POTENCIALIDADES DO BIODIESEL NO BRASIL Afonso Lopes, Professor Doutor, DER-FCAV-UNESP/Jaboticabal, afonso@fcav.unesp.br Rouverson Pereira da Silva, Professor Doutor, DER-FCAV-UNESP/Jaboticabal Carlos Eduardo Angeli Furlani, Professor Doutor, DER-FCAV-UNESP/Jaboticabal Pedro Castro Neto, Professor Titular DEG-UFLA, pedrocn@ufla.br Antônio Carlos Fraga, Professor Titular DAG-UFLA, fraga@ufla.br Gustavo Naves dos Reis, Engenheiro Agrônomo Pòs-Graduando, FCAV-UNESP/Jaboticabal Alberto Kazushi Nagaoka, Professor Doutor, CAV-UDESC/Lages, a2akn@cav.udesc.br RESUMO: A exploração de plantas oleaginosas com o objetivo de produzir combustíveis, questionada em países de pequena extensão territorial, não se constitui como problema para a agricultura brasileira.o Brasil possui 850 milhões de hectares de extensão territorial, com aproximadamente 53 milhões de hectares ocupados para fins agrícolas, destacando-se que as condições climáticas são favoráveis para essa finalidade. A adoção do programa biodiesel no Brasil vem ao encontro de outra tecnologia bem sucedida, como é caso do álcool. Destaca-se, entretanto, que na produção de biodiesel necessita de grande quantidade de álcool e para produzir álcool utiliza-se grande quantidade de diesel, que pode ser substituído por biodiesel. PALAVRAS-CHAVES: biodiesel, combustível alternativo, ensaio. O QUE É BIODIESEL O Biodiesel é um combustível renovável, biodegradável e ambientalmente correto, constituído de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos da reação de transesterificação de qualquer triglicerídeo com um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, (Parente, 2003). Costa Neto et al., (2000) mencionam a definição da National Biodiesel Board, que de modo geral, biodiesel pode ser definido como um monoalquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes renováveis como óleos vegetais ou gordura animal, utilizado em substituição aos combustíveis fósseis em motores de ignição por compressão, do ciclo Diesel. Os autores ressaltam ainda que o biodiesel enquanto produto é virtualmente livre de enxofre e aromático, possui alto número de cetano e médio de oxigênio, apresenta maior ponto de fulgor e viscosidade que o diesel convencional e, no caso do biodiesel de óleo de fritura, tem forte apelo
ambiental. A viabilidade técnica de um combustível para motores diesel pode ser vista sob os aspectos de combustibilidade, impactos ambientais das emissões, compatibilidade do uso e manuseio. Dentre as vantagens do Biodiesel destaca-se o fato de que as propriedades são semelhantes a do diesel mineral, podendo substituí-lo sem exigir mudanças no motor ou outro tipo de adaptação. Outro ponto positivo é a redução na emissão de poluentes para a atmosfera (Oliveira & Costa, 2004). Atualmente a grande desvantagem do Biodiesel é o preço, uma vez que o diesel mineral ainda é mais barato, talvez por questão de escala de produção ou por decisão política. Óleos combustíveis derivados do petróleo são estáveis à temperatura de destilação, mesmo na presença de excesso de oxigênio; ao contrário disso, nos óleos vegetais, reações de oxidação podem ser observadas até à temperatura ambiente e o aquecimento a temperaturas próximas a 250ºC ocasiona reações complementares de decomposição térmica, cujos resultados podem levar à formação de compostos poliméricos mediante reações de condensação, aumentando a temperatura de destilação e o nível de fumaça do motor, diminuindo a viscosidade do óleo lubrificante e acarretando diminuição da potência pela queima incompleta de produtos secundários. Tal comportamento não é observado com derivados metanolisados ou etanolisados (biodiesel), cuja mistura é destilada integralmente a temperaturas inferiores a 350ºC (Tabela 1). Tabela 1. Características fisico-químicas do biodiesel (ésteres etílicos) de várias espécies vegetais e do óleo diesel convencional (tipo C). Características Origem do biodiesel Óleo mamona Babaçu Dendê algodão pequi Diesel* Poder calorífico (kcal kg -1 ) 9046 9440 9530 9520 9590 10824 Ponto de névoa (ºC) -6-6 6 nd 8 1 Índice de cetano Nd 65 Nd 57,5 60 45,8 Densidade a 20ºC (g cm -3 ) 0,919 0,8865 0,8597 0,875 0,865 0,8497 Viscosidade a 37,8º (cst) 21,6 3,9 6,4 6,0 5,2 3,04 Inflamabilidade (ºC) 208 nd nd 184 186 55 Ponto de fluidez (ºC) -30 nd nd -3 5 Nd Destilação a 50% (ºC) 301 291 333 340 334 278 Destilação a 90% (ºC) 318 333 338 342 346 373 Corrosividade ao cobre 0 0 0 0 0 2 Teor de cinzas (%) 0,01 0,03 0,01 0,01 0,01 0,014 Teor de enxofre (%) 0 nd nd 0 0 0,24 Cor (ASTM) 1,0 0 0,5 1,0 1,0 2,0 Resíduo de carbono Conradson (%)** 0,09 0,03 0,02 nd 0,01 0,35 * Propriedades determinadas e cedidas pelo Prof. Dr. José C. Laurindo, Tecpar-PR. Fonte: Costa Neto et al. (2000). ** Resíduo de carbono Conradson sobre 10% do resíduo seco (%). nd = não determinado.
BIODIESEL NO BRASIL Com a crise energética iniciada 1973, teve início a era da consciência de economizar energia juntamente com a idéia de usar produtos alternativos aos combustíveis fósseis. De acordo com a literatura o assunto biodiesel no Brasil, iniciou-se pela iniciativa de instituições de ensino e pesquisas. Neste aspecto destaca-se o grupo liderado pelo Prof. Dr. Expedito José de Sá Parente, vinculado a Universidade Federal do Ceará, que entre outros fatos, relata a organização de um Seminário Internacional de Biomassa, realizado em Fortaleza no ano de 1978, contando com a presença de especialista nacionais e internacionais, entre os quais, havia um Prêmio Nobel de Química, e menciona também a primeira patente mundial de biodiesel denominada de PI- 8007957 de 1980. Esse grupo tem sido referência mundial sobre o assunto, contribuindo com várias publicações técnicas, didáticas e científicas. Outros grupos igualmente importantes sobre o assunto surgiram em vários estados como é o caso da EMBRAPA, COPE-UFRJ (RJ), LADETEL (Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas) da USP-Ribeirão Preto (São Paulo), UFPR (PR). Mais recentemente um grupo da UFLA (MG), vem se destacando na linha de óleos essenciais e cultivo de plantas oleaginosas voltada para a produção de biodiesel, assim como o LAMMA (Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola) da UNESP de Jaboticabal (SP), que em parceria com o LADETEL-USP, desenvolve trabalhos na área de ensaios de tratores com diversos tipos e percentuais de biodiesel; no momento evidenciam-se outros grupos por hora não citados. Assim como as instituições públicas, a iniciativa privada tem se destacado no assunto biodiesel. Com o avanço tecnológico relacionado ao processo de produção do biodiesel, várias publicações de caráter científico e a maciça cobertura da impressa, as lideranças políticas ficaram atentas, inclusive demonstrando apoio bem como tratando da parte de legislação. Recentemente o Governo Federal anunciou o Pólo de Biocombustível para Pesquisa e Desenvolvimento, na cidade de Piracicaba, SP, assim como também foram anunciadas as atividades do Ministério de Ciências e Tecnologia e do Grupo de Trabalho Interministerial coordenado pela Casa Civil da Presidência da República, com o objetivo de montar um amplo plano de produção do biodiesel. No dia 29 de junho de 2004, o Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo pela Resolução SAA-13, designou os membros da Câmara Setorial de Biocombustíveis, conforme publicado em 30 de junho de 2004, no Diário Oficial do estado de São Paulo volume 114, número 122, Seção I. Tal Câmara temo como coordenador o Prof. Dr. Miguel Joaquim Dabdoub, que também é coordenador do Projeto Biodiesel Brasil e do LADETEL.
ENSAIOS CONDUZIDOS NA UNESP DE JABOTICABAL O Diário Oficial (SP), de 14 de maio de 2004, divulgou a pesquisa desenvolvida no (LAMMA- UNESP-Jaboticabal) que é coordenado pelo Prof. Dr. Afonso Lopes. O referido laboratório conta com um trator Valtra BM100 de 73,6 kw no motor (100 cv), instrumentado para ensaio (Figura 1), contando com um protótipo para medir combustível especialmente desenvolvido para o projeto biodiesel. Tal protótipo tem filtração e retorno independente, e três reservatórios auxiliares, que permite o uso de qualquer produto sem contaminar o tanque original do trator; conforme descrito em Lopes e Furlani (2003). Os autores ressaltaram que quando utilizado biodiesel na proporção de 5 até 50%, não foi observada nenhuma alteração no consumo de combustível, entretanto para as proporções de 75% e 100% o consumo aumentou 5 e 10% respectivamente em relação ao diesel fóssil. Além do consumo estão sendo monitorados outros parâmetros como velocidade, força de tração, rotação do motor, patinagem e potência na barra. O projeto em questão conta com apoio da FAPESP, FUNDUNESP, PROPP-UNESP, Coopercitrus e Valtra do Brasil. Figura 1. Trator instrumentado para o projeto biodiesel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso desse combustível aponta para um crescimento nacional da produção de álcool de cana e de óleo vegetais, o que resulta no aumento da área plantada e na oferta de empregos. Os motores existentes para utilizar diesel podem funcionar com biodiesel em qualquer proporção de mistura e sem nenhuma modificação prévia, o que caracteriza grande vantagem quando comparado a outros combustíveis alternativos. Estudos de emissão de poluentes evidenciam o biodiesel para minimizar o impacto na atmosfera, assim como transformar em energia óleo residual de fritura que freqüentemente é lançado no solo ou em cursos d água, o que compromete estações de tratamento de água e esgoto. Apesar do favoritismo dos resultados, para que essa idéia seja uma realidade é necessário o incentivo público e privado. REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA NETO, P.R.; ROSSI, L.F.S.; ZAGONEL, G.F.; RAMOS, L.P. Produção de biocombustível alternativo ao óleo diesel através da transesterificação de óleo de soja usado em frituras. Química Nova, v. 23, n. 4. p. 531-7.São Paulo: 2000. LOPES,A. Unesp Jaboticabal testa biodiesel que pode garantir a criação de empregos. Diário Oficial do Estado de São Paulo, v. 114, n.9, seção II, p. 2. São Paulo, 15/01/2004. LOPES,A. Biodiesel é fonte de energia renovável e barata para o País. Diário Oficial do Estado de São Paulo, v. 114, n. 91, seção II, p. 2. São Paulo, 14/05/2004. LOPES, A.; FURLANI, C. E. A. Protótipo de sistema instrumental para medição do consumo de combustível em tratores. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA APLICADA A AGROPECUÁRIA E A AGROINDUSTRIA., 4, 2003, Porto Seguro. Anais... Lavras: Sociedade Brasileira de Informática Aplicada a Agropecuária e a Agroindústria, 2003. 1 CD. OLIVEIRA, L.B.; COSTA, A.O. Biodiesel: uma experiência de desenvolvimento sustentável. Disponível em http://www.ivig.coppe.ufrj.br/doc/biodiesel.pdf. Acesso em 05/07/2004. PARENTE, E.J.S. Biodiesel: Uma Aventura Tecnológica num País Engraçado. 2003. 65 p.