SEBENTA PROCESSO EXECUTIVO

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Transcrição:

SEBENTA PROCESSO EXECUTIVO 1

Conteúdo 1ª PARTE... 5 I CONSIDERAÇÕES GERAIS... 5 II INTRODUÇÃO... 6 III NOÇÃO DE ACÇÃO EXECUTIVA... 6 1. Natureza da Acção Executiva:... 7 2. Tipos de Acções Executivas quanto ao Fim e quanto à Forma:... 8 IV PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO EXECUTIVO... 10 1. Princípio do Contraditório:... 11 2. Princípio da Igualdade ou da Equiparação das Partes:... 11 3. Princípio do Direito à Execução em Prazo Razoável (Cfr. art. 2º, nº1)... 12 4. Princípio do Dispositivo:... 12 5. Princípio do Inquisitório:... 12 6. Princípio da cooperação:... 13 V OS INTERVENIENTES NA ACÇÃO EXECUTIVA... 13 1. Os Juízos de Execução e o Juiz de Execução:... 14 2. O agente de execução:... 16 VI PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS... 23 1. Os Pressupostos Específicos da Acção Executiva:... 23 2. A Certeza, Exegibilidade e Liquidez da Obrigação Exequenda:... 34 3. A exigibilidade da obrigação:... 38 4. Consequências da incerteza ou inexigibilidade... 41 5. A liquidez da Obrigação:... 41 6. O Concurso de Títulos Executivos ou Cumulação de Execuções:... 47 7. Os Pressupostos Processuais Gerais da Acção Executiva:... 50 8. O Patrocinio Judiciário:... 62 2ª PARTE A TRAMITAÇÃO PROCESSUAL DO PROCESSO EXECUTIVO COMUM PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA... 65 I INTRODUÇÃO... 65 II A FASE INICIAL OU INTRODUTÓRIA.... 66 1. O requerimento inicial:... 66 2. A recusa do requerimento executivo:... 71 III A INTERVENÇÃO DO JUIZ E O DESPACHO LIMINAR:... 74 1. Casos em que há despacho liminar... 75 2. A Citação Prévia do Executado, sem necessidade de despacho do juiz:... 78 3. Dispensa de Despacho Liminar sem Citação Prévia:... 79 IV A CITAÇÃO:... 82 1. Distinção entre Citação e Notificação:... 83 2. Modalidades da citação:... 85 3. Efeitos da citação:... 93 V A FASE DA OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO:... 95 1. 1. Fundamentos da Oposição à Execução... 96 2. 2. Prazo para a dedução da oposição à execução:... 100 3. 3. Tramitação processual da oposição à execução:... 101 4. 4. Efeitos da oposição à execução na tramitação da execução:... 103 5. 5. Efeitos da decisão da oposição na acção executiva:... 105 6. 6. A responsabilidade do exequente... 105 2

VI VI A PENHORA:... 106 1. 1. Noção e Função da Penhora:... 106 2. 2. Diferença entre a Penhora e o Arresto:... 107 3. 3. O objecto da penhora:... 107 4. Casos de Impenhorabilidade:... 108 5. A execução de bens de terceiros:... 113 6. A Tramitação Processual da Penhora:... 119 7. Bens sobre que pode incidir a penhora:... 128 8. O Registo da Penhora:... 150 9. Prazo para efectivação da penhora:... 151 10. Substituição e reforço da penhora:... 151 11. Efeitos da penhora:... 152 12. A oposição à penhora:... 153 VII CITAÇÕES, CONVOCAÇÃO E CONCURSO DE CREDORES:... 159 1. A citação dos intervenientes na acção executiva:... 159 2. A citação do executado:... 159 3. A citação do cônjuge do executado e sua posição nesta fase:... 160 4. A Citação dos credores:... 162 VIII A ACÇÃO DE VERIFICAÇÃO E GRADUAÇÃO DE CRÉDITOS:... 167 1. Os articulados:... 167 2. Verificação dos créditos:... 168 3. A graduação de créditos:... 169 IX A VENDA EXECUTIVA:... 170 1. A venda mediante proposta em carta fechada:... 171 2. A venda por negociação particular:... 175 3. A venda em bolsas:... 176 4. A venda directa:... 176 5. A venda em estabelecimentos de leilões:... 177 6. A venda em depósito público ou equiparado:... 177 7. A venda em leilão electrónico:... 178 8. O Direito de Remição:... 178 9. Efeitos da Venda Executiva:... 179 10. A Anulação da Venda Executiva:... 180 X OUTROS MEIOS PARA ATINGIR A SATISFAÇÃO DA OBRIGAÇÃO EXEQUENDA:... 182 1. A Adjudicação de Bens:... 182 2. Consignação de Rendimentos:... 184 3. Pagamento em prestações:... 185 XI EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO:... 186 1. Causas:... 186 2. Extinção da obrigação:... 186 3. A anulação da execução:... 187 XII RENOVAÇÃO DA EXECUÇÃO:... 187 1. Por iniciativa do exequente, para cobrança coerciva de prestações vincendas (Cfr. art. 920º nº1):.. 187 2. Por iniciativa dum credor que pretenda prosseguir com a execução (Cfr. art. 920º nº2, 3, e 4):... 188 3ª PARTE O PROCESSO DE EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA CERTA... 189 1. Características deste tipo de acção:... 189 2. Tramitação processual:... 190 4ª PARTE O PROCESSO DE EXECUÇÃO COMUM PARA PRESTAÇÃO DE FACTO... 195 3

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1ª PARTE I CONSIDERAÇÕES GERAIS No estudo do processo executivo deve ter se em atenção as seguintes disposições legais, que o regulamentam: A) As normas próprias da acção executiva. B) As normas constantes da parte geral e comum do Código de processo Civil. C) Na falta das normas próprias e comuns, aplica se ao processo comum de execução, subsidiariamente, as normas próprias da acção declarativa (art. 466º, nº1 do C.P.C.). Quanto às normas próprias da acção executiva, vigoram as seguintes disposições legais, todas do C.P.C.: art. 45º a 60º (pressupostos específicos da acção executiva) art. 90º a 95º (pressupostos relativos à competência do tribunal) art. 801º a 943º (tramitação das várias formas do processo executivo). 5 Processo comum Ordinário Declarativo Sumário Sumaríssimo Pagamento de quantia certa Executivo Entrega de coisa certa Prestação de facto Processo especial O processo executivo integra se na classificação do processo comum. Porém, existem processos especiais que têm uma natureza essencialmente executiva. Alguns desses processos executivos especiais encontram se previstos no C.P.C., tal como o processo de execução por alimentos (Cfr. art. 1118º e segs.). Outros, em número apreciável, constam de legislação avulsa, fora do C.P.C., como acontece com a execução por custas (Cfr. art. 116º e segs. do C.C.J.) e o processo de insolvência (Cfr. art. 149.º e segs. do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas).

II INTRODUÇÃO Sabemos que as providências que se podem pedir e obter do tribunal são de 3 tipos: a) Acção em que se pretende obter a declaração da existência de um direito (acção declarativa); b) Acção que se destina a acautelar certo direito, contra o perigo que o ameaça (procedimento cautelar); c) Acção que se destina a obter a reparação efectiva e coerciva do direito violado, direito este que já está previamente, declarado: ou numa decisão judicial emergente de acção declarativa anterior; ou consubstanciado num documento (o título) com força probatória bastante para tornar desnecessária a sua declaração judicial prévia (acção executiva) (Cfr. art. 2º, nº2 e 46º do C.P.C.) Diversamente do que acontece na acção declarativa, a acção executiva tem por finalidade a reparação efectiva do direito violado. Não se trata já de declarar o direito. Tratase, sim, de providenciar pela reparação efectiva, integral e coerciva do direito do exequente, mediante o desencadear do mecanismo da garantia. 6 Assim, o objecto de estudo desta disciplina visa responder às seguintes questões: Quais os direitos reparáveis por via da acção executiva? Como tem lugar essa reparação? III NOÇÃO DE ACÇÃO EXECUTIVA A definição legal de acções executivas consta do artigo 4º, nº 3, nos termos do qual são acções executivas aquelas em que o autor requer as providências adequadas à reparação efectiva do direito violado. Desta definição legal, importa fazer as seguintes considerações: A acção executiva destina se a fazer valer direitos que envolvem o poder de exigir de outrem uma certa conduta. Porém, existem direitos que não são susceptíveis de se fazer valer através da acção executiva.

Exemplo: uma sentença de divórcio não é susceptível de ser executada por qualquer forma. Isto porque a sentença de divórcio limita se a decretar a dissolução do casamento, não exigindo do réu qualquer conduta para esse efeito. A «realização coerciva» do direito violado mencionada no art. 2º, nº 2 significa realizar pela força, se necessário, a conduta destinada a reparar o direito violado (Cfr. art. 840º e 850º). Neste caso, o tribunal substitui se ao devedor a fim de proporcionar ao credor a reparação do seu direito. A expressão reparação efectiva significa simultâneamente duas coisas: 1º A obrigação de indemnizar pela violação do direito (como acontece quando o exequente peticiona juros de mora, por exemplo). 2º A realização efectiva do direito violado, que tanto pode ser: a entrega da coisa ou quantia devida. a prestação de facto por outrem, a prestação de um benefício equivalente. O direito que se pretende fazer valer na acção executiva deve encontrar se previamente declarado num título. 7 Assim, podemos concluir que a acção executiva é aquela que tem por fim efectivar coercivamente a realização de uma prestação estabelecida num título executivo ou, caso essa efectivação não seja possível, a substituição da prestação devida por um benefício equivalente, à custa do património do devedor. 1. Natureza da Acção Executiva: Ao regulamentar a acção executiva, o legislador tem que levar em consideração os vários interesses em jogo e procurar uma composição equilibrada entre os interesses que se opõem, nomeadamente dos interesses do executado, do exequente, de outros credores, de terceiros, etc. Existem 3 sistemas principais, quanto à natureza da acção executiva: 1.1. Execução individual Aqui a acção desenvolve se apenas entre o exequente e o executado, e são normalmente apreendidos os bens necessários para satisfazer o interesse do exequente.

1.2. Execução universal A execução abrange todo o património do devedor, e são chamados ao processo executivo todos os credores do executado, como acontece no nosso ordenamento jurídico quanto ao processo especial de insolvência. 1.3. Execução mista ou concursal A execução abrange apenas os bens indispensáveis ao pagamento do credor e não todo o património do devedor, e os restantes credores só podem intervir desde que os seus créditos obedeçam a certos requisitos. Exemplo: se o bem penhorado diz respeito a imóvel em relação ao qual, outro credor estranho à execução, tem uma garantia real. A execução mista é o sistema acolhido pela lei portuguesa quanto à execução comum (Cfr. art. 821º, nº3, 834º nº1 e 864º). 2. Tipos de Acções Executivas quanto ao Fim e quanto à Forma: A lei distingue duas espécies de acções executivas, consoante o fim a que as mesmas se destinam ou de acordo com a forma do processo que lhes são aplicáveis. Temos assim os critérios do fim e da forma. 8 A) Quanto ao fim da acção executiva, prevê o art. 45º, nº2 que a acção executiva pode ser para pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa e prestação de facto. 2.1. Execução para Pagamento de Quantia Certa: Aqui o exequente pretende obter o cumprimento de uma obrigação pecuniária, através da apreensão de bens do executado, que são posteriormente vendidos, revertendo o produto da venda a favor do exequente, até ao montante do seu crédito. Porém, o pagamento aos credores não necessita de se processar através da venda de bens. Com efeito, existem outras formas de se satisfazer o crédito do exequente, a saber: (Cfr. art. 872º). Adjudicação: os bens podem ser atribuídos definitivamente ao credor o qual, com a sua entrega, se considera ressarcido (Cfr. art. 875º, nº1) Consignação de rendimentos: os rendimentos desses bens são atribuídos ao credor, durante o período de tempo necessário ao reembolso do seu crédito (Cfr. art. 879º, nº1). Entrega de dinheiro ao exequente (Cfr. art. 874º).

2.2. Execução para Entrega de Coisa Certa: Se o direito do exequente consiste na entrega de coisa determinada, o tribunal irá apreender ao executado essa coisa e, seguidamente, procederá à sua entrega ao exequente. Se a coisa cuja entrega se requer não for encontrada no património do executado, a lei permite que o exequente calcule o valor da mesma, bem como o valor dos prejuízos resultantes da falta da sua entrega, seguindo se depois a penhora e venda dos bens do executado, suficientes para pagamento da importância apurada (Cfr. art. 931º, nº1, nº2). É aquilo a que se chama execução por equivalente ou substituição. 2.3. Execução para Prestação de Facto (positivo ou negativo): Aqui importará distinguir as prestações de facto fungíveis (aquelas em que o devedor pode fazer se substituir por outra pessoa no cumprimento da obrigação assumida art. 207º C.C.) das infungíveis (se no cumprimento da obrigação em causa o devedor não puder fazerse substituir por outra pessoa, com satisfação do interesse do credor). Se a prestação é infungível e não tendo sido voluntariamente prestada pelo devedor, dá se a extinção dessa obrigação porque o credor não pode obter a sua execução forçada. Porém, neste caso nasce em seu lugar uma obrigação pecuniária, podendo o credor ser: Indemnizado pelos danos decorrentes do incumprimento; 9 Requerer que o devedor seja condenado ao pagamento de uma quantia por cada dia de atraso no cumprimento, quantia esta que será fixada segundo critérios de razoabilidade e que se destina, em partes iguais, ao credor e ao Estado Sanção pecuniária compulsória (Cfr. art. 829º A do C. Civil) Se a prestação de facto que se pretende for fungível, o exequente pode requerer que o facto seja prestado por outrem, à custa do património do devedor (Cfr. art. 828º do C.C.) Nestas situações, a venda e penhora de bens serve, afinal, para custear a prestação de facto por terceiro (Cfr. art. 933º, nº1). B) Quanto à forma a lei distingue entre processo comum e processo especial, sendo o processo especial aplicável aos casos em relação aos quais a lei prevê uma tramitação processual própria e específica, e o processo comum aplicável a todos os restantes (Cfr. art. 460º). 1. No âmbito do processo comum de execução, a lei prevê agora uma forma única, nos termos do disposto no art. 465.º (desaparece assim a classificação da acção executiva em processo ordinário e processo sumário).

2. Os processos executivos especiais, para os quais a lei prevê uma tramitação processual específica são, entre outros, a execução especial por alimentos (art.1118º a 1121º A do C.P.C.) e a execução por custas (Cfr. art. 35.º e segs. do Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo DL n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro). IV PRINCIPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO EXECUTIVO Como vimos, a acção executiva destina se à realização coerciva do direito violado, uma vez que esse direito já está pré definido no título. Por isso, neste tipo de acção já não existe, como na acção declarativa, um estado de dúvida no tocante à existência do direito, o qual se presume. Presume se, com um razoável grau de certeza, que o direito existe. E por isso, é a tutela dos direitos do exequente que a lei mais protege. Isso leva a que, na acção executiva propriamente dita, não haja lugar a audiência preliminar, despacho saneador, produção de prova, julgamento da matéria de facto e de direito, nem caso julgado. Do que aqui se trata é de proceder a diversas operações, com vista à tutela do direito do exequente. 10 É por este motivo que alguns dos princípios fundamentais do processo civil declarativo não têm aqui qualquer expressão ou vêm a sua eficácia bastante reduzida. A acção executiva propriamente dita traduz se exclusivamente na prática de determinadas operações ou actos tendentes a realizar efectiva, integral e coercivamente o direito violado (art. 4º, nº3). Trata se da reparação efectiva do direito violado e não de declarar o direito, de apreciar se ele existe ou não na esfera jurídica do seu titular. Presume se com razoável grau de certeza, que o mesmo existe da forma como está consubstanciado no título que o representa. Porém, a acção executiva comporta apensos ou excertos de natureza declarativa. Na verdade, a par da execução própriamente dita, podem ser suscitadas diversas questões processuais de natureza declarativa, que impõem a alegação e prova de factos. Exemplo: A liquidação da obrigação exequenda, quando não dependa de simples cálculo aritmético, a oposição à execução ou à penhora, a dedução embargos de terceiro, etc.

E na sequência destes apensos que podem ter lugar na acção executiva, abre se nela uma fase declarativa, tendente a apurar a existência ou inexistência de determinado direito. E nos apensos de natureza declarativa que a acção executiva comporta, os princípios gerais do processo civil têm plena aplicação. Assim, a análise agora efectuada, refere se apenas à expressão de alguns princípios no âmbito da acção executiva propriamente dita. 1. Princípio do Contraditório: Segundo este princípio cada uma das partes é chamada a deduzir as suas razões, a oferecer as suas provas e a controlar as provas apresentadas pela parte contrária. No entanto este princípio tem uma presença muito limitada na acção executiva propriamente dita e manifesta se no poder que o executado tem de: requerer a substituição dos bens penhorados por outros que igualmente assegurem os fins da execução (Cfr. art. 834º nº3 alínea a); na possibilidade que o executado tem de requerer ao tribunal o levantamento da penhora se, por negligência do exequente, a execução estiver parada nos 6 meses anteriores ao seu requerimento (art. 847º); na audiência do executado, relativamente à escolha da modalidade de venda judicial de bens penhorados (art.886º A nº1). 11 Daqui se conclui que o princípio do contraditório só se encontra plenamente assegurado nos apensos declarativos que a acção executiva comporta. 2. Princípio da Igualdade ou da Equiparação das Partes: Segundo este princípio, o processo deve assegurar o equilíbrio entre as partes ao longo das suas diversas fases, de forma a que ambas tenham os mesmos meios à sua disposição para litigar. Mas vimos que o processo executivo é um conjunto de operações materiais e jurídicas, destinadas a reparar efectiva e coercivamente o direito violado, o qual se encontra pré definido num título. Daqui decorre que, no processo executivo, a posição do executado é substancialmente mais desfavorável que a posição do exequente.

3. Princípio do Direito à Execução em Prazo Razoável (Cfr. art. 2º, nº1) Este princípio surgiu com a revisão do C.P.C. operada pelo DL nº 329/95, de 12 de Dezembro, revestindo se de particular importância na acção executiva. Com efeito, tratando se neste tipo de acções de satisfazer o direito do exequente à custa do património do devedor, este poderá ser tentado a dissipar os bens que possui, a fim de impedir ou dificultar a realização efectiva do direito violado, caso as providências executivas não sejam ordenadas em tempo razoável. 4. Princípio do Dispositivo: Segundo este princípio, as partes dispõem do processo de acordo com o princípio da autonomia da vontade, sendo os interesses em jogo regulamentados por acto dos próprios titulares. Aqui, o juiz é remetido para o papel de árbitro, cabendo ao autor impulsionar o processo, delimitar o seu objecto, e requerer ao juiz todas as diligências que se lhe afiguram necessárias à satisfação do seu direito. Este princípio tem plena aplicação no processo executivo, sendo certo que, considerando o actual papel do agente de execução no processo executivo, os actos que dependem do impulso processual das partes é agora muito limitado, conforme se verá. 12 5. Princípio do Inquisitório: Segundo este princípio, o juiz tem o poder dever de realizar ou ordenar oficiosamente a prática de actos tendentes ao apuramento da verdade material, providenciar pelo andamento regular do processo, suprir a falta de pressupostos processuais, etc. Uma vez que na acção executiva trata se fundamentalmente de praticar uma série de operações (actos jurídicos), o princípio do inquisitório tem grande amplitude. É o juiz que controla a legalidade de todos os actos praticados no processo. No entanto, a reforma da acção executiva operada pelo DL 38/2003, de 8 de Março, e as recentes alterações a ela introduzidas pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro destinaram se a permitir que muitas das diligências até ali ordenadas e controladas pelo juiz, passassem a ser da competência de outros intervenientes processuais, nomeadamente do agente de execução. Tal medida visou retirar da competência dos magistrados muitos actos processuais que, na perspectiva do legislador, não justificam a intervenção do juiz, por não se traduzirem

em actos verdadeiramente jurisdicionais, que exijam conhecimentos específicos daqueles. É por isso que, agora, o juiz de execução tem uma intervenção provocada no processo, devendo o agente de execução suscitá la sempre que a mesma seja necessária, como se verá. Com tal medida, visou se igualmente imprimir maior celeridade e simplificação do processo executivo. Em suma, deu se aquilo a que a doutrina chama de desjurisdicionalização da acção executiva. 6. Princípio da cooperação: Este princípio também se reveste de extrema importância no processo executivo, valendo aqui as considerações tecidas a propósito do princípio do direito à execução em tempo razoável (Cfr. art. 266º nº1). No entanto, no âmbito da acção executiva tal princípio foi reforçado (Cfr. art. 833º B nº 4 e 7), uma vez que nesta a tendência natural é a do executado ocultar os seus bens de forma a evitar a penhora. Assim, caso se confirme que o executado tinha bens penhoráveis, não tendo ele feito qualquer declaração nesse sentido depois de para tanto notificado, ou tendo feito falsas declarações de que tenha resultado o não apuramento de bens suficientes para satisfação da obrigação exequenda, fica ele sujeito a uma sanção pecuniária compulsória no valor de 5% ao mês sobre a dívida, a calcular desde a data da omissão até ao momento da descoberta dos bens, com o limite mínimo de mil euros. 13 V OS INTERVENIENTES NA ACÇÃO EXECUTIVA Nas acções executivas não há, em princípio, discussão sobre matérias de direito uma vez que o credor já dispõe de um documento que prova, com um razoável grau de certeza, a existência do seu crédito. Assim, na maior parte dos casos, trata se apenas de obter o pagamento de uma dívida, normalmente através da penhora de bens do devedor, sendo esses bens posteriormente vendidos. A reforma introduzida pelo DL 38/2003, de 8 de Março, posteriormente reforçada pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro, teve como principal objectivo desjurisdicionalizar a acção executiva, reservando a intervenção do juiz para os casos em que entre as partes há

um verdadeiro litígio. Os tribunais ficam assim libertos para a sua verdadeira função, que é a de julgar, e não a de dar soluções a problemas que nenhuma controvérsia suscitam. Desta forma, e para atingir tais objectivos, procedeu se a alterações profundas na organização do sistema judicial quanto às execuções. Tais alterações, ocorridas em diversos âmbitos, introduziram novos intervenientes na acção executiva, designadamente as figuras do juiz de execução e do agente de execução, bem como a criação de juízos de competência específica, ou seja, os juízos de execução. Foi igualmente criado um registo informático de execuções, que se reveste de particular importância. Vejamos cada uma destas figuras: 1. Os Juízos de Execução e o Juiz de Execução: Nos termos do disposto no art. 126.º, da Lei n.º3/99, de 13 de Janeiro, agora revogada e substituída pela Lei n.º52/2008, de 28 de Agosto (Cfr. artigo 126.º) foram criados os Juízos de Execução, que são Tribunais de competência especializada e cujas funções se encontram determinadas no art.126.º da Lei 52/2008. Tais juízos de execução apenas foram concretamente instituídos nas comarcas onde o volume de acções executivas é de molde a justificar a sua implementação. 14 Assim, seja no âmbito dos juízos de execução, enquanto tribunais de competência especializada, seja nos tribunais de competência genérica, nos termos do disposto no art. 110.º, n.º 2 alínea b) da Lei 52/2008, ao juiz da execução compete supervisionar a acção executiva e resolver todos litígios que, no âmbito desta, possam surgir. Após a publicação do DL n.º38/2003, de 8 de Março, o juiz deixou de ter a direcção do processo executivo, deixando também de ter o dever de promover as respectivas diligências, as quais passaram para o âmbito da competência do agente de execução. Aquele poder do juiz foi substituído pelo poder geral de controlo do processo, estabelecendo se ainda os actos que expressamente lhe cabiam no âmbito da competência de reserva jurisdicional. O novo regime introduzido pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro suprime o poder geral de controlo do processo por parte do juiz, o qual fica circunscrito aos casos de reserva de jurisdição. Nos demais casos, o juiz apenas intervém quando seja expressamente provocada a sua intervenção, quer pelo agente de execução, quer pelas partes.

Esta opção legislativa enquadra se e compreende se no âmbito do movimento de desjurisdicionalização da justiça, em particular do processo executivo, que o legislador iniciou em 2003, com o DL n.º 38/2003. Assim, a principal regra da reforma do processo executivo introduzida pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro, consiste em reforçar as competências do agente de execução, tendo o juiz uma intervenção residual e provocada. Não obstante, entende se que o poder geral de controlo do juiz se mantém por força do disposto no art. 265.º do C.P.C., o qual consagra o princípio geral do poder de direcção do processo a cargo do juiz, princípio este aplicável a todas as formas de processo, designadamente ao executivo. O art. 809º do C.P.C. prevê quais as funções concretas do juiz de execução. Cabe lhe proferir despacho liminar sobre a acção executiva, logo que a mesma seja apresentada em tribunal mediante a entrega do requerimento executivo, despacho este que pode ser de indeferimento, de aperfeiçoamento, de citação ou de penhora. Porém, nem em todas as acções este despacho tem lugar, como se verá. É também ao juiz de execução que compete julgar a oposição à execução e à penhora, eventualmente deduzida pelo executado, bem como verificar e graduar os créditos reclamados. 15 Ao juiz cabe igualmente julgar a reclamação de acto de agente de execução, no prazo máximo de dez dias. Por fim, compete também ao juiz de execução decidir todas as questões suscitadas pelo agente de execução, pelas partes (exequente, executado, credores reclamantes, cônjuge do executado), por terceiros intervenientes (depositário, encarregado de venda) no prazo máximo de 5 dias. Note se porém que, quando o juiz considere que o requerimento é manifestamente infundado, pode o requerente ser condenado em multa, incluindo o agente de execução (Cfr. nº2 e3 do art. 809º). Este normativo é claramente revelador da forte intenção do legislador no sentido de desjurisdicionalizar a acção executiva, procurando reduzir ao máximo a intervenção do juiz neste tipo de processos, desincentivando o agente de execução e as partes de provocar a sua intervenção. No entanto, da análise do art. 808º constatamos que, para além das intervenções do juiz acima referidas, outras há que se encontram especificamente estabelecidas na lei, como acontece nos seguintes casos:

Sempre que seja necessário o recurso à força pública, nomeadamente para tomada de posse de imóvel penhorado, ou de bem móvel a penhorar, cabe ao juiz requisitá la (Cfr. art. 840º, 848º nº3 e 850º nº1); O registo provisório da penhora não impede, em determinadas circunstâncias, o prosseguimento da execução, mas o juiz pode decidir o contrário, se a questão lhe for suscitada, nos termos do disposto no art. 838º nº4. Cabe igualmente ao juiz decidir sobre o modo de exploração dos bens penhorados, na falta de acordo entre o exequente e executado (Cfr. art. 843º nº2). Quando, no âmbito da venda executiva de bens imóveis, se utiliza a venda por meio de proposta em carta fechada, o acto de abertura e aceitação das propostas é presidido pelo juiz (Cfr. art. 876º nº3 e 893º nº1), cabendo lhe igualmente decidir sobre a venda, pelo mesmo meio, do estabelecimento comercial (Cfr. art. 876º nº3 e 901º A nº2). Ao juiz cabe nomear o agente de execução como encarregado de venda por negociação particular nas circunstâncias do art. 905º nº2. Só ao juiz cabe decidir sobre a anulação da venda (Cfr. art. 908º nº2). De referir que, prosseguindo uma tendência fortemente desjurisdicionalizadora, o juiz deixa de proferir sentença de extinção da execução, a qual se dá automaticamente, ope legis, nos termos e condições previstas no disposto no art. 919º, sem necessidade de intervenção judicial ou da secretaria (n.º3). 16 Finalmente, e como consequência do sistema de tipificação das intervenções do juiz, concluí se que não pertencem ao juiz, mas em regra ao agente de execução, quaisquer competências decorrentes da tramitação do processo executivo, que lhe não estejam expressa ou especificadamente reservadas. 2. O agente de execução: Foi criada a figura do agente de execução que assegura o andamento regular do processo, em substituição do juiz. Aliás, em bom rigor, as funções agora confiadas ao agente de execução correspondem à prática de actos que, antes da reforma introduzida pelo DL 38/2003 de 8 de Março, eram da responsabilidade do juiz, das partes ou dos funcionários judiciais. O agente de execução será um solicitador ou um advogado, sujeito a uma selecção e formação específica para o desempenho das funções que nesta qualidade lhe são atribuídas,

bem como a um estatuto deontológico e disciplinar próprio e a quem são atribuídos poderes públicos de autoridade no âmbito da acção executiva. Na verdade, o agente de execução está sujeito a um regime de impedimentos, como os juizes, os peritos e os funcionários da secretaria (Cfr. art. 121º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores aprovado pelo DL nº 88/2003, de 26 de Abril, com as alterações introduzidas pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro) e a algumas incompatibilidades (Cfr. art. 120º do mesmo estatuto). Por outro lado, o agente de execução pratica actos verdadeiramente executivos no âmbito do processo: logo, exerce poderes de autoridade. Daí que, apesar de poder promover a realização de diligências por empregado forense ao seu serviço, devidamente credenciado pela Câmara dos Solicitadores nos termos do disposto no nº4 do art. 161º, tais diligências não podem constituir acto de penhora, venda, pagamento ou outro de natureza executiva, pois os poderes de autoridade não são delegáveis, a não ser em outro agente de execução para diligências a efectuar fora da área da Comarca e suas limítrofes ou da área metropolitana de Lisboa e do Porto (Cfr. art. 808º nº 8 e 10). As funções de agente de execução são desempenhadas por agente de execução designado pelo exequente de entre os inscritos em qualquer comarca (Cfr. art. 808º n3). Não tendo o exequente designado agente de execução, são essas funções desempenhadas por agente de execução designado pela secretaria, nos termos do art. 811.º A, de entre os inscritos na comarca e nas comarcas limítrofes ou, na sua falta, de entre os inscritos em outra comarca do mesmo círculo judicial; não havendo agente de execução inscrito no círculo ou ocorrendo outra causa de impossibilidade, são as funções de agente de execução desempenhas por oficial de justiça, determinado segundo as regras da distribuição (Cfr.art. 808.º, n.º4 segunda parte). 17 Quando o agente de execução pratique as diligências que lhe são cometidas junto do executado, de organismos oficiais ou de terceiros deve identifica se nos termos do art. 6.ºda Portaria n.º 331 B/09, de 30 de Março (Cfr. art. 808º nº11): Quanto aos actos processuais que ao agente de execução competem, prescreve o nº1 do art. 808º que cabe ao agente de execução, salvo quando a lei determine o contrário, efectuar todas as diligências de execução, incluindo, nos termos de portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça, as citações, notificações e publicações. Como acima já foi dito, dos actos que o processo executivo comporta, cabe exclusivamente ao juiz os seguintes:

1. Proferir despacho liminar, quando o mesmo deva ter lugar, nos termos do disposto no art. 812º E; 2. Julgar a oposição à execução e à penhora, bem como verificar e graduar os créditos que eventualmente sejam reclamados. 3. Julgar a reclamação de acto do agente de execução. 4. Decidir as questões suscitadas pelo agente de execução, pelas partes ou por terceiros intervenientes. 5. Para além das competências acima enumeradas, cabe ainda ao juiz de execução outras intervenções especificamente estabelecidas na lei. Assim, a intervenção do agente de execução, além de se verificar nos actos discriminados no art. 808º nº1, ocorrerá ainda noutras situações, das quais as mais relevantes são as que a seguir se indicam: Uma vez que na acção executiva deixa de existir, em regra, despacho do juiz ordenando a penhora ou a venda dos bens (salvo no caso referido no artigos 861º A nº1 quanto à penhora dos depósitos bancários), é ao agente de execução que cabe proceder à penhora dos bens do executado que, após consulta do registo informático de execuções e das bases de dados disponíveis, entenda que melhor se adequam ao montante do crédito do exequente (Cfr. art. 821º nº3 e 834º nº1 e 2). Desta forma verifica se que o agente de execução, na penhora de bens, está genericamente condicionado por um princípio de adequação ou proporcionalidade, além da hierarquia que o mesmo deve respeitar prevista no n.º1 do art. 834.º, sem prejuízo da penhora imediata dos bens expressamente identificados pelo exequente no requerimento inicial (Cfr. art. 833.º A, n.º1). 18 O agente de execução também será, em regra, constituído fiel depositário dos bens penhorados (Cfr. art. 848º nº1 e 839º nº1). Ao agente de execução cabe, em regra, decidir sobre a venda dos bens penhorados, ouvidos o exequente, executado e credores com garantia real sobre os bens a vender, bem como determinar a modalidade de venda e fixar o valor base dos bens a vender (Cfr. art.886º A). É o agente de execução que determina a suspensão da instância executiva na sequência do acordo das partes nesse sentido, com vista ao pagamento da quantia exequenda em prestações (Cfr. art. 882.º, n.º1). É o agente de execução que autoriza ou realiza a venda antecipada dos bens penhorados, nos termos do disposto no n.º1 do artigo 886.º C, salvo o disposto no n.º3 do mesmo artigo.

Cabe lhe igualmente presidir à venda quando a mesma deva ser efectuada por meio de proposta em carta fechada. É ao agente de execução que compete emitir o título de transmissão dos bens a favor do adquirente (art. 900º nº1). O agente de execução também pode receber directamente do executado o pagamento da dívida (Cfr. art. 916º nº2) e são à sua ordem feitos os depósitos das rendas em dinheiro do bem penhorado (Cfr. art. 839º nº3), do dinheiro, título de crédito, pedras e metais preciosos apreendidos (Cfr. art. 848º nº4 e 857º nº3) e do produto da venda dos bens penhorados (Cfr. art. 905º nº4 e 906º nº4). Noutras questões, que antes da reforma introduzida pelo DL n.º 226/2008, de 20 de Novembro exigiam a decisão do juiz, foram introduzidos critérios objectivos para a decisão dessas matérias permitindo se, assim, afastar a intervenção jurisdicional e permitir que tais competências sejam agora do agente de execução. É o que acontece na possibilidade de o agente de execução isentar ou reduzir a parte penhorável dos rendimentos do executado, se o agregado familiar do requerente tiver um rendimento compreendido nos valores determinados nos n.ºs 4 e 5 do artigo 824.º; O agente de execução designado pode ser destituído por decisão do órgão com competência disciplinar sobre os agentes de execução (a Comissão para a Eficácia das Execuções Cfr. art. 69.º B e 69.º C, alínea a) do Estatuto da Câmara dos Solicitadores), ou a requerimento do exequente, devendo este invocar a actuação processual dolosa ou negligente ou a violação grave de dever que lhe seja imposto pelo respectivo estatuto (cfr. art. 808º nº6). 19 O exequente poderá, neste caso, designar um agente de execução substituto, no prazo de 20 dias a contar da recepção da notificação de destituição. Caso o não faça dentro deste prazo ou se o agente de execução substituto declarar que não aceita a designação efectuada, a secretaria designará o agente de execução substituto. Nos termos das disposições conjugadas dos art. 129.º, n.º2, do Estatuto da Câmara dos Solicitadores e do art. 9.º, n.º 6, da Portaria n.º 331 B/2009, de 30 de Março, o agente de execução substituto deverá solicitar ao agente de execução destituído a entrega dos seguintes elementos: o arquivo da execução para a qual foi designado; os registos e suportes informáticos de contabilidade, das contas clientes do agente de execução e da execução;

os bens de que o destituído era fiel depositário, na qualidade de agente de execução, penhorados à ordem da execução para a qual tenha sido designado. Tal entrega deverá ocorrer no prazo de 10 dias a contar do pedido de entrega efectuado pelo agente de execução substituto. Caso o agente de execução destituído não proceda à entrega dos referidos elementos dentro deste prazo, a mesma será efectuada pela Comissão para a Eficácia das Execuções. Traduzindo uma verdadeira inovação introduzida pelo DL n.º 226/2008, pode ainda o exequente substituir livremente o agente de execução, apenas se exigindo que o mesmo comunique essa substituição ao tribunal, sem necessidade de qualquer fundamentação (Cfr. art. 808.º, n.º6 e 7). Este será um acto de vontade do exequente, não se exigindo aqui qualquer fundamento, nomeadamente que o agente de execução tenha praticado qualquer acto negligente, doloso ou violador dos seus deveres legais. O modo como seefectua tal substituição encontra se regulado no art. 7.º da Portaria n.º 331 B/, de 30 de Março. Assim, a substituição opera por requerimento remetido electronicamente pelo exequente para o processo, no qual tem obrigatoriamente que designar agente de execução substituto, sob pena de tal substituição não ser atendida. 20 Como já foi referido, o agente de execução deve ser indicado pelo exequente, de entre os inscritos ou registados em qualquer comarca constantes de uma lista formada para o efeito pela Câmara dos Solicitadores (Cfr. art. 808.º, n.º 3). A acção executiva pode implicar, e implica muitas vezes, a prática de actos em comarcas diferentes daquela onde corre a acção. Assim, as diligências que impliquem deslocação para fora da área da comarca onde corre a execução e suas limítrofes, ou da área metropolitana de Lisboa ou Porto, no caso de comarca nela integrada podem ser efectuadas por agente de execução dessa área, mediante solicitação do agente de execução designado e sob sua responsabilidade (Cfr. art. 808º nº8). Nos termos do art. 2º da Lei nº44/91, de 2 8, a Área Metropolitana de Lisboa compreende os concelhos de Alcochete, Almada, Amadora, Azambuja, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Oeiras, Palmela, Sesimbra, Setúbal, Seixal, Sintra e Vila Franca de Xira; a Área Metropolitana do Porto compreende os concelhos de Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa do Varzim, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.

Quanto às competências que ao agente de execução cabem no âmbito de todas as acções (independentemente da espécie e forma de cada uma) são as que respeitam às citações (Cfr. art. 239º), e notificações avulsas (Cfr. art. 261º). Na verdade, dispõe o artigo 239º que, frustrando se a citação por via postal, a citação é efectuada mediante contacto pessoal do agente de execução com o citando, sendo aquele designado pela secretaria de acordo com a escala constante da listagem referida no art. 811º A. No entanto, nos termos do nº8 do art. 239º, pode o autor declarar na petição inicial que pretende que a citação se faça, desde logo, através de agente de execução. Nestes casos, não tem lugar previamente a citação por via postal registada, sendo de imediato promovida a citação pelo agente de execução designado. As formalidades processuais da citação serão adiante explicitadas. Atentas as profundas alterações quanto à competência para a prática de diversos actos processuais a cargo, ora do juiz, ora do agente de execução, inúmeras situações ocorrem em que a lei utiliza o termo requerer ou requerimento, sem que se diga a quem esse requerimento deve ser dirigido, e havendo nestes casos que determinar a quem cabe dar lhe seguimento. Em certos casos, trata se de suscitar questões de natureza jurisdicional, as quais devem por isso ser apreciadas pelo juiz. É o que acontece nos seguintes casos: 21 O requerimento de substituição da penhora por caução cuja idoneidade cabe ao juiz apreciar (Cfr. art. 834º nº6 e 984º). O requerimento para o levantamento da penhora (Cfr. 828º nº4), que implica a perda da garantia com ela obtida pelo exequente. O requerimento de anulação da execução (Cfr. art. 921º nº1). O requerimento do credor reclamante para prosseguir com a execução (Cfr.art. 920º nº2), que se traduz numa modificação da parte activa na acção executiva. O requerimento para designação de administrador ou depositário de estabelecimento comercial, que implica a apreciação do fundamento invocado (Cfr. art. 862º A nº3 e 4). Outras vezes, o requerimento deverá ser dirigido ao agente de execução, não para que decida a questão suscitada, mas porque a manifestação de vontade do requerente é suficiente para a produção de determinados efeitos. São exemplos:

O requerimento do exequente no sentido de chamar à execução o devedor subsidiário que não foi inicialmente demandado (Cfr. art. 828º nº5). O requerimento do exequente no sentido de chamar à execução o devedor, no caso de dívida com garantia real sobre bens de terceiro que se tenham revelado manifestamente insuficientes para pagar a quantia exequenda (Cfr. art. 56º nº3). Outras situações há em que o efeito pretendido pelo requerente depende apenas da manifestação da sua vontade no processo e de posterior apreciação por parte do agente de execução, mas desde que não haja oposição. Nestes casos, o requerimento deverá ser dirigido ao agente de execução. Caso seja deduzida oposição à pretensão do requerente, a intervenção do juiz torna se necessária. Com efeito, requerida pelo executado a substituição do objecto da penhora, é ouvido o exequente; se este se opuser, o juiz terá de verificar se a oposição é fundada; mas, se não se opuser, cabe na competência do agente de execução verificar se, de acordo com o princípio da proporcionalidade, o pagamento do crédito do exequente fica assegurado (Cfr. art. 834º nº3 alínea a). Do que acima ficou exposto podemos concluir que a caracterização do sistema português passou de um sistema puramente público de matriz jurisdicional para um sistema misto ou híbrido, com componentes públicas e privadas, contribuindo decisivamente para a sua caracterização os papéis atríbuidos pelo legislador, tanto aos tribunais, por um lado, como aos agentes de execução, por outro. 22 Assim, são três as principais caracteristicas do nosso sistema: A intervenção do juiz tem carácter excepcional, só ocorrendo nas situações expressamente previstas na lei, sem prejuízo de um poder geral de controlo do processo; A iniciativa passa a caber ao agente de execução, a quem compete, em regra, efectuar todas as diligências do processo executivo e decidir até alguns dos seus incidentes; Passa a vigorar em pleno a regra da oficiosidade dos actos processuais, competindo ao agente de execução providenciar pelo normal andamento do processo, determinando e realizando oficiosamente, sem necessidade de despacho, todas as diligências necessárias à realização coerciva do direito do exequente.

VI PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS À semelhança do que se passa na acção declarativa, é necessário que na acção executiva se verifique a existência de determinadas condições para que a acção possa produzir o seu efeito útil normal. Por isso, no início da acção executiva, deve se assegurar que estão reunidos os pressupostos processuais mínimos e indispensáveis para que a acção possa prosseguir (Cfr. art. 265º). Conclui se que a acção executiva está sujeita aos mesmos pressupostos da acção declarativa: capacidade e personalidade judiciária, legitimidade das partes, patrocínio judiciário e competência do tribunal. São os pressupostos de carácter geral. Mas a acção executiva, além de estar sujeita àqueles pressupostos, tem também outros que lhe são específicos, próprios e que não têm paralelo na acção declarativa. São eles: o título executivo A certeza da prestação A exigibilidade da prestação 23 E a liquidez da obrigação exequenda Porém, mesmo em relação aos pressupostos processuais comuns ou gerais à acção declarativa e executiva, alguns destes apresentam algumas especificidades no que toca ao processo executivo. 1. Os Pressupostos Específicos da Acção Executiva: Quanto aos pressupostos processuais específicos da acção executiva, importa desde já referir o seguinte: a) O título executivo condiciona a exigibilidade formal do pedido, já que o título é como que o invólucro onde a lei presume se contém o direito violado. Será o requisito de natureza formal (Cfr. art. 45º nº1). b) A certeza e exigibilidade condicionam a exigibilidade material ou substantiva da pretensão uma vez que, se a obrigação não for certa nem exigível, apesar de se reconhecer o direito do exequente à reparação efectiva, tal facto impede que o devedor seja executado quanto a esse direito.

Será o requisito material ou substantivo (Cfr. art. 802º). c) Quanto à liquidez, ela condiciona o prosseguimento da acção executiva, ou seja, apesar de, em princípio, a acção executiva se poder constituir desde logo, a lei impede que ela prossiga sem que, previamente, se promova a respectiva liquidação. Assim, este requisito condiciona o prosseguimento da execução (Cfr. art. 802º). No início da acção executiva exige se que estejam integralmente preenchidos os pressupostos da existência de título, a certeza e exigibilidade da obrigação. A obrigação pode não ser líquida quando a acção executiva é intentada. Porém, neste caso e tratando se de título executivo diverso de sentença, existirá a necessidade de, no seu inicio, proceder previamente às operações previstas na lei tendentes a tornar liquida a obrigação que ainda não o é em face do título. 1.1. O Titulo Executivo: O título executivo é a base de toda a execução porque é através do título que se determina o fim e os limites da acção executiva (art. 45º, nº1). Daqui resulta que é pelo conteúdo intrínseco do título, ou seja, da obrigação que nele está subjacente, que se determina: 24 1º A espécie de prestação a que o devedor se obrigou. 2º O tipo e forma de execução que corresponde à obrigação em causa. 3º O quantum dessa mesma obrigação. 4º É também através do título que se fixa a legitimidade activa e passiva para a acção executiva. 1.2. O título como Condição da Acção: O título executivo é condição necessária e suficiente da acção executiva. Condição necessária porque não há execução sem título. O título, ou a sua cópia, deve acompanhar sempre o requerimento inicial. Condição suficiente porque a existência do título dispensa qualquer averiguação prévia sobre a existência efectiva do direito, ou a sua subsistência no momento em que a acção é proposta. Isto significa que se dispensa qualquer indagação prévia sobre a existência real ou a subsistência do direito a que o título se refere, não podendo por isso o juiz conhecer

oficiosamente da questão da conformidade entre o título e o direito que se pretende executar. Essa desconformidade, a existir, terá que ser alegada pelo executado. Fala se em desconformidade entre o título e a obrigação que nele está subjacente quando, por qualquer motivo, a obrigação em causa já se encontra extinta, ou parcialmente cumprida, ou até modificada. Portanto, a regra geral é a de que o juiz não pode conhecer da questão da conformidade entre o título e a obrigação No entanto, existe uma importante excepção a esta regra: Toda a desconformidade entre o título (formal) e a realidade substantiva (a obrigação que nele está em causa) pode e deve ser conhecida oficiosamente pelo juiz quando e execução se funda em título negocial e: Desde que a sua causa seja do conhecimento oficioso; b) Desde que essa desconformidade resulte do próprio título, do requerimento inicial, ou de facto notório ou do conhecimento do juiz em virtude do exercício das suas funções. Quando assim seja, o juiz deve indeferir liminarmente o requerimento inicial, quando haja lugar a despacho liminar, ou em momento posterior Cfr. (art. 812º D, art. 812.º E, n.º 1 alínea c) e art. 820º). 25 O que o juiz não pode fazer é levar mais longe a sua indagação sobre a obrigação exequenda, solicitando oficiosamente mais elementos complementares de prova ao exequente, fora das situações acima referidas. 1.3. Noção, Natureza e Função do Título: O título executivo é um documento. E o título é também a causa de pedir na acção executiva. Assim, título executivo é um documento escrito do qual consta a existência de um direito subjectivo, contendo os elementos suficientes que permitam identificar: os sujeitos desse direito; qual a prestação que lhe corresponde; o fim e os limites dessa prestação;

Documento esse ao qual a lei confere força jurídica necessária para que o titular do direito possa pedir em juízo as providências adequadas à realização efectiva e coerciva do direito. Mas, como vimos, nada nos garante que, no momento em que a acção executiva é proposta, a obrigação subjacente ao título não esteja extinta por qualquer motivo. É esta desconformidade entre o título e a obrigação que deverá ser suscitada pelo executado, em sede de oposição à execução, ou conhecida oficiosamente pelo juiz, em determinadas circunstâncias. 1.4. Consequências da Falta de Apresentação do Título: Resulta da actual redacção do artigo 801.º n.º 2 que a tramitação do processo executivo é efectuada electronicamente, nos termos do disposto no art. 138.º A do C.P.C., o qual por sua vez nos remete para o disposto na Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, já alterada pela Portaria n.º 457/2008, de 20 de Junho. Nos termos do disposto no artigo 2.º alínea b), artigo 4.º e 5.º da Portaria acima referida, a apresentação do requerimento executivo e dos documentos que o acompanham (título incluído), é efectuada por transmissão electrónica de dados através do sistema informático CITIUS, estando as partes dispensadas de remeter os respectivos originais, duplicados e cópias. 26 Porém, existirá o dever de exibir as peças processuais em suporte de papel e dos originais dos documentos juntos pelas partes por transmissão electrónica de dados, sempre que o juiz o determine (Cfr. artigo 5.º da Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro). Assim, o título ou a sua cópia deve acompanhar sempre o requerimento inicial, seja por transmissão electrónica, seja por apresentação em papel determinada pelo juiz. Mesmo quando esteja em causa uma execução de sentença, e atendendo à criação de juízos de competência executiva especializada na sequência da reforma introduzida pelo DL nº 38/2003 de 8 de Março, nas comarcas onde os mesmos se encontram instalados, a execução deverá correr no tribunal de 1ª instância em que a causa foi julgada e no respectivo traslado, isto é, na certidão da sentença que se pretende dar à execução, que para o efeito deverá ser requerida. Porém, nos casos em que o juiz da execução entender que é conveniente para a tramitação da acção executiva ter presente todo o processo declarativo em que tal sentença se formou, ou nas comarcas em que não existe tribunal de competência executiva específica,