenvolvimento de novos produtos, afirma Nelson Luís Ferreira, gerente de produção de vidros blindados da Fanavid. Líder mundial no segmento de vidros blindados curvos e planos, a multinacional AGP também tem aumentado nos últimos anos sua participação no fornecimento para os segmentos automotivo (montadoras e blindadoras), militar, arquitetônico, marítimo, ferroviário e industrial. Há mais de 45 anos nesse mercado, a empresa tem participado de importantes projetos arquitetônicos com vidros blindados, voltados para proteção pessoal, comercial, militar e governamental. A AGP Bala ao atingir o vidro: os estilhaços são retidos pela camada mais interna, de policarbonato Teste balístico na Fanavid: Mesmo após ter sido atingido por seis projéteis de uma arma 44 Magnum, o vidro com nível de blindagem III-A não foi perfurado www.vidroimpresso.com.br 53
fique por dentro Com vidros fabricados e instalados pela Blindaço, o edifício sede da SulAmérica, no Rio de Janeiro, é a maior obra de blindagem arquitetônica do Brasil desenvolveu uma vasta gama de produtos para diferentes aplicações, como vidros especialmente fabricados para suportar projéteis, vidros com bordas de aço que eliminam a necessidade de overlap nos veículos, vidros com bordas de plástico especial que evitam a penetração de umidade e ataques químicos e outros, informa o gerente de projetos da AGP Brasil, Abdon Castro. O Brasil já é o maior mercado de carros blindados do mundo, ultrapassando México e Colômbia, e nosso foco é a liderança na oferta de produtos que incorporem as últimas tecnologias desenvolvidas mundialmente. Também especializada em blindados, a paulista Inova Glass é mais um exemplo do aquecimento desse mercado. Com uma produção 70% voltada para a arquitetura e 30% para o setor automotivo, a empresa tem aumentado o fornecimento de blindados a uma média de 20% ao ano. Isso se deve, em parte, ao aumento da violência, mas também ao fato de o produto estar com um valor de mercado mais acessível, diz o gerente de projetos da empresa, Fabio Descagni. Composição, peso e espessura De um modo geral, o vidro blindado é formado por lâminas de vidro interligadas, sob calor e pressão, pelo polivinil butiral (PVB), material plástico extremamente resistente, às quais adicionam-se outros polímeros, que garantem a resistência balística da composição. Na construção civil, os vidros são planos e o peso não é uma variável tão crítica como em veículos, explica Abdon Castro, da AGP. Já nos automóveis, o peso do vidro, sua espessura, a precisão dimensional e o nível de distorção são variáveis que devem ser cuidadosamente controladas. Os vidros blindados automotivos são laminados com plásticos como PU (poliuretano) e policarbonato e seu processo de produção é muito mais complexo, afirma o executivo. O poliuretano é usado por ser o único polímero que adere ao policarbonato. 54 www.vidroimpresso.com.br
BLINDAGEM ARQUITETÔNICA DO PALÁCIO DO PLANALTO Com a missão de preservar os traços arquitetônicos de Oscar Niemeyer, a equipe de engenheiros e arquitetos da Blindaço criou uma logística especial para a fabricação e o transporte das grandes placas de vidro, nas mesmas dimensões das originais. A operação exigiu o desenvolvimento de máquinas e ferramentas específicas para instalação dos vidros, que chegavam a pesar mais de uma tonelada. Todo o gabinete presidencial, integrado pelas salas de reunião e de audiência, ganhou vidros blindados, incluindo a fachada www.vidroimpresso.com.br 55
fique por dentro Túnel balístico da Fanavid, especificado conforme conforme a norma 15.000 da ABNT, onde são realizados os testes de resistência dos vidros blindados para certificação do Exército Brasileiro A composição da peça também pode variar, uma vez que, usualmente, os vidros de veículos são relativamente pequenos e devem ser leves, explica Claudio Passi, diretor da Conlumi, que fabrica blindados para a construção civil. No caso dos veículos, usa-se policarbonato na composição, que é o que garante a blindagem. Já na construção civil, muitas vezes há necessidade de peças de grande dimensão, que não podem ser produzidas com policarbonato. Normalmente, agrega-se mais espessura aos níveis de blindagem em relação aos de veículos, afirma Passi. Como vantagens, há menos risco de delaminação, maior durabilidade e maior transparência, além da possibilidade de agregar outras possibilidades, como vidros refletivos ou decorativos, de acordo com a necessidade do projeto arquitetônico. O grande desafio dos fabricantes de blindados para veículos tem sido reduzir o peso, a espessura e o nível de distorção dos vidros, garantindo performance e qualidade ótica superiores. Novas tecnologias, como vidros mais leves que o padrão, têmperas químicas e mecânicas e plásticos que absorvem energia com mais eficiência são algumas das possibilidades. Integrar essas tecnologias aos processos produtivos e atender a demanda do mercado por produtos mais leves e mais finos, com alta capacidade balística e durabilidade, é uma preocupação constante entre as empresas do ramo, informa Castro, da AGP, que desenvolveu o chamado Platinum B33, 20% mais leve e mais fino que os vidros blindados padrão. Esse produto é resultado de anos de intensa pesquisa e já é sucesso absoluto no mercado brasileiro. Ele apresenta acabamento diferenciado e melhor proteção do pacote balístico, o que nos permitiu inclusive estender seu prazo de garantia, informa Castro. Outras possibilidades de composição incluem resinas e polímeros em substituição ao PVB. Na construção civil, os vidros são planos e o peso não é uma variável tão crítica. Já em veículos, fatores como peso, espessura, precisão dimensional e nível de distorção devem ser cuidadosamente controlados 56 www.vidroimpresso.com.br
Guarita com vidros blindados da Inova Glass, especializada no segmento A Uvekol S20, da Cytec, por exemplo, é uma opção para vidros balísticos. É ideal para forças aplicadas em toda a área do vidro, que pode se tornar resistente a tufões, vendavais e até explosões menores, assegura o diretor da empresa, Alberto Matera. Este polímero cria uma malha flexível e resistente, que dispersa a energia do impacto, aumentando a resistência a balas, frisa o diretor. Foi projetado para, após a cura, ter o mesmo índice de refração do vidro, evitando qualquer distorção óptica. Desenvolvido pela DuPont, o SentryGlas é um polímero de alta resistência que, segundo José Carlos Alcon, responsável pela divisão de Embalagens e Polímeros Industriais da empresa, melhora expressivamente a durabilidade dos vidros blindados, evitando a delaminação e o aparecimento de bolhas de ar. Para aplicação em vidros blindados, a principal vantagem do SentryGlas, quando comparado ao PVB ou à resina, é a redução da espessura total do laminado, refletindo no peso total do conjunto, afirma Alcon. No caso dos vidros blindados para a arquitetura, como são inevitavelmente muito mais pesados que os comuns, geralmente é necessária a aplicação de reforços à estrutura do edifício, como fibra de carbono, chapas metálicas, entre outras soluções. Segundo Lucas Harada, da Blindaço, se os elementos incorporados à edificação forem mais leves ou se a estrutura existente for robusta, tais reforços são dispensáveis. O gerente ressalta que, para diminuir custos e evitar retrabalho, retrofit, Armadura de vidro: borda polida de blindado automotivo da AGP www.vidroimpresso.com.br 57
fique por dentro FOTO: DIVULGAÇÃo Montagem de um para-brisa blindado na Fanavid, antes de ir para laminação em autoclave. Após uma limpeza minuciosa, as camadas de vidro PVB, PU e Policarbonato são sobrepostas em sequência pré-determinada. A última camada, de policarbonato, funciona como uma rede para parar o projétil e evitar que estilhaços do vidro atinjam os ocupantes do veiculo ou reformas, a blindagem deve ser especificada no início do projeto, por consultores especializados em definir a blindagem ideal para cada projeto. Segundo Nelson Luís Ferreira, da Fanavid, a demanda por vidros certificados é maior para a blindagem automotiva. Na construção civil é mais comum a utilização de vidros multilaminados, normalmente mais baratos, porém geralmente sem resistência balística certificada, ressalta. Diferentemente dos multilaminados de segurança, compostos basicamente por camadas intercaladas de vidro e PVB, os blindados incluem necessariamente uma película antiestilhaço recobrindo a última camada de vidro. A lâmina de impacto deve ser a mais espessa e, a partir de uma combinação de materiais, chega-se a uma composição que passa pela aprovação do Exército Brasileiro, responsável por emitir um título de registro para os fabricantes e um certificado para as blindadoras, afirma Ferreira, da Fanavid. Segundo ele, o setor da construção civil está pouco a pouco seguindo os passos do automotivo e buscando a aplicação de vidros blindados certificados em substituição aos multilaminados. Resistência máxima O princípio básico do vidro blindado consiste em criar um escudo físico que depois do impacto diminui a velocidade do projétil para, em seguida, absorver a energia dissipada. Abdon Castro, da AGP, explica que o vidro, por sua extrema dureza, exerce um papel fundamental nesse processo. Quando atingido, ele troca energia com o projétil, enquanto os plásticos laminados exercem a função de absorver essa energia e dissipá-la. O projétil então segue seu curso até atingir outra camada de vidro, e o fenômeno de troca de energia e absorção se repete, acrescenta. Por fim, o projétil encontra uma última camada de policarbonato que funciona como uma rede para parar o projétil e evitar que estilhaços do vidro atinjam os ocupantes do veiculo. Dependendo de seu nível balístico, os vidros fabricados no Brasil chegam a suportar tiros de fuzis 762 e AR- 15. O nível III, o mais resistente produzido no País, chega a ter até 41mm. A blindagem mais praticada no mercado é a de nível III- 58 www.vidroimpresso.com.br
A, que suporta até tiros de pistolas 9 mm e de revólveres 44 Magnum. Esse nível é o mais adequado à atual realidade enfrentada nos grandes centros, pois oferece proteção contra armas de fogo curtas - revólveres, pistolas e submetralhadoras, explica Christian Conde, da ABRABLIN. De acordo com Ferreira, da Fanavid, a produção de uma peça de vidro blindado é em grande parte artesanal e dura, em média, de 16 a 20 horas. No caso de vidros automotivos, cada peça deve ser cortada manualmente, de acordo com o modelo do carro. Cada lâmina tem um tamanho e formato diferentes e todo mês encontramos uma variação de 50 a 60 modelos. Por esses detalhes, uma mão-de-obra treinada e especializada é requisito fundamental para o bom resultado final do produto, afirma. Não há diferença entre o processo de instalação de um vidro comum e de um blindado, informa o gerente. Ele ressalta, no entanto, a necessidade de blindagem não só do vidro, mas também do fechamento do edifício e do caixilho. No caso de veículos, fechaduras e colunas são pontos vulneráveis e também devem ser blindadas. Autoclave da AGP, dentro da qual o controle de variáveis como temperatura, pressão e tempo é determinante no resultado da produção Carro com vidros blindados pela AGP www.vidroimpresso.com.br 59