Aula6 CONSTRUÇÕES NEGATIVAS. Lêda Corrêa

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Transcrição:

Aula6 CONSTRUÇÕES NEGATIVAS META Apresentar construções oracionais negativas da língua portuguesa; discriminar os modos de construções negativas. OBJETIVOS Ao final desta aula, o aluno deverá: Relacionar e comparar as diferentes construções oracionais negativas da língua portuguesa; perceber os diferentes modos de construções negativas da língua portuguesa. PRÉ-REQUISITOS Construções oracionais. Lêda Corrêa

Laboratório para o Ensino de Língua Portuguesa INTRODUÇÃO Caro aluno, as construções negativas do PB apresentam muitas possibilidades de realização. Nesta aula, você aprenderá as negativas verbais, nominais e adverbiais e seus modos de expressão em enunciados de uso frequente em diversas situações. Você deve ficar atento às possibilidades de utilização da língua portuguesa e de sua descrição, que não encontram espaço em boa parte das gramáticas tradicionais, tendo em vista que elas não se ocupam das ocorrências linguísticas típicas do falar cotidiano da língua portuguesa. Segundo Neves (2000), a negação é um processo formador de sentido, agindo como instrumento de interação dotado de intencionalidade. Nesse sentido, ela é também um recurso argumentativo. Contudo, nesta aula, evidenciaremos a função sintática das negações, conforme a proposta de Perini (2010). A NEGAÇÃO ANTEPOSTA AO VERBO A negação em PB geralmente ocorre com partícula negativa (tipicamente não) antes do verbo, como em: (1) Eu não tenho mais dinheiro. Vale ressaltar que a pronúncia mais frequente do não em construções negativas do PB, quando ocorre antes do verbo é [n ]. Pode ocorrer reduzido a [n], quando ocorrer antes de um verbo iniciado por vogal, como em (2) Ele não é feliz. ['elin 'felis]. A partícula negativa nenhum ocorre sempre como quantificador de um SN, como em: (3)Nenhum trabalhador recebeu reajuste salarial. Outras partículas, como nada, ninguém, nunca, ocorrem sozinhas, isto é, como sintagmas nominais: (4) Nada vai deter o guerreiro. (5) Ninguém falou sobre o assunto. A interposição de outros elementos entre a partícula negativa e o verbo Apenas o pronome clítico pode aparecer entre não e o verbo, como em: (6) Carlota não me auxiliou nos afazeres domésticos. 50

Construções Negativas Aula 6 Nos demais casos, as partículas negativas podem vir separadas do verbo por diversos elementos: (7) Nada, nem mesmo você, atrapalhará meus planos. A NEGAÇÃO POSPOSTA AO VERBO As partículas negativas podem ocorrer também depois do verbo, desde que seja colocada a partícula não antes do verbo: (8) João não vai ajudar ninguém. A DUPLA NEGAÇÃO Perini (2010) apresenta também a dupla negação, forma bastante usual em PB, na qual se coloca um não antes do verbo e outro não no final do período. O segundo não se posiciona nas frases, mediante as seguintes regras transcritas da obra Gramática do Português Brasileiro, de Perini (2010): a) O segundo não ocorre no final do período, exceto em estruturas coordenadas: (9) Ele não foi lá não. b) O segundo não nega a oração principal, e não a subordinada, exceto orações com função de objeto, que podem ser negadas independentemente se estiverem no final do período: (10) Maria não toma banho quando está gripada não. Observe que a segunda negação se aplica apenas à oração principal Maria não toma banho, mas não à subordinada quando está gripada. Mas as orações objeto podem ser negadas independentemente: (11)Eu penso que ela não gosta de samba não. Em (11), só a subordinada é negada. c) Em estruturas coordenadas com e, a segunda negação pode aparecer depois do primeiro ou depois do segundo membro da coordenação, mas não indiferentemente. Pode aparecer no final do segundo quando nega toda a estrutura: (12)Você não vai pegar o livro e devolver amanhã não. 51

Laboratório para o Ensino de Língua Portuguesa Em (12), toda a sequência compreendida entre as negações é negada. Mas em (13) Você não vai pegar o livro não e seus superiores vão saber disso. a parte negada é apenas a primeira oração. Frequentemente, omite-se o primeiro não, e marca-se a negação apenas pelo segundo: (14) Vou lá não. NEGAÇÃO NOMINAL E ADVERBIAL As negações podem ocorrer também em nomes e advérbios. Em nominais, a negação ocorre sempre antes do nome, mas com a maioria dos advérbios a negação pode vir depois deles: (15) Os candidatos não classificados perderam a vaga. (16) Você pode falar alto, mas nunca aqui....aqui nunca. Alguns adverbiais são negados por nem em vez de não. Nesse caso, a partícula nem aparece sempre antes do adverbial. (17) Nem sempre ele aparece. Com os adverbiais talvez, também, certamente, provavelmente, a negação vem obrigatoriamente depois deles, porque eles modificam o não, e não vice-versa. (18) Você vai viajar nas férias? Talvez não/ * não talvez. Negação e afirmação independentes Em PB, há construções interrogativas que solicitam como resposta uma negação ou afirmação como forma de atribuir valor de verdade a uma dada solicitação. Quando se atribui valor negativo, normalmente usa-se a partícula não, como em: (19) Você já pagou a conta de luz? Não. Mas, quando se atribui valor afirmativo, não é usual o emprego da partícula sim. Na maioria dos casos, repete-se o verbo da pergunta, com ajuste de pessoa, se necessário: (20) Você pagou a conta? Paguei. Se a pergunta incluir certos advérbios, eles são repetidos na resposta: (21) Você já pagou a conta de luz? Já. O sim, nesse caso, pode ocorrer apenas como reforço: 52

Construções Negativas Aula 6 (22) Você já pagou a conta de luz? Já sim. A NEGAÇÃO COM AS PARTÍCULAS NEM E SEQUER A partícula nem é, segundo Perini (2010), uma espécie de e + não, ou seja, um e com valor negativo. Desse modo, você pode negar a frase (23) Ela bebe e fuma com (24) Ele nem bebe nem fuma. A expressão sequer é um reforço de nem, como em (25) Ele nem sequer bebe. Ou, ainda, sem o nem: (26) Ele sequer bebe. CONCLUSÃO Certamente, o assunto desenvolvido nesta aula tem caráter introdutório no estudo das negativas em PB, visto que não foram desenvolvidos os aspectos semânticos e pragmáticos de tais construções. Para um complemento mais completo desse estudo, recomendamos a Gramática de usos do Português, de Maria Helena de Moura Neves. RESUMO As negativas podem ser antepostas ou pospostas ao verbo. Você observou que o uso da dupla negação Eu não fi quei triste não é muito frequente no PB, bem como a supressão do primeiro não também o é: Fiquei triste não. As negativas nominais e adverbiais também são muito empregadas, ocorrendo as primeiras antes dos nomes e as segundas, geralmente, depois dos advérbios. A forma de atribuir valor de verdade, após a formulação de uma pergunta, pode gerar uma resposta negativa, geralmente expressa pela partícula não, ou uma resposta afirmativa, geralmente expressa pela repetição do verbo usado na pergunta, com os devidos ajustes de concordância; ou, ainda, com a repetição do advérbio empregado na pergunta. 53

Laboratório para o Ensino de Língua Portuguesa ATIVIDADES 1. Construa as negações possíveis em PB, a partir da frase Eu gosto deste bolo. Em seguida, explique cada uma das ocorrências negativas, com base no conteúdo desenvolvido na aula. 2. Aplique as regras de dupla negação nas frases abaixo e explique-as: a) Marília não era gorda quando se casou não. b) Eu acho que Manuel não aprecia suco de maracujá não. c) Você não vai viajar e levar todo o meu dinheiro não. d) Minha casa precisa de reforma não. e) Eu não gosto do pudim de leite daquela doceria não. 3. Construa dois pares de perguntas e respostas com valor de verdade positivo. COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES A questão 1 deve contemplar todas as possibilidades de construções negativas da frase afirmativa em itálico. Em seguida, você deve explicar os modos de negação que você construiu, com base no conteúdo desenvolvido nesta aula. Na questão 2, você deve identificar qual a regra aplicável a cada caso de dupla negação e explicar o porquê da escolha da devida regra. Finalmente, na última questão, você deve construir dois pares dialógicos, conforme o que estudou nesta aula, e buscar contemplar as diferentes ocorrências das afirmativas. Lembre-se que o uso do sim é pouco usual em PB. REFERÊNCIAS NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do Português. São Paulo: UNESP, 2000. PERINI, Mário A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. 54