Certificado digitalmente por: PERICLES BELLUSCI DE BATISTA PEREIRA Agravo de Instrumento nº 1.607.344-8 NPU: 0041652-56.2012.8.16.0001 21ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Agravante: Danilce Martins Geraldo. Agravado: APS Seguradora S/A. Relator: Péricles Bellusci de Batista Pereira. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE USUCAPIÃO. PROCEDÊNCIA. RECONHECIMENTO DO DOMÍNIO DA AUTORA SOBRE A INTEGRALIDADE DO IMÓVEL URBANO DESCRITO NA INICIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NECESSIDADE DE ABERTURA DE NOVA MATRÍCULA PARA O IMÓVEL USUCAPIDO, ANTERIORMENTE CONSTANTE DE DUAS MATRÍCULAS DISTINTAS. AVERBAÇÃO DO MEMORIAL DESCRITIVO NAS ANTERIORES E NA NOVA MATRÍCULA. INAPLICABILIDADE DA LEI MUNICIPAL QUE REGULAMENTA A ÁREA MÍNIMA PARA REGISTRO DE IMÓVEIS. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DA LEGISLAÇÃO ORDINÁRIA. Uma vez preenchidos os requisitos dispostos no Código Civil, para o reconhecimento do usucapião extraordinário, o registro do imóvel não pode ser obstado por limites previstos em legislação Municipal. Recurso provido. VISTOS, etc. I RELATÓRIO: Página 1 de 5
Danilce Martins Geraldo agrava da decisão de fl. 362 que, na ação de Usucapião Extraordinário nº 0041652-56.2012.8.16.0001, indeferiu o pedido de abertura de nova matrícula, sob o fundamento de que é necessário realizar escritura pública amigável entre o autor e demais proprietários dos lotes vizinhos, determinando que o autor esclareça as delimitações da área em litígio. Sustenta que, prevalecendo tal decisão seria como dar início a outra ação de usucapião, com o levantamento pericial da área, retardando a averbação do documento em nome da agravante. Aduz que, inexiste possibilidade de se realizar escritura pública amigável entre a agravante e demais proprietários dos lotes vizinhos, pelo fato de que estes são todos possuidores, haja vista que a proprietária de todos os lotes constantes daquela área é a requerida APS Seguradora S.A. Alega que, com a inicial juntou aos autos levantamento topográfico e memorial descritivo que demonstram a medição exata da área perseguida, documentos que deverão acompanhar o mandado de averbação. Afirmando ainda, que promoveu todas as citações e intimações dos confrontantes e eventuais terceiros interessados, não havendo qualquer insurgência contra as medições da área, motivo pelo qual não deve prevalecer a decisão atacada que solicita novamente as medições do imóvel. Com isso, assevera que a decisão atacada não deve prevalecer, eis que não há motivos que justifique novo procedimento para se apurar a área usucapida, já que o levantamento topográfico e o memorial descritivo que acompanharam a inicial satisfazem este requisito. contrarrazões. O efeito suspensivo foi indeferido (fl. 369), e a agravada não apresentou II VOTO: O pleito da agravante merece prosperar. Página 2 de 5
Inicialmente, ressalte-se que o feito trata de ação de usucapião extraordinário, a qual foi julgada procedente, para declarar o domínio da autora sobre a integralidade do imóvel urbano descrito na inicial (sentença fls. 276/280-TJ). Com o trânsito em julgado da referida sentença, a parte autora pleiteou pela abertura de nova matrícula para o lote usucapido, tendo em vista que este é parte das matrículas 45.861 e 45.862, da 8ª Circunscrição Imobiliária de Curitiba (fl. 361). Pretensão nitidamente admissível, independente da limitação de área mínima para registro de imóveis imposta por lei municipal, uma vez preenchidos os requisitos da legislação ordinária. do Superior Tribunal de Justiça: Nesse sentido, apartadas as peculiaridades de cada caso, cito precedente RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA. REQUISITOS DO ART. 183 DA CF/88 REPRODUZIDOS NO ART. 1.240 DO CCB/2002. PREENCHIMENTO. PARCELAMENTO DO SOLO URBANO. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. LEGISLAÇÃO MUNICIPAL. ÁREA INFERIOR. IRRELEVÂNCIA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DECLARATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. JULGAMENTO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL. RE Nº 422.349/RS. MÁXIMA EFICÁCIA DA NORMA CONSTITUCIONAL. 1. Cuida-se de ação de usucapião especial urbana em que a autora pretende usucapir imóvel com área de 35,49 m2. 2. Pedido declaratório indeferido pelas instâncias ordinárias sob o fundamento de que o imóvel usucapiendo apresenta metragem inferior à estabelecida na legislação infraconstitucional que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e nos planos diretores municipais. 3. O Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE nº 422.349/RS, após reconhecer a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada, fixou a tese de que, preenchidos os requisitos do artigo 183 da Constituição Federal, cuja norma está reproduzida no art. 1.240 do Código Civil, o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do lote). Página 3 de 5
4. Recurso especial provido. (STJ. REsp 1360017/RJ. Ministro: Ricardo Villas Bôas Cueva. Terceira Turma. Julgamento: 05/05/2016. Publicação: DJe 27/05/2016). Contudo, o Magistrado singular, através da decisão ora agravada, consignou que a abertura de nova matrícula dependeria de realização de escritura amigável entre a autora e os proprietários vizinhos do imóvel usucapido, aduzindo ainda, que a sentença teria reconhecido a autora somente o direito sobre partes ideais das matrículas acima mencionadas. Veja-se que o Julgador a quo equivoca-se na referida decisão, eis que desnecessária se faz a realização de escritura amigável entre a autora e seus vizinhos, haja vista que na fase de conhecimento, houve a citação da requerida, a qual consta como proprietária dos imóveis vizinhos a área usucapida (lotes 14 e 15, da quadra 18, da Planta Nova Orleans, matrículas 45.861 e 45.862, da 8ª Circunscrição Imobiliária de Curitiba) bem como de eventuais terceiros interessados, os quais não trouxeram qualquer óbice a pretensão da autora. Com isso, uma vez que a área usucapida faz parte de áreas maiores, constantes em matrículas distintas, a abertura de nova matricula é à medida que se impõe. Nessa perspectiva, apartadas as peculiaridades de cada caso, cito os julgados: EMENTA - AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DECLARATÓRIA DE DOMÍNIO POR USUCAPIÃO. PARTE DE IMÓVEL EM ÁREA MAIOR. TRÂNSITO EM JULGADO. MANDADO DE REGISTRO. ABERTURA DE MATRÍCULA. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA. ÔNUS REAIS PRETÉRITOS. HIPOTECA. ARRESTO. PENHORA. MANUTENÇÃO APENAS NA MATRÍCULA ORIGINÁRIA. PROVIMENTO. 1. Sendo a usucapião modo de aquisição originária da propriedade, o direito daí reconhecido ao autor, não se sujeita às limitações e gravames reais constantes do registro anterior, os quais permanecem exclusivamente sobre a área maior, remanescente do imóvel, tal como consta da matrícula anterior, impondo-se a abertura de nova matrícula da parte da área usucapida, à qual não se sujeita ao disposto no art. 230 da Lei de Registros Públicos. 2. Agravo de Instrumento à que se dá provimento. (TJPR - 17ª C.Cível - AI - 1285082-1 - Curitiba - Rel.: Francisco Jorge - Unânime - - J. 08.04.2015). Página 4 de 5
USUCAPIÃO Loteamento irregular ou clandestino Alegada impossibilidade de registro Inadmissibilidade Modo originário de aquisição da propriedade, que implicará em abertura de nova matrícula, a tudo regularizando Precedente do E. TJSP Laudo pericial que afirma que não houve invasão de área pública Sentença mantida Apelo desprovido. (Relator: Percival Nogueira; Comarca: Bragança Paulista; Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 13/08/2015; Data de registro: 13/08/2015). Outrossim, a sentença não reconheceu o direito da autora sobre partes ideais como dito, mas sim o domínio da requerente sobre a integralidade do imóvel descrito na inicial. Do mesmo modo, ao contrário do contido na decisão recorrida, a área adquirida encontra-se minuciosamente descrita, inclusive com a metragem que avança em cada lote, conforme se observa no memorial descritivo juntado à fl. 30-TJ Por tais razões, dou provimento ao agravo, para determinar a baixa dos autos à origem, para cumprimento da sentença, a fim de que o Juízo determine a abertura de nova matrícula para o imóvel usucapido, com base no memorial descritivo de fl. 30-TJ, o qual deverá ser averbado também nas matrículas nºs 45.861 e 45.862, da 8ª Circunscrição Imobiliária de Curitiba, para documentação das áreas suprimidas para formação da nova matrícula. III DECISÃO: ACORDAM os integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao agravo de instrumento, nos termos do voto do relator. Participaram do julgamento o Desembargador Espedito Reis do Amaral e o Juiz Helder Luís Henrique Taguchi. Curitiba, 15 de fevereiro de 2017 Péricles Bellusci de Batista Pereira Desembargador Relator Página 5 de 5