CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO PROFESSORA: KADIDJA LEADEBAL DÍVIDA PÚBLICA

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Transcrição:

CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO FINANCEIRO E ORÇAMENTÁRIO PROFESSORA: KADIDJA LEADEBAL DÍVIDA PÚBLICA ABSALÃO MENDES DE MORAIS SOUSA CASSIANDRO RODRIGUES RONZANI ELIZÂNGELA LIMA MOREIRA EDMARDO SANTOS JADE LORRAINE SANTOS MIRANDA

ABSALÃO MENDES DE MORAIS SOUSA CASSIANDRO RODRIGUES RONZANI ELIZÂNGELA LIMA MOREIRA EDMARDO SANTOS JADE LORRAINE SANTOS MIRANDA DÍVIDA PÚBLICA Trabalho desenvolvido para o componente curricular de Direito Financeiro e Orçamentário, para aprovação semestral na disciplina. Brasília Novembro de 2014

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 2 CRÉDITO PÚBLICO E ENDIVIDAMENTO... 3 Endividamento... 3 Crédito público... 3 Empréstimos compulsórios... 4 Empréstimos voluntários... 5 DEFINIÇÕES... 6 Dívida flutuante e dívida fundada - Lei nº 4.320/64... 6 Dívida flutuante e dívida fundada ou consolidada - Decreto nº 98.872/86... 6 Dívida pública consolidada ou fundada e dívida pública mobiliária - Lei de Responsabilidade Fiscal... 7 COMPETÊNCIAS... 9 Papéis do Poder Legislativo no tocante à dívida pública... 9 Papéis do Poder Executivo no tocante à dívida pública... 10 LIMITES AO ENDIVIDAMENTO... 11 RECONDUÇÃO DAS DÍVIDAS AO LIMITE... 13 EXCEÇÕES AOS PRAZOS PARA RECONDUÇÃO DA DÍVIDA AOS LIMITES... 14 ESQUEMA PRÁTICO... 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 17

INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo expor os aspectos elementares sobre a dívida pública. Itens como endividamento, modalidades de empréstimos, definições sobre os institutos da dívida pública, competências, limites de endividamento, recondução aos limites e exceções aos prazos para a recondução serão abordados. O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa exploratória. O sistema jurídico ligado às finanças públicas, bem como a doutrina se prestaram a dar supedâneo aos escritos. A Constituição de 1988, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC nº 101/00), a Lei Orçamentária (Lei nº 4.320/64), o Decreto nº 98.872/86, bem como as resoluções do Senado Federal atinentes às contas públicas foram de grande valia no esforço que se pretendeu empreender. Dessa forma, nas páginas a seguir, o leitor poderá evidenciar os desafios do gestor da coisa pública, bem como as ferramentas que limitam, reconduzem e auxiliam o administrador público no seu mister.

3 CRÉDITO PÚBLICO E ENDIVIDAMENTO Endividamento Antes de se adentrar no tema dívida pública, é interessante tecer alguns comentários preliminares sobre crédito público e endividamento. Quando o Estado, por motivos alheios a seu planejamento ou não - está diante de uma receita exígua, que não está sendo suficiente para fazer frentes às despesas, nasce para ele a necessidade de reequilibrar as contas. Nesse sentido é que se situa a importância de se buscar novos ingressos, por meio de crédito público. Crédito público O crédito público pode ser entendido como aquele que se obtém, por meio de operações de crédito, que gerará ingressos ao Estado, destinados a cobrir despesas. O crédito será efetuado por meio de alguma modalidade de empréstimo que, como soe acontecer, deverá ser devolvido, acrescido de juros e encargos correspondentes. Nesse contexto, ao captar tais recursos, é gerada uma obrigação, o que corresponderá ao endividamento do Estado. Numa análise sistemática mais acurada, então, o endividamento, muitas vezes, chega a ser essencial para o equilíbrio entre receitas e despesas. A relevância de se estudar o endividamento é tão elevada ao ponto de a Constituição indicá-lo no rol de possibilidades de intervenção federal, como destaca Sérgio Mendes, in verbis: [...] O assunto é tão importante que o art. 34 da CF/1988 dispõe que a União não intervirá nos estados nem no Distrito Federal, exceto, entre outros motivos, para reorganizar as finanças da unidade da Federação que suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maio; ou deixar de entregar aos municípios receitas tributárias fixadas na Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei. 1 1 MENDES, Sérgio. Administração financeira e orçamentária. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2013, p. 490. 3

4 Como se verá adiante, a Lei nº 4.320/64, o Decreto nº 98.872/86 e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), LC nº 101/00, são os diplomas legais que melhor regulamentam os aspectos inerentes ao endividamento, às operações de créditos, bem como aos limites ligados ao tema. Simplificando, o crédito público pode ser obtido ou pelo empréstimo compulsório, ou pelo empréstimo voluntário. Empréstimos compulsórios De acordo com o art. 148, da CF/88, poderá a União, por meio de lei complementar, instituir empréstimos compulsórios: a) Para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; b) No caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional. Neste caso deve ser observado o princípio tributário da anterioridade, o qual veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. De acordo com Sérgio Mendes, tal expediente consiste na tomada compulsória de uma certa importância do particular, a título de empréstimo, com promessa de resgate em certo prazo, e em determinadas condições prefixadas em lei, para atender situações excepcionais ali estabelecidas 2. É importante destacar que os recursos arrecadados terão sua aplicação vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. Não obstante grande parte da doutrina e jurisprudência considere os empréstimos compulsórios como de natureza tributária, para efeitos de classificação orçamentária, tal instituto pertence às receitas de capital, tendo como origem as operações de crédito. Os empréstimos compulsórios são considerados créditos públicos impróprios, dada a falta de manifestação de vontade do investidor em empregar seu dinheiro. 2 MENDES, Sérgio. Administração financeira e orçamentária. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2013, p. 489. 4

5 Empréstimos voluntários Por sua vez, os empréstimos voluntários podem se entendidos como aqueles contraídos pelo Estado de forma contratual, pela livre manifestação da vontade do investidor. Desta forma, são considerados créditos próprios. 5

6 DEFINIÇÕES Dívida Pública A dívida pública, nas palavras de Sérgio Mendes, é a decorrência natural dos empréstimos 3. Quanto à origem, a dívida pública se subdivide em dívida interna e dívida externa. Quanto à duração, a dívida pública pode ser subdividida em flutuante e fundada. Dívida flutuante e dívida fundada - Lei nº 4.320/64 A dívida flutuante, segundo o art. 92 da Lei nº 4.320/64, compreende: I - os restos a pagar, excluídos os serviços da dívida; II - os serviços da dívida a pagar; III - os depósitos; IV - os débitos de tesouraria 4. O caput do art. 98, também da Lei nº 4.320/64, define que a dívida fundada compreende os compromissos de exigibilidade superior a doze meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a financeiro de obras e serviços públicos 5. Dívida flutuante e dívida fundada ou consolidada - Decreto nº 98.872/86 O Decreto nº 98.872/86, por sua vez, ao art. 115, também se prestou a definir o que vem a ser dívida pública abrangendo a dívida flutuante e a dívida fundada ou consolidada. Por dívida flutuante, o citado decreto, ao 1º, do art. 115, entende que: 1º A dívida flutuante compreende os compromissos exigíveis, cujo pagamento independe de autorização orçamentária, assim entendidos: a) os restos a pagar, excluídos os serviços da dívida; b) os serviços da dívida; c) os depósitos, inclusive consignações em folha; d) as operações de crédito por antecipação de receita; 3 MENDES, Sérgio. Administração financeira e orçamentária. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2013, p. 490. 4 BRASIL. Lei nº 4.320 (1964). Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 24/10/2014. 5 Ibdem. 6

7 e) o papel-moeda ou moeda fiduciária. 6 ou seja: Por dívida fundada ou consolidada, é o 2º, do art. 115, que traz a definição, 2º A dívida fundada ou consolidada compreende os compromissos de exigibilidade superior a 12 (doze) meses contraídos mediante emissão de títulos ou celebração de contratos para atender a desequilíbrio orçamentário, ou a financiamento de obras e serviços públicos, e que dependam de autorização legislativa para amortização ou resgate. 7 Dívida pública consolidada ou fundada e dívida pública mobiliária - Lei de Responsabilidade Fiscal Por sua vez, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), mais rígida que os anteriores diplomas, ao art. 29, traz as definições de dívida pública consolidada ou fundada e dívida pública mobiliária, in verbis: Art. 29. Para os efeitos desta Lei Complementar, são adotadas as seguintes definições: I - dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses; II - dívida pública mobiliária: dívida pública representada por títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios; 8 Cabe ressaltar que também incluem a dívida pública consolidada: a) a relativa à emissão de títulos de responsabilidade do Banco Central do Brasil e as operações de crédito de prazo inferior a doze meses cujas receitas tenham constato no 6 BRASIL. Decreto nº 98.872 (1986). Decreto nº 98.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d93872.htm>. Acesso em: 24/10/2014. 7 BRASIL. Decreto nº 98.872 (1986). Decreto nº 98.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d93872.htm>. Acesso em: 24/10/2014. 8 BRASIL. LC nº 101 (2000). LC nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 11/11/2014. 7

8 orçamento; b) os precatórios judiciais não pagos durante a execução do orçamento em que houverem sido incluídos. A LRF, também ao art. 29, traz outras importantes definições que impactam diretamente no aspecto do endividamento e busca do equilíbrio das contas públicas, quais sejam: a) operação de crédito; b) concessão de garantia; c) refinanciamento da dívida mobiliária. Operação de crédito pode ser entendida como compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão de aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o reconhecimento ou a confissão de dívidas pelo ente da Federação, sem prejuízo do cumprimento das exigência dos arts. 15 e 16 da LRF, atinentes à geração de despesa. A concessão de garantia corresponde ao compromisso de adimplência de obrigação financeira ou contratual assumida por ente da Federação ou entidade a ele vinculada 9. Por sua vez, o refinanciamento da dívida mobiliária corresponde à emissão de títulos para pagamento do principal acrescido da atualização monetária 10. Já a Resolução do Senado nº 43/2001 define como dívida consolidada líquida a dívida consolidada deduzidas as disponibilidades de caixa, as aplicações financeiras e os demais haveres financeiros 11. 9 BRASIL. LC nº 101 (2000). LC nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Art. 29, IV. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 11/11/2014. 10 Ibdem, art. 29, V. 11 BRASIL. Resolução do Senado Federal nº 43 (2001). Resolução do Senado federal nº 43, de 9 de abril de 2002. Dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências.. Disponível em: < http://legis.senado.gov.br/legislacao/listatextointegral.action?id=242474&norma=234195>. Acesso em: 11/11/2014. 8

9 COMPETÊNCIAS Em análise ao artigo 48 da Constituição Federal, percebe-se que no âmbito federal compete ao Congresso Nacional dispor sobre todas as matérias de competência da União, inclusive sobre operações de crédito, dívida pública e montante da dívida mobiliária federal e emissões de curso forçado. Por outro lado, o artigo 52 da Constituição Federal apresenta as competências privativamente atribuídas ao Senado Federal. Papéis do Poder Legislativo no tocante à dívida pública No tocante ao Parlamento, de acordo com a Constituição Federal em seu artigo 52, compete privativamente ao Senado Federal brasileiro o que se verifica na tabela abaixo: Competências do Senado Federal em matéria de dívida pública Dívida pública Operações de crédito Garantias Dívida consolidada O QUE: fixar, por proposta do presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada. PARA QUEM: União, estados, Distrito Federal e municípios. Dívida mobiliária O QUE: estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária. PARA QUEM: estados, Distrito Federal e municípios. Operações de créditos interna e externa O QUE: dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno. PARA QUEM: União, estados, Distrito Federal e municípios. Operações de créditos externa O QUE: autorizar operações externas de natureza financeira. PARA QUEM: União, estados, Distrito Federal e municípios. Concessão de garantias O QUE: dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia em operações de crédito externo e interno. PARA QUEM: União. 9

10 O Senado Federal exerceu sua competência ao emitir as Resoluções nº 40 e nº 43, ambas de 2001, que dispõem, respectivamente, sobre os limites globais para o montante da dívida pública consolidada e da dívida pública mobiliária dos estados, do Distrito Federal e dos municípios e sobre as operações de crédito internas e externas e concessão de garantias desses mesmos entes. Observa-se, portanto, que as competências do Senado Federal no que diz respeito ao tema dívida pública e operações de crédito se destinam, em geral, a todos os entes da Federação (União, estados, Distrito Federal e municípios). Esses dispositivos são naturalmente replicados nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas Municipais (equivalentes a Constituições Municipais), permitindo que os Parlamentos dos entes subnacionais também possam dispor sobre tais matérias em seus níveis de governo. Papéis do Poder Executivo no tocante à dívida pública No tocante ao Executivo, para o caso federal, a Lei Federal nº 10.683, de 2003, dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos ministérios. Por essa lei, cabe ao Ministério da Fazenda (MF), no âmbito do Poder Executivo, a administração das dívidas públicas interna e externa da União. Além disso, a própria LRF atribui ao MF a verificação do cumprimento dos limites e das condições relativos à realização de operações de crédito de cada ente da Federação. A Lei Federal nº 10.683/2003 foi regulamentada pelo Decreto Federal nº 6.102, de 2007, que aprovou a estrutura interna do Ministério da Fazenda (MF), atribuindo à Secretaria do Tesouro Nacional (STN) a gestão operacional da dívida pública de responsabilidade direta ou indireta da União, inclusive a dívida externa de responsabilidade do Tesouro Nacional, e a atribuição de verificar os aspectos relacionados às operações de crédito. Atualmente, a Portaria MF nº 183/2003 delega competência do ministro da Fazenda ao secretário do Tesouro Nacional para realização de operações com títulos públicos, e a Portaria STN nº 410/2003 define as regras relacionadas aos leilões de títulos públicos. 10

11 LIMITES AO ENDIVIDAMENTO De acordo com o artigo 30, da LRF, bem como do art. 52, VI, da Constituição Federal, é competência privativa do Senado a definição dos limites de endividamento e das condições de operação de crédito, por proposta do Presidente da República. Assim, por força desses dispositivos, após a entrada em vigor da LRF, em 2001 o Senado Federal aprovou as resoluções nº 40 e 43 que estabelecem os limites globais de endividamento e operação de crédito da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal. O limite global é definido para a Dívida Consolidada Liquida (DCL) como um percentual da Receita Corrente Liquida (RCL). O cálculo da relação DCL e RCL deverá ser verificado de forma quadrimestral e apresentado no Relatório de Gestão Fiscal. As Resoluções do Senado 40/2001, 43/2001 e 48/2007 dispõem sobre os limites dos entes em relação à Receita Corrente Líquida, conforme disposição do quadro abaixo: LIMITES EM RELAÇÃO À RCL Objeto União Estados/DF Municípios Dívida consolidada Não há 200% 120% Contratação de operações de crédito 60% 16% Concessão de garantias 60% 22% Pagamento dos serviços da dívida Não há 11,5% Contratação de operações por ARO Não há 7% Deve-se destacar que o limite para a União incorpora os títulos do Tesouro em poder do Banco Central para a execução da política monetária, o que aumenta o estoque total da dívida pública em mais de uma vez a RCL anual da União. Caso algum ente da Federação ultrapasse o respectivo limite ao final do quadrimestre, deverá ser a ele reconduzida até o término dos três quadrimestres subsequentes, reduzindo o excedente em pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) no primeiro. No entanto, se depois disso, ainda persistir os excessos a administração pública ficará impedida de contratar operações de crédito. 11

12 A regra contida no art. 167 da Constituição Federal tem por objetivo evitar o pagamento de despesas correntes com recursos decorrentes de emissão ou contratação de novo endividamento. Por isso, neste dispositivo, há a proibição de que sejam realizadas operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital, ressalvada as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta. A resolução n 48 de 2007 dispõe sobre os limites globais para operação de crédito externo e interno da União, os quais não poderão ser superiores a 60% da Receita Corrente Liquida. Nesta resolução o Senado enfatizou medidas importantes para se minimizar os riscos de financiamento de dívida. Neste sentido, as receitas de operações de crédito decorrentes de emissão de títulos somente serão consideradas, para fins de limite, no exercício financeiro que for realizada a respectiva despesa. Além disso, as emissões de títulos com objetivo de refinanciamento do principal de dívidas não estão incluídas no limite global para operação de crédito. Portanto, é mediante os limites para a dívida pública que se põe fim aos déficits descontrolados, norteia o processo de endividamento público, fixa condições rígidas para aquelas despesas de longo prazo, bem como promove a transparência das contas públicas. 12

13 RECONDUÇÃO DAS DÍVIDAS AO LIMITE Como já aludido, atingido o limite de endividamento a que se refere a LRF, observa-se que nos termos do art. 31, a recondução para o limite das dívida, in verbis: Art. 31. Se a dívida consolidada de um ente da Federação ultrapassar o respectivo limite ao final de um quadrimestre, deverá ser a ele reconduzida até o término dos três subsequentes, reduzindo o excedente em pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) no primeiro. Em não sendo reconduzida a dívida nos termos anteriores, o 1º, do art. 31, da LRF, prevê sanções para o ente endividado, a saber: 1 o Enquanto perdurar o excesso, o ente que nele houver incorrido: I - estará proibido de realizar operação de crédito interna ou externa, inclusive por antecipação de receita, ressalvado o refinanciamento do principal atualizado da dívida mobiliária; II - obterá resultado primário necessário à recondução da dívida ao limite, promovendo, entre outras medidas, limitação de empenho, na forma do art. 9 o. 2 o Vencido o prazo para retorno da dívida ao limite, e enquanto perdurar o excesso, o ente ficará também impedido de receber transferências voluntárias da União ou do Estado. 13

14 EXCEÇÕES AOS PRAZOS PARA RECONDUÇÃO DA DÍVIDA AOS LIMITES Aplicação imediata, suspensão, duplicação e ampliação são institutos que autorizam o não cumprimento dos prazos de recondução estabelecidos pelo art. 31, da LRF. O caput do art. 31, da LRF, fala em recondução nos próximos três quadrimestres. Entretanto, sendo o caso de o montante exceder o exceder o limite no primeiro quadrimestre do último ano do mandato do Chefe do Poder Executivo, dispõe o 3º, art. 31, da LRF, que as restrições, incluindo o prazo de três quadrimestres, será de aplicação imediata. Nos moldes do que preleciona o art. 65 e parágrafo, ou seja, na ocorrência de calamidade pública reconhecida pelo Congresso Nacional, no caso da União, ou pelas Assembléias Legislativas, na hipótese dos Estados e Municípios, enquanto perdurar a situação e no caso de estado de defesa ou de sítio, decretado na forma da Constituição, serão suspensas a contagem dos prazos e as disposições estabelecidas no artigo. Nos termos do caput do art. 66, da LRF, em caso de crescimento real baixo ou negativo do PIB nacional, regional ou estadual por período igual ou superior a quatro trimestres, os prazos do caput do art. 31, da LRF, serão duplicados. Nesse contexto, conforme o 1º, do art. 66, da LRF, entende-se por baixo crescimento a taxa de variação real acumulada do PIB inferior a 1% no período correspondente aos quatro últimos trimestres. Por fim, segundo o 4º, do art. 66, também da LRF, no caso de mudanças drásticas na condução das políticas monetária e cambial, reconhecidas pelo Senado Federal, o prazo referido no caput do art. 31 poderá ser ampliado em até quatro quadrimestres. 14

15 ESQUEMA PRÁTICO Fonte: PISCITELLI, Tathiane. Direito financeiro esquematizado. São Paulo: Método, 2011, p. 141. 15

16 CONSIDERAÇÕES FINAIS O endividamento público hoje é assunto mais em voga nas discussões cotidianas, que em tempos remotos. Isso se deve muito ao amplo acesso à informação, à crescente instrução da população e também às inovações legais e procedimentais no sentido do planejamento e fiscalização das contas públicas. Muito já se fez, contudo, muito ainda há para ser melhorado no que tange à transparência e responsabilização daqueles que gerem o erário. Muitos escândalos que explodem hoje, possivelmente existiram nos governos de outrora. A informação tem sido a principal arma para o cidadão e gestor público. Administrações como a de Getúlio Vargas o a de Juscelino Kubtschek provavelmente encontrariam óbices hoje. Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei de Improbidade Administrativa, Tribunal de Contas da União, são baluartes da fiscalização que não existiam à época de suas gestões. O desafio do gestor de fato é árduo, mas a escolha em ser um administrador da res pública é opção sua, sabendo ele que estará sujeito aos controles da Administração Pública. Nesse contexto, o controle dos gastos sempre estará ligado a possíveis endividamentos. O limite de endividamento é que sempre deverá ser respeitado. Receitas e despesas devem sempre ser definidas com responsabilidade e dentro do contexto social e econômico vivido pelo país. Em razão disso, muito importante se torna o debate sobre tais assuntos. Nunca estanque estará, mas, ao contrário, quando se trata de finanças pública, inovações nas políticas econômicas, desde que bem fundamentadas e lastreadas em amplos estudos, sempre serão bem vindas. 16

17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 11/11/2014.. Lei nº 4.320 (1964). Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 24/10/2014.. Decreto nº 98.872 (1986). Decreto nº 98.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d93872.htm>. Acesso em: 24/10/2014.. LC nº 101 (2000). LC nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 11/11/2014.. Resolução do Senado Federal nº 43 (2001). Resolução do Senado federal nº 43, de 9 de abril de 2002. Dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências.. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/listatextointegral.action?id=242474&norma=2 34195>. Acesso em: 11/11/2014. MENDES, Sérgio. Administração financeira e orçamentária. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2013. PISCITELLI, Tathiane. Direito financeiro esquematizado. São Paulo: Método, 2011. 17