O AR QUE EU SORVO A MÃO QUE EU MOVO



Documentos relacionados
virgínia rosa geraldo flach

Com fortes referências no repertório


João Donato multiplicado por dois Ele lança dois CDs, O Piano e Uma Tarde com Bud Shank, e se apresenta de hoje a domingo no Auditório Ibirapuera

Versão Oficial. Locutor - A Rádio Nacional apresenta ESTUDIO F, Momentos Musicais da Funarte. Apresentação de Paulo César Soares

Versão Oficial. Locutor - A Rádio Nacional apresenta ESTUDIO F, Momentos Musicais da Funarte. Apresentação de Paulo César Soares

O mar de Copacabana estava estranhamente calmo, ao contrário

MULHER SOLTEIRA. Marcos O BILAU

Apresentação Reinaldo Arias

AULA DE PORTUGUÊS: CRIAÇÃO DE POEMAS

Freelapro. Título: Como o Freelancer pode transformar a sua especialidade em um produto digital ganhando assim escala e ganhando mais tempo

de braços abertos gravação do CD e DVD

f r a n c i s c o d e Viver com atenção c a m i n h o Herança espiritual da Congregação das Irmãs Franciscanas de Oirschot

Seja um incentivador da arte e da cultura brasileira

Não é o outro que nos

orizon P R O D U T O R A AgulhaNO samba black in soul viva o projeto samba rock

Subsídios para O CULTO COM CRIANÇAS

Desafio para a família

Agrupamento Vertical de Escolas do Viso. Escola E. B. 2.3 do Viso. A vida é uma folha de papel

Os encontros de Jesus. sede de Deus

Transcriça o da Entrevista

UMA CARTILHA INTEIRINHA PARA VOCÊ

Duração: Aproximadamente um mês. O tempo é flexível diante do perfil de cada turma.

Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava

Projeto Recreio Musical

Rubel ubel ubel ubel ubel ubel

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:...

SERVIÇO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Secretaria de Estado da Educação Superintendência Regional de Ensino de Carangola Diretoria Educacional

APRESENTAÇÃO. Sobre Fernando Pessoa

Numa recente e longa entrevista concedida para a rede de emissoras rádio via satélite AMERICAN SAT, o cantor PAULINHO BOCA lembrou dos fatos mais

Músicos, Ministros de Cura e Libertação

O PASTOR AMOROSO. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa

Aniversários. no CCB

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

(PI): 01 - O 01 (A1):

PHELIPE AGNELLI. Baterista Percussionista Compositor. Músico Brasileiro!

Projeto - por que não se arriscar com um trabalho diferente?

4ª - Sim, já instalei o programa em casa e tudo. Vou fazer muitas músicas e gravar-me a cantar nelas também.

9º Plano de aula. 1-Citação as semana: Não aponte um defeito,aponte uma solução. 2-Meditação da semana:

Discografia Banda Beijo. * Prove Beijo (1988) * Sem Repressão (1989) * Eu Quero Beijo (1990) * Badameiro (1991) * Axé Music (1992) Carreira Solo

Os dois foram entrando e ROSE foi contando mais um pouco da história e EDUARDO anotando tudo no caderno.

Paródia 1ªA. Música Fugidinha Michel Teló. Cheguei na escola não consegui entender. Mas depois de um tempo tudo foi se resolver

Seis dicas para você ser mais feliz

Que empresas? Pequeno, médio ou grande porte dos mais variados segmentos possíveis Com quem falar? Geralmente com o gerente, proprietário ou

CHIC SAMBA CHIC SAMBA CHORO GAFIEIRA

Programação Geral. Música Regional Brasileira. A música do Brasil - Seg/Dom 6h.

Sete Motivos Importantes Para Usar Áudio Para Melhorar As Suas Habilidades Em Inglês

Roteiro para curta-metragem. Aparecida dos Santos Gomes 6º ano Escola Municipalizada Paineira NÃO ERA ASSIM

Público escolhe o repertório do próximo show de Oswaldo Montenegro. No mesmo ano: cinema, música, televisão e teatro

Visite nossa biblioteca! Centenas de obras grátis a um clique!

JESUS. rosto divino do homem, rosto humano de DEUS. Projeto: Luciano Mancuso. Equipe: André Figueiredo Keyla Gripp João Paulo (JP) Luciano Mancuso

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

Estórias de Iracema. Maria Helena Magalhães. Ilustrações de Veridiana Magalhães

Sei... Entra, Fredo, vem tomar um copo de suco, comer um biscoito. E você também, Dinho, que está parado aí atrás do muro!

24 Acorde Maior X Acorde Menor - Conteúdo

CABEÇA-DE-VENTO Show Musical de Bia Bedran

ATIVIDADES COMPLEMENTARES I PORTFÓLIO. Aluno:

Selecção através do computador A_1 a seguir vai se às músicas A_3 A_4 A_5 A_6 A_7 A_8 A_9 A_1 A_1 1 A_1 2

À Procura de Mozart Resumo Canal 123 da Embratel Canal 112 da SKY,

Relaxamento: Valor: Técnica: Fundo:

Lembro-me do segredo que ela prometeu me contar. - Olha, eu vou contar, mas é segredo! Não conte para ninguém. Se você contar eu vou ficar de mal.

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA DE GOIÁS SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SANTA BÁRBARA DE GOIÁS. O Mascote da Turma

DESENGANO CENA 01 - CASA DA GAROTA - INT. QUARTO DIA

GuitarraGospel.com.br

Informativo. Aniversário de 1 ano de atividades do Núcleo Lectícia Fonseca no Engenho Novo. Cássia Oliveira comemora 8 anos de atuação no Cantagalo

MALDITO. de Kelly Furlanetto Soares. Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012.

ANTONIO LOUREIRO.

A criança e as mídias

de 20, à criação do samba no Rio de Janeiro ou ao cinema novo. Ao mesmo tempo procurei levar em conta as aceleradas transformações que ocorriam nesta

Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele

I ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS. Fantasias

Release do Espetáculo

Oração. u m a c o n v e r s a d a a l m a

Lúmini Art Centro de Pesquisa, Cultura e Ação Social. O Projeto Social Luminando

1-PORTO SEGURO-BAHIA-BRASIL

QUEM É ALICE CAYMMI? >>

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

14 segredos que você jamais deve contar a ele

produtos que antes só circulavam na Grande Florianópolis, agora são vistos em todo o Estado e em alguns municípios do Paraná.

FILOSOFIA BUDISTA APLICADA A EMPRESA:

Luiz Martins Neto Mestre Luiz

CONHECENDO-SE MELHOR DESCOBRINDO-SE QUEM VOCÊ É? 13 PASSOS QUE VÃO AJUDÁ-LO PARA SE CONHECER MELHOR E DESCOBRIR QUE VOCÊ REALMENTE É

5º ANO 8 8/nov/11 PORTUGUÊS 4º

Affonso Romano: A glória do autor é virar folclore

crônicas feitas a par r de um olhar de fora, e, portanto ficcionais, mas sim de uma história real de vida.

REGÊNCIA DO ALÉM CONTADOR (VOICE OVER)

Sticker Art: Uma ferramenta de inclusão e conscientização do valor da arte

PROVA ESCRITA DE EDUCAÇÃO MUSICAL. PRIMEIRA PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS (70 pontos)

Associação Lar do Neném

A LIBERDADE COMO POSSÍVEL CAMINHO PARA A FELICIDADE

Tels: (19) / (19) / (19) TIM / (19) VIVO (19) Claro / (21)

DISCURSO DO EXCELENTÍSSIMO SENHOR VEREADOR SILVINHO REZENDE, DURANTE REUNIÃO SOLENE PARA ENTREGA DO DIPLOMA DE HONRA AO MÉRITO AO MÚSICO RONALDO COISA

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

InfoReggae - Edição 15 Grupos: Afro Samba 18 de outubro de Coordenador Executivo José Júnior

1. Você já havia assistido a um espetáculo de circo? Sim 25 Não 26

Apoio: Patrocínio: Realização:

SÉRIE 1: retrato/ Autorretrato. para olhar. pensar, imaginar... e fazer. Vincent van Gogh. Autorretrato Óleo sobre tela.

CONCREGAÇÃO DAS IRMÃS MISSIONÁRIAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO COLÉGIO SANTA CLARA PROJETO: SARAU DE POESIA

Luís Norberto Pascoal

PREFEITURA DE PORTEIRINHA DIRETORIA MUNICIPAL DE CULTURA REGULAMENTO FESTIVAL DE MÚSICA EDIÇÃO 2013

Transcrição:

O AR QUE EU SORVO Leila Toscano Pinheiro é paraense, de Belém. Do seu nascimento, na primavera de 1960, ao primeiro disco, duas décadas. Tempo suficiente para que a linha da voz cerzisse irreversivelmente sua história no linho da música. A música, Leila descobre ainda menina. Aos 5 anos, suas primeiras inclinações musicais são registradas pelo pai Altino num gravador de rolo. Dos 10 aos 14 anos, Leila freqüenta as aulas do Instituto de Iniciação Musical, de sua tia Arlette. É nessa época que ela deixa de lado a teoria musical do Instiuto e passa a aprender com Guilherme Coutinho, músico de talento e presença importante no cenário musical de Belém. Durante a adolescência de Leila, nos efervescentes anos 70, seu pai, Altino Pinheiro, inspirado tocador de gaita de boca, ouve LPs de Elizete Cardoso, Elis Regina, Os Cariocas, Nara Leão... apaixonado por música e band leader caseiro, Seu Altino forma, ao lado dos quatro filhos, uma banda para canjas diárias no palquinho improvisado na sala de jantar. Leila toca piano e canta, o irmão mais velho de Leila, Alberto, fica com o violão, a irmã mais nova, Vera, com a bateria e a caçula, Marisa, com a percussão. No repertório, sucessos de Chico Buarque, Gonzaguinha, Joyce e Elis. Paralelamente, o inquieto cenário musical do país leva para Leila o som da Jovem Guarda e dos tropicalistas. A MÃO QUE EU MOVO Na virada da década de 70, a dobradinha de Guilherme Coutinho com o cantor paraense Walter Bandeira incentiva em Leila a vontade nessa época, latente - de cantar. Hoje, os dois músicos estão numa espécie de marco zero da estrada musical da cantora - embora o comando dessa narrativa tenha sempre cabido à própria Leila. A dupla compôs especialmente para ela, Leila deu canjas na noite e ainda ganhou reforço no aprendizado de piano. É nesse momento que surge boa parte do repertório do show Sinal de Partida, o primeiro de Leila. 1/5

Em outubro de 1980, Leila faz sua estréia no Theatro da Paz, o mais importante de Belém, com o show Sinal de Partida. O mote é explícito. A glosa é cada passo dali em diante. Para Leila, a sístole-diástole da ilusão incurável de alma de artista, de perseguidora de sonhos, de mulher desdobrável. Em 1981, Leila finca o pé na estrada. Ela deixa Belém, com um curso de medicina no meio do caminho e uma possibilidade de cantora na garganta. SAL, SOL, SUL O Rio da década de 80 não era o mesmo Rio da bossa nova, aquela enorme Ipanema, balneário do amor, do sorriso e da flor. É nesse Rio que a voz de Leila desembarca em maio de 1981. Convidada por Jane Duboc, também cantora e paraense, Leila vai assistir às gravações de SEDUÇÃO, LP de Maria Creusa, quando conhece Raymundo Bittencourt, produtor daquele trabalho. O episódio resulta em LEILA PINHEIRO, disco de estréia de Leila, que começa a ser gravado dois meses depois desse encontro e é lançado de forma independente em 1982. O disco de estréia anuncia o que vai passar na trajetória musical da cantora. Logo no primeiro capítulo, já aparecem convidados ilustres, como Tom Jobim em Espelhos das Águas e Ivan Lins em Mãos de Afeto. SEDE DE NAVEGAR Alguns shows na noite depois do lançamento de LEILA PINHEIRO, em 1985, a fita demo inscrita por Leila no Festival dos Festivais o penúltimo grande festival de música realizado no país, promovido naquele ano pela TV Globo cai nas mãos de Cesar Camargo Mariano, um dos responsáveis pela escolha dos artistas do evento. Ele convida Leila para defender o samba Verde, de Eduardo Gudin e José Carlos Costa Netto. A canção é premiada com o terceiro lugar no pódium e Leila leva para casa o prêmio de cantora revelação do festival. Verde também a coloca na mira da PolyGram. Tiro certeiro. Convidada por Roberto Menescal, então diretor artístico da empresa, em meados de 1986, 2/5

Leila lança seu primeiro disco por uma grande gravadora: OLHO NU, título pinçado do samba de Gilberto Gil. Desse trabalho, Leila resgata para o songbook Verde e Todo Amor que Houver Nessa Vida, de Frejat e Cazuza. Lançado em 1988 com apresentação de Renato Russo, ALMA lapida vastas e profundas emoções. Dentre elas, Besame, de Flavio Venturini e Murilo Antunes, o segundo hit na voz de Leila. Tempo Perdido, ícone da geração 80 cantado pela Legião Urbana dois anos antes, ganha contorno romântico de íntima beleza, além de uma inestimável canção de Edu Lobo e Chico Buarque, Abandono, composta para o Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba. O BARQUINHO VAI Em 1989, a bossa nova completava seu trigésimo aniversário, se contado a partir do lançamento do LP CANÇÕES DO AMOR DEMAIS, de Elisete Cardoso, em 1958 espécie de certidão de nascimento do movimento, na opinião de muitos conhecedores da história musical. A Nippon Phonogram, filial japonesa da PolyGram, decide homenagear essa data com uma obra dedicada a essas canções. Roberto Menescal convida Leila para um mergulho nas canções da bossa. Em 1989, BÊNÇÃO, BOSSA NOVA apresenta uma panorâmica do movimento, acomodando a obra de seus criadores em dez luminosos medleys. Entre eles, um formado por Lobo bobo / Se é tarde me perdoa / O Barquinho e outro por Nós e o mar / Mentiras / Preciso aprender a ser só. Paisagem da diversidade momentânea e um dos primeiros registros acústicos num momento em que os instrumentos andavam plugadíssimos, OUTRAS CARAS, lançado em 1991, é um ensaio democrático: traz de Walter Franco, com Serra da Luar, a Guinga - com Aldir Blanc, em Esconjuro e com Paulo Cesar Pinheiro, em Noturna. COISAS DO BRASIL, de 1993, tem o toque de César Camargo Mariano nos teclados e arranjos de valiosos standards, como Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque, Vai passar, de Chico com Francis Hime e Primavera, de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes. A voz de Leila sublinha a beleza de Coisas do Brasil, pop bossanovista de Guilherme Arantes e Nelson Motta, e Gostava tanto de você, de Edson Trindade. O disco traz a segunda 3/5

leitura de Leila do pop da Legião Urbana, desta vez com Monte Castelo, elegia que une a epístola aos Coríntios e a lírica de Luís de Camões à poesia de Renato Russo. Em maio de 1994 Leila passa a integrar o cast da EMI Music. No mesmo ano é lançado ISSO É BOSSA NOVA, um novo e explícito mergulho no baú da bossa, desta vez com leitura totalmente acústica. O trabalho oferece biscoitos finos da bossa cantados com suas harmonias originais, como Discussão, de Tom e Newton Mendonça, Sem mais adeus, de Francis Hime e Vinícius e, dele com Carlinhos Lyra, Sabe você. VER ADIANTE Navegadora atenta desde sempre, é no fluir das canções caudalosas que Leila baldeia. É com o brilho dos olhos de quem escolheu os frutos mais bonitos do pomar que ela apresenta CATAVENTO E GIRASSOL. O disco, lançado em 1996, traz, além da polpa suculenta da parceria de Guinga e Aldir Blanc, sua primeira atuação como produtora executiva. Intimidade com o violão de Guinga Leila tem de sobra. O amor pela obra do compositor ela cultiva em fitas gravadas desde 1983, quando Pepê Castro Neves, seu professor de canto, levou o compositor para uma tarde musical na casa de Leila. Sem brechas para as corredeiras oportunistas e traiçoeiras - do mercado, as escolhas de Leila em CATAVENTO E GIRASSOL catapultam para um público jamais imaginado a rica tapeçaria musical que a poesia de Aldir Blanc borda no violão de Guinga. Cercada de músicos como Lula Galvão, Jorge Helder, Paulo Bellinati, Paulo Sérgio Santos, Jurim Moreira, Claudio Roditi, do próprio Guinga e de vários outros craques, além dos arranjos de Jorge Calandrelli, Leila faz de cada canção, uma apologia ao renascimento da (excelente) música brasileira. A beleza irretocável da obra é evidente e facilmente detectável. Para constatar é só ouvir o samba-choro Catavento e Girassol, as valsas Exasperada, e Valsa para Leila, esta recortada pela gaita (harmônica de boca) de Altino Pinheiro, pai da cantora. Ou então, se divertir com a ironia de Coco do Coco ou com o transe de Baião de Lacan. 4/5

CANTAR, SORRIR, SEGUIR A carreira de Leila é pródiga em dizer com clareza: não há água que ela não beba e não há o que ela não diga na ponta da língua. Em meados de 1997, ainda itinerando com o show Catavento e Girassol, Leila foi arrebanhando canções em pequenas audições improvisadas em quartos de hotéis com compositores e músicos das cidades por onde passava. Indiretamente surgem os primeiros tons do repertório que baseou Leila para gerar NA PONTA DA LÍNGUA. NA PONTA DA LÍNGUA, também produzido por Leila, é praticamente um contraponto ao trabalho anterior, CATAVENTO E GIRASSOL, integralmente dedicado à arrebatadora parceria de Guinga e Aldir Blanc. Dois anos depois, em 1998, Leila bebe outras águas e garimpa entre compositores e poetas da sua geração o destino da sua voz para aquele momento. Aí está o quê de inesperado de NA PONTA DA LÍNGUA : reunir, num mesmo trabalho, um punhado de canções compostas por seus contemporâneos de década. Um dado novo à sua discografia, sempre talhada na madeira de lei dos talentos máximos da música brasileira, em sua maioria de gerações anteriores à sua. Quem a ouve hoje percebe que ela quer menos contemplação e mais participação. O essencial, que é o amor pela música, está no suingue dengoso de Abril, de Adriana Calcanhotto, na melancolia esperançosa da elegíaca Vento no Litoral, de Bonfá, Renato Russo e Dado e no casamento feliz da caneta de Alvin L com o violão de Sérgio Santos em Pra dizer a verdade. Mais uma Boca, da irrepreensível Fátima Guedes, Sentado à beira do caminho, dos indefectíveis Roberto e Erasmo e a parceria inédita de Eduardo Gudin e Paulinho da Viola no samba Ainda Mais, completam as escolhas de Leila. A densidade musical de cada página deste volume diz o que Leila Pinheiro vem dizendo na ponta da língua desde sempre. 5/5