EQUOTERAPIA: UM ENFOQUE INCLUSIVO MULTIPROFISSIONAL

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Transcrição:

EQUOTERAPIA: UM ENFOQUE INCLUSIVO MULTIPROFISSIONAL RODRIGUES, Mayara 1 ; SILVA, Maria Elena Neves da 2 Resumo Este estudo tem por objetivo comprovar que é possível incluir e inteirar uma pessoa com necessidade educacional especial junto ao atendimento fisioterápico dentro da equoterapia. Utilizo para o desenvolvimento dele, pesquisas bibliográficas de cunho qualitativo, visando à busca de subsídios teóricos para a fundamentação dos argumentos utilizados nesta pesquisa. Apresentar a equoterapia como um viés técnico, mediador, favorecendo o seu ambiente familiar e escolar, através da relação cavalo-praticante, enfatizando os benefícios proporcionados pela equoterapia como, auxiliar na função motora, na concentração do praticante, aliado ao envolvimento da família e escola de forma significativa. Ao procurar identificar a atuação dos educadores que trabalham com equoterapia, busca-se conhecer este profissional e suas formas de atuação, visando um redirecionamento e uma nova perspectiva de trabalho para os futuros profissionais de saúde. Palavras-Chave: Cavalo-praticante. Benefícios. Estímulos. Equoterapia. 1 Mayara Rodrigues, graduanda do 7º semestre do curso de Fisioterapia da UNICRUZ maayararodrigues@hotmail.com 2. Professora Mestranda, do Centro de Ciências Humanas Maria Elena Neves da Silva malenaneves@hotmail.com

Introdução As políticas da educação inclusiva abre uma nova perspectiva como forma de valorizar o indivíduo para torná-lo um ser integrado à sociedade. Partindo deste pressuposto, a família é uma premissa básica onde se constitui o primeiro grupo social, que na história da humanidade nos remete à condição do Ser na relação pessoa inserida na sociedade, que se faz a cada dia. Com isso, a proposta educacional deve estruturar-se como forma de ação/reflexão/ação, para atender às necessidades de todos da sociedade. Nessa perspectiva, gerada pela proposta de educação inclusiva, o direito das pessoas com necessidades especiais, à educação, está implícito na Declaração Mundial de Educação para Todos, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1990. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) 14,5% da população apresenta algum tipo de deficiência: física (tetraplegia, paraplegia e outros), deficiência mental (leve, moderada e profunda); deficiência auditiva (total ou parcial) deficiência visual (cegueira total e visão reduzida) e deficiência múltipla (duas ou mais deficiências associadas). Estes dados apresentados evidenciam a necessidade de desenvolvermos uma política educacional para intensificar a orientação familiar, capacitando profissionais bacharelados em saúde para atuarem na educação resgatando dignidade e respeito das pessoas com necessidades educacionais especiais. Com o desdobramento das políticas públicas de Educação para Todos, sob a Coordenação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Cultura e Ciência (Unesco) e a educação inclusiva que proporcionam uma nova forma de quebrar velhos paradigmas, há novas perspectivas e novos caminhos, envolvendo a família e a educação voltada para os profissionais da saúde como, por exemplo, o fisioterapeuta, que estimula e desenvolve no praticante suas habilidades de viver e conviver com as suas necessidades, para que possam assim participar de grupos sociais e contribuir com a organização e o cumprimento das regras estabelecidas pela sociedade.

O presente trabalho proporciona para as instituições de ensino superior, uma reflexão sobre a proposta pedagógica levando em consideração disciplinas de caráter inclusivo como LIBRAS, medidas preventivas de acessibilidades e ainda a equoterapia como agente facilitador do processo de inclusão. Em especial essa atividade equoterápica em que se utiliza o cavalo no contexto biopsicossocial e educacional nos praticantes, termo esse usado para o indivíduo que utiliza a equoterapia, com necessidades especiais de forma desafiadora, garantindo com qualidade a assistência nos aspectos citados anteriormente. A equoterapia é uma atividade baseada em técnicas de equitação, sendo uma terapia complementar na recuperação e reeducação motora e mental de pessoas com necessidades especiais. Nos centros de equoterapia trabalham profissionais das áreas distintas da saúde, equitação e educação, realizando um trabalho multidisciplinar e multiprofissional. O tema deste trabalho foi elaborado a partir da necessidade de se buscar o conhecimento adquirido durante a graduação para a sua atuação profissional inclusiva dentro desta terapia. Existe um vasto campo de atuação para o Profissional de saúde dentro dos Centros de Equoterapia, pois são muitos ainda os centros que não possuem em sua equipe técnica o profissional apto para trabalhar as necessidades especiais dos praticantes, dentre eles a Língua Brasileira de Sinais para melhor comunicação com surdos. Também, busca-se conhecer a atuação destes profissionais e qual a melhor forma que estes podem contribuir para que sejam alcançados resultados positivos, tanto no desenvolvimento das pessoas com necessidades especiais quanto no desempenho da equipe multidisciplinar que atua na equoterapia. Revisão de Literatura Histórico de Equoterapia O uso do exercício equestre, com a finalidade de reeducação psicomotora das pessoas especiais, não é uma descoberta recente, como faria pensar o interesse surgido há algum tempo por esta prática.

HIPÓCRATES DE LOO (458-370 a.c.), no seu Livro das Dietas, aconselhava a equitação para "regenerar a saúde e preservar o corpo humano de muitas doenças, mas sobretudo para o tratamento da insônia". Além disso, afirmava que a "equitação praticada ao ar livre faz com que os músculos melhorem o seu tônus". GALENO (130-199 d.c.), consolidado e divulgador dos conhecimentos da medicina ocidental como médico particular do Imperador Marco Aurélio, que era um pouco lento nas suas decisões, recomendou-lhe a prática da equitação como forma de fazer com que decidisse com mais rapidez. GOETHE (1740-1832), poeta alemão, cavalgava diariamente até seu 55º ano de vida e reconheceu o valor salutar das oscilações do corpo, acompanhando os movimentos do animal, a distensão benéfica da coluna vertebral, determinada pela posição do cavaleiro sobre a sela e o estímulo delicado, porém constante, feito à circulação sanguínea. Em seu estudo para Weimar, o poeta utilizava uma cadeira em seu escritório, semelhante a uma sela de cavalo. A citação seguinte pertence a Goethe: O motivo pelo qual o adestramento tem uma ação tão benéfica sobre as pessoas dotadas de razão é que aqui é o único lugar no mundo onde é possível entender com o espírito e observar com os olhos a limitação oportuna da ação e a exclusão de qualquer arbítrio e do acaso. Aqui homem e animal fundem-se num só ser, de tal forma que não sei se saberia dizer qual dos dois está efetivamente adestrando o outro. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia ANDE/BRASIL, a palavra Equoterapia, vem do latim EQUO, que é espécie caballus, ou seja, significa cavalo. A TERAPIA vem do grego Therapia, parte da área da medicina que trata da aplicação de conhecimentos técnico-científicos no campo da reabilitação e reeducação. A Equoterapia trabalha o indivíduo como um todo, isto é, na forma biopsicossocial. Utiliza-se o cavalo como agente reabilitador, buscando a reabilitação do praticante de forma integral. Portanto, emprega o cavalo como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais (BITAR et al., 2004). É desenvolvida ao ar livre, onde o indivíduo estará intimamente ligado com a natureza,

proporcionando assim a execução de exercícios psicomotores, de recuperação e integração, completando as terapias tradicionais em clínicas e consultórios. Ressalta-se que o ambiente equoterápico deve seguir normas específicas da ANDE-BRASIL, sejam de qualificação estrutural, assim como de ordem de acolhimento do praticante. De acordo com Rosa (2002), como no ambiente equoterápico, o praticante é o centro das atenções, ou seja, é o objetivo central das atividades equoterápica, é fundamental estabelecer conhecimentos, técnicas, estratégias, procedimentos para recebê-lo com carinho, respeito, compreensão e segurança. O ato de cavalgar em um animal manso, porém de porte avantajado, possibilita ao praticante experimentar sentimentos de independência, liberdade e capacidade, contribuindo assim para o desenvolvimento da afetividade, autoconfiança, autoestima, a organização do esquema corporal, responsabilidade, atenção, concentração, memória, criatividade, socialização, entre outros. Pelo seu tamanho, ele impõe respeito e limites, sem envolver-se emocionalmente, facilitando assim a aceitação de regras de segurança e disciplina. Portanto, engloba ao mesmo tempo, as qualidades de um terapeuta, um educador e um motivador. É importante que o cavalo de equoterapia deva ser previamente selecionado e treinado pelo profissional de equitação integrante da equipe. A análise biomecânica dos passos e movimento corporal demarca a base para a sustentação de sua escolha para a terapia de cada praticante individualmente. Conhecer profundamente os efeitos do movimento do cavalo é crucial. No entanto, o cavalo não pode ser considerado somente um instrumento, objeto, mas sim um ser vivo que possui instintos, comportamentos, reflexos e necessidades (ROSA, 2002). A Equoterapia é aplicada por intermédio de programas específicos organizados de acordo com as necessidades e potencialidades do praticante, da finalidade do programa e dos objetivos a serem alcançados. A Equoterapia aplicada a Fisioterapia O fisioterapeuta faz uma avaliação do estado funcional do praticante em fatos observados, coletados ao longo de uma conversa informal, e mensurados por testes

apropriados. De acordo com VIEL (2001) o diagnóstico fisioterapêutico é um processo de análise das deficiências e incapacidades observadas e/ou mensuradas. É um processo de avaliação do prognóstico funcional cujas deduções permitem: estabelecer um programa de tratamento em função das necessidades constatadas; decidir quais atos de fisioterapia será adotado. No contexto equoterápico, após a formalização do diagnóstico fisioterápico, o mesmo se reúne com os demais profissionais do centro de equoterapia para, em conjunto, elaborar o plano de tratamento equoterápico, com os atos e as técnicas mais apropriadas para aquele praticante no universo da equoterapia. Nesse planejamento individualizado, especificam-se os objetivos e a proposta de atendimento, as precauções, as adaptações, a maneira de aproximação ao ambiente e ao cavalo, o modo de montar e apear, o tipo de andadura do cavalo, a movimentação ideal do cavalo, o movimento do praticante. Os efeitos terapêuticos são relacionados com a disfunção e a função e dos destacados abaixo estão relacionados didaticamente como elementos de base para construir a função motora do praticante através das quais ele pode desenvolver diversas posturas, mantê-las durante o movimento ou em alguma perturbação do equilíbrio, assumir e sair de posturas, obter várias formas de locomoção e adquirir o uso das mãos. O movimento do cavalo produz reações de endireita mento, balanço, entre outras, que somadas contribuem para o alcance de movimentos normais e habilidades funcionais (Murphy, 2008). Ganho de amplitude de movimento articular, com efetiva mobilização das articulações de coluna vertebral e de cintura pélvica (Haehl et all apud Murphy, 2008). Os movimentos gerados pelo cavalo ao passo fornecem estímulos proprioceptivos profundos que quando combinados a outros estímulos sensoriais facilitam a regulação do tônus muscular (Bertoti, 1988). Aumento da força muscular ( Haehl et all apud Murphy, 2008). Normalização da simetria corporal com melhora da postura e do balance (McGee, 2009).

Melhora do controle de tronco e de cabeça (Brudvig apud McGee,2009). Metodologia e/ou Material e Métodos Esta pesquisa é pautada pela abordagem qualitativa, utilizando para o desenvolvimento, pesquisas bibliográficas, visando à busca de subsídios teóricos para a realização do trabalho. Conforme CERVO e BERVIAN (1996, p. 49) A pesquisa descritiva... procura descobrir, com a precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características. Para CERVO e BERVIAN (1996, p. 50), a pesquisa descritiva, trata-se do estudo e da descrição das características, propriedades ou relações existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada. Resultados e Discussões A Equoterapia baseia-se numa relação de transferência e triangular entre terapeuta -praticante cavalo, o que poderá possibilitar ao indivíduo o acesso entre seu mundo imaginário e a realidade. Ao mesmo tempo, o cavalo emprega uma função de intermediário entre o mundo intrapsíquico do praticante, composto de desejos, fantasmas, angústias, e o mundo externo, ocupando o espaço lúdico do praticante (LALLERY, 1988; HERZOG, 1989 apud ARLAQUE et al., 1997). O profissional ajuda a revelar as necessidades, os limites e potencialidades do praticante, juntamente com a família ou responsáveis e demais membros da equipe, para que se tenha um melhor desempenho inter e intrapessoal. Além disso, o terapeuta analisa e reavalia a situação atual do praticante antes do início da terapia para uma melhor adaptação às características do trabalho com o cavalo. O animal, por si só, desempenha uma presença viva, afetiva e concreta, que evoca sentimentos e emoções, como alegria, serenidade, medo, raiva e tristeza. Deste modo, não é interessante considerar apenas as estimulações, funções motoras e psicomotoras que o andar a cavalo propicia, mas também o componente racional que é desenvolvido entre a pessoa e o animal que engrandece este tipo de terapia, tornando-o um agente facilitador para uma intervenção psicoterápica

(MASIERO, 2004). Assim, percebe-se a importância de um trabalho desse tipo a ser oferecido às crianças e adolescentes que apresentam problemas ou dificuldades seja ela física ou mental. Na área educacional, premissa deste trabalho, o programa de educação e reeducação, onde o praticante já apresenta condições de se manter sozinho e de manter uma boa relação de interação com o cavalo e os mediadores da equipe, o ato de cavalgar auxilia na aquisição e desenvolvimento das funções psicomotoras, proporcionando assim a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivos mais específicos, que se referem ao desenvolvimento das habilidades: formação de conceitos, solução de problemas, pensamento crítico e criatividade e consequentemente a aquisição do conhecimento. Enquanto anda a cavalo, o praticante necessita desenvolver habilidades e atitudes conceituais diversas além da reorganização postural e de equilíbrio corporal, fatores estes que facilitam a recepção de vários estímulos sensoriais simultâneos. Ajuda a manter um comportamento social adequado, durante as atividades de grupos na equitação estágios estes mais avançados do programa. Estas aquisições são conhecidas como cognição social. Segundo Isoni, a Equoterapia, facilita a organização do esquema corporal; facilita a aquisição do esquema espacial; desenvolve a estrutura temporal; aguça o raciocínio e o sentido de realidade; proporciona e facilita a aprendizagem da leitura, da escrita e do raciocínio matemático; aumenta a cooperação e a solidariedade; minimiza os distúrbios comportamentais; promove a autoestima, a autoimagem e a segurança; facilita e acelera os processos de aprendizagem. Percebe-se, não somente na equipe multidisciplinar, como no meio de pessoas atuantes e entidades de saúde que trabalham com reabilitação e outras em Equoterapia, que ainda há uma visão estereotipada de que para a atuação de um centro equoterápico sejam essenciais somente profissionais da área da saúde, sendo os demais profissionais um ademais. Apesar de haver diversos estudos e da terapia ser denominada como educação e terapia através do uso do cavalo, ainda o educador não é valorizado em sua excelência e de necessidade direta para a terapia, por ser essa uma profissão tão importante quanto às outras, acredito que uma equipe multidisciplinar não pode fomentar a ideia de que sejam as prioridades

os casos a reabilitação física e motora simplesmente e sim um todo do praticante. Às vezes, é necessário que o educador se coloque e exponha a potencialidade dos seus objetivos e aspectos de trabalho dentro da equoterapia, para conseguir a sua inserção. Considerações Finais O processo de ensino e aprendizagem ocorre em todos os lugares, não somente na escola, mas também em um ambiente terapêutico/escolar, como a equoterapia. Nesta concepção, a equoterapia enquanto processo educacional tem por objetivo criar um espaço que contribua para construção e reconstrução do indivíduo, desenvolvendo habilidades e adquirindo conhecimentos, dentro de suas potencialidades, levando o praticante a uma auto-realização, através de atividades, lúdicas desportivas que tem como meio motivador o cavalo, animal que há tanto tempo desperta o fascínio da humanidade. Neste processo a figura do educador é de vital importância, pois percebe-se as inúmeras oportunidades em que os profissionais em geral habilitados em equoterapia, podem contribuir com seu conhecimento e preparo acadêmico, mas ressalta-se também, que ainda é muito pouco aproveitado em bacharelados, haja em vista, que apenas uma pequena parcela de licenciaturas propõem aos acadêmicos formações inclusivas. A prática das sessões equoterápica realizadas pela UNICRUZ em parceria ao EASA na cidade de Cruz Alta RS são direcionadas a objetivos interdisciplinares, interligado com todos os outros profissionais do centro de equoterapia, visando a inclusão social, pois integram entre todos os praticantes, escolares de rede publica, e privada, com as mais variadas necessidades especiais. Considerando os estudos realizados, foi possível constatar que estamos engatinhando dentro de inclusão social, no que diz respeito a trabalhos multidisciplinares, pois as Instituições de Educação Superiores ainda possuem um currículo compartimentalizado e por que não dizer fragmentado da educação profissional. Se todos trabalharmos para uma educação global, talvez consigamos

esta melhoria nas atividades de inclusão social, partindo de projetos bem escritos e pouco executados. Referências AGE: Apostila do décimo curso básico de equoterapia. Porto Alegre, 2005. ANDE: Apostila do sexto curso avançado de equoterapia. Brasília, 2006. BERTOTI D: Effect of the therapeutic horseback riding on posture in children with cerebral palsy. Proceedings of the Sixth International Therapeutic Riding Congress. 1988;143-172. BRUDVIG apud MC GEE M.; REESE N: Immediate Effects of a Hippotherapy Session on Gait Parameters in Children with Spastic Cerebral Palsy. Pediatrics oh the American Physical Therapy Association. 2009; 21;212-218. CERVO, Amando Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. São Paulo: Makron Books, 1996. Equoterapia: Revista semestral de equoterapia. Brasília. Associação Nacional de Equoterapia, n. 13 e 14, dez 2006. MARTINEZ, Sabrina Lombardi dos Santos: Fisioterapia na equoterapia: análise de seus efeitos sobre o portador de necessidades especiais. Aparecida. SP: Idéias & letras, 2005. MASIERO, C: Apostila do XI Curso Básico de Equoterapia. São Paulo: EQUOLIBER, abr. 2004. 125p (Apostila Digitalizada) MC GEE M.; Reese N: Immediate Effects of a Hippotherapy Session on Gait Parameters in Children with Spastic Cerebral Palsy. Pediatrics oh the American Physical Therapy Association. 2009; 21;212-218. MURPHY,D.;Kahn-D Angelo,L.; Gleason,J: The Effect of Hippotherapy on Functional Outcomes for Children with Disabilities: A Pilot Study. Pediatrics oh the American Physical Therapy Association. 2008;20;264-270.

ROSA, L. R: Reflexões sobre a complexidade equoterápica. Revista da Associação Nacional de Equoterapia, Brasília, ano 5, n. 6, p. 8-11, dez. 2002. VIEL, E. O: Diagnóstico Cinesioterapêutico. São Paulo: Manole; 2001.