Gincana intelectual: instrumento de ação extensionista para educação em saúde Intelectual scavenger hunt: extension tool for health education

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Transcrição:

Gincana intelectual: instrumento de ação extensionista para educação em saúde Intelectual scavenger hunt: extension tool for health education RESUMO A educação em saúde é compreendida como uma prática social que preconiza a mudança gradual na forma de pensar, sentir e agir por meio da seleção e da utilização de métodos pedagógicos participativos. Este trabalho mostra a atuação do projeto de extensão Nós na rede: contribuições da Odontologia para educação, prevenção e manutenção da saúde, vinculado ao Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, o qual aborda a educação em saúde como requisito fundamental na prática odontológica. Em especial, expõe-se aqui uma atividade nominada Gincana Intelectual, cuja finalidade é fomentar e disseminar informações básicas relacionadas à saúde bucal, junto a crianças de oito a doze anos de idade. A competição é composta por três instrumentos lúdicos, os quais visam proporcionar uma atividade prazerosa e, ao mesmo, tempo educativa. Os resultados alcançados permitem concluir que esta forma de atividade lúdica expõe-se como meio facilitador do compartilhamento de informações e do motivar crianças em busca de condutas mais saudáveis concernentes à saúde bucal. Palavras-chave: Educação. Saúde bucal. Relações comunidadeinstituição. Comportamento infantil. Promoção da saúde. Cristina Berger Fadel Doutora em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, professora adjunta do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (cbfadel@gmail.com). Fabiana Bucholdz Teixeira Alves Doutora em Odontopediatria pela Universidade de São Paulo, professora do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (fabi.teixeira@uol.com.br). Thaís Marília Fillus Graduanda em Odontologia na Universidade Estadual de Ponta Grossa, participante do projeto Nós na rede: contribuições da Odontologia para educação, prevenção e manutenção da saúde (thaisfillus@hotmail.com). ABSTRACT Health education is seen and understood as a social practice that promotes the gradual change of thinking, feeling and acting through the selection and use of participatory teaching methods. This study shows the extension project "Nós na rede: contributions of Odontology to dental education, prevention and health maintenance" which is connected to the Department of Dentistry from State University of Ponta Grossa, state of Paraná, Brazil and approaches health education as a fundamental requirement in dental practice. This paper presents a activity named Intelectual Scavenger Hunt (Gincana Intelectual) which promotes basic information related to oral health to children between eight and twelve years old. The competition consists in three educational games, which aim to provide a good and educational 106 Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015

activity. We conclude that this form of play activity exposes itself as a facilitator of information sharing and motivate children in search of healthier behaviors concerning oral health. Keywords: Education. Oral health. Community-institutional relations. Child behavior. Health promotion. INTRODUÇÃO A educação em saúde, especificamente no campo da saúde bucal, fundamenta-se por meio da integralidade de ações, com vistas à disseminação coletiva de conhecimentos, saberes e práticas, e ao empoderamento de sujeitos individuais e coletivos. O cirurgiãodentista é frequentemente considerado pelos pacientes o maior responsável por orientações sobre saúde bucal (CHOU, 2011), no entanto, essas ações assumem caráter restrito, uma vez que ocorrem de forma individualizada. O modelo conceitual de explicação e intervenção em saúde, nominado Promoção da Saúde, considerando-se também o âmbito da saúde bucal, expõe a melhoria qualitativa dos serviços públicos ofertados, a democratização do conhecimento e, principalmente, a participação da população na definição dos problemas de saúde, bem como das prioridades e estratégias a serem implementadas, sendo essas ideias norteadoras da atual filosofia sanitária brasileira (BRASIL, 2013). Nesse universo de ações, encontram-se as políticas de educação em saúde, angariadas pela definição de que as verdadeiras práticas educativas realmente efetivam-se entre sujeitos sociais durante os processos de educação permanente, de mobilização em defesa dos direitos coletivos e como tema relevante para os movimentos sociais (BRASIL, 2007). A relação dialética de trocas de saberes e a busca por ações humanizadoras que promovam autonomia aos e com os sujeitos em sua integralidade devem constituir os aspectos norteadores dessa prática (SICARI, 2014). No contexto das viabilidades de estratégia para educação em saúde, inserem-se os programas de extensão universitária, com potencial para interpretar, na universidade, as demandas que a sociedade impõe. A extensão universitária integra o conhecimento e promove Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015. 107

o diálogo entre o saber científico e o saber popular, permitindo transformar a realidade em saúde de diferentes populações, atuando nos espaços comunitários e tendo como pressuposto básico a busca pela transformação social, visto que não se reduzem a estender conhecimentos às pessoas envolvidas na ação e a manipulá-las, mas a considerá-las sujeitos de transformação e de decisão na definição de suas práticas culturais, políticas, econômicas e de saúde (RIBEIRO, 2009). Apresenta-se, aqui, uma das práticas vivenciadas pelo projeto de extensão Nós na rede: contribuições da Odontologia para educação, prevenção e manutenção da saúde, subsidiado por um conjunto de atividades lúdicas empregadas como estratégia fundamental para garantia do direcionamento de práticas educativas e da consolidação da integralidade em saúde. Breve histórico extensionista O referido projeto apresenta-se vinculado ao Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paraná, e atua como instrumento viabilizador da inserção social, em busca da quebra do paradigma do ensino reprodutivo e descontextualizado. Além disso, envolve-se em novas formas de produção do conhecimento e aplicação social, com ênfase na estratégia política e metodológica nacional denominada Promoção da Saúde (BRASIL, 2006). Destaca-se que suas ações são regidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Parecer COEP-UEPG nº 26/2012), segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Uma de suas vertentes contempla a disseminação de informações junto à comunidade externa à universidade, vertente esta rotineiramente viabilizada por meio de parcerias com instituições públicas locais e regionais, desenvolvidas em diversos espaços sociais, onde professores e alunos de graduação e pós-graduação em Odontologia buscam desenvolver habilidades pessoais e a ampliação das concepções humanas sobre a saúde e a doença, capacitando os indivíduos e tornando-os aptos a minimizar as suas situações de vulnerabilidade pessoal e coletiva, no âmbito da saúde bucal (GAZZINELLI et al., 2005). 108 Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015

Para tanto, neste projeto, são prezadas as características socioeconômicas e culturais das distintas populações, uma vez que sua inserção social, seus valores e crenças influenciam fortemente suas práticas e condutas em saúde (MASTRANTONIO; GARCIA, 2002) e constituem-se importantes parâmetros para a instituição de programas eficientes (CHOU, 2011). As práticas educativas são viabilizadas pela utilização de instrumentos inéditos, desenvolvidos conjuntamente por alunos e professores e interpretados como meios de aprofundamento da ciência no cotidiano individual e coletivo de diferentes comunidades (FADEL; BORDIN; LANGOSKI, 2013). A ação intitulada Gincana Intelectual, apresentada a seguir, integra uma das propostas de ludicidade, educação e saúde desenvolvidas por esta iniciativa extensionista. Gincana intelectual: instrumento para educação em saúde A atividade lúdica vem sendo cada vez mais utilizada por diferentes profissionais da saúde, pois serve de estímulo para a construção do conhecimento humano, constituindo-se um importante aspecto do desenvolvimento pessoal, capaz de transmitir valores e, até mesmo, impulsionar mudanças no comportamento de crianças. Jogos e brinquedos ganham visibilidade no processo educativo, uma vez que facilitam a aprendizagem e a construção do conhecimento, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colaborando com a melhoria da qualidade de vida e saúde (DALLABONA; MENDES, 2004; MIALHE, 2009). Nesse contexto, a Gincana Intelectual surge com a finalidade da disseminação de informações e conhecimentos relacionados à saúde bucal, direcionada prioritariamente ao público infantil, com idade entre oito e doze anos, visando favorecer o envolvimento de crianças na construção de novos conhecimentos, facilitando a mudança de atitudes, hábitos e cuidados. A gincana contempla a utilização de três instrumentos lúdicos, os quais visam proporcionar ao participante infantil a obtenção ou a ampliação de conhecimentos concernentes ao campo da saúde bucal, ao mesmo tempo em que realiza uma atividade prazerosa (ANTUNES, 2006). Esse método busca despertar o interesse e motivar crianças para a Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015. 109

adoção de hábitos bucais saudáveis, propiciando ainda momentos de leveza, descontração, encanto, diversão, integração e novas descobertas. A competição centra-se na formação de dois grupos, os quais devem perpassar e concluir as seguintes etapas: pescaria, quebra-cabeças e túnel. Em cada fase, os participantes são instigados a relacionar-se profundamente com os fatores centrais predisponentes da doença cárie e suas consequências, bem como os principais métodos de prevenção de enfermidades bucais prevalentes. A etapa da pescaria envolve peixes numerados. Cada algarismo contempla uma pergunta, previamente definida, e alternativas que englobam respostas consideradas apropriadas a cada ciclo de vida. Com o auxílio de uma vara de pesca, cada criança coleta um peixe de sua escolha (Figura 1), o mediador da atividade expõe a indagação e atribui ou não uma pontuação para a sua equipe de origem. Perante uma resposta inadequada, os acadêmicos de Odontologia fomentam o diálogo com o público infantil, visando à interpretação e à aquisição de informação de maneira conjunta. Figura 1 Gincana intelectual: pescaria. Fonte: Os autores (2014). Na segunda etapa, o instrumento educativo de escolha é o quebra- 110 Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015

cabeça, com temática relacionada à saúde bucal e alusiva ao ambiente odontológico. Para cada equipe, é ofertado um instrumento desconstruído, com peças dispostas de forma aleatória, sendo que o grupo que, em menor tempo, finalizar a montagem progride na pontuação (Figura 2). Figura 2 Gincana intelectual: quebra-cabeças. Fonte: Os autores (2014). O túnel, com entrada de acesso alusiva à cavidade bucal (Figura 3), constitui-se a última etapa da gincana. Ao adentrá-lo, cada participante competidor visualiza, na face interna do instrumento, imagens de alimentos considerados cariogênicos e não-cariogênicos. As crianças são orientadas a coletar somente os alimentos considerados nãocariogênicos e entregá-los na saída. Pontua a equipe que selecionar o maior número de alimentos considerados saudáveis no menor tempo. Os supostos equívocos expostos pelas crianças são novamente utilizados pelos universitários para fomentar o diálogo. Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015. 111

Figura 3 Gincana intelectual: túnel educativo. Fonte: Os autores (2014). A equipe que contabiliza o maior número de pontos nas três etapas é considerada a vencedora, e seus integrantes adquirem um kit com brindes diversos (Figura 4). Todos os participantes são contemplados com elementos essenciais de higiene bucal (creme, escova e fio dental) e com um manual educativo impresso (Figura 5). Figura 4 Premiação dos vencedores da gincana intelectual. Fonte: Os autores (2014). 112 Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015

Figura 5 Manual educativo impresso, entregue a todos os participantes. Fonte: Os autores (2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação em saúde é vista e entendida como uma prática social que preconiza a mudança gradual na forma de pensar, sentir e agir, por meio da seleção e utilização de métodos pedagógicos participativos e problematizadores. A atuação do projeto de extensão Nós na rede: contribuições da Odontologia para educação, prevenção e manutenção da saúde aborda a educação em saúde como requisito fundamental na prática da Odontologia, sendo esta totalmente viabilizada e facilitada pelo desenvolvimento e pela utilização de instrumentos educativos. Os resultados alcançados pela utilização de seus instrumentos educativos, em especial a gincana exposta, permitem concluir que a atividade lúdica expõe-se como meio facilitador do compartilhamento de informações e da motivação das crianças em busca de condutas mais saudáveis, com vistas ao empoderamento em saúde bucal. Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015. 113

REFERÊNCIAS ANTUNES, M. P. F. Avaliação da percepção das crianças e conhecimento dos educadores frente à saúde bucal, dieta e higiene. Pesq Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, João Pessoa, v. 6, n. 1, p. 79-85, jan./abr., 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica. Saúde Bucal. Departamento de Atenção Básica, Brasília, 2006.. Ministério da Saúde. Caderno de educação popular e saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa, Brasília, 2007.. Ministério da Saúde. Política nacional de humanização. Brasília, 2013. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/doc_base.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2014. CHOU, T. T. A. Avaliação do conhecimento e comportamento dos pacientes em tratamento odontológico em relação à cárie, doença periodontal e higiene bucal. Rev Pós Grad, Brasília v. 18, n. 3, p. 140-147, 2011. DALLABONA, S. R.; MENDES S. M. S. O lúdico na educação infantil. Revista de divulgação técnico-científica do ICPG, Florianópolis, v. 1, n. 4, p. 107-112, jan./mar., 2004. FADEL, C. B.; BORDIN, D.; LANGOSKI, J. E. A educação como prática viabilizadora da saúde bucal. Revista do Instituto de Ciências da Saúde, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 136-140, 2013. GAZZINELLI, M. F. et al. Educação em saúde: conhecimentos, representações sociais e experiências da doença. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 200-206, jan./fev., 2005. MASTRANTONIO, S. S.; GARCIA, P. P. N. S. Programas educativos em saúde bucal: Revisão de literatura. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v. 5, n. 25, p. 215-222, mai./jun, 2002. MIALHE, F. L., CUNHA, R. G. O. B., JÚNIOR, M. M. Avaliação dos jogos e brinquedos com temas odontológicos disponibilizados no mercado nacional. Pesquisa Brasileira Odontopediátrica Clínica Integral, João Pessoa, v. 9, n. 3, p. 303-308, set./dez., 2009. 114 Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015

RIBEIRO, K. S. Q. S. A experiência na extensão popular e a formação acadêmica em fisioterapia. Caderno CEDES, Campinas, v. 29, n. 79, set./dez., 2009. SICARI, A. A. et al. Psicologia e educação popular: uma estratégia de promoção da saúde. Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 13, n. 1, p. 135-146, jan./jun., 2014. Submetido em 31de agosto de 2014. Aprovado em 9 de fevereiro de 2015. Em Extensão, Uberlândia, v. 14, n. 1, p. 106-115, jan. / jun. 2015. 115