A Relação entre as Comunidades Locais e os Artistas

Documentos relacionados
A Relação entre as Comunidades Locais e os Artistas

Workshop Montemor Criativo 5 maio 2012

É a LX Factory um lugar socialmente criativo? Entre as visões e as práticas dos seus trabalhadores.

RUcaS Utopias Reais em Espaços Socialmente Criativos Criatividade, Artes e Cidade: onde estão as Utopias Reais? 3 de Julho de 2014

É a LX Factory um lugar socialmente criativo? Entre as visões e as práticas dos seus trabalhadores a

Capitais Europeias da Cultura como estratégia de desenvolvimento: o caso de Guimarães 2012

A Geopolítica do Mar Português

ESTRATÉGIA NACIONAL PORTUGAL 2030 Preparação do Contributo Estratégico Regional do Alentejo

A unidade curricular de Planeamento e Gestão de Destinos Turísticos visa:

RUcaS. Utopias Reais em Espaços Socialmente Criativos

CARTA DE ÓBIDOS PACTO PARA A CRIATIVIDADE

A CIDADE INQUIETA CRISE, CONFLITO E INOVAÇÃO SÓCIO- TERRITORIAL

Reunião Técnica - ENOTURISMO PRODUTO ESTRATÉGICO PARA PORTUGAL - CONCLUSÕES

LABORATÓRIO ESTRATÉGICO DE TURISMO. Competitividade & Inovação em Turismo

Rede Social: Desenvolvimento Local Revisitado

A CRIATIVIDADE E A COMPETITIVIDADE DAS CIDADES

Carla Basílio

O papel das cidades no desenvolvimento O caso de Guimarães 2012

INQUÉRITO DE OPINIÃO

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular GEOGRAFIA HUMANA Ano Lectivo 2016/2017

CURRICULUM VITAE (RESUMO) Doutorada em Turismo pela Universidade de Évora, em Junho de 2012, com a classificação final de 19 valores.

Ficha de unidade curricular. Curso de MESTRADO DE INTERIORIDADE E RELAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS

lê. assina. partilha.

Texto Yona (laranja inputs meus)

O que são as cidades criativas?

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular GEOGRAFIA HUMANA Ano Lectivo 2013/2014

Declaração de Princípios - Declaração de Princípios - Partido Socialista

Missão, Visão, Valores e Objetivos Estratégicos NOTA INTRODUTÓRIA

Em torno da cidade criativa

TURISMO INDUSTRIAL NO CONTEXTO DO PRODUTO TOURING. Conferência Turismo Industrial e Desenvolvimento Local

GUIA DE FUNCIONAMENTO DA UNIDADE CURRICULAR

Património, Identidades e Desenvolvimento Sustentável. I Congresso Internacional do Românico

Redes de I&D da Universidade de Coimbra: análise dos projetos de IC&DT financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) Resumo

Programa Operacional Regional Alentejo 2007/2013

Associação Renovar a Mouraria A Promoção de Turismo Sustentável enquanto ferramenta de desenvolvimento local Filipa Bolotinha

ORÇAMENTO PARA A CIDADE DE LISBOA

LABORATÓRIO ESTRATÉGICO NORTE

Lezíria Estratégia Integrada de Desenvolvimento Territorial. Santarém

Objetivos PARQUE EMPRESARIAL DE BARRANCOS. VELORES e articulação

CULTURA, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS LUGARES

Enquadramento comunitário: Regulamento (CE) nº 1198/2006 Fundo Europeu das Pescas (FEP) Enquadramento nacional:

Alentejo no horizonte 2020 desafios e oportunidades Vendas Novas, 2 de Julho 2013 Luis Cavaco Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo

RESERVA ESPECIAL DE MAPUTO

SESSÃO 10 EXPLORANDO NOVAS POSSIBILIDADES: ALAVANCANDO A CAPACIDADE INOVADORA NUM MUNDO GLOBAL

CURSO PROFISSIONAL DE TÉCNICO DE TURISMO AMBIENTAL E RURAL

Lisboa 2014 FICHA DE CANDIDATURA


LABORATÓRIO ESTRATÉGICO DE TURISMO. Tendências & Agenda Internacional

Ciência e sociedade: o movimento social pela cultura científica

ODEMIRA EMPREENDE

Uma Agemda para o Interior. Teresa Pinto Correia ICAAM / University of Évora - PORTUGAL

ORÇAMENTO PARA A CIDADE DE LISBOA

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE URBANO

SMART [CITY VISION BRAGA] SMART SMART [CITY VISION BRAGA] BRAGANÇA. Município de Braga I Miguel Bandeira

Território e Desenvolvimento

Cidades Adaptadas(áveis): Cidades Participadas I I Cidades inclusivas I Cidades Educadoras

Innovation Hub: Instrumento de revitalização e criatividade urbanas para a competitividade e a sustentabilidade

ICCER Rede para as Indústrias Culturais e Criativas em Espaço Rural Valença relatório de enquadramento e preparação da rede

Castelos e Muralhas do Mondego

escolhebem Almeida Henriques PPD/PSD Partido Social Democrata VOTA viseuprimeiro.pt

A importância da preservação da identidade territorial

Escola ES/3 Dos Carvalhos Março 2007 Geografia A - 10

São Paulo, 30 de setembro de 2016

ESCOLA SECUNDÁRIA DA AMADORA CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA A 10º ANO CURSOS CIENTÍFICO-HUMANÍSTICOS

OPINIÃO. Braga, a perspectiva de uma comunidade inteligente e sustentável

Gastronomia & Vinhos no contexto do Plano Estratégico Nacional do Turismo. Santarém, 16 de Outubro

REFERENCIAL DE ANÁLISE DE MÉRITO DO PROJETO AVISO N.º CENTRO

Perto de si para o ajudar a crescer. Associação Empresarial e de Serviços de Pampilhosa da Serra

Componente de Formação Técnica

A Política do Rural na Política em Portugal

Cooperação DLBC - Plano de atividades para a cooperação e animação do território

Qual é a importância da legislação e dos regulamentos na gestão do território?

POR LISBOA [mapeamento do património cultural]

pt.shvoong.com/.../ turismo-cultural/

O PEDU é, ainda, o elemento agregador de três instrumentos de planeamento, que suportam cada uma daquelas prioridades de investimento:

ESCOLA SECUNDÁRIA DO MONTE DA CAPARICA Curso de Educação e Formação de Adultos NS Trabalho Individual Área / UFCD

A GEBALIS- Gestão dos Bairros Municipais de Lisboa, EEM

TEMA I. A POPULAÇÃO, UTILIZADORA DE RECURSOS E ORGANIZADORA DE ESPAÇOS

A ARTE NA CONSTRUÇÃO DA CIDADE

SERÁ A SUA CIDADE A PRÓXIMA CAPITAL EUROPEIA DO TURISMO INTELIGENTE?

Alcochete 2030: Visão e Estratégia. Construindo o Futuro: Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE URBANO

Desafios, Estratégias e. Instrumentos de Sustentabilidade. para o Ambiente Urbano. Carla Silva. Serpa, 20/11/2010

Currículo para o Século XXI: competências, conhecimentos e valores, numa escolaridade de 12 anos

1. Natureza, finalidade e objetivos 2. Entidade promotora e organizadora 3. Processo de candidatura formulário de candidatura

A Cooperação Territorial e o Crescimento Inteligente e Sustentável das Economias Locais ( )

SERÁ A SUA CIDADE A PRIMEIRA CAPITAL EUROPEIA DE TURISMO INTELIGENTE?

TURISMO CENTRO DE PORTUGAL. Incentivos para o setor do Turismo

8º Encontro Ibero-Americano de Cultura. Museu Nacional de Etnologia. 13 de Outubro Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Presidente do Ibermuseus,

Criar Valor com o Território

Envelhecimento em Lisboa, Portugal e Europa. Uma Perspectiva Comparada, de M. V. Cabral, P. A. da Silva e M. T. Batista (eds.), por Paula Albuquerque

Ouvir, envolver e planear com

I Jornadas do Património Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

PLANO DE ACÇÃO REGIONAL ALENTEJO 2020

LABORATÓRIO ESTRATÉGICO DE TURISMO. Conhecimento, Emprego & Formação

Susana Maria Loureiro Restier Grijó Poças

Turismo INATEL: do compromisso social à valorização do território

PROJECTOS DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DA REGIÃO DO NORTE

JESSICA Assinatura dos acordos operacionais para constituição de UDF Lisboa,

REFERENCIAL DE ANÁLISE DE MÉRITO DO PROJETO AVISO N.º CENTRO

Transcrição:

A Relação entre as Comunidades Locais e os Artistas Pedro Quintela 1, Daniela Ferreira 2, Francisco Azevedo 3 1) Universidade de Lisboa, IGOT-CEG, Portugal pquintela@campus.ul.pt 2) Universidade de Lisboa, IGOT-CEG, Portugal daniela.ferreira77@gmail.com 3) Universidade de Lisboa, IGOT-CEG, Portugal franciscoazevedo@campus.ul.pt Resumo Esta comunicação inscreve-se no âmbito do projecto de investigação Utopias Reais em Espaços Socialmente Criativos RUcaS (FCT/PTDC/CS-GEO/115603/2009). As políticas urbanas têm considerado, tanto na União Europeia como em Portugal, a inovação e a criatividade como instrumentos importantes para combater as várias adversidades com que as cidades se debatem. Deste modo, verifica-se que um dos pilares estratégicos tem passado pela aposta nas artes, partindo do princípio que estas têm um papel importante na construção dos lugares, tornando-os simultaneamente mais dinâmicos, criativos, abertos e inclusivos. É neste sentido que formulamos a seguinte questão: Como é que os lugares e as comunidades locais acolhem os artistas e o que é que recebem em troca?. Seguindo este desafio, olhamos para dois lugares que consideramos socialmente criativos: Montemor-o-Novo (pequena cidade rural no Alentejo) e o Bairro da Mouraria (no centro histórico da cidade de Lisboa). Palavras-chave:Cidade; Artes; Inovação Social; Desenvolvimento Local; Criatividade 1. Introdução Nas sociedades contemporâneas pós modernidade as políticas urbanas têm consideradoa inovação e a criatividade como instrumentos importantes para combater várias adversidades. Neste sentido, verifica-se que um dos pilares estratégicos tem sido a aposta na cultura e nas artes, partindo do princípio que estas têm um papel importante na construção dos lugares, tornando-os simultaneamente mais dinâmicos, criativos, abertos e inclusivos (Fortuna e Silva, 2001; Jeannote e Stanley, 2002; Smiers, 2005). Para desenvolver esta ideia, considerámos dois lugares que à partida valorizam as artes e a cultura nas suas políticas urbanas: Montemor-o-Novo, pequena cidade rural no Alentejo Central, e o Bairro da Mouraria, no centro histórico da cidade de Lisboa. Nos dois lugares, pretendemos com base nos resultados de um inquérito à população

compreender como é que os lugares e as comunidades locais atraem e acolhem os artistas e o que é que recebem em troca?. Trata-se de dois casos onde as artes e os artistas parecem ter um papel importante na transformação dos lugares, e na produção de dinâmicas urbanas inovadoras. 2. Perspectiva e Conceitos O projecto RUcaS parte do princípio que as artes e os artistas têm um contributo muito significativo na alteração dos valores da sociedade e das instituições e que, por isso, contribuem para a construção de lugares: social e economicamente dinâmicos, abertos em termos culturais; negociados no que diz respeito aos aspectos políticos; e ainda coesos e inclusivos relativamente ao tecido social. Esses lugares podem ser interpretados à luz das utopias urbanas e, em particular, na óptica das utopias reais (Friedman, 2000; Moulaert et al., 2005; Santos, 2012). O conceito de utopia está ligado à ideia de um mundo melhor. Um mundo imaginário criado nas nossas mentes com base nos valores e crenças que temos. O pensamento utópico é portanto a capacidade que todos temos de imaginar algo melhor, ideal e perfeito. O conceito de utopia real diz respeito à transição de algo idealizado e abstracto, para uma entidade real e concretizável. A utopia real configura-se normalmente numa escala abrangente, do colectivo. Isto porque para existir uma utopia real é necessário haver o consenso do colectivo, da comunidade que partilha um dado território. Podemos considerar que determinadas ações contribuem decisivamente para a transformação do território, promovendo assim a criatividade e a inovação social. Isto está contudo dependente de uma aceitação social, de um consenso, mais ou menos negociado consoante as tensões e conflitos gerados pelas mudanças.uma utopia aplicada sem procurar um consenso resulta numa distopia (Baeten, 2002). A pesquisa desenvolvida sugere que a presença de artistas e a produção artística são recursos cruciais na realização de utopias em determinados lugares onde o contexto social, político, cultural é favorável à transformação (André et al., 2009; Lacoste, 2010). 3. A Cultura e as Artes nas Políticas Urbanas O desenvolvimento urbano é encarado, cada vez mais, na ótica da competitividade, procurando explorar vantagens nos mercados nacionais e

internacionais. As cidades competem por investimento, por emprego, residentes, visitantes, receita fiscal, entre outras coisas, mas também, e num sentido nem sempre explícito, por notoriedade e visibilidade internacionais (Keating e Frantz, 2004). Assim, tanto na União Europeia como em Portugal, as políticas urbanas têm considerado a cultura e as artes como instrumentos para combater as várias adversidades. Um exemplo claro é a estratégia da Cultura como forma de desenvolvimento de Strom (2003): 1) Poderes locais que procuram atrair turistas e investidores; 2) Estruturas culturais que procuram ser actores cívicos mais abrangentes; 3) Investidores/negócios que procuram dinamizar a economia local através das artes. Por outro lado, um pouco por toda a Europa, as políticas culturais têm vindo a tornar-se uma componente cada vez mais significativa no âmbito de estratégias de regeneração de cidades (Henriques, 2002; Wojan et al., 2007; André e Abreu, no prelo). Os processos de regeneração urbana, sobretudo nos centros históricos, mobilizam muito a cultura e as artes (Moulaert et al., 2004), na medida em que permitem: (i) construir e reconstruir a identidade dos lugares, reforçando a sua visibilidade e coesão; (ii) introduzir a dimensão estética, contribuindo para o embelezamento da cidade (iii) estimular a actividade turística associada à cultura e ao património. Também nas cidades rurais se tem utilizado a cultura e as artes como meios de revitalização de lugares e de espaços em declínio, através da valorização de aspectos característicos do mundo rural, que por sua vez são transformados em inputs artísticos (André e Abreu, no prelo). Muitos artistas têm vindo a trocar a cidade pelo campo ou a tentar conjugar os dois ambientes, associando a tranquilidade e a inspiração das paisagens rurais e a efervescência e redes de contactos das grandes cidades. 4. Artes e Artistas em Montemor-o-Novo e na Mouraria Neste artigo olhamos para dois lugares que podem ser considerados socialmente criativos: Montemor-o-Novo, pequena cidade rural no Alentejo Central, e o Bairro da Mouraria, no centro histórico da cidade de Lisboa. São dois lugares muito diferentes um urbano outro rural - que se confrontam ambos com fortes adversidades, onde as artes e os artistas parecem desempenhar um papel importante nas dinâmicas locais e na inovação sócio-territorial.

Um inquérito à população residente (cerca de 400 inquiridos em cada lugar correspondentes a uma amostra estratificada, estatisticamente significativa) realizado no âmbito do Projeto RUcaS revela respostas interessantes para a questão que colocámos: o que dão os lugares aos artistas e o que recebem em troca? Mais de metade da população residente inquirida (60,5%) na Mouraria pensa que o melhor que o seu bairro tem para oferecer aos artistas que aí residem e/ou trabalham é o facto de estarem num ambiente tradicional do centro de Lisboa, com uma forte componente histórica (património e elementos intangíveis). A centralidade do bairro emerge como a segunda resposta mais frequente (36,5%). Surgem ainda outros aspetos com menor relevância, como o baixo preço da habitação (13,5%), a diversidade de nacionalidades, o que proporciona um ambiente multicultural (5,5%) e a presença do Fado (5%), expressão musical bastante enraizada na história da Mouraria. O espírito de comunidade do bairro foi também considerado por alguns (2,5%) um aspeto importante para a atração de artistas, característica que se traduz sobretudo nas relações de proximidade e de vizinhança que os habitantes da Mouraria têm entre si. Como muitos referiram, é quase como se fosse uma aldeia dentro de Lisboa, pois todos se conhecem e se entreajudam. Em Montemor-o-Novo (MoN), mais de metade da população residente (54,8%) refere a política cultural municipal como principal razão para a vinda dos artistas para a cidade. No entanto, 28% dos inquiridos referem que tem sobretudo a ver com a qualidade de vida que MoN proporciona, nomeadamente em termos de tranquilidade e de segurança. É também mencionado o bom acolhimento da população local, aspeto referido por 11% dos inquiridos. Ainda relativamente às características da cidade, 6,8% dão especial importância à paisagem de MoN. Embora em escalas e contextos muito diferentes, há dois fatores de atração de artistas que se salientam tanto em MoN como na Mouraria: a acessibilidade, num caso relativamente à metrópole de Lisboa e no outro no interior da cidade, e o perfil coeso e acolhedor das comunidades locais. E o que é os artistas dão a MoN e à Mouraria? No caso de MoN, a resposta mais frequente diz respeito ao contributo para o desenvolvimento cultural da cidade (39,5%). Isto traduz-se, acima de tudo, na organização de um maior número de actividades e espetáculos. Também com uma expressão significativa (23,5%), os inquiridos dizem

que a presença dos artistas é um factor de atração de visitantes e turistas. É ainda salientado (20%) o contributo para reconhecimento nacional e internacional. Por outro lado, 13,8% acredita que a presença dos artistas em MoN contribui não só para o desenvolvimento cultural mas também para um desenvolvimento muito mais abrangente da cidade, nomeadamente para o crescimento da economia local, a expansão urbana e a criação de novos serviços. Por último, 18,8% dos inquiridos referem que, através dos vários eventos, os artistas proporcionam animação e convívio à cidade. No bairro da Mouraria, é destacada a capacidade que os artistas têm, através dos eventos em que estão envolvidos, de atrair pessoas de fora a visitar o bairro, bem como de turistas (45,3%). Também com alguma expressão, é mencionado o desenvolvimento cultural (13,5%) e, em particular, a animação e o convívio que são proporcionados à população (16,5%). Segundo os inquiridos, a existência de artistas na Mouraria é um factor relevante para a fixação de população jovem no bairro (1,75%). 5. Considerações Finais Retomando a questão de partida, verifica-se que MoN e a Mouraria coincidem na maioria dos aspetos que salientam. Noutros, as opiniões são diferentes refletindo contextos sócio-geográficos bastante distintos (ver Tabela 1). Aspetos comuns (MoN e Mouraria) Aspetos distintos (MoN e Mouraria) O que dão os lugares aos artistas -Características do território -Características da população -Localização geográfica -Presença das artes/artistas -Política cultural (MoN) -Baixo preço da habitação (Mouraria) O que dão os artistas aos lugares -Desenvolvimento cultural -Visitantes/Turistas -Animação/Convívio -Novos residentes jovens (Mouraria) -Desenvolvimento da cidade (MoN) Tabela 1 Principais diferenças e semelhanças das comunidades locais e os artistas. Elaboração própria Bibliografia André I, Abreu A (no prelo) Social creativity and post-rural places: the case of Montemor-o-Novo, Portugal in Canadian Journal of Regional Science/Revue Canadienne des Sciences Régionales

André I, Henriques E and Malheiros, J. (2009) Inclusive Places, Arts and Socially Creative Milieux, in MacCallum, D., Moulaert, F., Hillier, J. and Vicari, S. (eds.) Social Innovation and Territorial Development, London: Ashgate. Baeten G (2002) Western Utopianism/Dystopianism and the Political Mediocrity of Critical Urban Research. Geografiska Annaler Series B, 84(3/4): 143-152. Fortuna C e Silva A S (2001) A cidade do lado da cultura: Espacialidades sociais e modalidades de intermediação cultural, in B. S. Santos (org.) Globalização Fatalidade ou Utopia?, Porto: Edições Afrontamento, 409-455. Friedman Y (2000) Utopies Réalisables, (nouvelle edition). L'éclat, Paris. Henriques H B (2002) Novos desafios e orientações das políticas culturais: tendências nas democracias desenvolvidas e especificidades do caso português, Finisterra, Revista Portuguesa de Geografia, 73, p.61-80 Jeannotte M and Stanley D (2002) How Will We Live Together?, Canadian Journal of Communication, 27:133-139. Keating M e Frantz M (2004) Culture-Led Strategies for Urban Regeneration: A Comparative Perspective on Bilbao, in International Journal of Iberian Studies, 16 (3), pp. 187 194 Lacoste J (2010) La Philosophie De L'Art, 10e Édition,Paris: PUF Que Sais-Je. Moulaert F, Demuynck H, Nussbaumer J (2004) Urban renaissance: from physical beautification to social empowerment. Lessons from Bruges-Cultural Capital of Europe 2002, City, vol. 8, N. 2, 229-235 Moulaert F, Martinelli F, Swyngedouw E and Gonzalez S (2005) Towards Alternative Model(s) of Local Innovation, Urban Studies, 42 (11):1969 1990. Santos B S (2012) Utopia. In Santos A C, Martins B S, Dias J P, Rodrigues J, Gomes M (coord.) Dicionário das Crises e das Alternativas. Edições Almedina, Coimbra: 212. Smiers J (2005) Arts under Pressure: Promoting Cultural Diversity in the Age of Globalization, London: Zed Books. Strom E (2003) Cultural Policy as Development Policy: Evidence From The United States, in International Journal of Cultural Policy, vol. 9, 3, pp. 247 263 Wojan T R, Lambert D. M, McGranahan D A (2007) The Emergence of Rural Artistic Havens: A First Look,, Agricultural and Resource Economics Review 36/1 (April 2007), p.53 70