Palavras-Chave: Geomorfologia, Amazônia e Mato Grosso. Introdução

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Transcrição:

ASPECTOS GEOLÓGICOS, GEOMORFOLÓGICOS E PEDOLÓGICOS DA REGIÃO DO PARQUE ESTADUAL IGARAPÉS DO JURUENA, MATO GROSSO Sandro Francisco Detoni, Universidade de São Paulo, sdetoni@usp.br Roberto José Vervloet, Universidade de São Paulo, roberto_vervloet@yahoo.com.br Jurandyr Luciano Sanches Ross, juraross@usp.br Este trabalho apresenta os levantamentos básicos dos aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos da região do Parque Estadual Igarapés do Juruena (PEIJ), localizado no norte do Mato Grosso. De forma geral, a região amazônica possui levantamentos básicos do meio físico em escalas muito generalizadas, como as do Projeto RADAM (1: 1.000.000). Assim, efetuou-se o estudo desses atributos em escala de maior detalhe, por meio da interpretação das imagens geradas por composição de bandas do satélite Landsat5, pelos estudos disponíveis para a região e pelo levantamento de campo. Tornou-se possível interpretar os atributos temáticos numa escala de trabalho de 1: 50.000. Na composição RGB, identificaram-se os distintos compartimentos, em função, principalmente, das distintas rugosidades. Com relação à geomorfologia, as imagens demonstraram como feição principal o estabelecimento de uma faixa de dobramento com estruturas sinclinais e anticlinais realçadas, orientadas no sentido NO-SE, onde predominam litologias do Grupo Beneficente, que incluem metafolhelhos, metasiltitos e metarenitos. A resistência aos processos erosivos dessas litologias ocasionou formas de relevo compostas por cristas escarpadas alinhadas, vales profundos de seccionamento e alguns morros residuais com topos convexos. As vertentes desse setor geomorfológico, muitas vezes, apresentam declividades superiores a 30%. A tipologia pedológica varia conforme o nível topográfico, representada pelo Neossolo Litólico Distrófico e pelo Argissolo Vermelho- Amarelo Distrófico. Os compartimentos adjacentes à faixa de dobramento possuem distintas litologias, tais como, granitos, gnaisses e riólitos do Complexo Xingu e do Grupo Iriri. Nas litologias do Grupo Iriri observou-se o predomínio de morros residuais de topos convexos e vales profundos. No embasamento litológico composto por rochas do Complexo Xingu, verificou-se a presença de relevos em colinas de topos convexos e vales medianamente entalhados. Nas superfícies rebaixadas, predominam as coberturas sedimentares argilosas e argilo-arenosas. A cobertura pedológica dessas áreas caracteriza-se pelo Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico. O norte da estrutura dobrada pode ser considerado como um nível topográfico regional intermediário que apresenta litologia composta por arenitos distintos e formas de relevo que incluem colinas amplas de topos planos e vales pouco encaixados. Palavras-Chave: Geomorfologia, Amazônia e Mato Grosso Introdução Num contexto geral, a região amazônica possui levantamentos básicos do meio físico em escalas muito generalizadas, como as do Projeto RADAM (1: 1.000.000). Entretanto, a disponibilidade de imagens orbitais em distintas resoluções e o emprego de técnicas de fusão entre distintas bandas espectrais permite aferir maiores detalhes aos trabalhos realizados nessa região. Este trabalho apresenta os levantamentos básicos dos aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos da região do Parque Estadual Igarapés do Juruena (PEIJ), localizado no norte do Mato Grosso, conforme

apresentado no Mapa 1. A região constitui-se num dos principais remanescentes da floresta equatorial nesse Estado, além de apresentar significativa complexidade litológica e geomorfológica, o que justifica tais levantamentos. Material e Método Efetuou-se o estudo dos atributos temáticos em escala de maior detalhe, por meio da interpretação das imagens geradas pela composição de bandas espectrais do satélite LANDSAT5, dos estudos disponíveis para a região e do levantamento de campo. Tornou-se possível apresentar uma escala de trabalho, para a identificação dos atributos temáticos, da ordem de 1: 50.000. A composição RGB elaborada por meio da fusão das bandas espectrais 7, 4, 3 e pancromática do satélite LANDSAT5 permitiu aferir distintos compartimentos na imagem, em função de suas rugosidades, suas texturas e suas tonalidades. Tais diferenças, juntamente com o apoio de campo, da bibliografia básica, da utilização de imagens de radar do satélite SRTM e dos mapas temáticos em menor escala, possibilitaram a preparação de um overlay em papel poliéster com as categorias temáticas previamente estabelecidas. O procedimento de interpretação consistiu na delimitação dos atributos no overlay para cada categoria temática. Posteriormente, procedeu-se a conversão do overlay em imagens no formato digital raster. Essas imagens foram geo-referenciadas, ou seja, inseriu-se um sistema de coordenadas à imagem digital por meio de alguns pontos com coordenadas conhecidas. Os polígonos e feições lineares foram vetorizados no software AutoCAD Map 2004 (Autodesk). Esse modelo vetorial, que é expresso por pontos, por linhas ou por polígonos, permitiu o armazenamento dessas informações sobre um plano cartesiano. Assim, é possível manter uma correlação espacial entre os atributos. Com isso, a elaboração dos produtos cartográficos temáticos (mapa das unidades litoestratigráficas, mapa das unidades de relevo e mapa pedológico) ocorreu com auxilio das técnicas de Geoprocessamento, que envolvem a aquisição e manipulação de dados geo-referenciados. Logo, os dados adquiridos foram manipulados num Sistema de Informação Geográfica (SIG). Os vetores de cada mapa temático foram exportados em formato shp para a geocodifição e manipulação dos dados no software ArcMap 9.2 (ESRI Inc.). O processo de geocodificação consistiuse no preenchimento das tabelas de atributos, conforme legenda estabelecida na interpretação da composição de imagens orbitais. Essas tabelas permitiram a geração dos mapas temáticos de forma automática. Deve-se destacar que as cores das categorias temáticas seguiram as convenções cartográficas estabelecidas para cada temática. Estabeleceu-se o seguinte sistema de projeção para a base cartográfica: Universal Transversa de Mercator (UTM). O fuso de referência, o Meridiano Central e o Datum foram, respectivamente, 21S, - 51 o Greenwich (Grw.) e o SAD69.

Mapa 1: Localização do Parque Estadual Igarapés do Juruena no Estado do Mato Grosso

Resultados Aspectos geológicos O PEIJ insere-se em duas províncias estruturais do embasamento geológico brasileiro: a Província Rondônia-Juruena e a Província do Amazonas. De acordo com o CPRM (2003), a primeira província possui a sua formação litológica vinculada à evolução em sistema de arcos magmáticos de magmatismo juvenil, juntamente com a contribuição de materiais de crosta antiga caracterizados pelos litotipos do setor oriental. Já a Província Amazonas faz parte de uma grande superprovíncia denominada Cráton Amazonas (CPRM, 2003), que possui a sua litologia relacionada ao embasamento sedimentar. O Mapa 2 representa a distribuição espacial das unidades litoestratigráficas no PEIJ. Desse modo, destacam-se na região as seguintes unidades: Complexo Xingu: caracterizado por rochas granitóides, metagranitóides e graníticas, sem posição estratigráfica bem definida, com idades que variam do mesoarqueano até o mesopreterozóico. No PEIJ, incluem-se nesse grupo de rochas os granitos, os gnaisses ácidos e os básicos, os granodioritos, os adamelitos, os dioritos, os anfibolitos, os migmiatitos, os granulitos, as metavulcânicas e os metabasitos; Supergrupo Uatumã: alguns setores se relacionam aos metamorfitos e às rochas intrusivas do Complexo Xingu e outros correspondem às unidades do proterozóico inferior, o que envolve, notadamente, uma fase vulcano-piroclástica. Essa fase pode ser caracterizada como uma subunidade denominada Grupo Iriri. Segundo Schoubbenhaus et al (1984), o Grupo Iriri inclui amplos vulcanitos relacionados a um extenso magmatismo, o que caracteriza um estágio mais antigo do Uatumã, assim, as rochas desse grupo se compõe de riolitos, de riodacitos, de adesitos, de basaltos, de dacitos, de rochas piroclásticas e de ignimbritos. Destaca-se também outra subunidade do Supergrupo Uatumã denominada Granito Teles Pires, que incluem os granitos intrusivos e subvulcânicos; Grupo Beneficente: conjunto de sedimentos marinhos de águas rasas, relacionados à transgressão marinha em área cristalina pré-cambriana tectonicamente estável e, previamente, aplanada por erosão (ALMEIDA; NOGUEIRA FILHO, 1959). Os eventos de dobramentos e metamorfismos permitiram o estabelecimento de litologias compostas por arenitos, por ortoquartzitos, por metarenitos brancos, por metafolhelhos, por metargilitos e por metassiltitos; Coberturas Sedimentares Indiferenciadas: coberturas sedimentares recentes sobrepostos às rochas do Complexo Xingu, do Supergrupo Uatumã e do Grupo Beneficiente. Caracterizam-se por sedimentos areno-argilosos e argilo-arenosos de cor cinza sem estratificação, distribuídos de sul-sudoeste até norte-noroeste da área do parque; e

Depósitos Aluvionares: sedimentação moderna (holocênica) representadas por cascalhos, por areias, por siltes e por argilas inconsolidadas, que formam ilhas e setores arenosos marginais aos cursos d água denominados geneticamente por aluviões. Geomorfologia A compartimentação geomorfológica do PEIJ baseou-se nas proposições de Ross (1992), que estabelecem a hierarquização das formas de relevo segundo as feições morfoestruturais, as morfoesculturais, as unidades morfológicas e seus modelados, conforme a caracterização geomorfológica da região do Parque descrita no Quadro 1. Dessa forma, com relação aos domínios morfoestruturais destacam-se na região a Plataforma Exposta do Sul da Amazônia, as Estruturas Intrusivas e o Cinturão Orogenético. O Mapa 3 demonstra a distribuição espacial das unidades de relevo no PEIJ e em sua zona de amortecimento. É possível notar que a região possui certa complexidade geomorfológica por meio da ocorrência de distintos modelados de relevo.

Quadro 1: Compartimentação geomorfológica do Parque Estadual Igarapés do Juruena, Mato Grosso Morfoestrutura Morfoescultura Unidades Morfológicas Modelado Plataforma Exposta do Sul da Amazônia Depressão do Norte do Mato Grosso Superfície Dissecada em Colinas do Norte do Mato Grosso Superfície com Coberturas Quaternárias Aripuanã Superfície com Coberturas do Sucunduri Relevos em colinas de topos convexos, com vales medianamente entalhados, vertentes com declividades entre 0 a 6% esculpidas em gnaisses, migmatitos, granulitos, anfibolitos e granodioritos do Complexo Xingu e em Latossolos Vermelho-Amarelo Distrófico e Argissolos Vermelho-Amarelo Distrófico Relevos em colinas amplas de topos planos com vales pouco entalhados e vertentes com declividades muito baixas entre 0 e 6% esculpidos em sedimentos argilosos e argiloarenosos do Terciário, Quaternário e com latossolos Vermelho-Amarelo Distróficos Relevos em colinas amplas de topos planos com vales pouco entalhados e vertentes com declividades entre 0 e 6% esculpidos em sedimentos arenosos e areno-argilosos do Terciário, Quaternário e em Latossolos Vermelho-Amarelo Distróficos Estruturas Intrusivas Cinturão Orogênico Planícies e Terraços Fluviais do Juruena-Aripuanã Morros Residuais do Interflúvio Juruena-Aripuanã Serras Residuais Apiacás-Teles Pires Relevos em planícies de inundação, planícies alveolares e terraços fluviais com declividades entre 0 e 6% compreendendo sedimentos argilosos, arenosos, cascalhentos e siltosos do Holoceno com solos Gleissolos Háplicos Distróficos Relevos em morros residuais de topos convexos com vales profundos e vertentes com declividades entre 6 e 30% esculpidos em riolitos, dacitos, andesitos e ignimbritos do Grupo Iriri e granitos, granófiros e microgranitos do Granito Teles Pires, com Neossolos Litólicos Distróficos Superfícies rebaixadas entre morros Relevos em cristas e escarpas alinhadas com vales profundos de seccionamento e vertentes com declividades entre 6 e 30% esculpidos em arenitos, quartzitos, ortoquartzitos, metassiltitos, metafolhelhos e ardósias do Grupo Beneficente e com Neossolos Litólicos Distróficos Relevos em colinas tabulares de topos planos e superfícies de patamares estruturais com vales de seccionamento e vertentes com declividade entre 0 e 12% esculpidos em metassiltitos, metafolhelhos e ardósias do Grupo Beneficente com Neossolos Litólicos Distróficos Relevos em depressões dissecadas com vales largos e estruturais e de vertentes com declividades entre 0 e 6% esculpidos em metassiltitos, metafolhelhos e ardósias do Grupo Beneficente com Latossolos Vermelho-Amarelo Distróficos O domínio morfoestrutural da Plataforma Exposta do Sul da Amazônica apresenta na região como morfoescultura a Depressão do Norte do Mato Grosso, que se compõe de distintas unidades morfológicas caracterizadas por relevos em colinas de formas diversas e por relevos em planícies de

inundação. Essa superfície rebaixada apresenta-se interrompida por relevos residuais, o que torna possível identificar um nível topográfico acima de 250m de altitude. Verificou-se, assim, no Parque a ocorrência de morfoestruturas intrusivas representadas pela unidade morfológica dos Morros Residuais do Interflúvio Juruena-Aripuanã, que incluem morros residuais de topos convexos e vales profundos com declividades entre 20 e 30% e as superfícies rebaixadas entre morros. Tais formas de relevo encontram-se esculpidas em riolitos, dacitos, adesitos, siltitos, folhelhos e ignimbritos do Grupo Iriri e em granitos, granófiros e microgranitos do Grupo Teles Pires. A estrutura litológica e o nível topográfico fazem com que ocorra como cobertura pedológica predominante o Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico. A imagem de satélite demonstra como feição principal, considerado como um nível topográfico superior, a faixa de dobramento representada por estruturas sinclinais e anticlinais realçadas, orientada no sentido NO-SE. Destaca-se assim, o estabelecimento de uma superfície aplainada onde predominam litologias do Grupo Beneficente, que incluem metafolhelhos, metasiltitos e metarenitos. Caracterizada como morfoestrutura do Cinturão Orogênico, sua unidade morfológica no Parque corresponde às Serras Residuais Apiacás-Teles Pires. A resistência aos processos erosivos dessas rochas ocasionou formas de relevo compostas por cristas escarpadas alinhadas, vales profundos de seccionamento e alguns morros residuais com topos convexos. As vertentes dessas formas de relevo, muitas vezes, apresentam declividades superiores a 30%. Pedologia Verificou-se que a distribuição dos solos na região do PEIJ ocorre conforme associações pedológicas. O Quadro 2 apresenta as classes de solos e as associações encontradas na região do Parque. A caracterização dos solos da região do Parque baseou-se na classificação de solos proposta pela EMBRAPA (1999). A distribuição espacial dessa temática está expressa no Mapa 4. Assim, é possível afirmar que as tipologias de solos possuem seus condicionantes atrelados à litologia e à compartimentação topográfica.

Quadro 2: Classes e associações pedológicas da região do Parque Estadual Igarapés do Juruena, Mato Grosso Sigla Classes e associações de solos LVAd1 Latossolo Vermelho-Amarelho Distrófico, text. arg. E Latossolo Vermelho Distrófico, text. Média LVAd2 Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, text. arg. e Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb. LVAd3 Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, text. média e Neossolos Quartzarênicos Distróficos PVAd1 Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. arg. PVAd2 Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. arg. e Neossolos Litólicos Distróficos, tb, text. indiscr. PVAd3 Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. arg. e Neossolos Litólicos Distróficos, tb, text. arg. PVAd4 Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. arg., Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, text. arg. e (RLd) Neossolos Litólicos Distrófico, tb, text. indiscr. RLd1 Neossolos Litólicos Distróficos, tb, text. média, e Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. média e Afloramentos Rochosos RLd2 Neossolos Litólicos Distróficos, tb, text. indiscr. e Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico, tb, text. arg. e Afloramentos Rochosos RQ9 Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos GXvd Gleissolo Háplico Distrófico Tb tb argila de atividade baixa; text. arg. textura argilosos; e text. indiscr. textura indiscriminada. As maiores altitudes da região, que correspondem à faixa de dobramento e aos morros residuais, possuíram distribuição pedológica representada por associações de Neossolo Litólico Distrófico com Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico ou com Afloramentos Rochosos. As superfícies rebaixadas, onde predominam as coberturas sedimentares argilosas e argilo-arenosas, apresentaram coberturas pedológicas composta por associações de Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico com Latossolo Vermelho, com Argissolo e com Neossolos Quartzarênicos Distróficos. Os Argissolos Vermelho-Amarelo Distrófico localizam-se, predominantemente, ao sul do Parque e nas áreas adjacentes à faixa de dobramento e aos morros residuais. Nas partes elevadas das serras alinhadas e do domo de Sucunduri, que correspondem a litologias compostas por metafolhelhos, metassiltitos, arenitos e metarenitos, verificou-se a ocorrência de Neossolo Quartzarênico Hidromórfico. Já o Gleissolo Háplico Distrófico ocorre nas planícies de inundação dos principais cursos d água da região, logo, possuem litologia associada aos sedimentos holocênicos argilosos, arenosos, cascalhentos e siltosos dos depósitos fluviais. Conclusões A caracterização dos aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos por meio da interpretação de composição de bandas espectrais das imagens do satélite LANSAT5, dos levantamentos de campo e da bibliografia disponível, mostrou-se muito adequada e permitiu aferir importantes resultados para a região. Verificou-se a importante participação das estruturas dobradas na configuração do modelado

do relevo da região do Parque, representadas por cristas e escarpas alinhadas que sugerem a ocorrência de uma superfície aplainada. Esse setor apresenta distintas características litológicas e pedológicas que condicionam um maior grau de suscetibilidade aos processos erosivos.

Mapa 2: Unidades Litoestratigráficas do Parque Estadual Igarapés do Juruena, Mato Grosso

Mapa 3: Unidades de Relevo do Parque Estadual Igarapés do Juruena, Mato Grosso

Mapa 4: Pedológico do Parque Estadual Igarapés do Juruena, Mato Grosso

Referências bibliográficas ALMEIDA, F. F. M de; NOGUEIRA FILHO, J. do V. Reconhecimento Geológico do Rio Aripuanã. DNPM, 1959. Boletim da Divisão de Geologia Mineral: 1-43. EMBRAPA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: EMBRAPA, 1999. 412 pp.: il. CPRM COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do Brasil: Texto, Mapas e SIG. Brasília: CPRM, 2003. 692 pp. SCHOBBENHAUS FILHO, C.; CAMPOS, D. A. A Evolução da Plataforma Sul-Americana no Brasil e suas principais concentrações minerais. In: SCHOBBENHAUS FILHO, et al. (coord.) Geologia do Brasil, texto explicativo do mapa geológico do Brasil e da área oceânica adjacente incluindo depósitos minerais, escala 1: 2.500.000. Brasília: Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), 1984. p. 9-53. ROSS, J. L. S. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da Taxonomia do Relevo. Revista do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, São Paulo, n. 6, 1992.