DIÁLOGOS SOBRE AS RELAÇÕES DE GÊNERO ENTRE JOVENS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS EM MANAUS/AM Karla Patrícia Palmeira Frota 1 Eveline Maria Damasceno do Nascimento 2 Iraildes Caldas Torres 3 RESUMO Esta análise, centrada na temática intitulada Diálogos sobre as relações de gênero entre jovens alunos do Ensino Médio de Escolas Públicas em Manaus/AM, contribuirá para as discussões acerca da ocorrência de situações de preconceitos e de discriminações presentes nas relações de gênero em sala de aula ou decorrente dela, no contexto educacional. Buscamos contextualizar e apresentar as situações, as motivações, as atitudes e os percursos desenvolvidos na ocorrência de problemas de relações interpessoais entre os gêneros em algumas escolas públicas com o intuito de estabelecer uma reflexão lúcida sobre essa temática. É nesse contexto que pretendemos, neste trabalho, inserir e trazer à tona a discussão sobre o assunto em questão. Utilizamos no presente estudo a abordagem qualitativa, sob a técnica de entrevista e a aplicação de um questionário investigativo, junto a uma amostra de cinco alunos e de cinco alunas. Esses alunos ouvidos são todos do nível médio de ensino, na faixa etária de 15 a 18 anos de idade. O estudo foi complementado ainda, com uma pesquisa de cunho bibliográfico. Desta forma, a partir de uma abordagem teórica pautada em conceitos de distintos estudiosos e que serviram de base para a realização desta pesquisa, o presente trabalho se propõe a abordar e compreender como se dão esses relacionamentos no contexto escolar. Nas situações aqui consideradas, percebemos que tem se acentuado em diferentes escolas as circunstâncias em que ocorrem esses episódios aqui levantados. Palavras-chave: Gênero. Preconceito. Discriminação. Escola. INTRODUÇÃO A Escola é hoje, uma das grandes responsáveis em agregar valores e conhecimentos a seus alunos. Mas, ela não deve ser apenas um lugar de ensino formal. Deve ser também um local de formação cidadã, preocupada com a formação cognitiva e social de seus alunos, apresentando e explicando a eles os 1 Doutoranda em Sociedade e Cultura na Amazônia, pela UFAM. (karla.ingles@bol.com.br). 2 Doutoranda em Sociedade e Cultura na Amazônia, pela UFAM. Bolsista FAPEAM. (ev_am@hotmail.com). 3 Dra. em Ciências Sociais / PUC-SP e Orientadora. (iraildes.caldas@gmail.com). 53
seus direitos e deveres, bem como transmitindo a esses aprendizes valores morais e éticos. Com isso, deve haver mais engajamento dessas Instituições de ensino em perceber e combater na atualidade um problema complexo e de práticas múltiplas presente nas Escolas: o bullying. Esse fenômeno é uma prática de violência muito agressiva e delituosa, que vem ocorrendo com uma grande frequência e constância em diversas Escolas, sejam elas públicas ou privadas. Neste trabalho é nosso propósito compreender um pouco do que se passa na vida escolar de um grupo de alunos de algumas Escolas públicas de Manaus, a partir da visão deles, de fatos ocorridos em suas vidas escolares, e levando em consideração um ponto em comum entre eles o de que todos já foram vítimas de violências no âmbito escolar, sendo este um dos critérios adotados para a inclusão dessa amostragem na pesquisa aqui apresentada. A nossa amostragem é composta por cinco rapazes e cinco moças, com idades que variam dos quinze aos dezoito anos e que responderam a um questionário investigativo abordando o tema em questão. Nos relatos descritos por esses alunos/as, procuramos vislumbrar suas falas e analisar suas respostas com muito cuidado diante desse panorama. 1 GÊNESE E DIAGNÓSTICO O bullying não é um fato novo. Na verdade, ele sempre existiu nas escolas. A prática de bullying começou a ser pesquisada não faz muitos anos na Europa, quando foi descoberto que essa forma de violência estava por trás de muitas tentativas de suicídios de adolescentes. Somente na década de 1970 ele começou a ser mais estudado, quando Dan Olweus, um professor pesquisador da Universidade de Bergen, na Noruega, deu início a um estudo sobre essa temática. De acordo com o que apresenta CALHAU (2010, p. 13): Dan Olweus desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações. 54
Até o final da década de 1990 esse tema não era discutido no Brasil. Aliás, apesar de existir, não era debatido e nem combatido. Esse tema só passou a ser abordado a partir do ano de 2000, quando Cleo Fante e José Augusto Pedra realizaram uma pesquisa a esse respeito. A partir de então, algumas tragédias midiadas e noticiadas vieram à tona, tais como, as ocorridas em Denver, Colorado (EUA), quando em abril de 1999 dois adolescentes norte-americanos (Eric Harris, com 18 anos e Dylan Klebold, com 17 anos), na Escola de Ensino Médio Columbine, após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos, cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. O motivo de tal atitude extremada por parte daqueles dois jovens rapazes era vingança, porque eles foram ridicularizados e excluídos pelos colegas durante muito tempo na Escola. Uma outra tragédia ocorrida, só que agora no Brasil e também nos mesmos moldes, aconteceu em Realengo (RJ). Em abril de 2011, quando o exaluno Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira sem levantar suspeitas e matou 12 pessoas, entre crianças e adolescentes. Ao final, quando Wellington se viu acuado pela polícia, também se suicidou. O motivo dessa outra atitude extremada também era vingança, porque ele também tinha sido ridicularizado e excluído pelos colegas durante muito tempo, na Escola. Com isso, todas essas tragédias nos fizeram perceber de modo triste e dramático a grande urgência em se tratar esse tema com maior constância e seriedade, não apenas nas Escolas, mas na sociedade em geral. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. E como um verbo, ele pode ter como significados ameaçar, amedrontar, maltratar, oprimir, humilhar, intimidar. Esse termo (bullying) envolve diferentes modos de agressões, sejam elas físicas, verbais, ou psicológicas, que se dão de formas repetitivas e intencionais, e que ocorrem sem um motivo essencialmente claro ou evidente. Essa prática se 55
dá por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. Os motivos são variados, incoerentes, não se justificam, e muitas vezes (na sua grande maioria) são fúteis. Entre os dez alunos entrevistados, todos foram unânimes em afirmar que entre os jovens há discriminação em relação a meninos e meninas, no que diz respeito ao ato de agir, sobre o comportamento, sobre a classe social, sobre a raça (cor), sobre a orientação sexual, sobre o tipo e aparência física (feio (a), gordo (a), muito alto (a), baixo (a), narigudo (a), e outros). Conforme apresenta SILVA (2010, p. 21) acerca de uma definição sobre este tema, tem-se que: A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil, é utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões, os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados de maneira recorrente e intencional por parte dos agressores. 2 RELATOS SOBRE A OCORRÊNCIA DESSA VIOLÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR Segundo um aluno do sexo masculino, de 17 anos, cursando o 3º ano do Ensino Médio, no período matutino, ele informou que já sofreu bullying por meio de apelidos constantes, mas nunca relatou o ocorrido nem a seus pais (que são separados e vivem em cidades diferentes) e nem a ninguém na Escola, por medo. Já para outra aluna do sexo feminino, de 16 anos, cursando o 1º ano do Ensino Médio, no período vespertino, ela informou que também já passou por esse problema, mas na forma de agressão física, quando tinha ainda 13 anos, por motivo de fofoca. Não contou para ninguém na Escola e nem em casa. Resolveu do seu jeito. Com relação a outro informante do sexo masculino, de 16 anos, cursando o 2º ano do Ensino Médio, no período integral, ele informou que já sofreu bullying por meio de rejeição, era excluído pelos colegas e sofria agressão física também, 56
pois apanhou de outros colegas por ser muito calado, tímido. Também não delatou seus agressores por medo. Para outra informante do sexo feminino, de 15 anos, cursando o 1º ano do Ensino Médio, no período noturno, ela informou que também já passou por esse problema, na forma de apelidos e xingamentos, por ser considerada gorda e não se enquadrar nos padrões estéticos impostos pela sociedade. Não contou a ninguém, nem na Escola e nem para a família, por vergonha. O bullying também pode ocorrer por meios eletrônicos e este é conhecido como cyberbullying (ou bullying virtual), e esses meios de transmissão contêm mensagens agressivas, difamatórias ou ameaçadoras, seja via e-mail, seja por meio de sites, de blogs (diários virtuais), de fotoblogs, via MSN, via Orkut, via YouTube, via Skype, via Twitter, via Facebook, via pagers, ou ainda, por meio de mensagens de texto ou de torpedos enviados por celulares. Essa prática, geralmente, é uma extensão e uma decorrência do que surge e do que acontece na Escola, mas com o agravante que a vítima não está face a face com seu agressor, e devido a isso, na maioria dos casos, desconhece a identidade deste. Com isso, a crueldade dos comentários e das ameaças do agressor aumenta de modo desumano e vil. Dentre todos os alunos entrevistados só tivemos um relato de uma aluna do sexo feminino, de 17 anos, cursando o 3º ano do Ensino Médio, no período vespertino, que informou que já passou por esse problema (cyberbullying), na forma de agressão verbal pelo celular, não entendendo e desconhecendo a razão dessa prática em relação à sua pessoa. De acordo com SILVA (2010, p. 126), a autora esclarece acerca dessa modalidade de prática de bullying que: Os praticantes de ciberbullying ou bullying virtual utilizam, na sua prática, os mais atuais e modernos instrumentos da internet e de outros avanços tecnológicos na área da informação e da comunicação (fixa ou móvel), com o covarde intuito de constranger, humilhar e maltratar suas vítimas. No universo feminino é mais velada a prática desse fenômeno, que se apresenta por meio de fofocas, boatos e sussurros. Mas, há também, aquelas 57
que partem para a agressão física, geralmente estimuladas por concorrências com as outras meninas em relação aos meninos (seus namorados, exnamorados, ou pretensos namorados). Sobre isso, BEANE (2010, p. 47) apresenta que: Um poderoso motivador para o bullying, especialmente entre as meninas, é a inveja e/ou ciúme. Por exemplo, uma menina que é atraente e popular entre os garotos pode enfurecer outras meninas. Essas meninas podem sentir tanta inveja que tentam ferir de alguma forma a colega popular. Já no universo masculino, são muito mais comuns as agressões físicas, porque eles querem provar aos outros colegas que são valentes, fortes, bons de briga. Então, eles podem chutar, bater, empurrar, socar, espancar um colega para demonstrar sua superioridade física. Com relação aos dez alunos entrevistados quando questionados sobre a incidência desse problema em relação a distinção de gênero, apenas dois alunos, ambos do sexo masculino, divergiram. Os alunos afirmaram que isso ocorre mais com meninos (quatro informantes convergiram nessa resposta) pelo fato de eles gostarem de aparecer mais e provar que são valentes. Apenas dois alunos, acreditam que isso acontece mais com as meninas, pelo fato de serem elas o alvo mais fácil de ser atacado. No entanto, não são todas as situações de violência ocorridas nas escolas que podem ser caracterizadoras do bullying. Para isso e para que não haja equívocos na constatação e avaliação dos casos, deve haver alguns critérios essenciais para que o diagnóstico de um caso de bullying possa ser dado, e segundo SILVA (2010, p. 166), há três critérios que ela elenca, que são: 1) A vítima tem que ser alvo dos ataques de maneira repetitiva durante um determinado período de tempo. Isso corresponde a no mínimo duas vezes, durante o ano letivo, segundo o pesquisador norueguês Dan Olweus. 2) Os ataques não têm qualquer motivação que possam justificá-los. 3) Sempre existe um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, o que impede a defesa desta e a faz mobilizar uma série de sentimentos desagradáveis em torno da situação. 58
De acordo com esses critérios fica mais fácil identificar e diagnosticar quando um caso de bullying está se dando no ambiente escolar, para que o mesmo não se confunda com um caso de uma simples brincadeira, pois há uma linha muito tênue que separa o que pode ser uma brincadeira do que é de fato uma violência. 3 A GESTÃO DO PROBLEMA No momento em que surgir uma situação em sala de aula onde o professor consiga identificar um caso de bullying, imediatamente uma intervenção deve ser tomada para que tal situação não se repita e se encerre naquele momento. Caso isso não ocorra naquele instante. Ou seja, tendo o professor se omitido ou tendo feito um comentário inapropriado, ele terá trilhado um mau caminho, pois ele deve ser o primeiro a demonstrar respeito e dar um bom exemplo sempre. Ele deve ser um modelo de uma pessoa que busca resolver conflitos sem o emprego da violência. O foco de uma conversa entre professor e alunos a respeito desse problema deve estar voltado para a recuperação de valores morais e éticos essenciais, como o respeito ao outro, enquanto ser humano e indivíduo. O professor pode (e deve) identificar os atores dessa violência, que podem ser identificados da seguinte forma: são os autores, os espectadores e/ou os alvos. Os autores são os agressores, que podem ser de ambos os sexos, e que possuem traços de maldade em suas personalidades. Geralmente, trata-se de uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo, e alguém que não se incomoda de modo algum com o sofrimento do outro. Além do que, normalmente essas pessoas têm uma relação familiar na qual tudo se resolve por meio da violência verbal ou física, e isso vai se reproduzir no ambiente em que ele estiver. 59
Os espectadores são os alunos que, por medo de se tornar a próxima vítima, acabam por endossar o comportamento agressivo de outros colegas, no caso, os autores dessa violência. Esses espectadores só estão contribuindo para o crescimento da violência, fazendo com que a impunidade se propague. As vítimas são geralmente os alvos ou vítimas dessa violência. Costumam ser crianças ou adolescentes com baixa autoestima, tímidas, reservadas, retraídas, e não conseguem reagir frente aos comportamentos hostis dirigidos contra elas. Além dos traços psicológicos, as vítimas costumam apresentar certas particularidades físicas, e as agressões podem envolver aspectos de questões culturais, étnicos e religiosos. A Escola não deve humilhar e nem punir o agressor com medidas que não estejam relacionadas ao mal que ele causou. Mas sim, buscar uma alternativa eficiente como um diálogo aberto, franco e sincero na tentativa de identificar a origem dessa agressividade, podendo contar ainda com o auxílio profissional de psicopedagogos, assistentes sociais e psicólogos, para que de forma conjunta resolvam o problema sem excluir o agressor do ambiente escolar. Esse contorno da situação deve envolver todos aqueles que participaram da violência: os agressores, as vítimas e os espectadores, para que se criem boas relações interpessoais no ambiente escolar e, também, para a construção da autonomia moral desses envolvidos. Nessa direção, pode-se lançar mão de técnicas como dinâmicas em grupo, onde o assunto possa ser discutido de forma ampla, e na qual, um aluno possa se colocar no lugar do outro. Ou ainda, pode-se fazer a exibição de filmes que abordem e retratem essa temática, para ajudar no trabalho. 4 OS DESAFIOS E O COMBATE A ESSA VIOLÊNCIA Esse fenômeno é mais um dos já muitos desafios existentes no contexto escolar. É um desafio complexo, pois envolve os alunos, sejam eles vítimas, autores ou espectadores da agressão. Envolve também a Escola e os pais desses alunos, que muitas vezes não sabem como lidar corretamente com esse problema. 60
A Escola composta de sua hierarquia formada por diretores (gestores), supervisores, coordenadores, orientadores, professores e funcionários administrativos e de pessoal é, de certo modo, uma reprodução de nossa sociedade como um todo. Assim, todos que a compõe devem exercer seus papéis de forma entrelaçada para que os alunos ponham em prática de forma eficaz e eficiente, o conhecimento que utilizarão no decorrer de todas as suas vidas. O grande e o maior desafio de todos é o de convocar todos os membros de nossa sociedade a trabalhar no incentivo de uma cultura de paz e de respeito com relação às diferenças existentes entre cada indivíduo, já que fazemos parte e somos integrantes de uma grande diversidade cultural de múltiplos fatores e características. Ao surgirem casos denominados mais graves, o assunto deve ser visto, revisto e trabalhado por profissionais específicos e habilitados, como os mencionados psicopedagogos, assistentes sociais e psicólogos na tentativa de combater esse problema. Para BEANE (2010, p. 113), a Escola deve lidar com todos os casos de agressão de acordo com a prática adotada. Se não existe um plano de reação para esses casos, incentive a administração a desenvolvê-lo. Isso deve ser estendido ao ambiente domiciliar de cada aluno. Ou seja, deve haver (o ideal é que haja) um ambiente familiar harmonioso e em equilíbrio, no qual a criança ou o adolescente sinta-se bem e agregado, e onde exista afetividade, segurança e tranquilidade. Para que haja um ambiente saudável na Escola, e segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), que opera na cidade do Rio de Janeiro, deve-se realizar as seguintes proposições que podem ser adotadas por outras cidades: Esclarecer para todos os membros que a compõe o que é o bullying; Adotar uma postura mais próxima a eles e conversar com os alunos, ouvindo suas críticas e sugestões; 61
Incentivar os alunos a comunicar sempre que um caso estiver ocorrendo; Deixar bem claro entre todos os membros da Escola que essa prática não será tolerada de forma alguma; Procurar identificar as possíveis vítimas e autores; e, Criar com os estudantes regras de disciplinas para a classe em coerência com o regimento escolar. Para combater esse problema faz-se necessário o que CALHAU (2010, p. 107), apresenta: O primeiro passo é diagnosticar o problema, verificar em que grau ele está e iniciar um trabalho de conscientização com todos os envolvidos (e talvez com suas famílias no caso do bullying escolar). Para os alunos entrevistados, eles informaram que com relação ao combate desse fenômeno o comportamento de pais, do diretor (gestor escolar), do coordenador e do professor da Escola devem ser os que seguem abaixo. Oito alunos, sendo quatro meninos e quatro meninas, afirmaram que os pais devem conversar com os filhos, com o intuito de tomar providências com relação ao problema enfrentado; orientar os filhos; ensiná-los que essa prática não é uma atitude legal e concebível; procurar saber o que está acontecendo de fato; apoiar os filhos; impor limites em certos pedidos dos filhos; dar apoio moral; ajudar o filho psicologicamente; e ainda, dar entrada em um processo judicial. Para seis alunos, sendo quatro do sexo feminino e dois do sexo masculino, o diretor (gestor) da Escola deve promover palestras informativas e esclarecedoras sobre o assunto. Para outros quatro alunos, do sexo masculino, o diretor deve comunicar o fato ocorrido aos pais do aluno. E, com relação a outros alunos, alguns foram unânimes em afirmar que, os agressores devem ser punidos pelo diretor (gestor), com suspensões e advertências orais e por escrito. Para os alunos envolvidos na pesquisa com relação ao comportamento do coordenador da Escola frente a esse problema, as informações foram as mais variadas possíveis, tais como: ele deveria tentar ajudar os alunos que sofreram esse problema e os que praticaram a agressão conversando com eles a esse 62
respeito; deveria repreender a atitude do agressor; deveria comunicar o fato ao diretor da Escola (gestor); deveria conversar com os alunos; deveria observar a ocorrência desse fato na Escola e organizar a sua constância; e, por fim, deveria criar projetos contra o problema. Também foram variadas as informações dos alunos com relação ao comportamento do professor tais como, deveria observar e conversar com os alunos; deveria comentar sobre o problema em sala de aula; deveria dialogar e citar exemplos de superação; deveria comunicar a parte pedagógica da Escola; deveria encaminhar os agressores à Coordenação; deveria tentar fazer com que eles sejam amigos; deveria fazer atividades que abordassem o tema; deveria corrigir o aluno para que ele entenda que isso não é certo; deveria compreender os alunos; deveria escutar cada aluno que sofreu essa violência; e, por fim, deveria comunicar o caso diagnosticado ao diretor (gestor), contando o ocorrido. Segundo CHALITA (2008, pp.204-205): Quando professores, funcionários e pais se unem, geram modelos de cooperação e solidariedade para crianças e jovens. Essa simples iniciativa já produz resultados agradáveis e transformadores. O que percebemos claramente ser bastante eficaz e estimulante para todos os informantes é que todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o fenômeno ocorrido, devem atuar conjuntamente na tentativa de elucidar o problema. Com isso, não oprimir nem a vítima e nem o agressor do caso diagnosticado. CONCLUSÃO O bullying é uma realidade experimentada há muito tempo nas Escolas, não só no Brasil, mas em vários lugares do mundo, nas mais diversas classes sociais, não importando a faixa etária, a religião ou o sexo da vítima. Com o presente estudo, percebemos que apesar das especificidades culturais, a violência praticada por bullies contra os seus semelhantes, que são crianças e adolescentes tem trazido muito sofrimento, medo, angústia, mal estar, 63
decepção às vítimas, dentre outros fatores psicossociais que podem se agravar se não tratados a tempo. A pesquisa buscou ainda, compreender a realidade vivenciada por esses jovens e adolescentes estudantes de algumas Escolas públicas, na cidade de Manaus/AM. Ao longo da construção desse trabalho foi possível observar que passamos a adquirir um outro olhar. Nos relatos e situações aqui considerados, pudemos encontrar exemplos variados de bullying / cyberbullying no contexto escolar, que se repetem no âmbito educacional, com faixas etárias distintas e que envolvem ambos os sexos. Apesar e além de idades, sexos, raças e Escolas distintas, as respostas parecem vir de uma só voz, dado o grau de similaridades quanto a modos de pensar, falar e agir diante dessa circunstância gritante e de adversidades que abate nossa sociedade, de um modo geral. Assim, um estudo sobre a violência presente no ambiente escolar, como o bullying / cyberbullying se faz necessário para romper com esse paradigma instituído e tipo de tortura psicológica e física que cultua a exploração dos mais fortes sobre os mais fracos. Devemos lembrar sempre que fazemos parte de uma cultura diversificada, com características e fatores variados. REFERÊNCIAS ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência. Disponível em: <http://www.prsp.mpf.gov.br/links/direitoshumanos/abrapia-associacao-brasileira-multiprofissional-de-protecao-a-infanciae-a-adolescencia>. Acesso em 20 de ago., 2014. BEANE, Allan. Proteja seu filho do bullying: impeça que ele maltrate os colegas ou seja maltratado por eles. Tradução de Débora Guimarães Isidoro. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010. CALHAU, Lélio Braga. Bullying: o que você precisa saber: identificação, prevenção e repressão. 2 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010. CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade - Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Editora Gente, 2008. 64
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. 65